Os
moradores da região em volta do Mar da Galiléia jamais haviam visto tal
poder! Ele era um homem que podia curar todas as suas sérias aflições,
ressuscitar os seus mortos e alimentar as multidões com migalhas de
comida. Um tal mestre e obreiro de milagres seria perfeitamente adequado
ao trabalho de resgatar o povo escolhido da opressão romana. Esse tinha
que ser o Messias! Por que demorar em fazer dele o seu rei? Não
surpreende que desejassem fazer exatamente isso (João 6:15)!
Jesus,
contudo, tinha uma perspectiva diferente de sua missão. Havia mais para
sua vida e obra do que glória e popularidade. Que escolhas ele faria? O
que os outros decidiriam sobre ele? Jesus e seus seguidores enfrentavam
um dia de decisão. Leia João 6 e considere suas escolhas.
Um dia importante na vida de Jesus
Quando
estudamos os relatos dos escritores do evangelho juntos, podemos ver o
significado do dia do discurso de Jesus em João 6. Um estudo cuidadoso
dos capítulos 9, 10 e 14 de Mateus, 6 de Marcos e 9 de Lucas auxiliará a
perceber os pormenores. Algum tempo antes, Jesus tinha enviado os doze a
pregar, e ele mesmo foi a várias cidades pregar. O tempo é,
provavelmente, um pouco mais de um ano antes de sua morte. Sua
popularidade estava chegando ao auge, ajudada pelo trabalho dos
apóstolos.
Quando
os apóstolos voltaram de sua missão, o lugar em que eles ficavam se
tornou uma colmeia de atividade. Muitas pessoas foram atraídas pelo
ensinamento e os milagres dos apóstolos, e queriam ver seu Senhor. Ao
mesmo tempo, Jesus recebeu a triste notícia de que João Batista tinha
sido decapitado. Tantas pessoas procuraram por eles que Jesus e os
discípulos saíram em busca de um lugar para descansar e orar. Mas não
era fácil afastar-se do povo. A multidão o seguia, e Jesus ficou
comovido com o desejo do povo de estar com ele. Ele ensinava e curava os
doentes. No fim do dia, ficou preocupado com que eles estariam muito
fracos para irem para casa, por isso alimentou os 5000 com cinco pães e
dois peixes.
O
povo estava convencido. Este era certamente o Profeta que Moisés tinha
prometido. Ele seria o rei ideal. Com seu poder para curar os doentes,
ele poderia garantir a perfeita saúde de seus súditos. Com seu poder
para multiplicar o alimento, eles jamais sofreriam fome. E tal poder
seria suficiente para sacudir as algemas da opressão romana. Eles
estavam prontos para coroá-lo seu novo rei. Subitamente, Jesus enfrentou
uma crise.
Ele
tinha vindo para ser rei, porém não agora, e não desta maneira. O plano
de seu Pai exigia outro ano de ministério, enfrentando perseguição,
rejeição e, por fim, uma cruz penosa. A exaltação viria, mas somente
depois de ter sido humilhado no sofrimento. Ele não tinha vindo para
reinar sobre um reino terrestre na Palestina, e não poderia permitir que
o plano do povo tivesse sucesso.
Jesus
subiu a um monte para orar. Na manhã seguinte, antes de romper o dia,
ele caminhou vários quilômetros sobre o mar e, então, acompanhou seus
apóstolos até o outro lado do pequeno Mar da Galiléia. Não há menção de
repouso físico neste dia extremamente árduo, mas Jesus certamente levou
seus problemas ao seu Pai em oração.
A
multidão seguiu-o até o outro lado do mar. Muitos pregadores modernos
iam sentir-se lisonjeados com tal crescente popularidade entre seus
leais seguidores. Eles continuariam a fazer tudo o que se mostrasse
eficaz para ajuntar as multidões. Poucos teriam entendimento claro do
plano de Deus e coragem desprendida para fazer o que Jesus fez. Vejamos
as escolhas dele e as decisões dos outros que estavam naquele dia na
Galiléia.
Jesus Cristo
A
popularidade é atraente. A maioria das pessoas gosta de ser apreciada.
Jesus era, certamente, popular. Milhares estavam seguindo-o, e ele tinha
capacidade para continuar a atrair as multidões. Satanás tinha-o
tentado antes com um atalho para o poder (veja Mateus 4:8-9), mas agora a
oportunidade para ser rei veio completa com os súditos prontos para
servi-lo. Certamente eram grandes as necessidades do povo, e não há
dúvida de que Jesus sentia grande compaixão por ele. Se já houvesse um
momento para reconsiderar sua missão, deveria ter sido esse. Deveria o
plano eterno de Deus ser modificado para satisfazer a circunstância da
sociedade?
Jesus
lutou, sem dúvida, com tais assuntos quando passou a noite orando. Como
parece ter sido típico do Salvador, ele emergiu dessa longa sessão de
oração com determinação para avançar. Mesmo com risco de perder sua
popularidade, Jesus apresentou mensagens que desafiavam o povo a olhar
além das coisas físicas para as necessidades reais de suas almas. Ele
tinha curado os doentes para provar seu poder para curar suas doenças
espirituais (veja Marcos 2:10-12), não para dar-lhes esperança de saúde
perfeita nesta vida. Ele tinha alimentado os famintos para satisfazer a
necessidade deles e para demonstrar que ele é o pão da vida (João 6:33),
não para garantir-lhes prosperidade material.
Mas
Jesus se recusou a usar o alimento para atrair as multidões. De fato,
quando vieram por este motivo, ele prontamente os repreendeu: "Em
verdade, em verdade vos digo: vós me procurais, não porque vistes
sinais, mas porque comestes dos pães e vos fartastes. Trabalhai, não
pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna, a qual
o Filho do homem vos dará; porque Deus, o Pai, o confirmou com o seu
selo" (João 6:26-27). Sua missão era espiritual, e ele não a
abandonaria; não importa o "sucesso" que poderia ter usando outras
táticas.
Há uma
mensagem poderosa e necessária para nós. Muitas igrejas hoje em dia
encontram meios para encher grandes edifícios fazendo o que agrada às
multidões. Se o povo quer comida, algumas igrejas oferecerão refeições.
Se quiserem aprender inglês, oferecerão cursos de inglês. Se quiserem
ficar em forma física, oferecerão aulas de aeróbica. Se querem
atividades sociais com os jovens, oferecerão mesas de sinuca e balcões
de refrescos nos edifícios de suas igrejas. Se quiserem divertimentos,
poderão escolher entre espetáculos de talento ou de capoeira, ou
exibições de coros e produções teatrais. Mas antes que percamos nossa fé
na palavra de Deus e comecemos a usar tais táticas não autorizadas,
vejamos um pouco o exemplo de nosso Senhor. Jesus preferiria ter 12
almas dedicadas a ele, do que 5000 pessoas vindo para satisfazer seus
desejos pessoais e físicos. Os apelos não espirituais das igrejas
modernas têm tirado Jesus do trono e colocado os caprichos extravagantes
das pessoas egoístas em primeiro lugar.
As multidões
"É hora de conseguir um pregador diferente!"
Não seria esta a resposta em muitas igrejas de hoje se a freqüência
caísse de milhares para dúzias de um dia para outro? Isto foi o que
aconteceu a Jesus quando as multidões abandonaram ele. "À vista disso, muitos dos seus discípulos o abandonaram e já não andavam com ele" (João 6:66).
Esta
reviravolta desagradável dos acontecimentos deve ter feito a decisão de
Jesus mais penosa. Com alimento físico e curas milagrosas —coisas que
apelavam para as preocupações físicas dos seus ouvintes— ele poderia
atrair multidões. Mas com a mensagem do maná do céu, salvadora da alma,
ele pôde atrair meros punhados.
Era
culpa de Jesus? Deveria ele ter apelado para as pessoas satisfazendo as
expectativas delas? Deveria ele ter prestado atenção às necessidades e
carências delas, esquecendo seus eternos problemas? Deveria ele ter
polido sua imagem para se ajustar melhor aos interesses da sociedade
contemporânea? Não! Jesus fez a escolha certa. As multidões que o
rejeitaram são as que cometeram o erro trágico.
Muitas
igrejas de hoje procuram satisfazer as expectativas da sociedade, até
mesmo abatendo o espiritual para acentuar o social. Números e
estatísticas são ídolos modernos usados para justificar tal desrespeito
pela mensagem espiritual do evangelho. Jesus não estava preocupado com
grandes números de seguidores, mas com a qualidade dos corações voltados
para ele.
Judas Iscariotes
Pare
um momento para ler João 6:66-71. Conquanto o texto não diga
explicitamente que este foi o momento decisivo na vida de Judas, há
muitas indicações de que nesse dia ele deu um grande passo na direção
errada. A natureza do assunto que fez com que tantos abandonassem Jesus
também teria sido um problema para Judas. Seu materialismo egoísta
abateu-o mais tarde, e poderia ter facilmente interferido com sua fé
quando ele enfrentou esta provação. Não é sensato nem bíblico afirmar
que o deslize de Judas foi instantâneo.
O
impacto sobre Judas do destaque espiritual de Jesus parece ter sido o
foco do comentário nos últimos versículos de João 6, sobre aquele que
logo seria o traidor. Judas teve que tomar uma decisão difícil, e optou
por afastar-se de Jesus.
Simão Pedro
Ao
mesmo tempo em que muitos outros discípulos voltaram atrás, Pedro
levantou-se ao desafio do ensinamento de Jesus. Quer tenha Jesus
satisfeito suas idéias e expectativas preconcebidas, quer não, Pedro
resolveu seguí-lo porque ele era o Cristo! Precisamos ver o que Pedro
viu naquele dia de decisão.
Jesus
tem as palavras de vida eterna. Nenhuma filosofia ou método do homem
podem melhorar a mensagem do Messias. Não há nenhum outro lugar para
onde se voltar (Atos 4:10-12).
Não
importam os benefícios que esperamos obter ao seguir Jesus, devemo-lhe
nossa fidelidade simplesmente porque ele é o Filho de Deus, que foi
investido de plena autoridade sobre tudo. O fato que ele é Senhor exige
nossa submissão a ele (veja Mateus 28:18-20; Atos 2:36-38).
A
vontade de Cristo pode algumas vezes ser exigente. Nós, como Pedro,
precisamos ter fé para seguir quando enfrentamos provações difíceis!
Para quem iremos?
Decisões
difíceis foram tomadas naquele dia, na Galiléia, decisões que afetariam
as vidas e a eternidade de todos os envolvidos. Podemos aprender com as
escolhas de cada um dos que lá estavam. Com Jesus, aprendemos a
importância de manter em ordem as prioridades e vemos que a missão do
evangelho vai muito além das preocupações físicas e sociais dos homens.
Com Judas e com as multidões, podemos ver a loucura de tentar Jesus a se
encaixar em nossas expectativas. Com a fé corajosa de Pedro, podemos
tirar a força para seguir Jesus pelos motivos certos. Precisamos dizer
ao Mestre, como o fez Pedro: "Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna" (João 6:68).
Para onde você se voltará? Para quem você irá? A decisão é sua!
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