segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Lei e Graça - Temas Basilares da Doutrina Cristã




Por Leonardo Pereira


Se existe um assunto que sempre vai em discussões acerca das doutrinas das Escrituras Sagradas, certamente entra nesta temática as doutrinas da lei e da graça de Deus. Isto vem de épocas e não somente traz conflitos de dúvidas quanto os detrimentos de uma ou de outra. O fato é que muitos hoje não explicam claramente sobre a lei e a graça. Existem muitos ensinamentos bíblicos que ao invés de abordarem amplamente sobre ambas as temáticas, existem estudos que tratam com desdém em muitos pontos da graça e também da lei. Ainda que haja diferenças de modo de vida e de características do evangelho para o período da Lei, ambas possuem a sua imensa importância para a nação de Israel, as demais nações, para a Igreja Primitiva e sobretudo, para a igreja triunfante. Neste artigo, procuro abordar um pouco de ambas de maneira que os estudos tanto do Antigo quanto do Novo Testamento, se complementem partindo da velha aliança para a nova, do vinho velho para o novo, dos sacrifícios para o caminho vivo e com livre acesso completo e direto para com o Pai de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Falemos acerca da lei, da graça, da antiga e da nova aliança voltados para Israel, as demais nações e agora, para a Igreja de Deus.

O que é a Lei?

Quando se fala da “Lei” é bom especificar a qual refere pois pela Bíblia, existe várias leis e significados da palavra “lei”. A lei pode ser a ordem de eventos estabelecida (lei da luz, som e da relação entre os elementos químicos). Neste caso as leis podem ser interpretadas simplesmente como fatos. A lei pode ser também a força que causa a ordem de eventos (lei da gravidade, de calor, da eletricidade, do pecado, etc.). A lei pode referir-se também àquela que obriga a consciência à moralidade. Por existir uma norma há obrigação de conformidade à ela (à lei moral que não é escrita ou à qualquer lei que é escrita enquanto tem uma operação legítima). Na Bíblia, ao referir à lei de Moisés, não se acha a distinção de lei “moral”, “cerimonia” ou “civil” mas somente: “lei”, “lei do Senhor”e “lei de Moisés”. Nisso podemos entender que aquele chamada popularmente “O Decálogo” é só parte da lei e não “a lei” em si.

A Lei em sua Completude

Há muitos que querem distinguir o decálogo como a mais importante parte da lei, a parte moral, e as outras partes, as cerimonias ou civis, inferiores. Essa distinção popular não é uma distinção bíblica. O decálogo, os dez mandamentos, não são a única moral na lei, mas, faz parte do que foi dada a Moisés no monte, escrito pelo dedo de Deus, é parte de que é dado pela inspiração e escrito pela mão de Moisés.  É claro que a lei tem as partes morais, cerimônias e civis. Essas partes, em si, não são distinguidas como sendo maior ou menor da “lei” mas contrariamente, a própria lei. A parte cerimonial (sacrifícios) é chamada “lei” (Lc 2.27). A parte moral é chamada “lei” (1 Tm 1.9). A parte civil é chamada “lei” (At 23.3).

A Bíblia se refere à lei como sendo os cinco livros do Pentateuco. As palavras “A Lei” na Bíblia geralmente se referem a Lei Mosaica, ou ao Pentateuco” (Dicionário Smith, citado por Canright). Pode entender isso comparando o resto da Bíblia com o Pentateuco. Entenderá que a Bíblia distingue o Pentateuco como sendo a lei. Gênesis é a lei (1 Co 14.34; Gn 3.16); Êxodo é a lei (Rm 7.7; Êx 20.17); Levítico é a lei (Mt 22.39; Lv 19.18); Números é a lei (Mt 12.5; Nm 28.9) e Deuteronômio é a lei (Mt 22.36, 37; Dt 6.5).

Maravilhosa Graça

A definição encontrada em um dicionário para o termo graça é a seguinte: “O favor imerecido que Deus concede ao homem”. Embora tal definição seja verdadeira, é incompleta. Graça é um atributo de Deus, um componente do caráter divino, demonstrada por Ele através da bondade para com o ser humano pecador que não merece o Seu favor. Um Deus santo não tem nenhuma obrigação de conceder graça a pecadores, mas Ele assim o faz segundo o bem querer da Sua vontade. Ele demonstra graça ao estender Seu favor, Sua misericórdia e Seu amor para suprir a necessidade do ser humano. Visto que o caráter de Deus é composto de graça, movido por bondade Ele espontaneamente se dispõe a conceder Sua graça à humanidade pecadora em nosso tempo de aflição.

A graça de Deus pode ser definida como “aquela qualidade intrínseca do ser ou essência de Deus, pela qual Ele, em Sua disposição e atitudes, é espontaneamente favorável” a outorgar favor imerecido, amor e misericórdia àqueles que Ele escolhe dentre a humanidade desmerecedora. Ao longo de toda a Bíblia, a graça de Deus se manifestou em três estágios. No primeiro, Deus revelou Sua bondade e graça ao demonstrar misericórdia, favor e amor para com todos os homens em geral, mas para com Israel em particular. No segundo estágio, Deus expressou ou apresentou Sua graça, de forma mais clara, através de Jesus Cristo, o qual veio ao mundo para pagar pelos pecados do homem mediante Sua morte sacrificial na cruz. No terceiro, a graça de Deus proporciona salvação e santificação a todos os que, pela fé, confiam em Jesus Cristo como Salvador e Senhor de suas vidas.

De Lei caminhando para a Graça

A verdade é que com Deus “não há mudança nem sombra de variação” (Tg 1.17; Ml 3.6; Hb 1.11,12; 13.8). Em qualquer época, a verdade eterna é: se existe salvação existe a graça de Deus. Sem a graça de Deus não há salvação (Ef 2.8,9). Disso podemos entender, se houve salvação no Velho Testamento, houve graça também. A graça que veio por Cristo não foi para destruir a lei ou os profetas, mas para a cumprir (Mt 5.17). Pela fé em Cristo Jesus a lei é estabelecida porque a lei simbolizava a graça e apontava a Ele (Rm 3.21-31). O fim, quer dizer o alvo, propósito, finalidade ou objetivo, da lei era Cristo (Rm 10.4) e não contraria a Ele. A lei sempre estava no coração de Cristo e Ele a amava pois a Lei revela o desejo de Deus (Sl 40.6-8; Hb 10.3-12). A Lei de Moisés e a graça por Cristo não são opostos, mas, duas partes de um mesmo sistema. A lei apontou a Cristo, e, Cristo cumpriu a lei (cf. Gl 3.21-26).

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