Introdução
A igreja em
Corinto havia escrito a Paulo a respeito de vários problemas existentes dentro
do quadro de seus membros. Paulo havia usado a sua resposta para lidar com
problemas adicionais que a indagação não havia mencionado. Portanto, os seis
primeiros capítulos desta carta podem ser considerados um "bônus
literário" ou um "extra espiritual".
Nos quatro primeiros capítulos Paulo lidou com o problema das divisões na
igreja. No capítulo 5 ele havia mostrado que a fé em Cristo produziu uma nova
moralidade. No capítulo 6, Paulo havia discutido a natureza da liberdade cristã,
em relação a áreas tanto permissíveis como não-permissíveis.
Nos capítulos 7 à 9, ele começa a responder perguntas que eram o motivo da
carta. Aqui, o conceito de liberdade cristã aparece novamente, mas agora o
problema é centralizado nos relacionamentos domésticos, socias e espirituais.
I. Orientações
quanto ao Casamento
A.
Casamento
e Celibato,
7.1-2
Paulo interpreta a
instituição do casamento de um ponto de vista prático em vez de um ângulo
moral. Ele olha para o estado de solteiro a partir do ângulo da conveniência em
vez do ponto de vista do certo ou errado de ser casado. No pensamento do
apóstolo, os benefícios práticos de se permanecer solteiro eram significativos.
No entanto, se uma pessoa se casasse, ela nem melhorava a sua vida espiritual
nem maculava a sua experiência religiosa. Mas o casamento trazia obrigações
que o cristão não poderia ignorar. Estas obrigações eram especialmente difíceis
em tempos de aflição.
1. Benefícios por Permanecer Solteiro (7.1)
Em sua observação de
abertura: Bom seria que o homem não tocasse em mulher, Paulo não
apresenta uma baixa estima em relação ao casamento, nem tenta depreciá-lo. O
conceito básico de Paulo em relação ao casamento é elevado, porque em Efésios
5.23-28 ele o usa como uma ilustração do relacionamento de Cristo com a Igreja.
A visão do casamento refletida aqui foi uma resposta específica a esta igreja
em particular, em resposta às coisas que me escrevestes.
Alguns dos membros
da igreja em Corinto podem ter sido influenciados por um tipo de pensamento
grego que considerava o estado de solteiro como superior ao de casado. Outros
podem ter atribuído uma interpretação errada às palavras de Jesus, "Mas os
que forem havidos por dignos de alcançar o mundo vindouro e a ressurreição dos
mortos nem hão de casar, nem ser dados em casamento" (Lc 20.35). Além
disso, alguns podem ter espiritualizado o estado de solteiro, fazendo o
celibato parecer superior, por estarem desgostosos com a extrema ênfase sobre o
sexo em Corinto.
Por outro lado, as pessoas de formação judaica
na igreja podem ter depreciado ou criticado o estado de solteiro. Os judeus
consideravam o casamento como uma obrigação sagrada, e a família como o centro
da sociedade. Esta ideia de casamento vem desde Gênesis 2.18: "E disse o
Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma adjutora que esteja como diante dele".
Paulo se pronuncia
para defender o estado de solteiro. "Ele proclama em voz alta que o estado
de celibato em um homem é conveniente e digno, e não possui nada, em si,
contrário ao ideal moral". De acordo com Lenski, a frase tocasse em
mulher refere-se "ao contato e relação sexual no casamento". A
palavra bom (kalon) não indica algo moralmente bom, pois não há
nenhuma questão de pecado ou de ação errada. A palavra significa que é para o
melhor interesse do homem, em algumas circunstâncias, que ele permaneça
solteiro. No entanto, as palavras do apóstolo não declaram um princípio geral
para cada época da Igreja. "Paulo escreve aos coríntios e para as suas
circunstâncias específicas naquele momento". As palavras do apóstolo
também não se referem à "abstinência de relação entre aqueles que já são
casados". Paulo está simplesmente declarando um conceito prático dos
benefícios de se permanecer solteiro. As ideias de espiritualidade e moralidade
não estão incluídas em sua declaração.
2. A Necessidade Prática do Casamento (7.2)
A atitude
promíscua na cidade de Corinto fazia da fornicação uma tentação persistente.
O casamento seria, portanto, uma proteção contra o pecado. Aqui, outra vez,
Paulo não está depreciando o aspecto romântico do casamento, nem faz do
casamento uma concessão aos apetites da carne. Ele não considera o casamento
como um mecanismo de fuga para aqueles fracos demais para controlarem as
paixões. Em outra passagem ele fala dele como "irrepreensível" (Ef
5.25-27). Aqui Paulo apenas assinala que um resultado prático do casamento é o
de se evitar a tentação na área sexual.
Em sua declaração
Paulo incluiu "uma proibição incidental da poligamia", que era comum
nesta época. Mesmo alguns doutores da lei judeus encorajavam uma pluralidade de
esposas. Paulo aproveitou esta ocasião para lembrar os coríntios indiretamente
das palavras de Cristo: "Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua
mulher, não sendo por causa de prostituição, e casar com outra, comete
adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério" (Mt
19.9). Portanto, embora o celibato seja honroso, ele não deve ser a regra para
o cristão.
II. Orientações quanto as Carnes Sacrificadas
Os irmãos no primeiro século debatiam fortemente
a questão de comer carne que tinha sido sacrificada aos ídolos. Uma vez que as
festas dos ídolos eram ocasiões sociais importantes, a família e os amigos
pressionavam os cristãos para assisti-las. Todos sabiam que um servo de Deus
não poderia adorar ídolos, mas assistir a um festival de ídolo era outra
questão e alguns dos coríntios acreditavam que era correto fazer isso. Paulo
dedicou três capítulos a essa questão crucial. Ele começou mostrando como
visitar templos de ídolos poderia "ferir" os demais discípulos e,
portanto, ser contrário ao princípio de amar uns aos outros.
Respondendo aos argumentos deles (8:1-13): Paulo
citou e refutou argumentos dos coríntios que favoreciam o comer carnes dos
ídolos. í "Sabemos que todos temos conhecimento" (8:1
NVI). Os coríntios se orgulhavam do conhecimento e sabedoria que possuíam
(capítulos 1-4). Paulo respon-deu que o amor supera o conhecimento, porque
enquanto este ensoberbece, o amor edifica. Para visualizar a diferença, pense
numa bolha e num edifício. í "Sabemos que o ídolo não significa nada
no mundo" (8:4 NVI). O ponto crucial do argumento deles era que
não fazia mal assistir a festas de ídolos porque estes não existem. Paulo
respondeu dizendo que os ex-idólatras honravam, em seu coração, o ídolo,
en-quanto assistiam. î Finalmente, eles diziam que a comida era indiferente
para Deus (8:8). Eles estavam insistindo no seu direito de comer o que lhes
agradasse, mas Paulo afirmou que o amor, e não a liberdade, deve guiar nossa
conduta. O perigo era que o irmão "fraco", induzido pelo exemplo do
cristão "forte", entrasse no templo e realmente adorasse o ídolo.
Desta forma, este abuso dos "direitos" por parte do irmão forte era
capaz de levar o irmão a pecar. Ser culpado de destruir o irmão por quem Cristo
morreu é um assunto bem sério.
III. O Atleta Cristão
Todo atleta para
conseguir ser um vencedor necessita de muita dedicação, envolvendo algumas
características imprescindíveis para obter suas conquistas. No texto
mencionado, tem em seu contexto Paulo falando aos Coríntios sobre os jogos
olímpicos, o que era algo bem familiar aos gregos. Ele estava fazendo uma
relação dos jogos com a vida cristã, pois queria que entendessem a realidade
que é servir a Deus e o quanto deve ser levado a sério se quisermos alcançar a
vitória dentro da ótica de Deus em sua aprovação.
Podemos
dizer que como atletas de Cristo precisamos de 3 (três) requisitos para termos
êxitos nessa caminhada. Primeiro, para termos conquistas na caminha da fé, é
necessário ter disciplina. A primeira parte do texto Bíblico diz: “Mas esmurro
o meu corpo”. A palavra esmurro vem do grego υπωπιαζω [hupopiazo] que também
significa: espancar, tratá-lo rudemente, discipliná-lo pelo sofrimento. Sendo
assim, necessário disciplinarmos o nosso corpo se quisermos fazer a vontade de
Deus. Nem sempre se espera o prazer de algo para ser realizado.
Muitos
não oram, ou não leem a Bíblia por dizerem não “gostar” e por diversos motivos.
A grande questão, é que todo aquele que professa ter Cristo precisa fazê-lo
como disciplina. Aquilo que a princípio pode parecer torturante, revelar-se-á
como algo prazeroso, principalmente pelos efeitos que tal prática produz.
O
que então precisamos fazer para agradar o Senhor? Não podemos encarar esse fato
como algo a ser levado de qualquer maneira. Toda vitória vem pela conquista de
uma luta, isto é, não existe vitória sem luta. É preciso “suar a camisa”, “dar
o sangue” se quisermos determinadas vitórias. Jacó precisou lutar com o Anjo do
Senhor para ser abençoado.
Segundo,
precisamos nos sujeitar. O texto também diz: “e reduzo o meu corpo à
escravidão” A palavra escravidão vem do orinial grego que significa: δουλαγωγεω
[doulagogeo], conduzir a escravidão, tratar como escravo. Já não é mais a
vontade própria que prevalece, antes, a vontade de Deus, uma vez que nessa
carreira o que se compete é fazer a vontade de Deus.
A
Bíblia diz em 1Co.9:25 “Todo atleta em
tudo se domina; aqueles, para alcançar uma coroa corruptível; nós, porem, a
incorruptível.” Um atleta só conquista o pódio depois de muito treino, de muito
sacrifício, muita renúncia e horas e horas de dedicação para tal mérito. Ele se
domina pelo desejo de vencer e alcançar a Medalha de Ouro, contudo a Palavra de
Deus nos chama a atenção para o prêmio daquele que corre com Cristo a carreira
da fé. O prêmio é uma coroa incorruptível, se referindo a Eterna Salvação.
aquilo que dinheiro algum pode comprar. Nada supera esse prêmio. Por isso, vale
apena todo esforço para fazer a vontade de Deus.
Muitos
atletas se gastam para dar o seu melhor no esporte que praticam. Talvez alguém
diga. Mas eles ganham para isso, por isso o fazem. Seria então o dinheiro a
motivação para fazermos algo para Deus? O que Deus concede ao pecador como a
salvação não é maior que qualquer valor?
E
em Terceiro, precisamos ser aprovados. Todos esses desafios têm como propósito
alcançar a aprovação de Deus. A parte final do verso diz: “para que, tendo
pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado”. A palavra
desqualificado vem do grego αδοκιμοσ [adokimos] que significa: não resistindo a
teste, não aprovado, desqualificado, desaprovado, falso.
De
nada adianta ter corrido, mas ter corrido em vão. Não importa o que fazemos se
não tivermos a aprovação do Senhor, isto é, acabar sendo desclassificado. É por
isso que todo esforço empenhado tem a sua recompensa. A alegria de um atleta
poder segurar a medalha supera todo desgaste sofrido em seu treinamento, assim,
toda renúncia é com um nada comparado ao prêmio que temos em Cristo.
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