Comentarista: Marcos Rogério
Texto Bíblico Base Semanal: Romanos 5.1-19
1. Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo;
2. Pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança da glória de Deus.
3. E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a paciência,
4. E a paciência a experiência, e a experiência a esperança.
5. E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.
6. Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios.
7. Porque apenas alguém morrerá por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém ouse morrer.
8. Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.
9. Logo muito mais agora, tendo sido justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira.
10. Porque se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, tendo sido já reconciliados, seremos salvos pela sua vida.
11. E não somente isto, mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual agora alcançamos a reconciliação.
12. Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram.
13. Porque até à lei estava o pecado no mundo, mas o pecado não é imputado, não havendo lei.
14. No entanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles que não tinham pecado à semelhança da transgressão de Adão, o qual é a figura daquele que havia de vir.
15. Mas não é assim o dom gratuito como a ofensa. Porque, se pela ofensa de um morreram muitos, muito mais a graça de Deus, e o dom pela graça, que é de um só homem, Jesus Cristo, abundou sobre muitos.
16. E não foi assim o dom como a ofensa, por um só que pecou. Porque o juízo veio de uma só ofensa, na verdade, para condenação, mas o dom gratuito veio de muitas ofensas para justificação.
17. Porque, se pela ofensa de um só, a morte reinou por esse, muito mais os que recebem a abundância da graça, e do dom da justiça, reinarão em vida por um só, Jesus Cristo.
18. Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida.
19. Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de um muitos serão feitos justos.
Momento Interação
Então, basta somente a fé e nada mais? Geralmente, quando feita, esta pergunta tem uma segunda intenção, talvez motivada por comodismo, letargia e ‘graça barata’, por isso, inicialmente, de forma cuidadosa, a resposta à pergunta deve ser: ´depende´. Pode ser ´sim´, mas também pode ser ´não´. Somente a fé não é um princípio que exclui os demais solas: Cristo, graça e Escritura. Em verdade, Cristo, graça, fé, Escritura perfazem um todo e, por isso, a rigor, se poderia falar em um único ´somente´. Seria um ´somente Cristo-graça-fé-Escritura´. Da mesma forma, os reformadores jamais afirmaram que a fé exclui as obras de amor. Pelo contrário, a fé e o amor também perfazem uma grandeza única. A fé faz obras. Quando Lutero afirmou o ´somente pela fé´, ele não quer excluir as exigências das obras, mas excluir autojustificação e automeritocracia diante de Deus. A fé, então, não combate as obras, mas as afirma. O que o ´somente pela fé´ combate são o egoísmo e individualismo que decorrem da autojustificação e dos méritos próprios.
Introdução
A fé é uma necessidade espiritual básica do ser humano. Sem fé é impossível agradar a Deus. "De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam." (Hb 11.6). Precisamos entender que a salvação é somente pela graça, mas pela graça por meio da fé (Ef 2.8-10). Fé é confiança em Deus, é saber que tudo aparentemente estando dando certo ou errado Deus está no controle: "Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem" (Hb 11.1). A Bíblia descreve a fé como algo sobrenatural, como um dom de Deus ao homem e que deve ser desenvolvida: "E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo." (Rm 10.17). É aqui que entra a importância da pregação doutrinária, expositiva e cristocêntrica em vez das populares pregações motivacionais. A fé é despertada pelo estudo, leitura e audição do Evangelho de Cristo que é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Rm 1.16).
I. A Justificação pela Fé
A Bíblia claramente ensina a doutrina da justificação pela fé de modo que não nos deixa dúvidas: "Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei." (Rm 3.28). A lei, as obras, as boas intenções não podem salvar o homem do pecado e de suas consequências temporais ou eterna. Através de Cristo e Seu sacrifício vicário a justiça de Cristo é imputada ao pecador pela fé como os pecados do pecador foram lançados sobre Cristo (Is 53.4-6). Lutero disse: "Aprendei a conhecer a Cristo, e Ele crucificado. Aprendei a cantar um novo cântico - a desesperar de vossas próprias obras, e a clamar a Ele: Senhor Jesus, Tu és a minha justiça, e eu o Teu pecado. Tomaste sobre ti o que era meu, e deste-me o que Te pertencia; o que não eras Te tornaste, a fim de que eu me pudesse tornar aquilo que não era." - História da Reforma de d'Aubigné, volume. 2, capítulo 8.
Paulo reforçou essa ideia escrevendo aos coríntios: "Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus" (2 Co 5.21). Em Seu amor e misericórdia infinitos Deus fez com que Jesus Cristo que não conheceu pecado se tornasse pecado por amor de nós pecadores necessitados da graça. Jesus torna-se nosso Substituto para que nós recebêssemos as bençãos que Ele tinha direito e, para isso, Ele recebeu a condenação que merecíamos. Na qualidade de pecadores arrependidos somos justificados pela fé e recebemos pleno perdão. Por meio de Jesus Cristo recebemos adoção, justificação, santificação e a futura glorificação.
II. A Doutrina da Fé na Reforma
A Reforma religiosa do século dezesseis, foi deflagrada quando o monge agostiniano, Martinho Lutero, fixou nas portas da igreja de Wittenberg, na Alemanha, as noventa e cinco teses contra as indulgências e os abusos do papado. A Reforma não foi uma inovação na igreja, mas uma volta à doutrina dos apóstolos, ao Evangelho bíblico. Não foi um desvio de rota, mas uma volta às Escrituras. A Reforma colocou a igreja de volta nos trilhos da verdade. Uma das ênfases da Reforma Protestante foi a compreensão correta do que é a fé.
A fé é um dos elementos fundamentais do cristianismo. Habacuque disse que o justo viverá pela fé (Hc 2.4). O Novo Testamento menciona a declaração de Habacuque três vezes, ver (Rm 1.17; Gl 3.17; Hb 10.38). A fé vem pelo ouvir, e ouvir a Palavra de Cristo (Rm 10.17). O autor de Hebreus, possivelmente o apóstolo Paulo dedicou o capítulo 11 de Hebreus para tratar exclusivamente da fé.A fé é o fator primordial na vida de um crente. Desde a experiência mais elementar como crer no Evangelho até a mais elevada quando já somos crescidos em vida. Não há viver cristão sem fé. A salvação do crente é pela graça mediante a fé para boas obras (Ef 2.8-10). Sem fé é impossível agradar a Deus (Hb 11.6). Em Hebreus no capítulo 11 vemos uma lista de homens e mulheres que viveram nos tempos do Antigo Testamento e que foram justificados diante de Deus pela fé e que pela fé obtiveram bom testemunho. A fé não se limita a uma crença, mas a uma fé quese torna evidente por meio das obras manifestas. Deus chama cristãos à ação. Somos chamados para servir.
A fé é criacionista, ou seja, nossa fé se baseia no nosso Deus que é o Criador (Hb 11.3), mas contrariamente ao deísmo é galardoador dos que o buscam (Hb 11.6).A fé não anula a obediência, caso contrário seria presunção e não fé. Em Apocalipse 14.12 lemos que a fé em Jesus é acompanhada da obediência aos mandamentos de Deus, em Hebreus 11.4 diz que pela fé de Abel ele ofereceu a Deus mais excelente sacrifício do que Caim.Enoque, antes da sua trasladação obteve testemunho de ter agradado a Deus (Hb 11.5). Pela sua fé, Noé construiu a arca (Hb 11.7). Pela sua fé Abraão quando chamado obedeceu a Deus e partiu de sua terra sem saber para onde ia (Hb 11.8). Pela fé, quando provado ofereceu a Deus seu próprio filho crendo que Deus poderia trazê-lo de volta à vida (Hb 11.17-19).
Pela fé Moisés recusou ser chamado filho da filha de Faraó escolhendo sofrer junto com o povo de Deus a usufruir os prazeres transitórios do pecado (Hb 11.24-28), os israelitas e tantos outros também agradaram a Deus e obtiveram as bençãos e a salvação por meio de sua fé. Como a ausência da evidência não significa evidência da ausência Deus não exige de Seus filhos uma fé cega e irracional, mas nos dá suficientes razões para crer: “Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras de suas mãos” (Sl 19.1); “Porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas” (Rm 1.19,20); “Diz o insensato no seu coração: Não há Deus. Corrompem-se e praticam abominação; já não há quem faça o bem” (Sl 14.1; 53.1).A fé bíblica é a confiança em Deus, a crença de que Ele recompensa aqueles que O buscam (Hb 11.1,6).
Na época da Reforma Protestante a fé foi desvirtuada, endinava-se que fé era a crença e confiança na mediação da igreja, do clero, dos sacerdotes e a aceitação de seus sacramentos para se obter a salvação, a qual na verdade era buscada por meio de penitências, indulgências, missas, conficionário e outras formas de distorções da sã doutrina. A proposta da Reforma Protestante não foi criar divisão, mas restaurar as verdades bíblicas.
III. A Fé em Cristo Jesus
A Reforma Protestante também restaurou a fé em Jesus e Sua intercessão em favor do homem. Nessas dias o homem havia tido sua atenção desviada de Jesus para sacerdotes humanos e mediadores mortos que supostamente estariam completando a intercessão de Jesus intercedendo pelos homens na Terra. O ministério sacerdotal e sumo sacerdotal de Jesus foi pleno e suficiente em prol do pecador. Não há outros mediadores entre Deus e o homem, por mais santos que sejam: “Porquanto, há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens” (1 Tm 2.5). É a natureza teantrópica (divino-humana) de Jesus Cristo que o torna o Mediador entre Deus e os homens ligando a humanidade à Divindade.
Declarar que há outros mediadores é ir contra a revelação bíblica porque só Jesus em sua união hipostática (totalmente Deus e totalmente homem) através de Seus méritos que preenche esse requisito. Somente por meio de Jesus o pecador pode ser reconciliado com Deus. A Divindade estende a mão e toca a humanidade em Jesus. Por meio de Jesus o homem é habilitado a comparecer diante de Deus. Paulo, nesse texto exclui a necessidade de outros seres humanos para complementar essa função.
A mediação de Jesus é plena, suficiente e perfeita. Ele não é o Mediador supremo, é o único Mediador. O próprio Senhor Jesus deixou claro essa verdade ao dizer: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6). A Bíblia diz em (Hb 7.26) que Cristo é o único imaculado, diz em (2 Co 5.21) que Ele é o único que não conheceu pecado. Por isso Cristo é o único mediador entre Deus e os homens (1 Tm 2.5), único advogado (1 Jo 2.1) e nosso único intercessor no céu (Hb 7.25). Qualquer doutrina que coloque outro imaculado, advogado e mediador é uma distorção da verdade bíblica.
Conclusão
A palavra fé do hebraico emun ou emunah e do grego pistis representa uma firme confiança emocional e intelectual em Deus e em Suas providências. Essa fé não é uma confiança cega, mas uma racional e serena confiança em Deus. A confiança em Deus se deve ao Seu caráter de amor (1 Jo 4.8,16). Essa fé é um dos requisitos para a aproximação de Deus (Hb 11.6). A fé é sobrenatural, cremos no que não vemos (Hb 11:1) e é um dom de Deus (Ef 2.8). É por meio da fé em Jesus Cristo que o pecador é justificado (Rm 8.1; 3.28; Gl 2.16; 3.8,25).
A fé não é passiva nem infrutífera, mas é evidenciada por obras (Gl 5.6; Tg 2.17; 18, 20, 21, 26) e gera boas obras (Ef 2.10). Pela fé o homem arrependido recebe de Deus perdão e misericórdia e também a graça necessária para se reconciliar com Deus e poder para andar em harmonia com Sua santa e boa vontade. O Cristianismo é a religião que crê em Jesus, Sua Divindade, Sua humanidade, Seu ministério terrestre e celestial e aceita a Jesus como único e suficiente Salvador. Nós cristãos cremos que Jesus é o único mediador entre Deus e os homens (1 Tm 2.5).
Cremos que Jesus não foi simplesmente um bom homem, um profeta, um guia, mas Deus em forma humana. Jesus é o Deus conosco (Mt 1.23). Foi a fé em Jesus como Deus Todo-Poderoso que fez com que em Antioquia fossem os discípulos pela primeira vez chamados de cristãos (At 11.26), pois falar de Jesus era o que eles mais faziam. Jesus era o tema principal de suas conversações. Na Bíblia Sagrada é possível conhecer Jesus de forma tão plena como o conheceram os palestinos que com Ele tiveram contato pessoal. Conhecer a Jesus não foi o privilégio restrito da geração que viveu a 2.000 anos.
Conhecemos a Jesus pelos relatos dos Evangelhos Sinóticos, Mateus, Marcos e Lucas e pelo Evangelho de João, mas toda a Bíblia fala de Jesus direta ou indiretamente. Não só podemos conhecer o Senhor Jesus e se relacionar com Ele, como também podemos, por meio do Espírito Santo ser semelhantes a Ele (2 Co 3.18). A Teologia é o estudo sobre a Divindade, o estudo sobre o Espírito Santo é chamado de Pneumatologia, nesse texto entraremos em um ramo da teologia conhecido como Cristologia, o estudo sobre o que a Revelação nos revela sobre a pessoa de Cristo em Sua vida de perfeita obediência.
A vida de Jesus foi de obediência, razão pela qual Ele se tornou nosso exemplo (1 Jo 2.6). Jesus, como o Filho de Deus tinha uma responsabilidade muito grande. Cabia-lhe ser nosso exemplo em todas as coisas e para tal Jesus precisava ser perfeito, separado dos pecadores (Hb 9.26).
Sugestão de Leitura da Semana: RIBEIRO, Anderson. A Mensagem de Cristo. São Paulo: Evangelho Avivado, 2020.
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