quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Um Dia de Decisão

Os moradores da região em volta do Mar da Galiléia jamais haviam visto tal poder! Ele era um homem que podia curar todas as suas sérias aflições, ressuscitar os seus mortos e alimentar as multidões com migalhas de comida. Um tal mestre e obreiro de milagres seria perfeitamente adequado ao trabalho de resgatar o povo escolhido da opressão romana. Esse tinha que ser o Messias! Por que demorar em fazer dele o seu rei? Não surpreende que desejassem fazer exatamente isso (João 6:15)!
Jesus, contudo, tinha uma perspectiva diferente de sua missão. Havia mais para sua vida e obra do que glória e popularidade. Que escolhas ele faria? O que os outros decidiriam sobre ele? Jesus e seus seguidores enfrentavam um dia de decisão. Leia João 6 e considere suas escolhas.

Um dia importante na vida de Jesus
Quando estudamos os relatos dos escritores do evangelho juntos, podemos ver o significado do dia do discurso de Jesus em João 6. Um estudo cuidadoso dos capítulos 9, 10 e 14 de Mateus, 6 de Marcos e 9 de Lucas auxiliará a perceber os pormenores. Algum tempo antes, Jesus tinha enviado os doze a pregar, e ele mesmo foi a várias cidades pregar. O tempo é, provavelmente, um pouco mais de um ano antes de sua morte. Sua popularidade estava chegando ao auge, ajudada pelo trabalho dos apóstolos.
Quando os apóstolos voltaram de sua missão, o lugar em que eles ficavam se tornou uma colmeia de atividade. Muitas pessoas foram atraídas pelo ensinamento e os milagres dos apóstolos, e queriam ver seu Senhor. Ao mesmo tempo, Jesus recebeu a triste notícia de que João Batista tinha sido decapitado. Tantas pessoas procuraram por eles que Jesus e os discípulos saíram em busca de um lugar para descansar e orar. Mas não era fácil afastar-se do povo. A multidão o seguia, e Jesus ficou comovido com o desejo do povo de estar com ele. Ele ensinava e curava os doentes. No fim do dia, ficou preocupado com que eles estariam muito fracos para irem para casa, por isso alimentou os 5000 com cinco pães e dois peixes.
O povo estava convencido. Este era certamente o Profeta que Moisés tinha prometido. Ele seria o rei ideal. Com seu poder para curar os doentes, ele poderia garantir a perfeita saúde de seus súditos. Com seu poder para multiplicar o alimento, eles jamais sofreriam fome. E tal poder seria suficiente para sacudir as algemas da opressão romana. Eles estavam prontos para coroá-lo seu novo rei. Subitamente, Jesus enfrentou uma crise.
Ele tinha vindo para ser rei, porém não agora, e não desta maneira. O plano de seu Pai exigia outro ano de ministério, enfrentando perseguição, rejeição e, por fim, uma cruz penosa. A exaltação viria, mas somente depois de ter sido humilhado no sofrimento. Ele não tinha vindo para reinar sobre um reino terrestre na Palestina, e não poderia permitir que o plano do povo tivesse sucesso.
Jesus subiu a um monte para orar. Na manhã seguinte, antes de romper o dia, ele caminhou vários quilômetros sobre o mar e, então, acompanhou seus apóstolos até o outro lado do pequeno Mar da Galiléia. Não há menção de repouso físico neste dia extremamente árduo, mas Jesus certamente levou seus problemas ao seu Pai em oração.
A multidão seguiu-o até o outro lado do mar. Muitos pregadores modernos iam sentir-se lisonjeados com tal crescente popularidade entre seus leais seguidores. Eles continuariam a fazer tudo o que se mostrasse eficaz para ajuntar as multidões. Poucos teriam entendimento claro do plano de Deus e coragem desprendida para fazer o que Jesus fez. Vejamos as escolhas dele e as decisões dos outros que estavam naquele dia na Galiléia.

Jesus Cristo
A popularidade é atraente. A maioria das pessoas gosta de ser apreciada. Jesus era, certamente, popular. Milhares estavam seguindo-o, e ele tinha capacidade para continuar a atrair as multidões. Satanás tinha-o tentado antes com um atalho para o poder (veja Mateus 4:8-9), mas agora a oportunidade para ser rei veio completa com os súditos prontos para servi-lo. Certamente eram grandes as necessidades do povo, e não há dúvida de que Jesus sentia grande compaixão por ele. Se já houvesse um momento para reconsiderar sua missão, deveria ter sido esse. Deveria o plano eterno de Deus ser modificado para satisfazer a circunstância da sociedade?
Jesus lutou, sem dúvida, com tais assuntos quando passou a noite orando. Como parece ter sido típico do Salvador, ele emergiu dessa longa sessão de oração com determinação para avançar. Mesmo com risco de perder sua popularidade, Jesus apresentou mensagens que desafiavam o povo a olhar além das coisas físicas para as necessidades reais de suas almas. Ele tinha curado os doentes para provar seu poder para curar suas doenças espirituais (veja Marcos 2:10-12), não para dar-lhes esperança de saúde perfeita nesta vida. Ele tinha alimentado os famintos para satisfazer a necessidade deles e para demonstrar que ele é o pão da vida (João 6:33), não para garantir-lhes prosperidade material.
Mas Jesus se recusou a usar o alimento para atrair as multidões. De fato, quando vieram por este motivo, ele prontamente os repreendeu: "Em verdade, em verdade vos digo: vós me procurais, não porque vistes sinais, mas porque comestes dos pães e vos fartastes. Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará; porque Deus, o Pai, o confirmou com o seu selo" (João 6:26-27). Sua missão era espiritual, e ele não a abandonaria; não importa o "sucesso" que poderia ter usando outras táticas.
Há uma mensagem poderosa e necessária para nós. Muitas igrejas hoje em dia encontram meios para encher grandes edifícios fazendo o que agrada às multidões. Se o povo quer comida, algumas igrejas oferecerão refeições. Se quiserem aprender inglês, oferecerão cursos de inglês. Se quiserem ficar em forma física, oferecerão aulas de aeróbica. Se querem atividades sociais com os jovens, oferecerão mesas de sinuca e balcões de refrescos nos edifícios de suas igrejas. Se quiserem divertimentos, poderão escolher entre espetáculos de talento ou de capoeira, ou exibições de coros e produções teatrais. Mas antes que percamos nossa fé na palavra de Deus e comecemos a usar tais táticas não autorizadas, vejamos um pouco o exemplo de nosso Senhor. Jesus preferiria ter 12 almas dedicadas a ele, do que 5000 pessoas vindo para satisfazer seus desejos pessoais e físicos. Os apelos não espirituais das igrejas modernas têm tirado Jesus do trono e colocado os caprichos extravagantes das pessoas egoístas em primeiro lugar.

As multidões
"É hora de conseguir um pregador diferente!" Não seria esta a resposta em muitas igrejas de hoje se a freqüência caísse de milhares para dúzias de um dia para outro? Isto foi o que aconteceu a Jesus quando as multidões abandonaram ele. "À vista disso, muitos dos seus discípulos o abandonaram e já não andavam com ele" (João 6:66).
Esta reviravolta desagradável dos acontecimentos deve ter feito a decisão de Jesus mais penosa. Com alimento físico e curas milagrosas —coisas que apelavam para as preocupações físicas dos seus ouvintes— ele poderia atrair multidões. Mas com a mensagem do maná do céu, salvadora da alma, ele pôde atrair meros punhados.
Era culpa de Jesus? Deveria ele ter apelado para as pessoas satisfazendo as expectativas delas? Deveria ele ter prestado atenção às necessidades e carências delas, esquecendo seus eternos problemas? Deveria ele ter polido sua imagem para se ajustar melhor aos interesses da sociedade contemporânea? Não! Jesus fez a escolha certa. As multidões que o rejeitaram são as que cometeram o erro trágico.
Muitas igrejas de hoje procuram satisfazer as expectativas da sociedade, até mesmo abatendo o espiritual para acentuar o social. Números e estatísticas são ídolos modernos usados para justificar tal desrespeito pela mensagem espiritual do evangelho. Jesus não estava preocupado com grandes números de seguidores, mas com a qualidade dos corações voltados para ele.

Judas Iscariotes
Pare um momento para ler João 6:66-71. Conquanto o texto não diga explicitamente que este foi o momento decisivo na vida de Judas, há muitas indicações de que nesse dia ele deu um grande passo na direção errada. A natureza do assunto que fez com que tantos abandonassem Jesus também teria sido um problema para Judas. Seu materialismo egoísta abateu-o mais tarde, e poderia ter facilmente interferido com sua fé quando ele enfrentou esta provação. Não é sensato nem bíblico afirmar que o deslize de Judas foi instantâneo.
O impacto sobre Judas do destaque espiritual de Jesus parece ter sido o foco do comentário nos últimos versículos de João 6, sobre aquele que logo seria o traidor. Judas teve que tomar uma decisão difícil, e optou por afastar-se de Jesus.

 Simão Pedro
Ao mesmo tempo em que muitos outros discípulos voltaram atrás, Pedro levantou-se ao desafio do ensinamento de Jesus. Quer tenha Jesus satisfeito suas idéias e expectativas preconcebidas, quer não, Pedro resolveu seguí-lo porque ele era o Cristo! Precisamos ver o que Pedro viu naquele dia de decisão.
Jesus tem as palavras de vida eterna. Nenhuma filosofia ou método do homem podem melhorar a mensagem do Messias. Não há nenhum outro lugar para onde se voltar (Atos 4:10-12).
Não importam os benefícios que esperamos obter ao seguir Jesus, devemo-lhe nossa fidelidade simplesmente porque ele é o Filho de Deus, que foi investido de plena autoridade sobre tudo. O fato que ele é Senhor exige nossa submissão a ele (veja Mateus 28:18-20; Atos 2:36-38).
A vontade de Cristo pode algumas vezes ser exigente. Nós, como Pedro, precisamos ter fé para seguir quando enfrentamos provações difíceis!

Para quem iremos?
Decisões difíceis foram tomadas naquele dia, na Galiléia, decisões que afetariam as vidas e a eternidade de todos os envolvidos. Podemos aprender com as escolhas de cada um dos que lá estavam. Com Jesus, aprendemos a importância de manter em ordem as prioridades e vemos que a missão do evangelho vai muito além das preocupações físicas e sociais dos homens. Com Judas e com as multidões, podemos ver a loucura de tentar Jesus a se encaixar em nossas expectativas. Com a fé corajosa de Pedro, podemos tirar a força para seguir Jesus pelos motivos certos. Precisamos dizer ao Mestre, como o fez Pedro: "Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna" (João 6:68).
Para onde você se voltará? Para quem você irá? A decisão é sua!

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