terça-feira, 31 de outubro de 2017

Comentário Bíblico Mensal: Outubro/2017 - Capítulo 5 - Nenhuma Condenação Há



Comentarista: Alexandro Milesi

Introdução

"Portanto, agora nenhuma condenação há". O oitavo capítulo da epístola aos Romanos conclui a primeira seção desta maravilhosa epístola. Sua palavra de abertura é "Portanto", e pode ser vista de uma forma dupla. Primeiro, ela se conecta com tudo o que foi dito desde 3:21. Uma inferência é agora deduzida a partir de toda a discussão anterior, uma inferência que era, de fato, a grande conclusão que o apóstolo tinha em vista por todo o seu argumento. Porque Cristo foi estabelecido "propiciação pela fé no seu sangue" (3:25); porque Ele "foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação" (4:25); porque pela obediência de um, muitos (os crentes de todas as eras) serão "feitos justos", constituído assim, legalmente, (5:19); porque os crentes estão "mortos" (judicialmente) para o pecado" (6:2), porque estão "mortos" para a condenação do poder da lei (7:4), portanto, AGORA NENHUMA CONDENAÇÃO HÁ".

I. Conflito Doloroso

Mas não é só o "portanto" que deve ser visto como uma conclusão de toda a discussão anterior, também deve ser considerado como tendo uma estreita relação com o que o imediatamente precede. Na segunda metade de Romanos 7 o apóstolo havia descrito o conflito doloroso e incessante que é travado entre as naturezas antagônicas naquele que nasceu de novo, ilustrando isso por uma referência à sua própria experiência pessoal como um cristão. Tendo se retratado com um mestre da pena – sendo ele mesmo o modelo para o quadro – das lutas espirituais do filho de Deus, o apóstolo agora passa a dirigir a atenção para a consolação divina em uma condição tão angustiante e humilhante. A transição do tom desanimado do sétimo capítulo à linguagem triunfante do oitavo aparece surpreendente e abrupta; ainda é bastante lógico e natural. Se é verdade que para os santos de Deus pertence o conflito do pecado e da morte, sob cujo efeito eles choram, também é verdade que sua libertação da maldição e da condenação correspondente é uma vitória no qual eles se alegram. Um contraste muito marcante é, portanto, indicado.

II. O Poder do Pecado na vida do Cristão

Na segunda metade de Romanos 7 o apóstolo trata do poder do pecado, que opera nos crentes enquanto eles estão no mundo; nos versos de abertura do capítulo oito, ele fala da culpa do pecado do qual eles são totalmente entregues no momento em que são unidos ao Salvador pela fé. Portanto, no versículo 7:24, o apóstolo pergunta: "quem me livrará" do poder do pecado, mas em 8:2 ele diz, "me livrou", ou seja, me tirou a culpa do pecado. "Portanto, agora nenhuma condenação há". Não é uma questão do nosso coração nos condenar (como em 1 João 3:21), nem de não encontrarmos nada que seja digno; ao invés, é o fato mais abençoado que Deus não condena o que crê em Cristo para a salvação de sua alma. Precisamos distinguir claramente entre a verdade subjetiva e objetiva; entre o que é judicial e o que é experimental; caso contrário, falharemos ao tirar de tais Escrituras, como estas, o conforto e a paz que elas se propõem a transmitir. Não há nenhuma condenação para os que estão em Cristo Jesus. "Em Cristo" é a posição do crente diante de Deus, não sua condição na carne. "Em Adão" eu estava condenado (Romanos 5:12), mas "em Cristo" estou para sempre livre de toda condenação. "Portanto, agora nenhuma condenação há". A qualificação "agora" implica que houve um tempo quando os cristãos, antes de crerem, que estavam sob condenação. Isto foi antes de morrerem com Cristo, morreram judicialmente (Gálatas 2:20) à pena da justa lei de Deus. Este "agora", então, distingue entre dois estados ou condições. Por natureza estávamos "debaixo da (sentença da) lei", mas agora os crentes estão "debaixo da graça" (Romanos 6:14). Por natureza éramos "filhos da ira" (Efésios 2:3), mas agora somos "agradáveis a si no Amado" (Efésios 1:6). Sob a primeira aliança estávamos "em Adão" (1 Coríntios 15:22), mas agora estamos "em Cristo" (Romanos 8:1). Como crentes em Cristo temos a vida eterna, e por isso que "não entraremos em condenação".
Condenação é uma palavra de tremenda importância, e quanto melhor a entendermos mais apreciaremos a maravilhosa graça que nos libertou de seu poder. Nos tribunais dos homens este é um termo que cai com sentença de medo aos ouvidos do criminoso condenado e enche os espectadores de tristeza e horror. Mas no tribunal da Justiça Divina é investido de um significado e conteúdo infinitamente mais solene e inspirador. Nessa corte cada membro da raça caída de Adão é citado. "Em iniquidade formado, em pecado concebido", cada um entra neste mundo em prisão - um criminoso indiciado, um rebelde algemado. Como, então, é possível alguém escapar de tal execução dessa sentença tão pavorosa? Havia apenas um caminho, e esse foi pela remoção do que havia em nós, do que provocou a sentença, ou seja, o pecado. Quando a culpa é removida então haverá "nenhuma condenação". A culpa é removida, retirada, queremos dizer, do pecador que crê? Deixe a Escritura responder: "Assim como está longe o oriente do ocidente, assim afasta de nós as nossas transgressões". (Salmos 103:12). "Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões" (Isaías 43:25). 
"... lançaste para trás das tuas costas todos os meus pecados" (Isaías 38:17). "E jamais me lembrarei de seus pecados e de suas iniquidades" (Hebreus 10:17).

III. Cristo levou nossas Dores

Mas como a culpa poderia ser removida? Somente ela sendo transferida. A santidade divina não poderia ignorá-lo; mas a graça divina pode e o transferiu. Os pecados dos crentes foram transferidos para Cristo: "... o SENHOR fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos" (Isaías 53:6). "Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós;" (2 Coríntios 5:21). "Portanto, nenhuma condenação há". O "nenhuma" é enfático. Significa que não há condenação alguma. Nenhuma condenação da lei, ou por conta de corrupção interna, ou porque Satanás pode fundamentar alguma acusação contra mim; não há nada de qualquer origem ou por qualquer motivo. "Nenhuma condenação" significa que nenhuma delas é possível; que nenhuma jamais vai ser imputada. Não há condenação, porque não há acusação (ver 8:33), e não pode haver nenhuma acusação, porque não há imputação do pecado (veja 4:8). "Portanto, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus". 
Ao tratar do conflito entre as duas naturezas do crente, o apóstolo tinha, no capítulo anterior, falado de si mesmo em sua própria pessoa, a fim de mostrar que as maiores realizações na graça não isentam da guerra interna que ele descreve. Mas aqui, no versículo 8:1, o apóstolo muda o número. Ele não diz, nenhuma condenação há para mim, mas "para os que estão em Cristo Jesus". Esta foi a maior benevolência do Espírito Santo. O apóstolo tinha falado aqui no singular, devemos raciocinar que tal abençoada isenção estava bem ajustada a este honrado servo de Deus que apreciava tais privilégios maravilhosos; mas pode não se aplicar a nós. O Espírito de Deus, portanto, moveu o apóstolo a empregar o plural aqui, para mostrar que "nenhuma condenação" é verdadeiro para todos em Cristo Jesus. "Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus". Estar em Cristo Jesus é ser perfeitamente identificado com Ele na avaliação judicial e nos procedimentos de Deus: e é também ser um com Ele como vitalmente estando unidos pela fé. Imunidade da condenação não depende de qualquer sabedoria sobre a nossa "caminhada", mas unicamente em nosso ser "em Cristo".

Conclusão

"O crente está em Cristo como Noé estava encerrado na arca, com o céu escuro acima e as águas ondulantes abaixo, e nenhuma gota do dilúvio entrou na sua arca, nenhuma rajada da tempestade perturbou a serenidade do seu espírito. O crente está em Cristo como Jacó estava nas roupas do seu irmão mais velho quando Isaque o beijou e o abençoou. Ele está em Cristo como o pobre homicida que foi para a cidade de refúgio, quando perseguido pelo vingador do sangue, e que não pode alcançá-lo para matá-lo" (Dr. Winslow, 1857). E porque ele está "em Cristo", portanto, nenhuma condenação há para ele. Aleluia!

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Sugestão de leitura da Semana: Se Conselho fosse Bom...... de Robson Pereira Rocha




Por Leonardo Pereira

Na volta da nossa sugestão de leitura da semana aqui no Blog Evangelho Avivado, estamos trazendo sem dúvidas um livro que todo jovem, adolescente com certeza terá alegria na alma e no coração de ler. Nas palavras de um certo expositor cristão: "leitura boa pra jovens é requisito urgente pra ontem"!

E é nessa conversa jovial e descontraída que os jovens e adolescentes vão observar a mensagem que o livro, que o autor quer passar para eles. como diz no sub-título: dicas de alguém que passou pela adolescência e sobreviveu para contar. 

Robson Pereira Rocha aborda do começo ao fim no livro, a vida de um adolescente em seus diversos momentos, e como passar por eles também. Mais do que isso, o autor entra em um bate papo com o leitor, levando à ambos refletirem suas vidas, de maneira que o livro nos faz olhar melhor pro que fazemos ou como agimos. O autor mostra o que é ser realmente um adolescente em suas fases e etapas da vida. Mostra também que além de abordar no livro, assuntos dos mais diversos tipos como namoro, música, estudo, preguiça, internet, até mesmo título de eleitor, é alguém que convive no meio de jovens, gosta de conviver com os jovens, e que está sempre disposto à ouvir e ajudar os jovens a passarem por esse momento "turbulento" que é a adolescência.

Se Conselho fosse Bom..... de Robson Pereira Rocha é um livro para você interagir com o autor que passou por essa fase também (ele mesmo menciona que não saiu dessa fase!), buscar fazer você refletir e ajudar aos jovens e adolescentes à passarem por momentos difíceis nessa fase da vida. Sem dúvidas é um livro mais do que recomendado!

  


sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Uma Reforma Digna de ser Contada: Parte 3 - Martinho Lutero e as 95 Teses




Martinho Lutero foi um sacerdote e professor de teologia alemão nascido no dia 10 de novembro de 1483 em Eisleben. Seu nome é sempre lembrado como figura mais notável da Reforma Religiosa que tomou a Europa na Modernidade. Ainda jovem Lutero estudou Filosofia na Universidade de Erfurt concluindo seu mestrado em 1505.

A pedido da mãe ele se inscreveu na escola de Direito da mesma Universidade, mas não chegou a estudar. Isso porque durante uma forte tempestade o jovem quase foi atingido e aterrorizado gritou: “Ajuda-me, Sant’Ana! Eu me tornarei um monge!” Como sobreviveu ele abandonou a faculdade e entrou para a ordem dos Agostinianos, de Frankfurt, a 17 de julho de 1505. Começava sua vida religiosa!

Apesar de se revelar um religioso dedicado, Lutero vivia atormentado com seus pecados. Ele se sentia acusado, o que levou seu superior Johann von Staupitz sugerir algo que o afastasse do excesso de reflexão. Esta iniciativa fez de Lutero doutor em teologia no ano de 1512.

A Degradação da Igreja Católica Romana

Numa viagem a Roma Martinho se decepcionou muito com a Igreja Católica pela venda indiscriminada de Indulgências e o distanciamento dos princípios iniciais da fé cristã. O acúmulo de riquezas com a exposição de relíquias era destinado à construção de templos luxuosos enquanto o povo passava fome. Revoltado ele começou expor sua opinião nas pregações e aulas de Teologia, o que chamou a atenção das autoridades católicas.

No dia 31 de outubro, Lutero fixou as 95 Teses na porta da Igreja de Wittenberg. Com o desenvolvimento da Imprensa, as teses foram copiadas e impressas e em poucos dias tinham se espalhado pela Europa. Apesar de não dar importância ao caso no início por acreditar que Lutero mudaria de ideia, o Papa acabou se surpreendendo com sua coragem e o classificou como herege. Nesta época Lutero já havia mudado totalmente seu discurso que antes pregava a obediência implícita à Igreja. Agora ele questionava os dogmas católicos e negava abertamente a autoridade papal, pedindo que fosse realizado um Concílio. Muitas conferências foram realizadas mas o reformante estava irredutível e não aceitava fazer retratações. O alemão questionava também que a salvação pertencesse à Igreja Católica ocidental  e que o homem precisava ser intermediado por outro homem para chegar à Deus. Ele defendia que todos deveriam ter acesso à Bíblia e a fé era o instrumento de salvação uma vez que para alcançar redenção era preciso crer em Cristo e na sua misericórdia. Quanto aos abusos eclesiásticos ele defendia a abolição das rendas do Papa, a abolição dos Interditos e abusos relacionados com a excomunhão, a ab-rogação do celibato do clero, o fim da venda de Indulgências e uma reforma geral na moralidade pública.

Guerra dos Camponeses

Em 1522, enquanto Lutero estava em Wartburg, seu seguidor Thomas Münzer comandou camponeses contra a nobreza imperial e o clero. O episódio conhecido como Guerra dos Camponeses acabou com a morte de milhares de servos e senhores e foi repudiado por Lutero. Isso dificultou a centralização política alemã.
Além de iniciar a Reforma que daria outros rumos não só à religião, mas à história da  Europa nos anos seguintes, as obras de Martinho são base para estudo Teológico até os dias de hoje. Vale lembrar ainda que ele foi o autor de uma das primeiras traduções da Bíblia.
Martinho Lutero morreu em 18 de fevereiro de 1546 com mais de 60 anos de causa natural. Mesmo sendo perseguido e até mesmo ameaçado, ele não foi assassinado e seu corpo encontra-se sepultado na Igreja de Wittenberg em Wittenberg.

Fontes:

César, Elben M, Lenz: Conversas com Lutero - História e Pensamento - Editora Ultimato

Chaves, Gilmar Vieira: Reforma Protestante - História, ensinos e legado - Central Gospel

George, Timothy: Teologia dos Reformadores - Editora Vida Nova

http://essaseoutras.xpg.uol.com.br/tudo-sobre-martinho-lutero-resumo-biografia-reforma-religiosa-teses/ - Acesso em 15/10/2017



terça-feira, 24 de outubro de 2017

Comentário Bíblico Mensal: Outubro/2017 - Capítulo 4 - A Justificação pela Fé



Comentarista: Alexandro Milesi

Introdução

Dia 31 de outubro comemoramos o Dia da Reforma. A importância da Reforma Pro­testante não está exatamente na criação de novas denominações cristãs, mas no resgate da doutrina bíblica, da justificação pela fé. Alavancados pelo claro ensino bíblico de que a justificação não é pelas obras, mas pela fé, os reformadores apontaram para Cristo como Autor e Consumador da fé.

Embora esta doutrina bíblica tenha sido tão importante na história da igreja cristã, muitos cristãos ainda não a entendem com clareza. Você sabe o que diz a doutrina da justificação pela fé? Sabe em que consiste a justificação? E o que Cristo tem a ver com isso? Isso é o que veremos na lição de hoje.

I. Natureza e características da justificação

A justificação é um tema muito abordado em sermões e estudos, mas nem todos os crentes têm uma ideia muito clara de o que ela real­mente é. Podemos definir a justificação como um ato judicial de Deus, no qual ele declara, com base na justiça de Jesus Cristo, que todas as reivindicações da lei são satisfeitas com vistas ao pecador. A justificação envolve o perdão de pecados e a restauração do pecador ao favor divino. O pecador justificado recebe o perdão de pecados e tem paz com Deus (Rm 5.1), se­gurança da salvação (Rm 5.1-10) e herança com os que são santificados (At 26.18).
O que está em jogo é a questão de nosso estado diante de Deus em termos de sua lei. Pelo seu pecado, Adão mergulhou a raça hu­mana em culpa. Nós infringimos a lei justa e santa de Deus e somos culpados diante dele. A penalidade é a morte. Paulo deixa isso claro em Romanos 5.12-21, onde ele traça os efei­tos do ato único de desobediência de Adão, mostrando que tal ato resultou na condenação e morte para todos. Em outras palavras, a jus­tificação traz em perspectiva a possibilidade da absolvição da culpa, por sermos declarados justos e então recebermos a vida.
A justificação está claramente associada à expiação. Talvez a demonstração mais clara da conexão entre expiação e justificação seja aquela feita por Paulo em Romanos 4.25. Cristo “…foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação”. Aqui, como sempre, a morte e ressurreição de Cristo são vistas por Paulo em uma unidade ininterrupta. Por esta razão, a morte expiatória de Cristo assegura uma parte de nossa justifica­ção, ou seja, aquela que diz respeito ao perdão, enquanto sua ressurreição obtém para nós o outro elemento, o da justiça. Como morte e ressurreição permanecem juntas como aspectos gêmeos da realização central de Cristo, o mes­mo acontece com a expiação e a justificação. A morte na cruz não foi o final para Jesus. Sua morte foi o cumprimento de uma importante etapa de sua obra, que teve continuidade em sua ressurreição, ascensão, sessão à destra do Pai e em sua obra permanente como Profeta, Sacerdote e Rei. Por sua vez, foi a ressurreição que deu significado à morte e lançou luz para os discípulos sobre tudo o que havia ocorrido anteriormente. Foi sua ressurreição que deixou claro para os discípulos e para todos aqueles que o viram pregado na cruz que ele realmente era quem dizia ser: o Messias prometido. Além do mais, a própria ideia da ressurreição exige a morte primeiro, ou isso não é ressurreição. Da mesma forma como morte e ressurreição são inseparáveis e mutuamente necessárias, assim também a justificação não pode ocorrer sem a expiação pelos pecados, pois as pessoas não podem ser consideradas justas se elas estão sob a ira de Deus. Por outro lado, a expiação também não pode ser entendida sem seu com­panheiro inseparável, o recebimento da justiça, que nos capacita não apenas a sermos trazidos a um estado de inocência, mas nos faz aptos para entrarmos em comunhão com um Deus justo e santo.
Cristo é a única base da nossa justificação. Em nós mesmos, somos culpados diante de Deus. Todos nós pecamos em Adão. A única solução para o pecado e para a culpa que o acompanha é a morte expiatória de Cristo, realizada em nosso lugar. Somente Cristo, que cumpriu perfeitamente a lei e não come­teu pecado, poderia se apresentar em nosso benefício e realizar a expiação pelos nossos pecados. Ao fazer isso, ele obteve perdão para nós e aplicou sua justiça a nós. Como a expiação não possui nenhuma outra base além de Cristo, o mesmo ocorre com nossa justificação. É por isso que somos justificados somente pela graça, pois é pela justiça de outra pessoa (Jesus Cristo) que somos feitos justos diante de Deus. Isso não é nossa obra própria, mas o dom de Deus, o resultado de tudo o que Cristo fez em favor de seu povo. Isso é imerecido, uma obra da bondade e misericórdia de Deus. Como consequência, também somos justificados somente pela fé ou mediante a fé, pois a fé salvadora é o abandono da confiança em nós mesmos e o es­tabelecimento de um compromisso com Jesus Cristo. Ao nos entregarmos a ele estamos con­fessando tanto nossa pecaminosidade quanto apenas a justiça de Cristo, a qual é suficiente para nos capacitar a viver com Deus.

II. Elementos da justificação

Há dois elementos da obra de justificação, que são a remissão dos pecados e a imputação da justiça de Cristo ao pecador.
a) A remissão dos pecados. A remissão dos pecados está baseada na obediência completa e absoluta de Cristo, isto é, em seu perfeito cumprimento da lei. Vários textos do Antigo Testamento apontam para este elemento da obra de justificação (Sl 32.1; Is 43.25; 44.22; Jr 31.34). O perdão concedido por Deus na justificação aplica-se a todos os pecados, pas­sados, presentes e futuros, e, por isso, envolve a remoção da culpa e de toda a penalidade. Isso acontece porque a justificação não pode ser repetida. Passagens como Romanos 5.21; 8.1,32-34; Hebreus 10.14; Salmos 103.12; Isaías 44.22 nos asseguram que ninguém pode lançar nada na conta da pessoa justificada, que está isenta de condenação e é herdeira da vida eterna.
É verdade que, depois de serem justificados, os crentes continuam sendo pecadores, isto é, continuam cometendo pecados (Tg 3.2; 1Jo 1.8). Aliás, a Escritura nos mostra claramen­te que os redimidos muitas vezes cometem pecados bastante graves. O próprio Cristo ensinou os discípulos a orarem diariamente pelo perdão de pecados (Mt 6.12) e as pessoas piedosas mencionadas na Bíblia estão sempre pedindo perdão pelos seus pecados (Sl 32.5; 51.1-4; 130.3-4). Na verdade, na justificação, Deus realmente remove de nós a culpa pelo pecado, isto é, a sujeição do pecador à puni­ção eterna devida ao pecado (a morte eterna), mas não a culpabilidade inerente a qualquer pecado que seja praticado. Essa culpabilidade permanece e sempre produz nos crentes um sentimento de culpa, de separação de Deus, de tristeza, de arrependimento, de frustração e assim por diante. Por isso eles sentem necessi­dade de confessar os seus pecados, até mesmo os pecados antigos que porventura ainda os incomodem (Sl 25.7; 51.5-9). O crente tem, no íntimo, consciência de seu pecado e essa consciência o leva a confessá-lo e a buscar em Deus a consoladora segurança do perdão. A consciência do perdão e de um renovado relacionamento filial com Deus muitas vezes é perturbada e obscurecida pelo pecado, mas é novamente despertada e fortalecida pela confissão e pela oração.
b) A imputação da justiça de Cristo. A jus­tificação envolve o perdão de pecados, mas é mais do que isso. Na justificação, Cristo não apenas tira de nós a nossa iniquidade, mas também nos veste de branco, isto é, nos reveste com a sua própria santidade. A Josué, o sumo sacerdote, que, como representante de Israel, estava perante o Senhor usando vestes sujas, o Senhor disse: “…eis que tenho feito que passe de ti a tua iniquidade e te vestirei de finos trajes” (Zc 3.4). A Escritura diz que, pela fé, obtemos “…remissão de pecados e herança entre os que são santificados…” (At 26.18); que a fé nos traz não apenas paz com Deus, mas também acesso a Deus e alegria na esperança da glória (Rm 5.1-2); e que Cristo nasceu sob a lei também “para que recebês­semos a adoção de filhos” (Gl 4.5). Com isso, distinguimos duas partes na imputação da justiça de Cristo ao pecador, que são: a adoção de filhos e o direito à vida eterna.
1. Adoção de filhos. Os crentes são, antes de tudo, filhos de Deus por adoção. Isso significa, naturalmente, que eles não são filhos de Deus por natureza. Nem todos os seres humanos são filhos de Deus. Somente aqueles que possuem um relacionamento filial com Deus, por meio de Cristo, são fi­lhos de Deus. Por intermédio dessa adoção, Deus coloca o pecador no estado de filho e passa a tratá-lo como filho. Em virtude de sua adoção, os crentes são inseridos na família de Deus, ficam sob a lei da obediência filial e passam a ter direito a todos os privilégios da filiação. A adoção como filhos e a filiação moral dos crentes andam de mãos dadas. Por um lado, eles são adotados por Deus como filhos. Por outro, eles passam a se comportar como filhos de Deus. Paulo nos mostra esses dois elementos da adoção funcionando lado a lado: “…Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos. E, porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai” (Gl 4.4-6). O Espírito de Cristo nos regenera e nos san­tifica e nos estimula a nos dirigirmos a Deus cheios de confiança, vendo-o como nosso Pai. Somos adotados por Deus e tratados como seus filhos. Por isso, devemos assumir nossa relação filial com Deus e nos comportarmos como seus filhos.
2. O direito à vida eterna. Este direito está incluído em nossa adoção como filhos. Quando os pecadores são adotados por Deus, eles passam a ter todos os direitos de filhos e, por isso, tornam-se herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo (Rm 8.17). Isso significa, antes de tudo, que eles se tornam herdeiros de todas as bênçãos da salvação nesta vida, sendo que a mais fundamental dessas bênçãos é o dom do Espírito Santo. No entanto, a herança que recebemos de Deus não se limita a bênçãos espirituais nesta vida, mas também inclui as bênçãos eternas do porvir. De acordo com Romanos 8.23, a redenção do corpo, que, ali, é chamada de “adoção de filhos”, também pertence à herança futura, a qual aguardamos. Em Romanos 8.29-30, a glorificação futura está claramente ligada à justificação. Sendo justificados pela fé em Cristo, os crentes se tornam filhos de Deus e herdeiros da vida eterna.

 III. A justificação pela fé
A Escritura nos ensina que somos justi­ficados pela fé (Rm 3.28,30) ou mediante a fé (Rm 5.1; Gl 2.16; Fp 3.9), mostrando, assim, que existe uma estreita relação entre a justificação e a fé. Muitas vezes se diz que os ensinamentos de Tiago conflitam com os de Paulo neste ponto. As pessoas que argu­mentam dessa forma usam o texto de Tiago 2.14-16 para afirmar que Tiago ensina a justificação pelas obras. Na verdade, não há conflito entre Tiago e Paulo. A diferença entre os escritos de um e de outro se deve, pelo me­nos em grande parte, à natureza das pessoas para as quais suas cartas foram escritas. Paulo escreveu para combater o erro dos legalistas que procuravam basear sua justificação nas obras da lei. Para estas pessoas, Paulo teve de ser enfático ao dizer que a justificação é pela
fé, não por obras. Tiago, por outro lado, teve o objetivo de corrigir os erros dos chamados antinomianos (anti = contrário; nomos = lei), que alegavam ter fé, mas cuja fé era uma simples aceitação intelectual da verdade, sem nenhum compromisso com a prática de boas obras ensinada abundantemente na Escritura. A essas pessoas, Tiago teve de lembrar que a fé sem obras é morta e, portanto, de modo nenhum está ligada à justificação. A fé que justifica é a fé viva, genuína, frutífera, que se manifesta em obras. Mesmo quando diz que Abraão foi justificado pelas obras ao oferecer Isaque sobre o altar (Tg 2.21), Tiago se apres­sa em dizer que as obras agiram justamente com a fé, sendo uma manifestação externa da fé, pois Abraão creu em Deus e isso lhe foi imputado para justiça (Tg 2.22-23). Os teólogos protestantes costumam dizer que a fé é o órgão de apropriação da justifi­cação. Com isso, querem dizer que, pela fé, o pecador se apropria da justiça de Cristo e estabelece uma união consciente com Cristo. Pela fé o pecador se apropria da justiça do Me­diador, já imputada a ele no momento de sua salvação e, com base nesse ato de apropriação, ele é formalmente justificado diante de Deus. Somos justificados pela fé ou mediante a fé porque, pela fé, nos apropriamos de Cristo e de sua salvação. A fé, além de nos permitir tomar posse da justificação, também nos leva a expressar, em nosso viver diário, os frutos dessa justificação em nossa vida.
A justificação pela fé é a doutrina que marca o rompimento dos reformadores com a Igreja de Roma. A justificação, de acordo com o ensino de Roma, era pelas obras. Esse ensino escravizava a mente e o coração das pessoas, que nunca podiam descansar em Deus, tendo a necessidade de praticar constantemente as obras recomendadas pela igreja. Como essas obras eram sempre imperfeitas e os pecados das pessoas estavam sempre em sua mente, o papado instituiu a venda de indulgências, como uma forma de garantir perdão pelos pecados (havia diferença de preço entre as indulgências que perdoavam apenas os pecados já cometidos e as indulgências plenárias, que garantiam perdão para pecados passados e futuros). Além disso, a compra das indulgências também era considerada uma boa obra. Lutero, e mais tarde todos os reformadores, convencidos pela Escri­tura, começaram a pregar que a justificação é pela fé, não pelas obras. O pecador é justificado gratuitamente pela graça de Deus (Rm 3.4) e não há nenhuma possibilidade de justificação pelas obras da lei (Rm 3.28; Gl 2.16; 3.11). A base da justificação só pode ser encontrada na justiça perfeita de Cristo, imputada ao pecador na justificação e apropriada pela fé (Rm 3.24; 5.9,19; 8.1; 10.4; 1Co 1.30; 6.11; 2Co 5.21; Fp 3.9).
Conclusão
No século 16, o resgate da doutrina da justificação pela fé trouxe nova vida para a igreja de Cristo. A redescoberta desta doutri­na provocou a rejeição da justificação pelas obras, o repúdio à venda de indulgências e uma genuína comunhão do cristão com seu Senhor. Por isso, no Dia da Reforma, temos muito o que comemorar. A justificação pela fé continua trazendo novidade de vida hoje. Sempre que um pecador descobre em Cristo o perdão para os seus pecados, é adotado como filho de Deus e se torna herdeiro do reino de Deus.

domingo, 22 de outubro de 2017

O Dilema de Asafe



Podemos tirar várias lições do Salmo 73, entre elas, está o contraste sobre a vida próspera do ímpio e a vida de sofrimento que passa o justo. Nesse Salmo percebemos que, em meio aos sofrimentos da vida, muitas vezes somos tentados a questionar a providência divina. Portanto, muitos servos de Deus passam pelo o mesmo dilema que o autor do Salmo enfrentou. Em algum momento da vida, chega a pensar que Deus não olha para a sua situação ou que Deus não é suficiente bom para com seus filhos.
Nesse texto vamos analisar e tirar lições para a nossa vida sobre o dilema enfrentado por Asafe. 

1. Asafe quase que sai do caminho

O autor do Salmo começa reconhecendo um dos atributos de Deus, a sua bondade: Verdadeiramente bom é Deus para com Israel, para com os limpos de coração (Sl 73:1). Aqui o salmista deixa claro que só quem recebe essa bondade, é aqueles que são limpos de coração. Jesus em seu sermão do monte disse: Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus (Mt 5:8).
Mais a seguir Asafe diz que quase seus pés resvalaram; pouco faltou para que os seus passos escorregassem (Vv 2). Fica mais evidente que, a vida cristã sendo comparada a um caminho, em que se não vigiarmos podemos nos desviar dele, ou seja, podemos enfrentar consequências por nossas ações. E porque faltou pouco para Asafe escorregar? Por contemplar a prosperidade dos ímpios: Pois eu tinha inveja dos soberbos, ao ver a prosperidade dos ímpios (Sl 73:3).

Aqui podemos tirar um aprendizado para a vida cristã. Quanto mais um cristão olha para as riquezas dos ímpios, mais ele tem chance de sentir invejas e sentimentos que podem roubar sua alegria na sua caminhada ruma ao céu. Por isso, devemos seguir a orientação bíblica: Se, pois, fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra; porque morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus (Cl 3:1-3).

2. Asafe descreve a prosperidade dos ímpios

O salmista descreve do verso 4 ao 12 a prosperidade dos ímpios. E olhando para o texto, percebemos alguém que analisou e expressou bem essa riqueza com maior detalhe. Pois bem, ele diz que os ímpios têm uma vida tranquila e sem preocupação: Eles estão sempre bem de saúde. Não passam por tribulações como os demais. A soberba deles é como um colar; a violência como um vestido. Seus olhos desejam tudo que seus corações imaginam. São perversos por natureza; falam com muito orgulho sobre suas maldades e mentiras. Fazem ameaças contra Deus e suas calunias se espalham por toda terra. O povo se volta para eles e não acha falta alguma. Eles não se esforçam, vivem uma vida tranquila e suas riquezas aumentam a cada dia.

Talvez, esse tenha sido de alguma forma a tentação de Asafe que quase o levou a escorregar; e fazer um certo questionamento: Na verdade que em vão tenho purificado o meu coração e lavado as minhas mãos na inocência (Sl 73:13). Pelo o autor descrever a vida abundante do ímpio, chega de certa forma, a olhar para vida com certo desânimo e até ver que tudo feito por ele foi em vão. Olhar para as riquezas dos ímpios, pode de certa forma nos levar ao desânimo ou até fazermos questionamento sobre a providência divina.

3. Asafe descreve a vida dos juntos

Depois de Asafe ter dito que purificou o coração dele em vão, ele passa a descrever a vida dos justos. O mesmo diz que todo dia tem sido afligido e castigado a cada manhã. Se tivesse falando traiçoeiramente teria sido um traidor do povo de Deus (Sl 73:14,15). Mas a seguir ele diz: Quando me esforçava para compreender isto, achei que era tarefa difícil para mim (Sl 73:16).

Podemos perceber que, o autor está diante de uma situação que é incompreensível para ele, enquanto procurava viver uma vida justa, veio somente sofrimento sobre sua vida; por isso, ele chega a afirmar que em vão, teria purificado seu coração. Por outro lado, o ímpio que vive uma vida totalmente longe de Deus, não passa por sofrimento e desfruta de muita saúde e felicidade. Desse modo, encontramos o dilema de Asafe, diante desse contraste entre a vida do ímpio e do justo, ele se esforça para compreender tudo isso, que é uma tarefa muito difícil de entender sobre uma perspectiva humana.

O que Asafe estava passando pode ser muito bem visto na vida de Jó. O livro de Jó como o que o salmista enfrenta, podemos entender perfeitamente que nem sempre a vida cristã é um mar de rosas. Há momentos em nossas vidas, que as coisas estão dando tudo errado, enquanto que muitos que nem serve a Deus, desfrutam de muitas abundancias nesta vida; esse é um dos dilemas que enfrentamos na vida cristã. 

4. O fim dos justos e dos ímpios

A pesar de o salmista não entender o porquê que os ímpios prosperam, enquanto que os justos padecem, toda suas dúvidas e questionamentos são resolvidos: até que entrei no santuário de Deus; então percebi o fim deles (Sl 73:17). Quando ele diz até que entrei no santuário, podemos compreender isto como entrar na presença de Deus. Momentos atrás, o salmista não entendia o porquê do seu sofrimento, mesmo crendo na bondade de Deus para com Israel, mas tudo passa ganhar sentido, quando ele entrar na presença de Deus e entende o fim dos ímpios. Quando o autor desse salmo diz percebi o fim deles, João Calvino no seu comentário de Salmos, interpreta essa parte como o juízo de Deus sobre a vida dos ímpios.

Quando Asafe busca a Deus entende que, a vida cristã não tem como alvo principal sermos prospero aqui nessa terra por um período de tempo, por menor ou maior que seja; porque sabemos que a vida nesse mundo é passageira. O autor nos dá a entender que somos como peregrinos nesta terra, Deus não nos chamou para desfrutarmos dos prazeres carnais, mas sim, para o céu de glória. Toda a dúvida de Asafe sobre a providência divina, é eliminada quando ele entra na presença de Deus. Assim como o autor, devemos fazer o mesmo em momentos de dúvidas que enfrentarmos durante a caminha cristã; precisamos buscar a Deus porque só Ele pode responder os dilemas da vida. Como disse Jesus: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei e abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede, recebe; e quem busca, acha; e ao que bate, abrir-se-lhe-á (Mt 7:7,8).

Depois de entender isto, o autor passa a descrever o fim dos justos e dos ímpios. O fim dos justos ele passa a entender quando entra no santuário, ou seja, na presença de Deus. O mesmo descreve que os ímpios podem viver uma vida abundante aqui nessa terra e desfrutar de muitos prazeres, porém, o fim deles é a destruição de uma vida totalmente separada de Deus. Percebemos, nas palavras do autor desse salmo que, não adianta termos toda riqueza, se não temos o principal, Deus em nossas vidas. Contudo, por mais que o justo tenha uma vida de sofrimento, e por mais que as coisas muitas das vezes acabam dando errado, ele tem Deus em sua vida que é seu maior tesouro. Jesus no sermão da montanha disse: Não ajunteis para vós tesouros na terra; onde a traça e a ferrugem os consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem os consumem, e onde os ladrões não minam nem roubam (Mt 6:19,20). Jesus nos ensina, a olharmos mais para uma vida vindoura do que para uma mente completamente materialista.

Asafe mostra que os ímpios Deus põem em lugares escorregadios, lança em ruina, caem na desolação num momento e ficam totalmente consumidos de terrores (Sl73:18,19). Enquanto que os justos, Deus guia com seu conselho e os recebe na glória (Sl 73:24). Depois do autor entrar na presença de Deus e entender a providência divina sobre ímpio e justo (Sl 73:17), o mesmo reconhece que Deus é seu bem mais precioso (Sl 73:25), sua fortaleza (Sl 73:26), está próximo de Deus e confiar nEle é a melhor coisa desse mundo (Sl 73:28).

Enquanto Asafe olhava, somente para as coisas dessa vida, foi acometido de muitos sentimentos contrários a palavra de Deus, mas depois que ele entrou na presença de Deus, todas as coisas passaram a ter sentido e os sentimentos ruim desapareceram. Devemos fazer assim, quando enfrentamos dias ruins, correr para a presença do Altíssimo.

Conclusão 

As lições praticas que podemos tirar desse dilema de Asafe é sobre a providência divina. Precisamos compreender bem essa doutrina, para que quando vier dias difíceis não venhamos duvidar do controle de Deus sobre todas as coisas. Ainda que o justo venha sofrer e todas as coisas forem contrárias à sua vida, e por outro lado todas as coisas dando certo para o ímpio; é necessário entender que Deus está no controle de toda circunstância e que nada foge do seu devido controle. 
  
Muitas das vezes, quando olhamos a maldade deste mundo, as coisas em desordem, pensamos onde Deus está que não vê, cada uma dessas coisas e não age contra elas. Por olhar dessa maneira colocamos um dos seus atributos em duvidas, a bondade de Deus. Por isso, é mais do que necessário compreender, a doutrina da providência divina, em séculos passados era muito bem explanada e usada para enfrentar tempos difíceis que os cristãos passavam.

Que possamos confiar no controle de Deus sobre todas as coisas e, entender que todas as contribuem para o bem daqueles que amam a Deus (Rm 8:28). Deixo aqui por último uma explicação da Confissão Belga da providência divina:

Cremos que o bom Deus, depois de ter criado todas as coisas, não as abandonou, nem as entregou ao acaso ou a sorte 1, mas que as dirige e governa conforme sua santa vontade, de tal maneira que neste mundo nada acontece sem sua determinação 2. Contudo, Deus não é o autor, nem tem culpa do pecado que se comete 3. Pois seu poder e bondade são tão grandes e incompreensíveis, que Ele ordena e faz sua obra muito bem e com justiça, mesmo que os demónios e os ímpios ajam injustamente 4. E as obras dEle que ultrapassam o entendimento humano, não queremos investigá-las curiosamente, além da nossa capacidade de entender. Mas, adoramos humilde e piedosamente a Deus em seus justos julgamentos, que nos estão escondidos 5. Contentamo-nos em ser discípulos de Cristo, a fim de que aprendamos somente o que Ele nos ensina na sua Palavra, sem ultrapassar estes limites 6. Este ensino nos traz um inexprimível consolo, quando aprendemos dele, que nada nos acontece por acaso, mas pela determinação de nosso bondoso Pai celestial. Ele nos protege com um cuidado paternal, dominando todas as criaturas de tal modo que nenhum cabelo - pois estes estão todos contados- e nenhum pardal cairão em terra sem o consentimento de nosso Pai (Mateus 10:29,30). Confiamos nisto, pois sabemos que Ele reprime os demônios e todos os nossos inimigos, e que eles, sem sua permissão, não nos podem prejudicar 7. Por isso, rejeitamos o detestável erro dos epicureus, que dizem que Deus não se importa com nada e entrega tudo ao acaso.
1. Jo 5:17; Hb 1:3.
2. Sl 115:3; Pv 16:1,9,33; Pv 21:1; Ef 1:11.
3. Tg 1:13; 1Jo 2:16. 4 Jó 1:21; Is 10:5; Is 45:7; Am 3:6; At 2:23;
4. At: 27,28.
5. 1Rs 22:19-23; Rm 1:28; 2Ts 2:11.
6. Dt 29:29; 1Co 4:6.
7. Gn 45:8; Gn 50:20; 2Sm 16:10; Rm 8:28,38,39.


Sidney Muniz  

sábado, 21 de outubro de 2017

Uma Reforma Digna de ser Contada: Especial 500 Anos da Reforma Protestante - Capítulo 2: A Pré- Reforma e os Pré- Reformadores





Por Leonardo Pereira

Como se reservar moralmente e espiritualmente em meio a tanta corrupção? A igreja estava vivendo um período pior que o das perseguições, o problema estava nos púlpitos e no seio da igreja. Como a igreja passou a ser dominada pelo Romanismo, com o título de “Igreja Católica Romana”, havia corrupção de todas as formas. Nesse meio de corrupção destacava as reservas morais e muitos deles lutaram pela reforma. Portanto são chamados de pré-reformadores que se dispuseram a enfrentar as irregularidades e monstruosidades provindas do trono papal.
Neste período da Igreja, vivido pelos pré-reformadores, surgiram homens que exerceram grande influencia sobre os reformadores. Entre estes citemos o nome de Pedro Bruys, natural do sul da França, era considerado um homem de espírito indomável. Suas pregações eram provocantes e revoltava o clero, por essa razão viveu fugindo para escapar das perseguições. Com a adesão de muitos à sua luta, surgiu o movimento que se chamou de “Petrobrussiano”. Mesmo com as lideranças da Igreja Católica Romana, tentando sufocar todos quantos se opusessem aos seus ensinos heréticos, muitos foram impulsionados pelo Espírito a desafiá-los.
Entre os Pré-Reformadores destacaremos alguns nomes, homens que em uma época em que o poder papal ousava a questionar a estrutura eclesiástica e seus fundamentos, não só na Igreja como também no Estado.

John Tauler (1300-1361)

Tauler nasceu na cidade de Strasbourg Alemanha por volta de 1300. Entrou para a ordem dominicana local aos quinze anos de idade. Sua compreensão das realidades teológicas era profunda e por volta de 1325 foi ordenado padre dominicano.
Um homem com alto índice de popularidade. Em 1339 sua comunidade foi forçada a deixar Strasburg para Basle devido a uma interdição papal a esta cidade. Ele optou por ser leal ao imperador em sua disputa com o Papa João XXII.
Só em 1498 seus sermões foram publicados em Leipzig, sendo a tradução latina de Laurentius Surius, impressa em Colônia em 1548, a que difundiu seu pensamento.
A edição impressa em Augsburg em 1508 foi lida por Lutero. Ele admirava sua defesa de uma completa submissão à vontade de Deus e suas notas sobre os sofrimentos que atormentam as almas devotas.
O fundamento, para Tauler, é a essência de nossa alma e é o lugar onde vamos ter contato direto com a Divindade. Enfatiza que neste nível profundo somos guiados por uma fome insaciável por Deus e uma predisposição para recebê-lo. Os textos enfatizam também que devemos abandonar o egoísmo e nossa vontade própria se queremos nos unir a Deus, e Tauler dá a maior relevância ao papel de Cristo neste processo. A atitude que devemos aprender é essencialmente a passividade, deixando Deus trabalhar em nós.
De fato, em geral Tauler creditava o imenso valor espiritual das tribulações diárias, e como estas servem para distinguir a verdadeira da falsa testemunha. Tauler demonstra uma grande compreensão de nossos períodos de fraqueza e falha.
Ele adoeceu em 1360, sendo tratado por sua irmã. Morreu em 16 de junho de 1361. Seu túmulo pode ser visitado na igreja luterana em Strasburg, construída na local da antiga igreja dominicana, que foi destruída por um incêndio em 1870.

John Wycliffe (1328 - 1384)

Pregador e reformador na Inglaterra. Era a favor da Bíblia como autoridade, e não o papa. Foi professor na Universidade de Oxford. Fez a primeira tradução completa do Novo Testamento para o Inglês. Queria reformar a Igreja. Era contra a venda de indulgências e, nessa questão, não contou com o apoio dos reis, que o protegeram do papa em outras ocasiões. Queria abolir as ordens religiosas. Não cria na transubstanciação (ou seja, a real presença de Jesus Cristo na eucaristia. A Igreja Católica acreditava na mudança da substância pão e vinho no próprio corpo e sangue de Jesus).
Era nacionalista e, para ele, o Estado tinha o direito de tomar os bens de uma igreja corrompida. Opôs-se aos dogmas da Igreja Romana com idéias revolucionárias. Atacou a autoridade papal, colocando Cristo, e não o papa, como chefe da Igreja e a Bíblia, e não a Igreja, como a única autoridade para o crente. Segundo ele, a Igreja Romana deveria estar dentro dos padrões do Novo Testamento. Atacou também os poderosos senhores da Igreja e do Estado, pois tanto o poder espiritual quanto o temporal deveriam obedecer a limites.
Para espalhar a Bíblia mais depressa, Wycliffe usou os serviços de seus amigos, como os irmãos Lollardos. Muitos desses amigos eram estudantes em Oxford. Vestidos de roupas simples, descalços, de cajado na mão e dependendo de esmolas, os amigos de Wycliffe percorreram toda a lnglaterra conduzindo seus manuscritos e pregando o evangelho!
Em 1382, suas idéias foram condenadas em Londres. Então, foi obrigado a retornar para seu pastorado em Lutterwoth, cuja Paróquia lhe fora concedida pela coroa em reconhecimento pelos serviços que ele prestou.
Wycliffe morreu em 1384, devido a uma embolia. Por estar em comunhão com a Igreja, foi enterrado em terra consagrada. Mas, anos depois, foi condenado como herege pelo Concílio de Constança, sendo seus restos mortais exumados e queimados. Wycliffe também conhecido de: “a Estrela d’Alva da Reforma”.

John Huss (1373-1415)

Reformador tcheco foi reitor na Universidade de Praga, na Boêmia (parte da Tchecoslováquia). Pregou a Bíblia como autoridade. Suas pregações reformistas foram influenciadas pelos ensinos de Wycliffe. Suas idéias foram consideradas heréticas, obrigando-o a comparecer ao Concílio de Constança.
O movimento reformista na Boêmia (que por questões de herança era ligada ao império alemão), iniciado por Huss, era apoiado pelos reis para limitar o poder da hierarquia eclesiástica associado a um desejo sincero de reforma que intentava corrigir os abusos da Igreja. Com o movimento, Huss pôde dar impulso à Reforma que pregava de púlpito. Na Capela de Belém (na Boêmia) deu continuidade a seus ideais relacionados à Reforma. Como apoiava as idéias de Wycliffe, foi proibido de pregar pelo papa, mas desobedeceu e permaneceu.
Foi convocado pelo papa para comparecer a Roma. Recusou-se e foi excomungado. Mas como contava com o apoio dos reis e de quase toda a Boêmia, continuou pregando sobre a Reforma. Opôs-se às indulgências, pois ninguém podia vender uma coisa que vem unicamente de Deus. Por ser considerado um herege, deixou Praga e refugiou-se no Sul da Boêmia, onde continuou trabalhando em favor da Reforma e escrevendo obras. Foi chamado a comparecer ao Concílio de Constança para defender-se pessoalmente. Para garantir sua segurança, contou com um salvo-conduto do imperador Sigismundo. Mas isso não impediu ao Papa João XXI de tratá-lo como um prisioneiro. Foi levado à assembléia acorrentado. Mesmo possuindo um certificado do inquisidor da Boêmia, declarando sua inocência, foi acusado de herege.
Caso se retratasse no Concílio, estaria confessando ser um herege e condenando seus seguidores. Então, não o fez. Entregou sua causa a Jesus Cristo, o juiz Todo-Poderoso. Foi encerrado na prisão. Seus inimigos queriam vê-lo vencido, pois sua execução seria uma mancha para o Concílio. Por fim, foi levado à fogueira usando uma coroa de papel decorada com diabinhos e, no caminho, teve de ver seus livros sendo queimados. Em sua última oração, disse: “Senhor Jesus, por ti sofro com paciência esta morte cruel. Rogo-­te misericórdia por meus inimigos”. Huss morreu entoando salmos.

Jerônimo Savonarola (1452-1498)

Nascido em Florença, Itália, pregava, como um dos profetas hebreus, para vastas multidões que enchiam sua catedral. Seus sermões eram contra a sensualidade e o pecado da cidade e os vícios do papa. A cidade penitenciou-se e se reformou, mas o Papa Alexandre VI procurou, de todos os modos, silenciar o virtuoso pregador (tentou até suborná-lo com o chapéu cardinalício), mas em vão.
Foi enforcado e queimado na grande praça de Florença. Isso aconteceu dezenove anos antes das 95 teses de Lutero. Esse homem de Deus nos ensinou o que é fervor verdadeiro diante de uma sociedade corrompida.

Os Valdenses

Os valdenses são uma denominação cristã que teve sua origem entre os seguidores de Pedro Valdo na Idade Média e subsiste hoje como um grupo etnorreligioso na Itália e Uruguai nas igrejas Valdense e Evangélica Valdense do Rio da Prata, além de descendentes na Alemanha, Estados Unidos e França.
Pedro Valdo era um comerciante de Lyon e iniciou seu movimento por volta de 11742 [falta página]. Decidiu encomendar uma tradução da Bíblia para a linguagem popular e começou a pregá-la ao povo sem ser sacerdote. Ao mesmo tempo, renunciou a sua atividade e aos bens, que repartiu entre os pobres.
Desde o início, os valdenses afirmavam o direito de cada fiel de ter a Bíblia em sua própria língua, sendo esta a fonte de toda autoridade eclesiástica.
Os valdenses reuniam-se em casas de família ou mesmo em grutas, clandestinamente, devido à perseguição da Igreja Católica. Celebravam a Santa Ceia uma vez por ano. Negavam a supremacia de Roma, rejeitavam o culto às imagens vistas por eles como idolatria e se diziam guardadores da doutrina cristã apostólica. Em virtude de sua recusa em interromper suas pregações, foram excomungados em 1184.
Mesmo após a morte de Pedro Valdo, em 1217, seus discípulos continuaram o movimento, sendo nomeados valdenses. Condenados pelo papado, os valdenses foram perseguidos durante a Idade Média e a Reforma Protestante, quando juntaram-se ao nascente protestantismo no Sínodo de Chanforan em 1532. Desde então, os valdenses subscrevem ao Calvinismo.
Em 1848, foi proclamando o edito de emancipação garantindo liberdade de culto e direitos individuais para os valdenses no Piemonte (então parte do Reino da Sardenha e depois para toda o Reino de Itália.
O crescimento populacional e busca de maior liberdade econômica e religiosa fizeram os valdenses emigrarem em massa no final do século XIX, estabelecendo colônias no Uruguai, Argentina e Estados Unidos. Em 1975, a Igreja Evangélica Valdense, então com 35.000 membros na Itália e 15.000 no Uruguai se uniram com a Igreja Metodista Italiana (com 5.000 membros) para formar a União das Igrejas Valdense e Metodista.

Os Lolardos

Nome que designava originalmente um grupo religioso da Holanda no início do séc. XIV. Por volta de 1387, o termo começou a ser aplicado aos seguidores do reformador religioso inglês John Wycliffe.
Os lolardos pregavam a obediência a Deus, a confiança na Bíblia como guia para uma vida cristã e a simplicidade de culto. Rejeitavam a riqueza da missa, a maioria dos sacramentos e a supremacia Papal. Negavam que uma Igreja organizada fosse necessária à salvação. Muitos lolardos eram padres ou leigos pobres. Usavam vestes longas castanho-avermelhadas, carregavam bordões e viviam do que conseguiam em esmolas. Henrique IV, que subiu ao trono em 1399, perseguiu-os porque suas crenças se opunham à lei religiosa. Por volta de 1420, o movimento estava praticamente extinto.
Embora os lolardos tenham tido pouca influência permanente na vida religiosa inglesa, exerceram grande poder na Boêmia. Lá, John Huss foi queimado em 1415 por pregar as doutrinas de Wycliffe. Cem anos depois, Martinho Lutero abraçou algumas das ideias de Hus. Desse modo, os lolardos ajudaram a lançar as bases para a Reforma protestante.

Os Albigenses

A origem dos cátaros ou albigenses permanecem ainda em mistério. O mais provável é que fossem fruto da conjunção de vários fatores. Em primeiro lugar, existiam disseminados pela Europa ocidental pequenos grupos de crentes que se separaram da cristandade organizada no tempo de Constantino, entre os quais os mais conhecidos foram os novacianos, quem também foram conhecidos com o nome de cátaros ou 'puros'.
Por outro lado, durante o início da Idade Média, a corrupção generalizada de uma grande parte da cristandade levou irmãos sinceros a apartar-se dos seus males e abusos. Entre esses irmãos se destacaram homens de grande zelo espiritual, que denunciaram abertamente os males da cristandade e ganharam um considerável número de seguidores para uma fé mais bíblica e singela, entre os quais se destacam Pedro de Bruys e Henrique de Cluny. Além disso, existiu uma contínua corrente migratória de irmãos que eram perseguidos no oriente (paulicianos e bogomiles), que, ao chegarem ao ocidente entraram em contato com as igrejas dos cátaros, albigenses e valdenses.
A Cruzada Albigense (denominação derivada de Albi, cidade situada ao sudoeste da França), também conhecida como Cruzada Cátara ou Cruzada contra os Cátaros, foi um conflito armado ocorrido em 1209 e 1244, por iniciativa do papa Inocêncio III com o apoio da dinastia dos Capetos (reis da França na época), com o fim de reduzir pela força o catarismo, um movimento religioso qualificado como heresia pela Igreja Católica e assentado desde o século XII nos territórios feudais do Languedoque; favoreceu a expansão para sul das posses da monarquia capetiana e os seus vassalos.

William Tyndale (1484-1536)

Nascido em 1484, na parte oeste da Inglaterra, em um local próximo à fronteira do país de Gales, Tyndale graduou-se na Universidade de Oxford em 1515, onde estudou as sagradas escrituras no hebraico e no grego. Aos trinta anos, fez uma promessa que haveria de traduzir a Bíblia para o moderno inglês para que todo o povo, desde o camponês até a corte real, pudesse ler e compreender as Escrituras em sua própria língua. Isso porque a Igreja Católica proibia severamente qualquer pessoa leiga de ler a Bíblia. Segundo o clero, o povo simples não podia compreender as Sagradas Letras, por isso precisava de sua ajuda. A interpretação era feita segundo a sua conveniência, e para fins políticos e financeiros. Com esse desejo em seu coração, Tyndale partiu para Londres em 1523, buscando um lugar que pudesse dar início ao seu projeto.
Contemporâneo e amigo de Lutero, muitos o colocam como pré-reformador, mas é inegável que ele teve uma grande participação de maneira direta na Reforma Protestante.
Não sendo recebido pelo bispo de Londres, Humphrey Munmouth, um comerciante de tecido, lhe deu todo apoio necessário. Em 1524, Tyndale foi obrigado a deixar a Inglaterra e partir para a Alemanha para dar continuidade ao seu trabalho. Essa mudança deveu-se às grandes perseguições que sofrera por parte da igreja católica.
A proibição da leitura da Bíblia agravou-se de tal maneira que se uma criança recitasse a oração do “Pai Nosso” em inglês toda a sua família era condenada a ser queimada na estaca. Na Alemanha, ele se estabeleceu na cidade de Hamburgo e, provavelmente, conheceu Martinho Lutero, pois eram contemporâneos. Ambos traduziram o Novo Testamento baseado no Manuscrito Grego, compilado por Erasmo, em 1516.
William Tyndale concluiu a tradução do Novo Testamento em 1525. Quinze mil cópias em seis edições foram impressas pela proteção de Thomas Cromwell, vice-regente do rei Henrique VIII, e contrabandeadas por comerciantes para a Inglaterra entre 1525 e 1530.
As autoridades da igreja romana deram ordem para confiscar e queimar todas as cópias da tradução de Tyndale, porém eles não podiam parar o fluxo da entrada de Bíblias vindas da Alemanha para a Inglaterra. Até mesmo na Escócia, mercadores escoceses estavam levando a Bíblia para o seu povo.
O próprio William não podia regressar, à Inglaterra, pois estava sendo procurado e tido como fora-da-lei. A leitura de seus escritos e tradução do Novo Testamento haviam sido legalmente proibidas. Contudo, ele continuou suas revisões e correções até que sua edição final do Novo Testamento foi cumprida em 1535. Com esta conclusão, Tyndale iniciou a tradução do Velho Testamento, porém não viveu bastante a ponto de terminá-la.   
Tyndale traduziu o Pentateuco, Jonas e alguns Livros Históricos. Em maio de 1535, foi preso e levado a um castelo perto de Bruxelas, onde ficou aprisionado por mais de um ano. Durante esse tempo, um de seus companheiros, Miles Coverdale, concluiu a tradução do Velho Testamento, baseada no trabalho de seu companheiro.
Estando já o senhor Tyndale no cárcere, lhe ofereceram um advogado e um procurador, o qual recusou, dizendo que ele faria sua própria defesa. Predicou de tal modo aos que estavam encarregados de sua custódia, e aos que estavam familiarizados com ele no castelo, que disseram dele que se não era um bom cristão, então não sabiam quem poderia sê-lo.
Chegou, porém, o dia do julgamento de Williarn Tyndale e ele foi condenado à morte por haver colocado as Escrituras na mão do povo inglês. No dia 6 de outubro de 1536, foi estrangulado e, em seguida, queimado na estaca. O ato ocorreu publicamente. Suas últimas palavras: "Senhor, abre os olhos do rei da Inglaterra!", o que de fato aconteceu anos depois.
Encontra-se sepultado em William Tyndade Park, Vilvoorde, Barbante Flamengo na Bélgica.

Fontes:

César, Elben M, Lenz: Conversas com Lutero - História e Pensamento - Editora Ultimato

Chaves, Gilmar Vieira: Reforma Protestante - História, ensinos e legado - Central Gospel

George, Timothy: Teologia dos Reformadores - Editora Vida Nova

http://aquieuaprendi.blogspot.com.br/2014/04/os-pre-reformadores.html - Acesso em: 10/10/2017