domingo, 26 de abril de 2020

O poder da Oração na Igreja Primitiva




Em Atos 4.23-31 temos uma oração da igreja primitiva diante de uma perseguição. A perseguição começou pelo o fato de os discípulos de Cristo ensinarem e anunciarem a ressurreição dentre os mortos (At 4.2). Ficaram ressentidos os sacerdotes, o capitão do Templo e os Saduceus os prenderam por ensinarem em nome de Cristo. O texto descreve que muitos dos que ouviram a palavra aceitaram, subindo o número de homens a quase cinco mil (At 4.4).

Os discípulos foram interrogados com que poder ou em nome de quem eles operava milagres – essa contestação era por causa da cura de um homem coxo que Pedro e João curaram no templo (At 3,1-10). Pedro cheio do Espírito Santo respondeu que aquilo tudo fora em nome de Cristo ao qual eles tinham crucificado. Autoridades responderam: “Chamando-os, ordenaram-lhes que absolutamente não falassem, nem ensinassem em o nome de Jesus” (At4:18).

Diante disso, eles procuraram os irmãos e lhes contaram quantas coisas lhes haviam dito os principais sacerdotes e os anciãos, e em seguida levantaram a voz a Deus em oração.
Queremos analisar e aplicar as “divisões poderosa dessa oração” feita pela igreja primitiva e os benefícios que ela tem para a vida cristã.

Estrutura da oração

Engrandecendo o nome do Senhor

Ouvindo isto, unânimes, levantaram a voz a Deus e disseram: Tu, Soberano Senhor, que fizeste o céu, a terra, o mar e tudo o que neles há (At 4.24).

Começaram sua oração reconhecendo a soberania de Deus, crendo que Ele é o criador do céu, da terra, do mar e tudo o que neles há. Quando um dos seus discípulos pediu: “Senhor ensina-nos a orar” (Lc 11.1), Jesus primeiramente ensinou: “Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome” (Mt 6.9). Jesus nos mostra nesse modelo de oração, pedindo primeiro que Deus seja glorificado. Os homens de Deus na Antiga Aliança oravam assim, podemos destacar três exemplos:

Josafá

Pôs-se Josafá em pé, na congregação de Judá e de Jerusalém, na Casa do Senhor, diante do pátio novo, e disse: Ah! Senhor, Deus de nossos pais, porventura, não és tu Deus nos céus? Não és tu que dominas sobre todos os reinos dos povos? Na tua mão, está a força e o pode e não há quem te possa resistir (2Cr 20.5,6).

Neemias

E disse: ah! Senhor, Deus dos céus, Deus grande e temível, que guardas a aliança e a misericórdia para com aqueles que te amam e guardam os teus mandamentos!

Davi

Eu te amo, ó Senhor, força minha. O Senhor é a minha rocha, a minha cidadela, o meu libertador; o meu Deus, o meu rochedo em que me refúgio; o meu escudo, a força da minha salvação, o meu baluarte (Sl 18.1,2).

Portanto, esses homens começavam primeiramente suas orações exaltando a Deus, porque faríamos diferente? Não comece pedindo por você, mas engrandecendo Aquele que é digno de toda honra e glória.

Citaram as Escrituras

Que disseste por intermédio do Espírito Santo, por boca de Davi, nosso pai, teu servo: Por que se enfureceram os gentios, e os povos imaginaram coisas vãs? (At 4.25).

A igreja primitiva fundamentou sua oração no texto de Salmos 2. Sobre isso, John Piper diz: “Observe que a igreja primitiva orava Escrituras. Por exemplo, a oração de Atos 4:24-31 cita Salmos 2. Além disso, orações do Antigo Testamento com a oração de Esdras em Neemias 9:6-37, são repetições da história bíblica e de textos bíblicos”[1]. Diante disso, podemos perceber que esse costume vem do Antiga Aliança. Segundo Joel Beeke, os Puritanos usavam essa prática em suas orações, meditavam em um texto Bíblico e depois transformavam isso em orações a Deus[2]. Logo, Orar a Palavra significa ler (ou recitar) Escritura com um espírito de oração, fazendo do significado dos versos a nossa oração e a inspiração dos nossos pensamentos como disse John Piper.

Intercederam pelas autoridades

Levantaram-se os reis da terra, e as autoridades ajuntaram-se à uma contra o Senhor e contra o seu Ungido; porque verdadeiramente se ajuntaram nesta cidade contra o teu santo Servo Jesus, ao qual ungiste, Herodes e Pôncio Pilatos, com gentios e gente de Israel (At 4.26,27).

Podemos perceber que nessa parte da oração, os discípulos aprenderam muito bem e colocaram em prática o orar pelos os inimigos da obra de Deus: “Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem” (Mt 5.44). Diante da perseguição que aquela igreja enfrentava, ela entendia que a oração era o meio de salvação daquela dificuldade e reconhecimento de dependência de Deus. O apóstolo Paulo escrevendo para Timóteo sobre orar pelas autoridades: “Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito” (2Tm 2.1,2).

Nesse sentido, devemos apresentar a Deus em nossas orações os nossos governantes. Pedindo a Deus sabedoria, bondade no coração dos que governam e pelos os servos de Deus que estão na política para que não se corrompam, a fim de não envergonhar o evangelho.

Deus governa todas as coisas

Para fazerem tudo o que a tua mão e o teu propósito predeterminaram (At 4.28).

Apesar de a igreja primitiva enfrentar perseguição por causa do Evangelho, eles apresentaram em oração as autoridades a Deus, entretanto, estavam conscientes que tudo estava acontecendo segundo a vontade de Deus. Essa petição é “uma afirmação clara de que nada, nem mesmo a morte injusta do Filho de Deus, acontece à parte da vontade e do controle soberanos de Deus. A certeza do plano de Deus para o mundo é estabelecida pelo seu soberano "propósito" e assegurado pela sua "mão" todo-poderosa”[3].

Essa parte da oração revela a confiança que aquela igreja tinha na providência de Deus. As Escrituras descreve que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito (Rm 8.28). Em nossas orações, devemos lembrar que Deus está no controle de qualquer situação, por mais que elas venham ser insignificantes para nós. Deus é soberano em todas a coisas e nada forje do seu controle.

Coragem para anunciar o Evangelho

Agora, Senhor, olha para as suas ameaças e concede aos teus servos que anunciem com toda intrepidez a tua palavra, enquanto estendes a mão para fazer curas, sinais e prodígios por intermédio do nome do teu santo Servo Jesus (At 4.29,30).

A igreja não se intimidou com as perseguições, mas pediu a Deus coragem para anunciar um Evangelho de poder. Sobre isso, Matthew Henry comenta: “Nas épocas ameaçadoras, nosso interesse não deve ser tanto evitar os problemas como poder continuar adiante com júbilo e valor em nossa obra e dever. Eles não oram: ‘Senhor, deixa-nos afastar-nos de nossa tarefa agora que se tornou perigosa’, senão: ‘Senhor, dá-nos tua graça para seguir adiante com constância em nossa obra, e não temer o rosto do homem’. Aqueles que desejam ajuda e exortação divinas, podem depender de que as têm, e devem sair e seguir avançando no poder do Senhor”[4].

Quando eles pediram “enquanto estendes a mão para fazer curas, sinais e prodígios por intermédio do nome do teu santo Servo Jesus”, estavam colocando em prática um trecho da oração modelo do Pai nosso: “Venha o teu Reino” (Mt 6.10). Igualmente, em nossas orações devemos pedir a Deus coragem para falar do Evangelho, muitas das vezes não falamos porque não possuímos essa intrepidez. Temos que pedir que o seu reino venha com poder, para que vidas sejam salvas. Sobre isso, o Breve Catecismo de Westminster na pergunta de 102 diz:

“Venha o Teu reino,” pedimos que o reino de Satanás seja destruído e que o reino da graça seja adiantado; que nós e os outros a ele sejamos guiados e nele guardados, e que cedo venha o reino da glória”[5].

O efeito da oração

Tendo eles orado, tremeu o lugar onde estavam reunidos; todos ficaram cheios do Espírito Santo e, com intrepidez, anunciavam a palavra de Deus (At 4.31).

Depois dessa oração, o Senhor respondeu com o derramamento do seu poder. Segundo Bruce, a experiência do V. 31 não foi mais um “batismo do Espírito”, mas uma manifestação renovada do seu poder entre os crentes totalmente entregues à vontade de Deus. A oração foi respondida, como se nota aqui e nos trechos seguintes[6]. O que eles precisavam para anunciar o Evangelho, foi literalmente atendido, o lugar onde eles estavam orando moveu-se. Com isso, ficaram cheios do Espirito Santo e de coragem para falar da palavra de Deus.

Semelhantemente, precisamos orar mais para o Evangelho de Cristo Jesus seja anunciado. Atualmente, muitas igrejas estão vivendo apenas entre quatros paredes, não vem se preocupando levar seus membros a levarem Evangelho fora das quatros paredes. É notório  um investimento alto na formação de novos obreiros e pouco em obras missionárias. Pouco é ensinado a trabalhar evangelismos nos bairros, escolas, trabalhos, faculdades e etc. Para resolver essa situação, temos que voltar a oração, ela levou a igreja primitiva a pregar corajosamente o Evangelho.

Conclusão

Diante do que analisamos até aqui, a oração é essencial para termos uma vida cristã fundamentada. Assim como não existe Evangelho sem cruz, não existe vida cristã sem a oração. A oração movimenta o cristão, a prova disso está na oração da igreja primitiva, depois que oraram a Deus se movimentara para divulgar o Evangelho. Sem a oração, jamais teremos uma vida cheia do Espírito Santo, não teremos coragem de falar de Jesus para as pessoas.

Que possamos seguir a estrutura da oração da igreja primitiva para termos uma vida cristã avivada. Valorizemos uma vida de comunhão com Deus, o nosso Deus têm várias formas de falar como seu povo, nós temos apenas uma, a oração. Você tem separado tempo para falar com Deus? lembre-se, a sua vida cristã depende disso!

Sidney Muniz     
    





[1] John Piper – Dicas para orar a palavra / Disiring God
[2] Joel Beeke – Teologia Puritana
[3] Bíblia de Estudo de Genebra
[4] Comentário Bíblico de Matthew Henry
[5] Breve Catecismo de Westminster
[6] Comentário Bíblico NVI Antigo e Novo Testamento de F.F Bruce

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