Os debates entre calvinistas e
arminianos já datam de séculos, com grandes nomes da fé cristã advogando
por um ou outro lado ao longo da história. No entanto, recentemente,
essas discussões se tornaram verdadeiras batalhas, com o surgimento de
inimizades e escândalos entre adeptos dessas duas vertentes teológicas.
Diante disso, líderes evangélicos brasileiros lançaram uma nota de
repúdio à beligerância entre grupos de calvinistas e arminianos.
A nota aponta para a relevância do
debate, mas combate a agressividade que tem tomado as discussões entre
calvinistas e arminianos, especialmente no âmbito da internet.
“Rejeitamos todo conteúdo difamatório, ofensivo e jocoso, ainda que a
pretexto do humor, produzido contra irmão de vertente religiosa diversa,
que atente contra sua honra e imagem”, diz o texto.
Vários líderes evangélicos assinaram a
nota de repúdio. Entre eles, estão Euder Faber Guedes Ferreira,
presidente da VINACC; Augustus Nicodemus Lopes, pastor presbiteriano e
teólogo; Franklin Ferreira, pastor batista e teólogo; Renato Vargens,
pastor da Igreja Cristã da Aliança e escritor; Ciro Sanches Zibordi,
pastor assembleiano e escritor; Geremias do Couto, pastor assembleiano e
escritor; Valmir Nascimento Milomem Santos, teólogo assembleiano e
professor universitário; Altair Germano, pastor assembleiano e escritor.
Confira o texto completo da Nota Pública sobre Debates entre Calvinistas e Arminianos!
NOTA PÚBLICA
SOBRE DEBATES ENTRE CALVINISTAS E ARMINIANOS
Diante da recorrência de discussões e
ataques pessoais realizados no âmbito eclesiástico, na internet e nas
redes sociais, especialmente entre calvinistas e arminianos para defesa
de posições teológicas, NÓS, abaixo subscritos, vimos a público emitir a
seguinte nota:
Reconhecemos a importância e a
historicidade do debate teológico dentro da tradição cristã como meio
de defesa e salvaguarda da verdade e, consequentemente, da ortodoxia
bíblica.
Apoiamos a produção e a
reflexão teológica realizada no ambiente da internet, em virtude de seu
caráter democrático e do livre curso de ideias, como corolário da
Reforma Protestante.
Repudiamos, todavia, que para a
defesa de posições teológicas haja discussões e ataques pessoais
realizados em nome da fé, que promovem dissenções, inimizades e
escândalo ao nome de Cristo. Repudiamos, assim, todo e qualquer conteúdo
difamatório, ofensivo e jocoso, ainda que a pretexto do humor,
produzido contra irmão de vertente religiosa diverse, que atente contra
sua honra e imagem.
Entendemos incompatíveis com
os preceitos que devem reger a conduta dos discípulos do Mestre posturas
antiéticas que estimulam a zombaria, o desrespeito e o escárnio,
baseado em dolo, distorções e mentiras.
Discordamos das publicações
anônimas, especialmente quando realizadas com o objetivo de provocar
animosidade e discórdia entre os cristãos. Além de ser proibido
constitucionalmente (Art. 5o, IV), o anonimato atenta contra os
princípios bíblicos da transparência (2 Co 3:18), sinceridade (Tt 2:7) e
honestidade (1 Tm 2:2).
Relembramos que a calúnia, a
injúria e a difamação são crimes contra a honra, de acordo com o Código
Penal Brasileiro, os quais não se coadunam com o caráter do verdadeiro
cristão, que deve expressar o fruto do Espírito (amor, gozo, paz,
longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança), conforme
Gálatas 5:22.
Aconselhamos os cristãos piedosos a não dar audiência a páginas e grupos que promovam tais ofensas.
Defendemos e incentivamos a
exposição de convicções cristãs, bem como o debate teológico na internet
e nas redes sociais, de modo irênico, ou seja, de espírito pacífico (Rm
12:18), com cordialidade e respeito. A discordância e confrontação das
ideias alheias, quando for o caso, devem ser conduzidas com ética,
honestidade intelectual e de maneira objetiva, sem denegrir e atacar o
oponente.
Asseveramos que a produção
teológica é, sobretudo, um ato de glorificação a Deus. Discussões, pois,
que se desenvolvem com o único propósito de vencer desavenças
intelectuais, baseadas em disputas do ego, estão longe de honrar o nome
de Cristo. A determinação bíblica de “falar o que convém à sã doutrina”
(Tt 2:1) exige coragem, mas também responsabilidade, para os cristãos em
geral e os pastores em particular, os quais devem ser, dentre outras
coisas, “irrepreensíveis, honestos, moderados, aptos a ensinar, não
contenciosos…” (1 Tm 3:2-3).
Citamos, a propósito, as
palavras de J. I. Packer: “Se a nossa teologia não nos reaviva a
consciência nem amolece o coração, na verdade endurece a ambos; se nãp
encoraja o compromisso da fé, reforça o interesse que é próprio da
incredulidade; se deixa de promover a humildade, inevitavelmente nutre o
orgulho. Assim, aquele que expõe teologia em público, seja formalmente,
pelo púlpito ou pela imprensa, ou informalmente, em sua poltrona, deve
pensar muito sobre o efeito que seus pensamentos terão sobre o povo de
Deus e outras pessoas.”
Recomendamos, assim, a
importância da constante elevação bíblica e espiritual do nível dos
debates teológicos. E caso nos deparemos com um irmão em Cristo com
postura inadequada e não condizente com a ética e prática cristãs, que
ele seja repreendido, mas que em tal ato não falte educação e
principalmente amor.
Reconhecemos as diferenças
marcantes historicamente existentes entre as tradições calvinistas e
arminianas, notadamente em referência à doutrina da salvação. Todavia,
tais divergências teológicas não suplantam a comunhão cristã que deve
haver entre os irmãos dessas duas vertentes da cristandade. Em uníssono,
à luz das Escrituras Sagradas, enfatizamos que a salvação se alcança em
Cristo somente, mediante a graça somente, recebida pela fé somente (Rm
3:24; Ef 2:8; Tt 2:11).
Finalizamos com a menção ao
episódio em que o calvinista George Whitefield foi perguntado se
esperava ver o arminiano John Wesley nos céus. Sua resposta foi: “Não.
John Wesley estará tão perto do Trono da Glória, e eu tão longe, que
dificilmente conseguirei dar uma olhadela nele.” Assim se tratam
verdadeiros cristãos que discordam em questões de soteriologia, mas que
não fazem nada por contenda ou vanglória, e consideram os outros
superiores a si mesmos (Fp 2:3). E, sobretudo, estes sabem o preço
custoso com que foram comprados por Cristo Jesus.
18 de janeiro de 2016.
Augustus Nicodemus Lopes, pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia (GO).
Altair Germano, pastor da Assembleia de Deus – Itália, escritor.
Carlos Kleber Maia, pastor da Assembleia de Deus – RN, escritor de obra arminiana.
César Moisés de Carvalho, pastor da Assembleia de Deus, teólogo, escritor.
Ciro Sanches Zibordi, pastor da Assembleia de Deus na Ilha da Conceição em Niterói – RJ, escritor e articulista.
Clóvis José Gonçalves, membro da Igreja O Brasil para Cristo e editor do blog Cinco Solas.
Davi Charles Gomes, Chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Euder Faber Guedes Ferreira, pastor, presidente da VINACC (Visão Nacional para a Consciência Cristã).
Solano Portela Neto, presbítero da Igreja Presbiteriana do Brasil, conferencista e autor reformado.
Franklin Ferreira, pastor batista, diretor geral do Seminário Martin Bucer-SP.
Geremias do Couto, pastor da Assembleia de Deus, escritor.
Glauco Barreira Magalhães Filho, pastor batista – CE, professor universitário, escritor.
Gutierres Fernandes Siqueira, membro da Assembleia de Deus-SP, editor do blog Teologia Pentecostal.
Helder Cardin, pastor batista, reitor do Seminário Palavra da Vida-SP.
Jamierson Oliveira, pastor batista, teólogo, escritor.
Jonas Madureira, pastor batista, editor de Edições Vida Nova e professor do Seminário Martin Bucer.
José Gonçalves, pastor da Assembleia de Deus-PI, teólogo, escritor.
Magno Paganelli, pastor da Assembleia de Deus-SP, teólogo, escritor.
Marcos Antônio Moreira Guimarães, professor de teologia, obreiro da Assembleia de Deus-MT.
Mauro Fernando Meister, diretor do Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper-SP.
Norma Cristina Braga Venâncio, escritora, membro da Igreja Presbiteriana do Pirangi, Natal-RN.
Paulo Romeiro, pastor, teólogo, escritor.
Renato Vargens, pastor da Igreja Cristã da Aliança de Niterói-RJ.
Solon Diniz Cavalcanti, pastor, teólogo, presidente do CEAB Transcultural.
Thiago Titillo, pastor batista, professor, escritor.
Tiago José dos Santos Filho, pastor batista, editor-chefe da Editora Fiel, diretor pastoral do Seminário Martin Bucer-SP.
Uziel Santana, presidente da Anajure (Associação Nacional dos Juristas Evangélicos).
Valdeci do Carmo, obreiro da Assembleia de Deus, teólogo, coordenador do curso de Teologia das Faculdades Feics, Cuiabá-MT.
Valmir Nascimento Milomem Santos, teólogo da Assembleia de Deus, professor universitário, editor da revista Enfoque Teológico.
Wallace Sousa, evangelista da Assembleia de Deus, DF, escritor, pós-graduado em teologia, coordenador da União de Blogueiros Evangélicos.
Wellington Mariano, pastor da Assembleia de Deus, escritor e tradutor de obras arminianas.
Wilson Porte Junior, pastor batista e professor do Seminário Martin Bucer.
Zwinglio Rodrigues, pastor batista, escritor de obra arminiana.
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