Capítulo 3: O Combate aos Problemas com a Doutrina

Introdução
Como os crentes de Corinto, constantemente nos achamos em luta contra dois inimigos: o mundanismo e a carnalidade. O primeiro é exterior, e o segundo, interior. Os coríntios raramente os venciam; frequentemente sucumbiam a ambos. Em consequência, cometiam sérios pecados, um após outro. Quase toda a primeira epístola visa identificá-los e corrigi-los.
O pecado das divisões na igreja coríntia foi acompanhado de outros pecados, pois estão sempre inter-relacionados. Não existe pecado isolado – um leva a outro, e o segundo reforça o primeiro. Cada pecado é uma combinação de pecados. A primeira epístola aos coríntios confirma essa realidade e nos exorta a cortar o mal pela raiz.
I. O Espírito Mundano na Igreja de Corinto
O motivo do partidarismo não era somente externo – a influência do mundanismo; mas também interno – a carnalidade. Os coríntios não só haviam sucumbido às pressões do mundo, mas também haviam sido seduzidos pela própria carne.
Antes de começar a repreender os coríntios, Paulo os chama de “irmãos”. Isso é a indicação de que eram salvos por Cristo, e que o apóstolo assim os considerava. Entretanto, não podia diminuir a gravidade do pecado que haviam cometido. Não convinha dirigir-se a eles como crentes“espirituais, e sim como a carnais, como a crianças em Cristo” (1Co 3.1). O crente espiritual é aquele que se deixa controlar pelo Espírito, enquanto o crente carnal se entrega ao controle da sua natureza carnal (Rm 8.9,14). Quando ainda eram “crianças”, os coríntios haviam recebido o alimento adequado ao nível espiritual em que se encontravam. Agora, porém, passado algum tempo, já deviam estar preparados para receber doutrina mais difícil de digerir. Entretanto, não podiam, porque ainda agiam como crianças espirituais (1Co 3.2).
O cristão cresce quando caminha dirigido pelo Espírito, mas estaciona no crescimento espiritual quando se deixa dirigir pela carne, pois são duas forças opostas entre si (Gl 5.16-17). A carnalidade do cristão não é um estado absoluto, no qual permanece, mas um comportamento ocasional, quando prevalece o comando da carne (Rm 8.5-14).
II. A Impureza na Igreja de Corinto
A carnalidade não é inevitável. É uma questão de escolha. Os cristãos de Corinto não cresciam porque alimentavam os apetites carnais. Era por essa causa que a congregação de Corinto colocava em evidência os ciúmes e as contendas.
O ciúme é a atitude ou a condição emocional interna; e a contenda é a ação que resulta dela ou a sua expressão exterior. O primeiro se revela como forma de egoísmo, que é uma característica comum às crianças, e não aos adultos! Crentes maduros são altruístas. Essas duas manifestações são sintomas carnais mais destrutivos do que se possa pensar. Entre outras coisas, causaram as divisões na igreja de Corinto. Quando a congregação desenvolveu lealdade em torno de indivíduos, foi manifesto o ciúme entre os grupos, e surgiram as contendas (1Co 3.4).
III. Paulo combatendo os Problemas da Igreja
O apóstolo Paulo voltou ao tema da sabedoria do mundo e da futilidade de qualquer tipo de vanglória, baseada em líderes de grande capacidade, para mostrar que essa tendência pode ser corrigida quando a igreja possui um conceito exato de ministério.
1. A visão correta de quem ensina (1 Co 3.18-20)
É bastante fácil que tenhamos conceito errado acerca de nós mesmos. Por isso Paulo advertiu: “Ninguém se engane” (1Co 3.18). Talvez alguns mestres em Corinto se fizessem passar por homens de grande sabedoria. O apóstolo se dirigiu a eles e a qualquer pessoa que possui um conceito elevado da sua própria sabedoria. Se alguém deseja ter verdadeiro discernimento espiritual, tem que se tornar o que o mundo chama de “louco”. A verdadeira sabedoria, que está contida no evangelho, é achada quando se renuncia à sabedoria deste mundo.
A sabedoria do mundo é “loucura diante de Deus” (1 Co 3.19). Com a sabedoria humana, por mais que insistisse, o homem jamais poderia elaborar um plano de salvação eficaz como o elaborado por Deus. Ele triunfa sobre a sabedoria humana, a fim de realizar os Seus propósitos. Nem mesmo toda a erudição dos homens poderia frustrar os planos divinos.
Não há pensamento humano que o Senhor não conheça, e sabe que são pensamentos vãos ou inúteis, como o comprova a incapacidade de o homem alcançar a salvação (1Co 3.20).
Deve-se considerar aqui que Deus não condena a sabedoria relacionada com a Ciência, a Filosofia e outros campos do saber humano. Ela é necessária e é dádiva de Deus. Mas a sabedoria que exclui o temor do Senhor (Pv 1.7) e a cruz de Cristo (1 Co 1.18-25) é vã e inútil nas questões relacionadas a Deus, à salvação e à verdade espiritual.
2. A visão correta sobre quem possui o que ou quem (1 Co 3.21-23)
a. Todos são da igreja (1 Co 3.21-22)
Não havia nenhuma razão para os crentes coríntios se gloriarem nos homens. Eles deveriam se alegrar pela providência de todos os fiéis líderes que Deus lhes enviou: “seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas”. Se a igreja tivesse sido cuidadosa para entender e seguir tudo o que aqueles três homens ensinaram, estaria unida, e não dividida. Eles cooperaram com Deus para suprir as necessidades espirituais dos crentes, um de um modo, outro de outro, como Lhe aprouve.
b.Tudo é da igreja (1Co 3.22). Não somente os bons líderes são da igreja, mas todas as demais coisas que Deus concede para o bem dos Seus filhos. Como cristãos, somos “herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo” (Rm 8.17). Somos participantes da glória de Deus em Cristo (Jo 17.22). Todas as coisas colaboram para o bem dos que amam a Deus (Rm 8.28).
• O mundo é nosso. Não apenas no sentido em que Deus o criou para o nosso sustento e deleite (Gn 1.28-30), mas também no sentido de que os seguidores de Cristo herdarão a terra (Mt 5.5).
• A vida é nossa. No sentido físico, a vida é dom de Deus e devemos prezá-la. No sentido espiritual, nós a recebemos para participar da natureza divina (2Pe 1.3-4) e para desfrutá-la eternamente.
• A morte é nossa. O grande inimigo da humanidade foi vencido. Cristo venceu a morte, e por Ele nós a vencemos também (1Co 15.54-57). Paulo entendia que para ele “o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Fp 1.21). Para o povo de Deus, a presença no mundo é boa e necessária, mas a morte – que conduz à vida eterna – é melhor (Fp 1.23-24).
• As coisas do presente são nossas – as boas e as más. Em todas as coisas temos a oportunidade de ser vencedores e de experimentar o amor de Deus por nós (Rm 8.37-39).
• As coisas futuras são nossas. Certamente são nossas as bênçãos celestiais, das quais agora só desfrutamos o mínimo (1 Co 2.9).
c. A igreja pertence a Cristo, e Cristo pertence a Deus (1 Co 3.23). Nós somos propriedade de Cristo. Ele é a origem da igreja, a base para a sua unidade espiritual; a cura para as divisões. Se os olhos dos cristãos de Corinto estivessem voltados para Cristo, as divisões não ocorreriam. O maior motivo para se manter a unidade do Espírito e evitar as divisões na igreja é saber que pertencemos a Cristo, e que Cristo é de Deus. Todos nós somos propriedade de um e de outro. Na oração sacerdotal, o Senhor valoriza o que ensina sobre a unidade, ao dizer: “porque são teus; ora, todas as minhas coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas… que todos sejam um;e como és, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste… para que sejam um, como nós o somos; eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade” (Jo 17.9-10,21-23). Nós deveríamos aprender a manter a unidade com o Deus Pai e o Deus Filho. Eles são eternamente um em essência, embora sejam duas Pessoas.

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