sábado, 3 de julho de 2021

Comentário Bíblico Mensal: Julho/2021 - Capítulo 1 - Introdução à Segunda Epístola aos Tessalonicenses

 




Comentarista: Eliezér Gomes



Texto Bíblico Base Semanal: 2ª Tessalonicenses 1.1,2


1. Paulo, e Silvano, e Timóteo, à igreja dos tessalonicenses, em Deus nosso Pai, e no Senhor Jesus Cristo:

2. Graça e paz a vós da parte de Deus nosso Pai, e da do Senhor Jesus Cristo.



Momento Interação

Os cristãos de Tessalônica, cujas origens foram resumidas na Introdução à Primeira Carta aos Tessalonicenses parecem ter mudado bastante em pouco tempo, porquanto se pensa que esta carta foi escrita pouco tempo depois (quiçá alguns meses) da primeira. A julgar por esta carta, esses cristãos dão mostras de algum fanatismo religioso. A expectativa de que a vinda do Senhor se encontrava já muito próxima levava-os a descuidar e a abandonar o cumprimento das suas obrigações quotidianas (2 Ts 3.6,11). Os Tessalonicenses atribuíam essas ideias a pretensas revelações ou a escritos que diziam ser de Paulo (2 Ts 2.1,2). A primeira carta, na qual se abordava, entre outros, o tema comum da segunda vinda do Senhor. Nesta segunda carta, estudamos acerca da vigilância cristã e da vinda do Anticristo. Neste capítulo, estudaremos a introdução da segunda epístola de Paulo aos Tessalonicenses.

Introdução

Estudar analiticamente um texto bíblico do Novo Testamento é sempre um enorme desafio por vários motivos. Em primeiro lugar, porque estamos cronologicamente distantes quase 2 mil anos de seu momento autoral; por isso, o peso do estranhamento das práticas culturais, litúrgicas e sociais torna-se mais evidente ainda durante a leitura deste. Temos ainda que lidar com as especificidades linguísticas — pois o Novo Testamento foi todo escrito numa versão popular de um idioma antigo, o grego — que desembocam também em enormes desafios para a compreensão literária da obra.

Lembremo-nos ainda que, no caso das epístolas aos tessalonicenses, não estamos diante de apenas um texto, mas, sim, de duas composições diferentes — apesar de ambas as correspondências serem, provavelmente, de um mesmo autor e para uma mesma comunidade. Desse modo, seria absolutamente incoerente utilizar-se de um mesmo conjunto de pressupostos teóricos para fundamentar a análise dessas duas obras sem qualquer tipo de distinção entre as mesmas.

Deve-se ainda levar em conta que os textos aos quais nos propomos a discutir nas páginas a seguir são literatura do corpus paulinus. Para tanto, faz-se necessário uma compreensão, mínima que seja, das particularidades do pensamento do apóstolo dos gentios, de modo especial, no início de sua produção epistolar. Pelo menos 1 Tessalonicenses, se é que não se pode dizer o mesmo de 2 Tessalonicenses, é uma amostra histórico-literária de uma genuína produção teológica paulina.

I. A 2ª Epístola aos Tessalonicenses

O que lemos em 1 e 2 Tessalonicenses não é uma produção literária que se propôs a ser canônica já na sua origem — até porque, como bem sabemos, o processo de reconhecimento canônico dos textos contidos no Novo Testamento deu-se num momento histórico posterior1 e segundo regras que estavam alheias ao conhecimento de Paulo. O verdadeiro critério da canonicidade é a inspiração. […] (2 Tm 3.16,17). Por outras palavras, aquilo que foi dado por inspiração de Deus era escriturístico, e o que não veio por inspiração de Deus não era escriturístico, se “Escrituras” significarem o registro escrito da Palavra de Deus revestida de autoridade. 

Se este critério for adotado como definitivo, há que responder a próxima pergunta: “Como se demonstra a inspiração?” Os livros do novo testamento não começam todos com a afirmação de que foram inspirados por Deus. Alguns relacionam-se com assuntos muito vulgares, outros contém enigmas históricos, literários e teológicos que só com dificuldade podem ser resolvidos. Será possível demonstrar a sua inspiração a contento de todos? A resposta a este problema é tripla. Primeiro, a inspiração destes documentos pode ser apoiada por seu conteúdo intrínseco. Segundo, essa inspiração pode ser corroborada pelo seu efeito moral. Finalmente, o testemunho histórico da Igreja Cristã mostrará o valor que era dado a esses livros, se bem que a Igreja não fizesse com que eles fossem inspirados ou canônicos.

Se 1 e 2 Tessalonicenses são textos sagrados, agora os compreendendo para além da questão histórico-crítica da canonicidade e muito mais próximo de uma concepção devocional das epístolas, isso se deve ao fato de que Paulo, ao escrever àqueles irmãos, não fez isso de modo institucional ou religioso, mas, sim, de maneira amorosa e fundamentalmente cristã. Não se tratava de um técnico de assuntos religiosos transmitindo ordens a um grupo de iniciados, mas, sim, de um líder, um amigo, um pastor, que pacientemente ensina um grupo de novos convertidos a como proceder diante de dúvidas e questões que afligiam o cotidiano daquela comunidade.

Um exemplo clássico da relação entre o cuidado de Paulo com os tessalonicenses e a questão da cultura helenística pode ser identificado na reticente abordagem da questão da ressurreição. Diante da variedade de cultos a divindades, entre os quais ao egípcio Osíris e ao grego Dioniso, a questão da ressurreição necessitava ser apregoada a partir de uma perspectiva cristã — inclusive para superar o materialismo estoico e o indiferentismo epicureu, que predominava entre os atenienses ali bem próximo de Tessalônica.

II. Data, Autoria e Local da 2ª Epístola aos Tessalonicenses

2 Tessalonicenses 1.1 indica que o livro de 2 Tessalonicenses foi escrito pelo apóstolo Paulo, provavelmente junto com Silas e Timóteo. 2 Tessalonicenses foi provavelmente escrito em 51-52 d.C. Capítulo 1 enfatiza as orações de Paulo a favor dos tessalonicenses. Ele desejava que as vidas deles servissem para glorificar o Senhor. Capítulo 2 responde a uma tendência de acreditar que essa vinda do Senhor viria logo. Paulo incentiva a perseverança e dedicação dos cristãos, mostrando que Jesus não voltaria antes de haver uma apostasia por parte de pessoas que preferem o engano e não amam a verdade. Capítulo 3 estende o ensinamento da primeira epístola (especialmente de 1 Tessalonicenses 5.14) com orientações sobre a necessidade de se afastar de irmãos que permanecem no pecado, rejeitando a mensagem do evangelho nas suas vidas desordenadas.

III. A Mensagem da 2ª Epístola aos Tessalonicenses

A visita inicial de Paulo em Tessalônica foi interrompida pela perseguição por parte dos judeus. Ele continuou sua viagem, passando um tempo em Bereia e Atenas e chegando a Corinto antes de enviar duas cartas aos tessalonicenses recém-convertidos. As expressões de afeto que ele usou na primeira dessas epístolas (1 Ts 2.7,11,17) ajudam os leitores a imaginarem sua preocupação e até angústia depois de sair da Macedônia. Se perseguiam este apóstolo, o que fariam com os novos adeptos da fé em Cristo Jesus (1 Ts 3.1-5). De fato, os novos cristãos em Tessalônica foram atribulados: “a tal ponto que nós mesmos nos gloriamos de vós nas igrejas de Deus, à vista da vossa constância e fé, em todas as vossas perseguições e nas tribulações que suportais” (2 Ts 1.4). Viviam sob ameaça de perseguição e até de morte, mas essas circunstâncias não tiraram sua confiança.

Uma das principais mensagens do evangelho que Paulo pregava aos tessalonicenses foi a esperança das pessoas que obedecem ao Senhor com uma perspectiva eterna. Como o próprio Senhor Jesus havia falado, “Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo” (Mateus 10:28). Esta atitude define perfeitamente a rejeição das atitudes materialistas que dominam o pensamento de muitas pessoas. Paulo ensinou a importância de se desprender de todas as coisas materiais – até da própria vida neste mundo – para alcançar a vida eterna.

O fim da caminhada terrestre, seja pela morte ou pela prometida volta do Senhor, trará alívio aos fiéis: “e a vós outros, que sois atribulados, alívio juntamente conosco, quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os anjos do seu poder” (2 Ts 1.7). Estas pessoas aprenderam a amar a verdade (2 Ts 2.10) e a esperar e amar a vinda de Jesus (2 Tm 4.8). Pessoas enredadas nas preocupações desta vida jamais entenderiam a alegria e tranquilidade de homens e mulheres que abririam mão de tudo, inclusive da própria vida, para servir a Deus.

As pessoas que mantêm seu foco material, que resistem à mensagem do evangelho, não compartilham a mesma esperança. A mesma vinda do Senhor que trará alívio para seus servos será ocasião de horror para os outros: “em chama de fogo, tomando vingança contra os que não conhecem a Deus e contra os que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus. Estes sofrerão penalidade de eterna destruição, banidos da face do Senhor e da glória do seu poder” (2 Ts 1.8,9). Ninguém é obrigado a estar com Deus na eternidade!

IV. A 2ª Epístola aos Tessalonicenses e a sua Mensagem Hoje

A igreja de Tessalônica ainda tinha alguns equívocos sobre o Dia do Senhor. Eles achavam que já tinha acontecido, então pararam de trabalhar. Eles estavam sendo gravemente perseguidos. Paulo escreveu para esclarecer os mal-entendidos e confortá-los.  Paulo saúda a igreja em Tessalônica e os encoraja e exorta. Ele os elogia pelo que tem ouvido sobre o que estão fazendo no Senhor e ora por eles (2 Ts 1.11,12). No capítulo 2, Paulo explica o que acontecerá no Dia do Senhor (2 Ts 2.1-12). 

Paulo então os encoraja a permanecerem firmes e a manterem distância dos homens ociosos que não vivem pelo evangelho (2 Ts 3.6). Paulo se refere a várias passagens do Antigo Testamento em seu discurso sobre o fim dos tempos, assim confirmando e reconciliando os profetas do Antigo Testamento. Grande parte do seu ensinamento sobre o fim dos tempos nesta carta é baseado no profeta Daniel e suas visões. Em 2 Tessalonicenses 2.3-9, ele refere-se à profecia de Daniel sobre o "homem do pecado" (Dn 7-8). 

O livro de 2 Tessalonicenses é cheio de informações sobre o fim dos tempos. Ele também nos exorta a não sermos ociosos e a trabalharmos pelo que temos. Existem também algumas grandes orações em 2 Tessalonicenses que podem nos servir de exemplo sobre como orar pelos outros crentes de hoje.

Conclusão

A mensagem de Paulo não foi o ensinamento que muitos pregam nos dias atuais. Ele não incentivou a busca de conforto e bens nesta vida. Paulo ensinou os tessalonicenses e nos ensina a esquecer as coisas desta vida e focalizar a vida eterna na presença do Senhor! Que Deus nos ajude a amar a verdade e amar a vinda de Jesus! Alguns dos tessalonicenses ouviram um ensinamento errado de que talvez o Senhor já tivesse voltado (2 Ts 2.2; 2 Tm 2.16-19). É claro que isto perturbaria estas pessoas esforçadas em fazer a vontade de Cristo. Poderiam imaginar que haviam sido esquecidas no julgamento, já que não estavam com Jesus conforme a promessa. Paulo os consola, lembrando-os que, de fato, haverá uma "reunião" dos irmãos com o Senhor. Explicou que os ensinamentos errados que ouviram não vieram por meio dos apóstolos e profetas de Jesus (2 Ts 2.1,2; Ef 3.3-5).

Portanto, os irmãos não deveriam se abalar ou se deixar enganar. Em vez disso, deveriam lembrar-se de tudo que Paulo já havia lhes ensinado (2 Ts 2.3,4). Muitos continuam até hoje perturbados desnecessariamente acerca da volta do Senhor porque dão ouvidos a fábulas e histórias fantásticas quando deveriam estudar e praticar o que foi revelado pelos apóstolos. Paulo estava confiante que tudo que os irmãos precisavam saber ele já havia revelado (2 Ts 2.5,6). Paulo os lembra de que as forças do mal continuarão operando ocultamente no mundo ("o mistério da iniquidade") até mesmo a volta do Senhor. Então tudo será exposto ("revelado") e o Senhor destruirá com facilidade os que praticam o erro (2 Ts 2.7,8; 1.6-10; Mt 7.21-23).

Mesmo que o Senhor seja capaz de destruir com seu sopro as forças de Satanás, não devemos imaginar que sejam fracas e facilmente vencidas por nós. Paulo disse que o erro que opera no mundo é "segundo a eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais, e prodígios da mentira, e com todo engano de injustiça..." (2 Ts 2.9,10). A Bíblia ensina que Satanás é um mentiroso que se aproveita de qualquer astúcia para enganar os fiéis. Cientes disso, cristãos precisam de muito cuidado para não caírem no engano. De fato, Deus sempre deu ao seu povo avisos sobre falsos sinais e profecias (Dt 13.1-5; 2 Pe 2.1; 1 Jo 4.1). Paulo mostra claramente que os que se perdem são aqueles que "não acolheram o amor da verdade para serem salvos" (2 Ts 2.10). Portanto, para não cair no engano do poder de Satanás é preciso muito mais de que apenas conhecer a verdade na palavra de Deus - é necessário amar a verdade, praticando-a completamente!



Sugestão de Leitura da Semana: CARLOS, José. Vida Santa e Irrepreensível. São Paulo: Evangelho Avivado, 2017.


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