quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Comentário Bíblico Mensal: Dezembro/2017 - Capítulo 4 - A Bíblia e o seu Caráter Divino



Comentarista: Matheus Gonçalves

Introdução

Antes que possamos estudar efetivamente a Bíblia, precisamos considerar sua fonte e abordar o estudo com profundo respeito pelo Deus que nos criou e nos revelou sua vontade nas Escrituras. É importante estudar com absoluto respeito pela palavra de Deus.
Samuel aceitou a instrução de Eli e recebeu as palavras de Deus com uma atitude de humildade: "Fala, Senhor, porque o teu servo ouve" (1 Sm 3.9-10). Cada vez que abrirmos as páginas das Escrituras, deveremos demonstrar exatamente esta atitude. O estudante humilde tem que ter também um coração aberto. Pedro nos diz que precisamos esvaziarmo-nos do mal para que possamos aceitar o puro evangelho com o ardente desejo dos recém-nascidos querendo leite (1 Pe 2.1-3). Com humildade e corações abertos, procuramos cumprir o compromisso de cada servo fiel de Cristo: obedecer tudo o que Jesus nos ordenou (Mt 28.19-20).
O estudo proveitoso também depende de uma valorização correta do texto que estamos estudando. A Bíblia contém a completa, suficiente e final revelação da vontade de Deus para o homem, por isso deverá ser estudada cuidadosa e respeitosamente. O estudante fiel da palavra deverá estar familiarizado com as afirmações de textos tais como 2 Timóteo 3.16-17; 2 Pedro 1.3; Judas 3; Hebreus 1.1-4; 2.1-3 e Gálatas 1.6-9.
Devemos estudar também com respeito pelo silêncio das Escrituras. Muitos erros podem ser evitados se temos o cuidado de não falar presunçosamente quando Deus não falou. Agir quando Deus não disse nada é mudar sua palavra (veja a ilustração em Hebreus 7.12-14, onde o escritor mostra que Jesus não foi um sacerdote de acordo com a lei do Velho Testamento, mas que ele mudou a lei ao tornar-se um sacerdote de uma tribo que não estava autorizada a servir desta maneira). Jesus tinha o direito de mudar a lei, mas nós não. Tais passagens como 2 João 9; 1 Coríntios 4:6 e Apocalipse 22.18-19 nos lembram do perigo de ir além ou acrescentar à palavra revelada.
Uma outra prática importante, quando entramos no estudo das escrituras, é a oração. Devemos orar como o salmista o fez: "Desvenda os meus olhos, para que eu contemple as maravilhas da tua lei" (Sl 119.18).

I. Deus Vela pela sua Palavra 

O capítulo 1 de Jeremias, são-lhe reveladas duas visões que servem para explicar as razões da escolha deste homem, ainda tão jovem, para levar a Palavra ao povo, que Deus ama e não quer que se perca.
Este é o povo que Deus, por meio de Abraão, tirou de Ur dos Caldeus para ser uma bênção maravilhosa para a humanidade (Gn 12). Deus fez um pacto com este povo, que teria de se cumprir.
Agora, Deus chama Jeremias para relembrar a Sua Palavra e, antecipadamente, diz que vela sobre ela para que se cumpra, mesmo contra as potestades demoníacas operando nos homens.
Jeremias seria atormentado, preso e impedido de pregar a Palavra, mas Deus zelava por ela, de tal maneira que, mesmo depois de queimada no fogo, Deus a tornou a pôr nos lábios do profeta que, desde o fundo do poço, a ditou ao seu servo Baruque. Ainda que todos os demónios e homens da terra se juntem para destruir os planos de Deus, estes subsistirão e cumprirão a tarefa para que Deus os deu. Nada, nem ninguém, nem mesmo toda a comunidade infernal, podem qualquer coisa contra a Palavra. "Passarão os céus e a terra, mas a Minha Palavra nunca passará" e não há ninguém que a possa destruir.
O mundo de hoje, tal como o povo de Judá há 2500 anos, precisa da Palavra de Deus, viva e eficaz, sem mesclas, nem interpretações espúrias, para operar nos homens e fazer deles seres perfeitos e preparados para toda a boa obra.
Ao longo dos séculos Deus tem velado pela Sua Palavra, de tal maneira que ela continua a operar, hoje, nos corações, como sempre o fez.
Deus tem feito a Sua parte em relação à Sua Palavra, e nós, como a temos tratado? Como a temos disseminado pelo mundo? Como a estamos praticando no nosso dia a dia?
Que cada um se deixe usar nas mãos de Deus, para que a Palavra da vida tenha livre curso em muitos corações.

II. Jesus Cumpriu toda a Lei

Em Mateus 5.17-18, Jesus disse: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas, não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo, até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra”. Alguns citam esta afirmação para tentar obrigar as pessoas de hoje a guardarem o sábado e outros mandamentos da Antiga Aliança.  
Para compreender este comentário de Jesus, precisamos prestar atenção especial a três palavras que ele usou. A palavra revogar vem de uma palavra grega que significa derrubar, subverter ou destruir. Jesus não veio para subverter a Lei, ele veio para cumprir. A palavra traduzida cumprir significa completar, levar até o fim, realizar ou obedecer. Jesus não pretendia subverter a lei, ele pretendia cumpri-la, assim a levando até o seu determinado fim. A terceira palavra importante é a preposição até. Os céus e a terra poderiam passar, mas a lei não passaria até ser cumprida. Esta palavra (traduzida até, até que, ou enquanto) significa algo que chega até um certo ponto e termina. Deus falou para José ficar no Egito até que ele fosse avisado (Mt 2.13). José não “conheceu” Maria “enquanto ela não deu à luz um filho” (Mt 1.25). Na morte de Jesus, houve trevas até à hora nona (Lc 23.44). A Lei não perdeu sua força até ser cumprida por Jesus.  
O autor de Hebreus usou uma palavra diferente, embora traduzida em algumas Bíblias pela mesma palavra portuguesa, quando disse: “Portanto, por um lado, se revoga a anterior ordenança, por causa de sua fraqueza e inutilidade (pois a lei nunca aperfeiçoou coisa alguma), e, por outro lado, se introduz esperança superior, pela qual nos chegamos a Deus” (Hb 7.18-19). Revogar, neste trecho, significa anular, abolir, ou remover. No mesmo capítulo, ele falou da mudança (ou remoção) da lei (Hb 7.12).  
Os cristãos não estão “subordinados” à Lei (Gl 3.24-25). Mesmo os cristãos judeus, que estavam sujeitos à lei, foram libertados dela (Rm 7.6). O escrito da dívida foi removido inteiramente na cruz, pois Jesus cumpriu aquela Lei (Cl 2.14). Após a morte do Testador, a Nova Aliança tomou seu lugar (Hb 8.6-13; 9.15-17). 
Se, no entanto, a lei de Moisés tem a mesma relação (em termos de sua posição) com os homens de hoje como tinha antes de Cristo vir, então ela não foi cumprida, e Jesus falhou em sua missão. Por outro lado, se o Senhor realizou o que Ele veio cumprir e a lei foi realmente cumprida, então ela não é uma instituição jurídica vinculativa para os hoje. Além disso, se a lei de Moisés não foi cumprida por Cristo e, portanto, ainda permanece como um sistema jurídico vinculativo, então ela não é apenas um sistema vinculativo parcial. Pelo contrário, ela é um sistema totalmente obrigatório. Jesus disse claramente que nem um "i ou um til" (representantes das menores marcações do hebraico) passariam até que todas as suas palavras fossem cumpridas. Por conseguinte, nada da lei era para falhar até que tivesse alcançado seu objetivo por completo. Jesus cumpriu a lei. Jesus cumpriu toda a lei. Não podemos dizer que Jesus cumpriu o sistema de sacrifício, mas deixou de cumprir os outros aspectos da lei. Ou Jesus cumpriu todas as obrigações legais, ou nada cumpriu. O que a morte de Jesus significa para o sistema de sacrifício também significa para os outros aspectos da lei.
 Jesus não subverteu a Lei do Antigo Testamento; ele cumpriu e removeu aquela e nos deu a Nova Aliança.

III. A Igreja Edificada pelos Profetas e os Apóstolos

Em qualquer construção, dá-se atenção especial ao alicerce, pois se este não for bom, toda a estrutura ficará comprometida. O mesmo se aplica em termos espirituais.
Os apóstolos e profetas, inspirados pelo Espírito Santo para transmitir a verdade do evangelho por todos os tempos, cumpriram papel único no plano de Deus, tanto que Paulo os chama de alicerce da igreja. Não temos apóstolos e profetas hoje porque, além de ensinar o modelo divino às pessoas daquela época, escreveram os livros da nova aliança, os quais nos foram preservados no Novo Testamento. Transmitiram-nos “toda a verdade” que Jesus prometeu e tudo o que foram relembrados pelo Espírito (Jo 14.26). O evangelho “foi revelado pelo Espírito aos santos apóstolos e profetas de Deus” (Ef 3.5). Desta forma, não são as pessoas dos apóstolos e profetas, mas o ensino deles que serve como alicerce, e este ensino, como afirma Paulo no verso, diz respeito ao Senhor Jesus como a peça fundamental. Assim, não existe contradição entre este verso e 1 Coríntios 3.11.
Paulo afirmou que os cristãos efésios, como filhos na família de Deus e membros do corpo de Cristo, são também como um edifício construído sobre este alicerce.
Alguns acham que a carta aos Efésios não foi escrita por Paulo, mas que mostra uma perspectiva posterior que não tinha na igreja nos primeiros anos. Contudo, muito cedo na história os apóstolos estavam cientes do seu papel, pois o próprio Jesus lhes tinha falado que sentariam sobre 12 tronos para julgar Israel (Mt 19.28). Quem constrói em cima de outro alicerce não está construindo o edifício de Deus. É necessário ter o fundamento certo para existir a igreja do Senhor Jesus. São as palavras deles no passado que devemos recordar (2 Pe 3.1-2). É preciso lembrar-se “do que foi predito pelos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo” (Jd 17).
Tudo isso nos lembra que o edifício de Deus hoje nada tem a ver com construções físicas, mas sim com as pessoas redimidas pelo sangue de Jesus. Como disse Pedro: “Vocês também, como pedras vivas, estão sendo usados na construção de um templo espiritual, para servirem como um sacerdócio santo” (1 Pe 2.5a).

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