quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Comentário Bíblico Mensal: Setembro/2020 - Capítulo 1 - Jesus Cristo - Verdadeiro Homem - Verdadeiro Deus




Comentarista: Carlos Alberto Junior



Texto Bíblico Base Semanal: Hebreus 5.1-10

1. Porque todo o sumo sacerdote, tomado dentre os homens, é constituído a favor dos homens nas coisas concernentes a Deus, para que ofereça dons e sacrifícios pelos pecados;
2. E possa compadecer-se ternamente dos ignorantes e errados; pois também ele mesmo está rodeado de fraqueza.
3. E por esta causa deve ele, tanto pelo povo, como também por si mesmo, fazer oferta pelos pecados.
4. E ninguém toma para si esta honra, senão o que é chamado por Deus, como Arão.
5. Assim também Cristo não se glorificou a si mesmo, para se fazer sumo sacerdote, mas aquele que lhe disse: Tu és meu Filho,Hoje te gerei.
6. Como também diz, noutro lugar: Tu és sacerdote eternamente, Segundo a ordem de Melquisedeque.
7. O qual, nos dias da sua carne, oferecendo, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas ao que o podia livrar da morte, foi ouvido quanto ao que temia.
8. Ainda que era Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu.
9. E, sendo ele consumado, veio a ser a causa da eterna salvação para todos os que lhe obedecem;
10. Chamado por Deus sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque.

Momento Interação

Nenhuma doutrina foi mais debatida ao longo da história que a Cristologia. Vários concílios da igreja se reuniram ao redor desse tema. A Palavra de Deus revela-nos que Jesus tem duas naturezas distintas: uma divina, outra humana. Jesus é Deus sem deixar de ser homem e homem sem deixar de ser Deus. Este é um glorioso mistério: o menino que nasceu em Belém e foi enfaixado em panos é o criador do universo, o Pai da eternidade. Se Jesus não fosse Deus não poderia oferecer um sacrifício de valor infinito. Se não fosse homem não poderia ser o nosso substituto. Porque é Deus e ao mesmo tempo homem pode ser o mediador entre Deus e os homens. Porque é Deus-homem pôde fazer um sacrifício perfeito, capaz de expiar a culpa de todo aquele que nele crê.

Introdução

A divindade de Cristo é um tema constantemente debatido, principalmente neste tempo, quando lembramos Seu nascimento. Sua natureza humana, de certa forma, passou a ser mais aceita. O Jesus Cristo histórico já não pode mais ser negado. Sabemos muito bem que Jesus viveu entre nós, com as características e qualificações humanas. E para os cristãos ele também viveu como Deus, manifestando o seu poder e glória diante dos homens.Nas quatro biografias de Jesus, os Evangelhos, podemos ver que a encarnação divina era parte do plano de redenção. Fez-se necessário que o Senhor Jesus Cristo viesse ao mundo como homem, experimentando todas as provações e aflições da humanidade.

Conforme nos relata os escritores, Jesus Cristo possuía atributos humanos. Ele sentiu sono, cansaço, fome e sede (Mt 21.18;  4.38 e Jo 4.6). Os Evangelhos também nos relatam que Jesus sofreu, chorou, entristeceu-se e angustiou-se (Mt 26.37; Lc 19.41). Já a divindade de Cristo, ela é exposta de forma incontestável em todas as Escrituras. Ele mesmo, ao falar sobre sua natureza divina, disse: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu filho Unigênito, para que todo aquele que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16).

I. Quem é Jesus Cristo?

Jesus é descrito de vários modos nas Escrituras. Ele é o bom pastor, o Pastor Supremo (Jo 10.11; 1 Pe 5.4), Rei (Ap 19.16; At 2.29-36), profeta (Dt 18.17-19; At 3.22,23; Lc 13.33), Mediador (Hb 8.6) e salvador (Ef 5.23). Cada uma destas descrições salienta alguma função que Jesus desempenha no plano da salvação. Talvez a mais completa descrição de Jesus com respeito a sua obra redentora seja a de sumo sacerdote. O autor de Hebreus também observa a conseqüência inevitável do sacerdócio de Jesus Cristo. Se o sacerdócio for mudado da ordem de Arão para a de Melquisedeque, necessariamente a lei associada com o sacerdócio levítico tem que ser mudada. "Pois, quando se muda o sacerdócio, necessariamente há também mudança de lei" (Hb 7.12). A Lei de Moisés, associada com o sacerdócio levítico, foi anulada quando o sacerdócio foi mudado (Hb 7.18,19).

A obra sacerdotal de Jesus é explicada pelo escritor de Hebreus em termos de atos do sumo sacerdote levita no Dia da Expiação. Exatamente como o sumo sacerdote levita entrava no Santo dos Santos do tabernáculo, isto é, na presença de Deus, com sangue para fazer a expiação pelos pecados, assim Jesus entrou no Santo dos Santos com sangue (H 9.11,12). Mais ainda, Jesus não ofereceu seu sangue num tabernáculo físico, feito por mãos humanas. Ele ofereceu seu sangue na presença de Deus, no céu.

No Dia da Expiação, o derramamento de sangue realmente acontecia fora do Santo dos Santos. Os animais eram mortos e o sangue deles recolhido no pátio do tabernáculo. O sumo sacerdote então oferecia o sangue a Deus quando o aspergia em frente do propiciatório. De modo semelhante, o sangue de Jesus foi derramado na cruz, fora do Santo dos Santos celestial. Ele foi sepultado e no terceiro dia ressurgiu. Depois de 40 dias ele ascendeu ao céu, em sentido figurado, e apresentou seu sangue diante de Deus. É fácil observar a importância da ressurreição a este respeito. Ainda que o sangue seja derramado em sua morte, Jesus realmente ofereceu seu sangue ao Pai quando ascendeu ao céu depois de sua ressurreição (Jo 20.17; At 1.9,10).

II. A Pessoa de Jesus Cristo

A superioridade de Jesus é um dos principais temas do livro de Hebreus, um dos mais fascinantes livros do Novo Testamento. O autor deste livro mostra que Jesus ocupa uma posição acima dos anjos, acima de Moisés, acima dos sacerdotes do Antigo Testamento e acima dos sacrifícios feitos sob a velha Lei. Todos estes argumentos apoiam a conclusão que a Aliança dada por Jesus é superior à Aliança dada por meio de Moisés. As afirmações do primeiro capítulo de Hebreus nos impressionam com a exaltação de Jesus. Sua palavra é mais importante do que as revelações do Antigo Testamento, dadas aos pais e profetas, porque ele é o Filho de Deus. Ele criou o universo e sustenta a criação “pela palavra do seu poder” (Hb 1.2,3). Jesus mostra aos homens a imagem exata do Pai, e habita atualmente na presença do Pai, para onde voltou depois de completar seu trabalho redentor aqui na terra (Hb 1.3,4). Boa parte deste capítulo é composta de citações do Antigo Testamento com comentários explicando seu significado. Vamos observar algumas delas.

“Tu és meu Filho, eu hoje te gerei” (Hb 1.5; citação de Salmo 2.7). Alguns usam estas palavras erroneamente para negar a eternidade de Jesus, sugerindo que ele foi gerado no sentido de ser criado pelo Pai. Porém, o próprio contexto citado (Sl 2) e todas as citações deste versículo no Novo Testamento falam da exaltação de Jesus, não do seu nascimento ou criação. Jesus, o eterno “Eu Sou” (Jo 8.24), não passou a existir, mas foi “gerado” quando o Pai o exaltou. “E todos os anjos de Deus o adorem” (Hb 1.6; citação de Salmo 97.7). Este versículo é muito interessante no estudo das afirmações da divindade de Jesus no Novo Testamento. Adoração é reservada exclusivamente para Deus, como o próprio Jesus ensinou (Mt 4.10). Quando o Pai mandou que os anjos adorassem o Filho, ele afirmou a divindade de Jesus!

III. Cristo no Antigo Testamento

Uma leitura superficial de alguns versículos apresenta uma dificuldade, até dando a impressão de uma contradição nas Escrituras. Alguns religiosos aproveitam esta suposta contradição para negar claras afirmações sobre o anulamento da Lei dada aos israelitas no monte Sinai. Em Mateus 5.17,18, Jesus disse: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas, não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo, até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra.” Alguns citam esta afirmação para tentar obrigar as pessoas de hoje a guardarem o sábado e outros mandamentos da Antiga Aliança.  

Para compreender este comentário de Jesus, precisamos prestar atenção especial a três palavras que ele usou. A palavra revogar vem de uma palavra grega que significa derrubar, subverter ou destruir. Jesus não veio para subverter a Lei, ele veio para cumprir. A palavra traduzida cumprir significa completar, levar até o fim, realizar ou obedecer. Jesus não pretendia subverter a lei, ele pretendia cumpri-la, assim a levando até o seu determinado fim. A terceira palavra importante é a preposição até. Os céus e a terra poderiam passar, mas a lei não passaria até ser cumprida. Esta palavra (traduzida até, até que, ou enquanto) significa algo que chega até um certo ponto e termina. Deus falou para José ficar no Egito até que ele fosse avisado (Mt 2.13). José não “conheceu” Maria “enquanto ela não deu à luz um filho” (Mt 1.25). Na morte de Jesus, houve trevas até à hora nona (Lc 23.44). A Lei não perdeu sua força até ser cumprida por Jesus.  

O autor de Hebreus usou uma palavra diferente, embora traduzida em algumas Bíblias pela mesma palavra portuguesa, quando disse: “Portanto, por um lado, se revoga a anterior ordenança, por causa de sua fraqueza e inutilidade (pois a lei nunca aperfeiçoou coisa alguma), e, por outro lado, se introduz esperança superior, pela qual nos chegamos a Deus” (Hb 7.18,19). Revogar, neste trecho, significa anular, abolir, ou remover. No mesmo capítulo, ele falou da mudança (ou remoção) da lei (Hb 7.12). Os cristãos não estão “subordinados” à Lei (Gl 3.24,25). Mesmo os cristãos judeus, que estavam sujeitos à lei, foram libertados dela (Rm 7.6). O escrito da dívida foi removido inteiramente na cruz, pois Jesus cumpriu aquela Lei (Cl 2.14). Após a morte do Testador, a Nova Aliança tomou seu lugar (Hb 8.6-13; 9.15-17). Jesus não subverteu a Lei do Antigo Testamento; ele cumpriu e removeu aquela e nos deu a Nova Aliança.

IV. Cristo - Senhor de nossas Vidas

De acordo com a História, um dos tópicos mais controvertidos entre os que afirmam seguir a Bíblia tem sido a natureza de Jesus e sua relação com o Pai. Nos primeiros cinco séculos após a encarnação de Cristo, os cristãos passaram pelas chamadas "controvérsias cristológicas": vários grupos defendiam visões completamente diferentes com respeito à natureza de Jesus Cristo e do ser divino. Isso talvez não nos cause nenhum espanto. Satanás desejaria mais do que nunca introduzir entre os discípulos erros no que se refere à natureza de Deus, sendo esses erros básicos e extremamente prejudiciais. Além disso, qualquer ser humano que tente compreender a natureza de Deus está lidando com um assunto muito mais profundo que ele mesmo. É natural tentar reduzir Deus às condições humanas e começar a analisá-lo de acordo com as limitações humanas. Mesmo hoje, há acirradas controvérsias entre os supostos seguidores do Senhor Jesus no que diz respeito à natureza e ao conceito da divindade. 

É importante começar qualquer estudo com a postura correta. Precisamos sempre estar dispostos a submeter os nossos conceitos ao significado imparcial dos textos bíblicos. Consultar a Bíblia para tentar provar o que já decidimos ser a nossa crença é perigoso e muitas vezes leva a equívocos. Se as nossas concepções nos obrigam a torcer as Escrituras para que se encaixem ao que pensamos, então devemos abandonar os nossos conceitos. Nem tudo na Bíblia nos parecerá sábio e razoável. A sabedoria de Deus não se sujeita à nossa avaliação. Por causa das nossas limitações, a sabedoria de Deus às vezes parece tola. Não é necessário que tudo tenha sentido para nós nem que tudo seja coerente, mas pela fé devemo-nos submeter ao que a Palavra de Deus claramente afirma sem rodeios (1 Co 1-2).

Vários grupos negam a absoluta divindade de Cristo. Os testemunhas de jeová, por exemplo, negam que Jesus seja Deus com d maiúsculo. Segundo eles, ele é um deus, um arcanjo muito elevado, mas não é igual a Deus Pai. Os teólogos modernos muitas vezes ensinam que Jesus era um grande homem, um mestre maravilhoso e um grande profeta , mas não Deus na verdade. A Bíblia ensina que Jesus é Deus.

Há vários "porém" que devem ser ligados a essa afirmação. Quando Jesus se fez carne, passou a ser humano. Participou da nossa natureza; submeteu-se à experiência humana. Assim, experimentou a fome, a sede, o cansaço. Nas palavras de Paulo: "pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz" (Fp 2.6-8). É importante entendermos que, quando Jesus se fez homem, não deixou de ser Deus. Ele era Deus vivendo como homem. Mas restringiu-se a forma e a limitações muito diferentes da natureza de sua existência eterna. Ao afirmar que Jesus é Deus, então, não estamos tentando negar a realidade de Jesus ter-se tornado um ser humano verdadeiro. Afirmar que Jesus é Deus não é afirmar que ele é o Pai. 

Conclusão

Seria válido admitir já de início neste estudo que se acha revelada nas Escrituras uma nítida diferença entre o papel do Pai e o do Filho. Uma delas é que foi o Filho que se fez carne, não o Pai. Mas, o que é mais fundamental, o Pai parece ser revelado na Palavra como o planejador e diretor, e o Filho, como o concretizador. O Filho submeteu-se à vontade do Pai. Nesse sentido, Jesus afirmou: "O Pai é maior do que eu" (Jo 14.28). Entendemos que, de acordo com as Escrituras, o marido deve ser o cabeça da esposa, e ela deve submeter-se ao marido. Mas isso não significa que o marido seja superior em essência; simplesmente tem um papel de autoridade. Tanto marido quanto mulher são plena e igualmente humanos. Da mesma forma, a liderança do Pai e a submissão do Filho não implicam diferença de natureza. Ambos são plena e igualmente divinos.



Sugestão de Leitura da Semana: GONÇALVES, Matheus. O Evangelho do Médico Amado. São Paulo: Evangelho Avivado, 2019.


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