Comentarista: Mickael Ferreira
Texto Bíblico Base Semanal: Tiago 3.1-18
1. Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo.
2. Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça em palavra, o tal é perfeito, e poderoso para também refrear todo o corpo.
3. Ora, nós pomos freio nas bocas dos cavalos, para que nos obedeçam; e conseguimos dirigir todo o seu corpo.
4. Vede também as naus que, sendo tão grandes, e levadas de impetuosos ventos, se viram com um bem pequeno leme para onde quer a vontade daquele que as governa.
5. Assim também a língua é um pequeno membro, e gloria-se de grandes coisas. Vede quão grande bosque um pequeno fogo incendeia.
6. A língua também é um fogo; como mundo de iniquidade, a língua está posta entre os nossos membros, e contamina todo o corpo, e inflama o curso da natureza, e é inflamada pelo inferno.
7. Porque toda a natureza, tanto de bestas feras como de aves, tanto de répteis como de animais do mar, se amansa e foi domada pela natureza humana;
8. Mas nenhum homem pode domar a língua. É um mal que não se pode refrear; está cheia de peçonha mortal.
9. Com ela bendizemos a Deus e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus.
10. De uma mesma boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, não convém que isto se faça assim.
11. Porventura deita alguma fonte de um mesmo manancial água doce e água amargosa?
12. Meus irmãos, pode também a figueira produzir azeitonas, ou a videira figos? Assim tampouco pode uma fonte dar água salgada e doce.
13. Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom trato as suas obras em mansidão de sabedoria.
14. Mas, se tendes amarga inveja, e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade.
15. Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica.
16. Porque onde há inveja e espírito faccioso aí há perturbação e toda a obra perversa.
17. Mas a sabedoria que do alto vem é, primeiramente pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia.
18. Ora, o fruto da justiça semeia-se na paz, para os que exercitam a paz.
Momento Interação
Em Tiago 3, há um ensino poderoso sobre a língua. As nossas palavras podem edificar sonhos fantásticos, assim como pode destruí-los. Tiago nos ensina sobre o mundo de maldade e pecado que há escondido em um órgão tão pequeno, e sobre o nosso dever de dominá-lo. Não devemos usar a boca como fonte de bênção e maldição. Ela deve ser apenas, fonte de bênção. Uma fonte limpa! Ele trata neste capítulo falando sobre a diferença entre a sabedoria terrena e a sabedoria do alto. Uma se comporta de maneira carnal, egoísta, insensata, destrutiva. A outra é muito superior! Pacífica, espiritual, amorosa e promotora da união.
Introdução
Tudo o que existe em nosso universo veio a existir pelo poder da palavra. Deus falou, e nosso mundo veio a existir. Quando ele formou o homem, a mais elevada das criaturas terrestres, Deus o abençoou com a capacidade de se comunicar. Podemos falar, e até mesmo escrever, porque Deus nos deu o dom da linguagem. Quando o diabo usou palavras mentirosas para tentar Eva, ela e seu esposo caíram em pecado (Gn 3). Quando os homens abusaram da boa dádiva da comunicação para se exaltar e desobedecer a Deus, ele confundiu suas línguas para forçar povos diferentes a se separar e povoar a terra, como ele tinha ordenado anteriormente (Gn 11.1-9; 9.1).
Mesmo que os homens tenham frequentemente abusado de suas palavras, a capacidade de se comunicar ainda é uma bênção. Quando o próprio filho de Deus veio ao mundo, ele foi descrito como a Palavra (Jo 1.1, NVI). É pela proclamação de sua mensagem, o evangelho, que chegamos a conhecê-lo e a obedecê-lo. O evangelho "é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego" (Rm 1.16). "E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo" (Rm 10.17).
Os discípulos de Jesus têm a responsabilidade de ensinar o evangelho a outras pessoas. Paulo encorajou Timóteo a cumprir esta missão: "Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina" (2 Tm 4.2). "E o que de minha parte ouviste através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros" (2 Tm 2.2). A língua, portanto, é uma força poderosa. Pode ser usada para o bem, como Deus pretendia, para exprimir amor e oferecer salvação. Ela também pode ser usada para o mal, com efeitos desastrosos que conduzem à condenação. Estas duas possibilidades são claramente contrastadas em Tiago 3.1-12. Consideremos este importante texto e suas aplicações em nossas vidas.
I. O Perigo da Língua
Os cristãos a quem Tiago se dirigia eram afligidos por atitudes carnais que criavam discórdia e divisão entre eles. Alguns praticavam uma religião exterior, que não vinha do coração (Tg 1.21-27). Eles tratavam as pessoas de modo diferente, baseado na sua riqueza (Tg 2.1-7). Eles eram perturbados por guerras, contendas e cobiça (Tg 4.1-4). Alguns estavam falando mal e julgando deslealmente seus irmãos (Tg 4.11,12). Qual era o problema? Parece que a raiz destes problemas podia ser encontrada em alguns professores arrogantes, que estavam mais interessados em conquistar seus próprios seguidores do que em serem seguidores de Cristo. Eles seguiam e ensinavam a sabedoria humana, em vez de proclamarem a pura mensagem da sabedoria de Deus (Tg 3.13-18). A advertência que Tiago oferece, então, vai até o coração da arrogância interesseira. Quando os homens de tendência carnal procuram ser mestres, eles convidam a uma condenação maior. Eles são capazes de perverter o evangelho para conseguir seguidores, porque eles são servos de si mesmos e não servos de Cristo.
De todas as tentações que enfrentamos, a mais persistente e difícil é a tentação de dizer alguma coisa que não devemos. Algumas pessoas lutam para eliminar palavrões e piadas sujas de seu falar (Ef 4.29). Outros, despreocupadamente, mostram desrespeito pelo nome do Senhor, proferindo frases como “Meu Deus!”, ou “Meu Deus do Céu!” sem parar para pensar que eles estão tratando o nome do Santo Deus como se não fosse nada mais do que uma expressão comum de surpresa ou desgosto. Deus merece nosso completo respeito (Sl 111.9,10). Muitos usam a língua para espalhar boatos e fazer acusações sem fundamento (Provérbios 16:28; 1 Timóteo 5:13). Deste modo, eles podem destruir a reputação de pessoas boas, criar discórdia entre irmãos, e até impedir a divulgação do evangelho (1 Co 3.3; 1 Ts 2.15,16). Tais pessoas não são seguidoras de Cristo, mas do diabo, o pai das mentiras e o maior acusador de todos (Jo 8.44; Ap 12.9,10; 22.8).
II. A Verdadeira Sabedoria
As verdades fundamentais sobre Deus constituem as bases do conhecimento. A realidade de Deus é a coisa mais importante que pode-se saber e também a mais óbvia (Romanos 1:19-20). No abecedário do conhecimento, começamos com Deus. Aqueles que não creem muitas vezes se veem como mais avançados no seu conhecimento. Mas nenhuma arte, nenhuma filosofia, nenhuma ciência, nenhuma literatura, nada adquirido intelectualmente nem feitos de qualquer tipo compensarão a ignorância em relação a Deus; a alma que não o conhece é um homem ignorante; a época que não o conhece é uma época ignorante. O conhecimento sobre Deus também é a “base” do conhecimento. É o princípio de organização que unifica todo o resto, a moldura dentro da qual todas as informações se encaixam. Em Deus, o caos dos fatos se torna um cosmos de conhecimento.
A verdade simples é esta: não ficaremos sábios sem buscar a Deus, e não buscaremos a Deus sem humildade, respeito e reverência. Por isso o temor do Senhor é o “princípio” da sabedoria. O orgulho sempre corrompe o processo de aprendizagem. A ilusão de que sabemos mais do que realmente sabemos (junto com a falta de vontade de aceitar verdades que podem ter consequências indesejadas) farão com que não progredimos na sabedoria. É o respeito pelo Criador que abre a porta para o crescimento intelectual. Por bons motivos, a sabedoria é valorizada. Ouvimos diversas maneiras de explicar a diferença entre conhecimento e sabedoria, e percebemos a importância de ambos. Quando buscamos a sabedoria, procuramos aprender como utilizar os fatos conhecidos para viver bem.
De tudo que podemos entender sobre a sabedoria, o fato mais importante é a sua fonte. Com certeza, aprendemos coisas importantes pelas experiências da vida, e assim os idosos podem demonstrar uma compreensão que escapa aos jovens. Mas, nem todos aprendem essas lições, e assim a idade não garante a sabedoria. Quando ouviu seus amigos fazendo discursos baseados em suas próprias experiências e não nas palavras de Deus, Jó disse: “Está a sabedoria com os idosos, e, na longevidade, o entendimento? Não! Com Deus está a sabedoria e a força; ele tem conselho e entendimento” (Jó 12.12,13). Jó e Tiago nos apontam na mesma direção. Quem procura a verdadeira sabedoria busca a palavra de Deus.
A sabedoria não vem de dentro ou de alguma busca filosófica que exclui Deus. Para adquirir a verdadeira sabedoria, precisamos respeitar o Senhor: “O temor do SENHOR é o princípio do saber, mas os loucos desprezam a sabedoria e o ensino” (Pv 1.7). É necessário valorizar o que o Criador diz, e não confiar em si mesmo: “Confia no SENHOR de todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas. Não sejas sábio aos teus próprios olhos; teme ao SENHOR e aparta-te do mal” (Pv 3.5-7).
Tiago dá um conselho a alguns irmãos: não sejam muitos de vós mestres. Por que ele dá esse conselho? Alguns queriam ser mestre, porém não tinham recebido tal capacitação (cf. Ef 4.10,11). As pessoas que aspiravam a posição de mestre não atinavam que os mestres receberão juízo na condição de mestre e nem da necessidade de estar enquadrado em alguns quesitos que Tiago discorre neste capítulo. O juízo que Tiago faz referência será estabelecido no Tribunal de Cristo (cf. Rm 14.10; 2 Co 5.10), visto que ele se inclui entre aqueles que receberão maior juízo (implicitamente Tiago se posiciona como mestre), e por ser certo que ele tinha certeza de sua salvação. O juízo do Grande Trono Branco não é destinado à igreja “Meus irmãos…” (Tg 3.1). Os versículos que se seguem apresentam os motivos pelas quais os irmãos não deveriam aspirar a posição de mestres com o único fito de se vã gloriar.
III. O Fruto da Justiça
O apóstolo Tiago chega a uma conclusão: o fruto da justiça semeia-se na paz! O que ele quis dizer? Não se semeia o fruto, e sim a semente, pois devemos ter em mente que a semente dará o seu fruto no devido tempo. Ou seja, para se obter o fruto da justiça devemos lançar a semente na paz. Mas, qual é a semente que produz o fruto da justiça? Para se obter o fruto da justiça faz-se necessário semear a semente apropriada, que é a palavra de Deus (1 Pe 1.23). Sabemos que Cristo é a nossa paz e que o fruto da justiça só é possível por meio dele (Ef 2.14).
Tiago fala como se semeia o fruto da justiça e Paulo aponta o que é o fruto do Espírito: “E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos em Espírito, andemos também em Espírito” (Gl 5.23,24) – O fruto do Espírito só é possível àqueles que crucificaram a carne e nasceram do Espírito Eterno. Estes deixaram de viver segundo a carne e passaram a viver segundo o Espírito. Ou seja, cumpre-se o que foi dito por Cristo: “O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito” (Jo 3.6). Aqueles que são nascidos do Espírito através do lavar regenerador da palavra do evangelho, estes são espirituais, e produzem em Deus amor, gozo, paz, longanimidade, etc. “Estai em mim, e eu em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em mim” (Jo 15.4);
O fruto da justiça é a resolução de nossas vidas na presença de Deus, fiéis à Cristo Jesus: “Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e pelas suas feridas fostes sarados” (1 Pe 2.24). O fruto da justiça só é possível àqueles que tiveram os seus pecados levados pelo corpo de Cristo e crucificaram a carne, estando mortos para o pecado. Estes deixaram de viver para o pecado e passaram a viver segundo a Justiça. Ou seja, para pudéssemos ser: “Cheios dos frutos de justiça, que são por Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus” (Fp 1.11).
Observe que o ‘fruto da justiça’ e o ‘fruto do Espírito’ só são possíveis por meio de Jesus. Observe também que os dois frutos estão no singular: o fruto. Ou seja, o fruto do Espírito é o mesmo que o fruto da justiça. E o mais interessante: Paulo e Tiago falam do fruto do Espírito, e ou Fruto da Justiça, para dissuadir os seus leitores de comportamento semelhantes.
Conclusão
Este é um dos capítulos mais difíceis da Bíblia. Não no sentido de compreender, mas de praticar. Os pecados relacionados à língua podem alcançar maiores proporções do que os pecados cometidos pelo corpo, ou pode nos levar a cometê-los também. Tiago chama de “perfeito varão” todo aquele que consegue refrear a língua, porque, assim fazendo, será “capaz de refrear também todo o corpo” (Tg 3.2). Ao ilustrar tal situação com o “freio na boca dos cavalos” (Tg 3.3), a ideia central é de que nós também precisamos de um “freio”, de um aio que nos indique o caminho e nos livre de tropeçar. Este Aio especial chama-Se Espírito Santo. Como está escrito: “Quando te desviares para a direita e quando te desviares para a esquerda, os teus ouvidos ouvirão atrás de ti uma palavra, dizendo: Este é o caminho, andai por ele” (Is 30.21).
Por outro lado, a comparação da língua com o leme de um navio, indica que, apesar de pequena, se ela não for governada pelo Timoneiro celestial, mas pelo “impulso do timoneiro” (Tg 3.4) do próprio “eu”, trágicas serão as consequências. Pois assim “como uma fagulha põe em brasas tão grande selva” (Tg 3.5), “a língua é fogo; é mundo de iniquidade… e contamina o corpo inteiro” (Tg 3.6). E o pior: “nenhum dos homens é capaz de domar; é mal incontido, carregado de veneno mortífero” (Tg 3.8). O perfeito varão, portanto, a que Tiago se refere, não é aquele que consegue, por sua força de vontade, refrear a língua, mas aquele que, pelo poder do Espírito Santo é capacitado a fazê-lo; que, por conhecer a sua própria natureza caída, reconhece que depende da ajuda do alto.
É totalmente incoerente (para não dizer detestável) diante de Deus, os lábios que O louvam e ao mesmo tempo amaldiçoam aqueles que criou à Sua semelhança (Tg 3.9). Sobre estes, disse Jesus: “Este povo honra-Me com os lábios, mas o seu coração está longe de Mim” (Mt 15.8). “Meus irmãos, não é conveniente que as coisas sejam assim” (Tg 3.10). Precisamos clamar ao Senhor, todos os dias, para que de nossa boca só proceda bênção. Para que o Espírito Santo governe nossas intenções, palavras e ações. Jesus foi bem claro ao afirmar: “porque, pelas tuas palavras, serás justificado e, pelas tuas palavras, serás condenado” (Mt 12.37). Ou uma coisa, ou outra, amados. Não há meio termo. Da fonte que jorra água salgada não pode jorrar água doce, e vice e versa (Tg 3.12).
“Pois, onde há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão e toda espécie de coisas ruins” (Tg 3.16). Quem permite ser governado por tais sentimentos jamais passará no crivo do Céu com aqueles que amam a Deus e buscam viver piedosamente.
Sugestão de Leitura da Semana: SANTOS, Matheus. O Viver do Cristão. São Paulo: Evangelho Avivado, 2019.
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