Podemos tirar várias lições do Salmo 73, entre elas, está o contraste sobre a vida próspera do ímpio e a vida de sofrimento que passa o justo. Nesse Salmo percebemos que, em meio aos sofrimentos da vida, muitas vezes somos tentados a questionar a providência divina. Portanto, muitos servos de Deus passam pelo o mesmo dilema que o autor do Salmo enfrentou. Em algum momento da vida, chega a pensar que Deus não olha para a sua situação ou que Deus não é suficiente bom para com seus filhos.
Nesse texto vamos analisar e tirar lições para a nossa vida sobre o dilema enfrentado por Asafe.
1. Asafe quase que sai do caminho
O autor do Salmo começa reconhecendo um dos atributos de Deus, a sua bondade: Verdadeiramente bom é Deus para com Israel, para com os limpos de coração (Sl 73:1). Aqui o salmista deixa claro que só quem recebe essa bondade, é aqueles que são limpos de coração. Jesus em seu sermão do monte disse: Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus (Mt 5:8).
Mais a seguir Asafe diz que quase seus pés resvalaram; pouco faltou para que os seus passos escorregassem (Vv 2). Fica mais evidente que, a vida cristã sendo comparada a um caminho, em que se não vigiarmos podemos nos desviar dele, ou seja, podemos enfrentar consequências por nossas ações. E porque faltou pouco para Asafe escorregar? Por contemplar a prosperidade dos ímpios: Pois eu tinha inveja dos soberbos, ao ver a prosperidade dos ímpios (Sl 73:3).
Aqui podemos tirar um aprendizado para a vida cristã. Quanto mais um cristão olha para as riquezas dos ímpios, mais ele tem chance de sentir invejas e sentimentos que podem roubar sua alegria na sua caminhada ruma ao céu. Por isso, devemos seguir a orientação bíblica: Se, pois, fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra; porque morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus (Cl 3:1-3).
2. Asafe descreve a prosperidade dos ímpios
O salmista descreve do verso 4 ao 12 a prosperidade dos ímpios. E olhando para o texto, percebemos alguém que analisou e expressou bem essa riqueza com maior detalhe. Pois bem, ele diz que os ímpios têm uma vida tranquila e sem preocupação: Eles estão sempre bem de saúde. Não passam por tribulações como os demais. A soberba deles é como um colar; a violência como um vestido. Seus olhos desejam tudo que seus corações imaginam. São perversos por natureza; falam com muito orgulho sobre suas maldades e mentiras. Fazem ameaças contra Deus e suas calunias se espalham por toda terra. O povo se volta para eles e não acha falta alguma. Eles não se esforçam, vivem uma vida tranquila e suas riquezas aumentam a cada dia.
Talvez, esse tenha sido de alguma forma a tentação de Asafe que quase o levou a escorregar; e fazer um certo questionamento: Na verdade que em vão tenho purificado o meu coração e lavado as minhas mãos na inocência (Sl 73:13). Pelo o autor descrever a vida abundante do ímpio, chega de certa forma, a olhar para vida com certo desânimo e até ver que tudo feito por ele foi em vão. Olhar para as riquezas dos ímpios, pode de certa forma nos levar ao desânimo ou até fazermos questionamento sobre a providência divina.
3. Asafe descreve a vida dos juntos
Depois de Asafe ter dito que purificou o coração dele em vão, ele passa a descrever a vida dos justos. O mesmo diz que todo dia tem sido afligido e castigado a cada manhã. Se tivesse falando traiçoeiramente teria sido um traidor do povo de Deus (Sl 73:14,15). Mas a seguir ele diz: Quando me esforçava para compreender isto, achei que era tarefa difícil para mim (Sl 73:16).
Podemos perceber que, o autor está diante de uma situação que é incompreensível para ele, enquanto procurava viver uma vida justa, veio somente sofrimento sobre sua vida; por isso, ele chega a afirmar que em vão, teria purificado seu coração. Por outro lado, o ímpio que vive uma vida totalmente longe de Deus, não passa por sofrimento e desfruta de muita saúde e felicidade. Desse modo, encontramos o dilema de Asafe, diante desse contraste entre a vida do ímpio e do justo, ele se esforça para compreender tudo isso, que é uma tarefa muito difícil de entender sobre uma perspectiva humana.
O que Asafe estava passando pode ser muito bem visto na vida de Jó. O livro de Jó como o que o salmista enfrenta, podemos entender perfeitamente que nem sempre a vida cristã é um mar de rosas. Há momentos em nossas vidas, que as coisas estão dando tudo errado, enquanto que muitos que nem serve a Deus, desfrutam de muitas abundancias nesta vida; esse é um dos dilemas que enfrentamos na vida cristã.
4. O fim dos justos e dos ímpios
A pesar de o salmista não entender o porquê que os ímpios prosperam, enquanto que os justos padecem, toda suas dúvidas e questionamentos são resolvidos: até que entrei no santuário de Deus; então percebi o fim deles (Sl 73:17). Quando ele diz até que entrei no santuário, podemos compreender isto como entrar na presença de Deus. Momentos atrás, o salmista não entendia o porquê do seu sofrimento, mesmo crendo na bondade de Deus para com Israel, mas tudo passa ganhar sentido, quando ele entrar na presença de Deus e entende o fim dos ímpios. Quando o autor desse salmo diz percebi o fim deles, João Calvino no seu comentário de Salmos, interpreta essa parte como o juízo de Deus sobre a vida dos ímpios.
Quando Asafe busca a Deus entende que, a vida cristã não tem como alvo principal sermos prospero aqui nessa terra por um período de tempo, por menor ou maior que seja; porque sabemos que a vida nesse mundo é passageira. O autor nos dá a entender que somos como peregrinos nesta terra, Deus não nos chamou para desfrutarmos dos prazeres carnais, mas sim, para o céu de glória. Toda a dúvida de Asafe sobre a providência divina, é eliminada quando ele entra na presença de Deus. Assim como o autor, devemos fazer o mesmo em momentos de dúvidas que enfrentarmos durante a caminha cristã; precisamos buscar a Deus porque só Ele pode responder os dilemas da vida. Como disse Jesus: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei e abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede, recebe; e quem busca, acha; e ao que bate, abrir-se-lhe-á (Mt 7:7,8).
Depois de entender isto, o autor passa a descrever o fim dos justos e dos ímpios. O fim dos justos ele passa a entender quando entra no santuário, ou seja, na presença de Deus. O mesmo descreve que os ímpios podem viver uma vida abundante aqui nessa terra e desfrutar de muitos prazeres, porém, o fim deles é a destruição de uma vida totalmente separada de Deus. Percebemos, nas palavras do autor desse salmo que, não adianta termos toda riqueza, se não temos o principal, Deus em nossas vidas. Contudo, por mais que o justo tenha uma vida de sofrimento, e por mais que as coisas muitas das vezes acabam dando errado, ele tem Deus em sua vida que é seu maior tesouro. Jesus no sermão da montanha disse: Não ajunteis para vós tesouros na terra; onde a traça e a ferrugem os consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem os consumem, e onde os ladrões não minam nem roubam (Mt 6:19,20). Jesus nos ensina, a olharmos mais para uma vida vindoura do que para uma mente completamente materialista.
Asafe mostra que os ímpios Deus põem em lugares escorregadios, lança em ruina, caem na desolação num momento e ficam totalmente consumidos de terrores (Sl73:18,19). Enquanto que os justos, Deus guia com seu conselho e os recebe na glória (Sl 73:24). Depois do autor entrar na presença de Deus e entender a providência divina sobre ímpio e justo (Sl 73:17), o mesmo reconhece que Deus é seu bem mais precioso (Sl 73:25), sua fortaleza (Sl 73:26), está próximo de Deus e confiar nEle é a melhor coisa desse mundo (Sl 73:28).
Enquanto Asafe olhava, somente para as coisas dessa vida, foi acometido de muitos sentimentos contrários a palavra de Deus, mas depois que ele entrou na presença de Deus, todas as coisas passaram a ter sentido e os sentimentos ruim desapareceram. Devemos fazer assim, quando enfrentamos dias ruins, correr para a presença do Altíssimo.
Conclusão
As lições praticas que podemos tirar desse dilema de Asafe é sobre a providência divina. Precisamos compreender bem essa doutrina, para que quando vier dias difíceis não venhamos duvidar do controle de Deus sobre todas as coisas. Ainda que o justo venha sofrer e todas as coisas forem contrárias à sua vida, e por outro lado todas as coisas dando certo para o ímpio; é necessário entender que Deus está no controle de toda circunstância e que nada foge do seu devido controle.
Muitas das vezes, quando olhamos a maldade deste mundo, as coisas em desordem, pensamos onde Deus está que não vê, cada uma dessas coisas e não age contra elas. Por olhar dessa maneira colocamos um dos seus atributos em duvidas, a bondade de Deus. Por isso, é mais do que necessário compreender, a doutrina da providência divina, em séculos passados era muito bem explanada e usada para enfrentar tempos difíceis que os cristãos passavam.
Que possamos confiar no controle de Deus sobre todas as coisas e, entender que todas as contribuem para o bem daqueles que amam a Deus (Rm 8:28). Deixo aqui por último uma explicação da Confissão Belga da providência divina:
Cremos que o bom Deus, depois de ter criado todas as coisas, não as abandonou, nem as entregou ao acaso ou a sorte 1, mas que as dirige e governa conforme sua santa vontade, de tal maneira que neste mundo nada acontece sem sua determinação 2. Contudo, Deus não é o autor, nem tem culpa do pecado que se comete 3. Pois seu poder e bondade são tão grandes e incompreensíveis, que Ele ordena e faz sua obra muito bem e com justiça, mesmo que os demónios e os ímpios ajam injustamente 4. E as obras dEle que ultrapassam o entendimento humano, não queremos investigá-las curiosamente, além da nossa capacidade de entender. Mas, adoramos humilde e piedosamente a Deus em seus justos julgamentos, que nos estão escondidos 5. Contentamo-nos em ser discípulos de Cristo, a fim de que aprendamos somente o que Ele nos ensina na sua Palavra, sem ultrapassar estes limites 6. Este ensino nos traz um inexprimível consolo, quando aprendemos dele, que nada nos acontece por acaso, mas pela determinação de nosso bondoso Pai celestial. Ele nos protege com um cuidado paternal, dominando todas as criaturas de tal modo que nenhum cabelo - pois estes estão todos contados- e nenhum pardal cairão em terra sem o consentimento de nosso Pai (Mateus 10:29,30). Confiamos nisto, pois sabemos que Ele reprime os demônios e todos os nossos inimigos, e que eles, sem sua permissão, não nos podem prejudicar 7. Por isso, rejeitamos o detestável erro dos epicureus, que dizem que Deus não se importa com nada e entrega tudo ao acaso.
1. Jo 5:17; Hb 1:3.
2. Sl 115:3; Pv 16:1,9,33; Pv 21:1; Ef 1:11.
3. Tg 1:13; 1Jo 2:16. 4 Jó 1:21; Is 10:5; Is 45:7; Am 3:6; At 2:23;
4. At: 27,28.
5. 1Rs 22:19-23; Rm 1:28; 2Ts 2:11.
6. Dt 29:29; 1Co 4:6.
7. Gn 45:8; Gn 50:20; 2Sm 16:10; Rm 8:28,38,39.
Sidney Muniz
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