segunda-feira, 27 de abril de 2020

Coronavírus e o Brasil - O Povo Precisa Voltar para Deus




Por Leonardo Pereira



O Brasil vive uma das maiores crises que ocorreu desde o começo da sua instituição como uma nação. Ao mesmo tempo em que enfrentamos tempos muitos difíceis como o desemprego, assassinato, corrupção, e crimes das mais diversas vertentes, encaramos uma verdadeira pandemia, um perigo na área da saúde a nível mundial, chegando a rivalizar com outras pandemias que já atravessaram a história humana. O Coronavírus (COVID-19), um perigosíssimo vírus que tem ceifado inúmeras vidas em muitas nações, traz-nos uma perplexidade a qual antes não tínhamos visto. Em decorrência, com este enorme problema, surge outros que acarretam diversas complicações que dificultam as vidas de milhões de pessoas que neste momento, buscam anseio e conforto em meio a um período de tanta aflição e angústia.

Um bom exemplo a ser usado são os países da América do Sul. Muitos países com as suas lideranças estão buscando que as pessoas fiquem em casa o máximo tempo possível, para que esta pandemia possam ter baixas mínimas. No entanto, durante este período, outras crises surgem acompanhando este vírus como uma vulcão chegando à beira da praia. O desemprego, a fome, escassez de necessidades básicas, juntamente com os ministérios de saúde em defasagem se dedicando ao máximo com o Coronavírus, mostra que a nação passa por um período de dor, de sofrimento, de medo e de tremendo espanto. Em todo mundo, com os governantes e a população choram com lamento a perda de muitas vidas, de entes queridos, que enquanto a dor continua ocorrendo, muitos buscam o melhor para as suas famílias.

As igrejas estão fechadas enquanto houve esta pandemia, para que não haja aglomerações de pessoas reunidas em um só local. Juntando-se as igrejas temos lojas, departamentos, empresas fechadas, trazendo o medo do desemprego e do sustento de pais e mães de famílias. Com tudo isso que vem ocorrendo, que, para onde quer olhemos, observamos medo, prantos, tristeza, angústia, e crises além de crises, o que nós devemos fazer? Seria agora um momento em que o povo de Deus devesse agir e que houvesse fazer algo em benefício da humanidade, em resposta às crises que estão surgindo? A resposta é clara e objetiva: Sim, na vontade do Senhor e conforme com a sua gloriosa Palavra.

Devemos orar e clamar ao Senhor. Sabemos que a extrema necessidade de sairmos de nossas casas para trabalharmos e também comprarmos aquilo que necessitamos para nossa subsistência, deve reger em nossas vidas a busca pelo Senhor em todos os momentos das nossas vidas. Devemos meditar ainda mais nas Escrituras Sagradas com a finalidade em encontrarmos ali, respostas plenas do Senhor. Devemos buscar informações verídicas em um tempo tenebroso de falsas notícias. A prudência e a sabedoria advém da Palavra de Deus, no qual um certo momento, Jesus mostra como devemos andar em prudência e em retidão de coração: "Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha; E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha" (Mt 7.24,25). 

domingo, 26 de abril de 2020

O poder da Oração na Igreja Primitiva




Em Atos 4.23-31 temos uma oração da igreja primitiva diante de uma perseguição. A perseguição começou pelo o fato de os discípulos de Cristo ensinarem e anunciarem a ressurreição dentre os mortos (At 4.2). Ficaram ressentidos os sacerdotes, o capitão do Templo e os Saduceus os prenderam por ensinarem em nome de Cristo. O texto descreve que muitos dos que ouviram a palavra aceitaram, subindo o número de homens a quase cinco mil (At 4.4).

Os discípulos foram interrogados com que poder ou em nome de quem eles operava milagres – essa contestação era por causa da cura de um homem coxo que Pedro e João curaram no templo (At 3,1-10). Pedro cheio do Espírito Santo respondeu que aquilo tudo fora em nome de Cristo ao qual eles tinham crucificado. Autoridades responderam: “Chamando-os, ordenaram-lhes que absolutamente não falassem, nem ensinassem em o nome de Jesus” (At4:18).

Diante disso, eles procuraram os irmãos e lhes contaram quantas coisas lhes haviam dito os principais sacerdotes e os anciãos, e em seguida levantaram a voz a Deus em oração.
Queremos analisar e aplicar as “divisões poderosa dessa oração” feita pela igreja primitiva e os benefícios que ela tem para a vida cristã.

Estrutura da oração

Engrandecendo o nome do Senhor

Ouvindo isto, unânimes, levantaram a voz a Deus e disseram: Tu, Soberano Senhor, que fizeste o céu, a terra, o mar e tudo o que neles há (At 4.24).

Começaram sua oração reconhecendo a soberania de Deus, crendo que Ele é o criador do céu, da terra, do mar e tudo o que neles há. Quando um dos seus discípulos pediu: “Senhor ensina-nos a orar” (Lc 11.1), Jesus primeiramente ensinou: “Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome” (Mt 6.9). Jesus nos mostra nesse modelo de oração, pedindo primeiro que Deus seja glorificado. Os homens de Deus na Antiga Aliança oravam assim, podemos destacar três exemplos:

Josafá

Pôs-se Josafá em pé, na congregação de Judá e de Jerusalém, na Casa do Senhor, diante do pátio novo, e disse: Ah! Senhor, Deus de nossos pais, porventura, não és tu Deus nos céus? Não és tu que dominas sobre todos os reinos dos povos? Na tua mão, está a força e o pode e não há quem te possa resistir (2Cr 20.5,6).

Neemias

E disse: ah! Senhor, Deus dos céus, Deus grande e temível, que guardas a aliança e a misericórdia para com aqueles que te amam e guardam os teus mandamentos!

Davi

Eu te amo, ó Senhor, força minha. O Senhor é a minha rocha, a minha cidadela, o meu libertador; o meu Deus, o meu rochedo em que me refúgio; o meu escudo, a força da minha salvação, o meu baluarte (Sl 18.1,2).

Portanto, esses homens começavam primeiramente suas orações exaltando a Deus, porque faríamos diferente? Não comece pedindo por você, mas engrandecendo Aquele que é digno de toda honra e glória.

Citaram as Escrituras

Que disseste por intermédio do Espírito Santo, por boca de Davi, nosso pai, teu servo: Por que se enfureceram os gentios, e os povos imaginaram coisas vãs? (At 4.25).

A igreja primitiva fundamentou sua oração no texto de Salmos 2. Sobre isso, John Piper diz: “Observe que a igreja primitiva orava Escrituras. Por exemplo, a oração de Atos 4:24-31 cita Salmos 2. Além disso, orações do Antigo Testamento com a oração de Esdras em Neemias 9:6-37, são repetições da história bíblica e de textos bíblicos”[1]. Diante disso, podemos perceber que esse costume vem do Antiga Aliança. Segundo Joel Beeke, os Puritanos usavam essa prática em suas orações, meditavam em um texto Bíblico e depois transformavam isso em orações a Deus[2]. Logo, Orar a Palavra significa ler (ou recitar) Escritura com um espírito de oração, fazendo do significado dos versos a nossa oração e a inspiração dos nossos pensamentos como disse John Piper.

Intercederam pelas autoridades

Levantaram-se os reis da terra, e as autoridades ajuntaram-se à uma contra o Senhor e contra o seu Ungido; porque verdadeiramente se ajuntaram nesta cidade contra o teu santo Servo Jesus, ao qual ungiste, Herodes e Pôncio Pilatos, com gentios e gente de Israel (At 4.26,27).

Podemos perceber que nessa parte da oração, os discípulos aprenderam muito bem e colocaram em prática o orar pelos os inimigos da obra de Deus: “Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem” (Mt 5.44). Diante da perseguição que aquela igreja enfrentava, ela entendia que a oração era o meio de salvação daquela dificuldade e reconhecimento de dependência de Deus. O apóstolo Paulo escrevendo para Timóteo sobre orar pelas autoridades: “Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito” (2Tm 2.1,2).

Nesse sentido, devemos apresentar a Deus em nossas orações os nossos governantes. Pedindo a Deus sabedoria, bondade no coração dos que governam e pelos os servos de Deus que estão na política para que não se corrompam, a fim de não envergonhar o evangelho.

Deus governa todas as coisas

Para fazerem tudo o que a tua mão e o teu propósito predeterminaram (At 4.28).

Apesar de a igreja primitiva enfrentar perseguição por causa do Evangelho, eles apresentaram em oração as autoridades a Deus, entretanto, estavam conscientes que tudo estava acontecendo segundo a vontade de Deus. Essa petição é “uma afirmação clara de que nada, nem mesmo a morte injusta do Filho de Deus, acontece à parte da vontade e do controle soberanos de Deus. A certeza do plano de Deus para o mundo é estabelecida pelo seu soberano "propósito" e assegurado pela sua "mão" todo-poderosa”[3].

Essa parte da oração revela a confiança que aquela igreja tinha na providência de Deus. As Escrituras descreve que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito (Rm 8.28). Em nossas orações, devemos lembrar que Deus está no controle de qualquer situação, por mais que elas venham ser insignificantes para nós. Deus é soberano em todas a coisas e nada forje do seu controle.

Coragem para anunciar o Evangelho

Agora, Senhor, olha para as suas ameaças e concede aos teus servos que anunciem com toda intrepidez a tua palavra, enquanto estendes a mão para fazer curas, sinais e prodígios por intermédio do nome do teu santo Servo Jesus (At 4.29,30).

A igreja não se intimidou com as perseguições, mas pediu a Deus coragem para anunciar um Evangelho de poder. Sobre isso, Matthew Henry comenta: “Nas épocas ameaçadoras, nosso interesse não deve ser tanto evitar os problemas como poder continuar adiante com júbilo e valor em nossa obra e dever. Eles não oram: ‘Senhor, deixa-nos afastar-nos de nossa tarefa agora que se tornou perigosa’, senão: ‘Senhor, dá-nos tua graça para seguir adiante com constância em nossa obra, e não temer o rosto do homem’. Aqueles que desejam ajuda e exortação divinas, podem depender de que as têm, e devem sair e seguir avançando no poder do Senhor”[4].

Quando eles pediram “enquanto estendes a mão para fazer curas, sinais e prodígios por intermédio do nome do teu santo Servo Jesus”, estavam colocando em prática um trecho da oração modelo do Pai nosso: “Venha o teu Reino” (Mt 6.10). Igualmente, em nossas orações devemos pedir a Deus coragem para falar do Evangelho, muitas das vezes não falamos porque não possuímos essa intrepidez. Temos que pedir que o seu reino venha com poder, para que vidas sejam salvas. Sobre isso, o Breve Catecismo de Westminster na pergunta de 102 diz:

“Venha o Teu reino,” pedimos que o reino de Satanás seja destruído e que o reino da graça seja adiantado; que nós e os outros a ele sejamos guiados e nele guardados, e que cedo venha o reino da glória”[5].

O efeito da oração

Tendo eles orado, tremeu o lugar onde estavam reunidos; todos ficaram cheios do Espírito Santo e, com intrepidez, anunciavam a palavra de Deus (At 4.31).

Depois dessa oração, o Senhor respondeu com o derramamento do seu poder. Segundo Bruce, a experiência do V. 31 não foi mais um “batismo do Espírito”, mas uma manifestação renovada do seu poder entre os crentes totalmente entregues à vontade de Deus. A oração foi respondida, como se nota aqui e nos trechos seguintes[6]. O que eles precisavam para anunciar o Evangelho, foi literalmente atendido, o lugar onde eles estavam orando moveu-se. Com isso, ficaram cheios do Espirito Santo e de coragem para falar da palavra de Deus.

Semelhantemente, precisamos orar mais para o Evangelho de Cristo Jesus seja anunciado. Atualmente, muitas igrejas estão vivendo apenas entre quatros paredes, não vem se preocupando levar seus membros a levarem Evangelho fora das quatros paredes. É notório  um investimento alto na formação de novos obreiros e pouco em obras missionárias. Pouco é ensinado a trabalhar evangelismos nos bairros, escolas, trabalhos, faculdades e etc. Para resolver essa situação, temos que voltar a oração, ela levou a igreja primitiva a pregar corajosamente o Evangelho.

Conclusão

Diante do que analisamos até aqui, a oração é essencial para termos uma vida cristã fundamentada. Assim como não existe Evangelho sem cruz, não existe vida cristã sem a oração. A oração movimenta o cristão, a prova disso está na oração da igreja primitiva, depois que oraram a Deus se movimentara para divulgar o Evangelho. Sem a oração, jamais teremos uma vida cheia do Espírito Santo, não teremos coragem de falar de Jesus para as pessoas.

Que possamos seguir a estrutura da oração da igreja primitiva para termos uma vida cristã avivada. Valorizemos uma vida de comunhão com Deus, o nosso Deus têm várias formas de falar como seu povo, nós temos apenas uma, a oração. Você tem separado tempo para falar com Deus? lembre-se, a sua vida cristã depende disso!

Sidney Muniz     
    





[1] John Piper – Dicas para orar a palavra / Disiring God
[2] Joel Beeke – Teologia Puritana
[3] Bíblia de Estudo de Genebra
[4] Comentário Bíblico de Matthew Henry
[5] Breve Catecismo de Westminster
[6] Comentário Bíblico NVI Antigo e Novo Testamento de F.F Bruce

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Comentário Bíblico Mensal: Abril/2020 - Capítulo 4 - Lucas - O Evangelho do Filho do Homem




Comentarista: Anderson Ribeiro



Texto Bíblico Base Semanal: Lucas 22.39-44

39. E, saindo, foi, como costumava, para o Monte das Oliveiras; e também os seus discípulos o seguiram.
40. E quando chegou àquele lugar, disse-lhes: Orai, para que não entreis em tentação.
41. E apartou-se deles cerca de um tiro de pedra; e, pondo-se de joelhos, orava,
42. Dizendo: Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua.
43. E apareceu-lhe um anjo do céu, que o fortalecia.
44. E, posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se como grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão.


Momento Interação

Ao longo desta leitura, observamos a ênfase de Lucas em alguns aspectos do trabalho de Jesus. Ele destaca várias vezes a atenção que Jesus deu aos menosprezados, especialmente mulheres, crianças e os pobres. Jesus não julgava as pessoas por sua posição socioeconômica. Como imitadores do Mestre, devemos reconhecer o valor eterno de todos. Lucas inclui, também, uma ênfase nas orações de Jesus, relatando mais de doze vezes que o Filho conversou com seu Pai em oração. Se o próprio Jesus considerou as orações importantes, nós devemos valorizar o privilégio de nos comunicarmos com Deus. Lucas nos ensina sobre o maior homem de todos os tempos, o Filho de Deus que veio do céu para nos resgatar dos nossos pecados e nos ensinar como viver!

Introdução

A obra lucana é composta por dois livros: evangelho de Lucas e Atos dos Apóstolos. O primeiro livro apresenta a vida, as atividades e os ensinamentos de Jesus, desde a Galileia até Jerusalém. O segundo livro narra a vida e o desenvolvimento das primeiras comunidades cristãs de Jerusalém até Roma. Essa obra descreve o caminho da Palavra: da periferia para o centro; do ambiente do campo para a cidade; do mundo judaico para um ambiente de cultura grega. Segundo a compreensão romana, o reino de César anunciava que a paz e a segurança vinham dos poderosos, do centro para a periferia.
Como historiador, o escritor se propõe a fazer uma investigação cuidadosa, retomando os acontecimentos desde as origens. Ele recolhe informações de outras fontes, como, por exemplo, do evangelho de Marcos, do evangelho Q e da tradição das comunidades. A obra de Lucas é destinada a Teófilo, nome que pode indicar uma pessoa importante, alguém que deve ter financiado o seu trabalho. Mas o nome Teófilo também significa aquele que ama a Deus. É possível que essa obra tenha sido dedicada às amigas e aos amigos de Deus.

De acordo com a apresentação, o objetivo é claro: “para que verifiques a solidez dos ensinamentos que recebeste” (Lc 1,4). A finalidade dessa obra é animar as comunidades que estão enfrentando desânimo, cansaço, insegurança e descrença. Muitas pessoas estão abandonando a comunidade (Lc 24,13). É preciso reavivar a fé das comunidades cristãs e retomar o fervor missionário. Entre os quatro evangelistas, é Lucas quem mais se aproxima do conceito atual de historiador. Cuidadoso no seu trabalho, é provável que ao começar a prepará-lo já teve a previsão da publicação de uma obra em dois volumes. O primeiro é o Evangelho que leva o seu nome; o segundo, Atos dos Apóstolos. Com a publicação desses livros, o autor quis transmitir uma mensagem de valor universal: que Jesus, o “Filho do Altíssimo” (1.32), representa o último capítulo do desenvolvimento da humanidade; e que a sua existência terrena, manifesta sob a denominação de “Filho do Homem” (6.22), significa que Deus veio estabelecer o seu Reino entre nós e que nos convida a participar dessa realidade nova e definitiva (17.20-21).

I. Uma Narrativa Coordenada

“Visto que muitos já tentaram compor uma narração dos fatos que se cumpriram entre nós – conforme no-los transmitiram os que, desde o princípio, foram testemunhas oculares e ministros da Palavra – a mim também pareceu conveniente, após acurada investigação de tudo desde o princípio, escrever-te de modo ordenado, ilustre Teófilo, para que verifiques a solidez dos ensinamentos que recebeste” (Lc 1.1-4). Conforme as regras literárias do século I, o autor explica o motivo de sua obra, método, destinatário e objetivo. 

O propósito deste Evangelho é fornecer uma narrativa segura para os leitores gentios de língua e cultura grega, carecidos de um relato circunstanciado da vida, feitos e ministério de Jesus, fundamentarem a sua aprendizagem da doutrina cristã. O autor assume o seu livro como um relato cuidado e ordenado sobre a vida de Jesus, resultante da consulta dos escritos existentes acerca do assunto e da investigação aturada dos factos (1.1–4).

Essa preocupação é visível, por exemplo, em episódios que não se acham nos outros Evangelhos. Relativamente ao nascimento e à infância de Jesus, bem como em relação a João Batista, seu precursor: a anunciação angélica feita aos pastores, os belos cânticos de Maria (Magnificat), de Zacarias (Benedictus) e de Simeão (Nunc dimitis), a mudez de Zacarias, a visita de Maria a Isabel e o reconhecimento, pelos profetas Simeão e Ana, de Jesus como o Messias prometido a Israel, e ainda a discussão de Jesus, com doze anos, com os doutores da lei no templo em Jerusalém (1.5—2.52).

II. Data e Autoria do Evangelho de Lucas

Tanto o estilo quanto a linguagem oferecem evidências convincentes de que a mesma pessoa escreveu Lucas e Atos. “ O primeiro tratado” Atos 1.1 é, então provavelmente , uma referência ao terceiro evangelho, como o primeiro de uma série de dois volumes. E o fato de o escrito dedicar ambos os livros a Teófilo também demonstra solidamente uma autoria comum. Visto que a tradição de igreja atribui com unanimidade essas duas obras a Lucas, o médico, um companheiro próximo de Paulo (Cl 4.14; Fm 24; 2 Tm 4.11), e, como as evidências internas sustentam esse ponto de vista, não há motivos para contestar a autoria de Lucas. O presente Evangelho foi escrito para cristãos de procedência gentílica. Desde a Antiguidade tem-se mantido como critério praticamente unânime a identificação do seu autor com Lucas, o companheiro de Paulo (2 Tm 4.11; Fm 24), a quem este se refere em Cl 4.14 como o “médico amado”. 

Nenhum outro dado, porém, em relação ao nosso evangelista foi registrado no Novo Testamento. Eruditos que admitem que Lucas usou o Evangelho de Marcos como fonte para escrever seu próprio relato datam Lucas por volta do ano 70 dC. Outros, entretanto, salientam que Lucas o escreveu antes de At, que ele escreveu durante o primeiro encarceramento de Paulo pelos romanos, cerca de 63 dC. Como Lucas estava em Cesaréia de Filipe durante os dois anos em que Paulo ficou preso lá (At 27.1), ele teria uma grande oportunidade durante aquele tempo para conduzir investigações que ele menciona em 1.1-4. Se for este o caso, então o Evangelho de Lucas pode ser datado por volta de 59-60 dC, mas no máximo até 75 dC.

III. O Evangelho do Filho do Homem

Uma característica distinta do Evangelho de Lucas é sua ênfase na universalidade da mensagem cristã. Do cântico de Simeão, louvando Jesus como “luz... Para as nações” (2.32) ao comissionamento do Senhor ressuscitado para que se “pregasse em todas as nações” (24.47), Lucas realça o fato de que Jesus não é apenas o Libertador dos judeus, mas também o Salvador de todo o mundo. A fim de sustentar esse tema, Lucas omite muito material que é estritamente de caráter judaico. Por exemplo, ele não inclui o pronunciamento de condenação de Jesus aos escribas e fariseus (Mt 23), nem a discussão sobre a tradição judaica (Mt 15.1-20; Mc 7.1-23). Lucas também exclui os ensinamentos de Jesus no Sermão da Montanha que tratam diretamente do seu relacionamento com a lei (Mt 5.21-48; 6.1-8, 16-18). Lucas também omite as instruções de Jesus aos Doze para se absterem de ministrar aos gentios e samaritanos (Mt 10.5).

Por outro lado, Lucas inclui muitas características que demonstram universalidade. Ele enquadra o nascimento de Jesus em um contexto romano (2.1-2; 3.1), mostrando que o que ele registra tem significado para todas as pessoas. Ele enfatiza ainda, as raízes judaicas de Jesus. De todos os escritores dos Evangelhos só ele registra a circuncisão e dedicação de Jesus (2.21-24), bem como sua visita ao Templo quando menino (2.41-52). Somente ele relata o nascimento e a infância de Jesus no contexto de judeus piedosos como Simeão, Ana, Zacarias e Isabel, que estavam entre os fiéis restantes “esperando a consolação de Israel” (2.25). Por todo o Evangelho, Lucas deixa claro que Jesus é o cumprimento das esperanças do Antigo Testamento relacionadas à salvação.

Conclusão

Desde o prólogo do Evangelho (1.1-4), Lucas revela uma grande preocupação de referir em detalhes “uma narração coordenada dos fatos que entre nós se realizaram” (1.1). E mesmo que ele não tenha vivido pessoalmente o acontecimento de Cristo, trata de proclamá-lo “conforme nos transmitiram os que desde o princípio foram deles testemunhas oculares” (1.2). Com esse objetivo, havia-se entregado de antemão a uma “acurada investigação de tudo desde sua origem” (1.3). Igualmente, como faria mais tarde ao compor o livro dos Atos dos Apóstolos, também agora dedica Lucas o seu “primeiro livro” (At 1.1) a um personagem de destaque chamado Teófilo, acerca de quem não nos chegou maior informação. Apenas o conhecemos por essas dedicatórias, que, na moldura dos seus respectivos prólogos (Lc 1.1-4; At 1.1-5), correspondem às formas literárias usuais entre os escritores gregos de então.

Lucas, certamente, preocupou-se em narrar de maneira inteligente e ordenada tudo quanto sabia acerca da pessoa e do ministério de Jesus. Entretanto, não é menos certo que, em sentido estrito, nunca pretendeu escrever uma biografia, senão um Evangelho. A sua intenção não esteve simplesmente orientada para dar a conhecer a vida, as características pessoais e a atividade de Jesus em meio à multiplicidade de situações religiosas, políticas e sociais em que se desenvolve o drama humano. Lucas, o evangelista, escreve desde a fé e para a fé, oferecendo com isso um testemunho pessoal de que Jesus é o Messias que veio a dar cumprimento perfeito ao plano salvador preparado por Deus antes de todos os tempos.



Sugestão de Leitura da Semana: GONÇALVES, Matheus. O Evangelho do Médico Amado. São Paulo: Evangelho Avivado, 2019.

terça-feira, 21 de abril de 2020

A Efemeridade da Vida e a Busca pela Eternidade em Deus




Por Leonardo Pereira



Um dos grandes escritores e aconselhadores de todos os tempos sem dúvidas foi o Rei Salomão. Filho de Davi e Bate-Seba, desde muito jovem buscou ao Senhor pedindo-lhe saedoria para governar o reino que outrora pertencia ao seu pai. Grande em sabedoria, ficando somente atrás do Senhor e Salvador Jesus Cristo, Salomão empregou grande parte da sua vida em quatro etapas muito importantes que refletem vividamente em sua escrita e nas suas obras de grande estabilidade e conservação da nação ainda unificada de Israel. Neste artigo, abordarei de modo resumido sobre a vida de Salomão, suas obras e a importância que tem o filho de Davi para o entendimento sobre a vida passageira e a prioridade em se buscar a eternidade com Deus, que é a principal características resultante de suas obras, ainda que no Antigo Testamento, já tinha-o como alvo magno da sua vida.

A Juventude de Salomão

A primeira parte da sua vida foi em sua juventude, seguindo os conselhos do seu pai, de buscar ao Senhor e ser homem forte e valoroso para liderar com sabedoria e com prudência uma nação com a de Israel. Não seria uma tarefa fácil já que desde o período de Davi os problemas familiares e internos (militares e sacerdotais) tinha desestabilizado temporariamente a nação por dúvidas e descrenças acerca de quem sucederia Davi na liderança da nação como monarca. Seria um enorme desafio.

Os Feitos de Salomão

A segunda parte da vida de Salomão foram os seus feitos e realizações. Salomão realizou muitas obras em vida. Edificou cidades, plantações, agregou para sí enorme quantias financeiras da época, estabilizou Israel, escreveu, compôs, trabalhou, ensinou e produziu muito. Faltaria espaço neste artigo para se falar a respeito dos feitos do rei Salomão. É inegável a sua contribuição para Israel e para a humanidade. Os feitos de Salomão estão registrados na maior do livro de 2 Reis e 2 Crônicas. A sua sabedoria, juntamente com seus planejamentos e acordos com outras nações, juntamente com os casamentos da época que garantiram paz e prosperidade aos israelitas, possibilitaram a Salomão uma vida de sabedoria e do verdadeiro entendimento da vida. Quis ele com a sabedoria que recebeu do Senhor cumprir aquilo que tinha falado com Deus: usar a sua sabedoria para liderar de maneira íntegra e correta ao seu povo, a nação que seu pai lhe tinha confiado.

As Obras e Objetivos de Salomão

A terceira parte da vida de Salomão foram as suas obras escritas deixando-as como legados morais e espirituais para as próximas gerações. Todo o conteúdo escrito por Salomão ajuda-nos a ter um entendimento melhor na vida humana. Em Provérbios, encontramos os reais valores dos bons conselhos para o dia-dia. Ao lermos o Livro de Provérbios, nossas vidas ficam mais compreensivas, claras e objetivas aos nossos olhos. Temos uma percepção melhor em entender como se deve viver prudentemente em nosso tempo e em nosso contexto social. É um livro atual para o homem moderno ser sábio e entendido no mundo em que vivemos. Em Eclesiastes, vemos o contraste entre uma vida longe e próxima de Deus. Salomão vai-nos dizer que a vida é repleta de vaidades e que o objetivo de uma vida bem vivida é termos o temor a Deus e obedecer aos seus mandamentos. 

Salomão destaca que o tempo que temos é para ser muito bem aproveitado longe das vaidades e das incongruências da vida. Devemos aproveitar, como Eclesiastes ensina, a vida ao máximo para Deus, de modo que não tenhamos uma vida sem sentido, irracional. Em Cantares, vemos como deve ser um puro relacionamento conjugal. Por mais que os desafios da vida e as inconstâncias do presente século possa-nos afligir, Salomão em Cantares aborda o seu amor pela Sulamita, sendo que esta mantém-se fiel ao seu prometido, ainda que o filho de Davi tenha-lhe tentado ao máximo consquistá-la, a fidelidade conjugal e relacional é próprio desta riquíssima obra que atravessa milênios e conserva a sua essência teológica e própria.

A Reflexão de Salomão

A quarta parte da vida de Salomão foi a sua velhice a consequente reflexo da sua vida. Salomão se perverter com muitas mulheres e corrompeu a sua vida ao colocar tais mulheres acima de Deus em sua vida. Por isso, em sua vida ele aborda algumas questões reflexivas para os nosso tempo presente. Salomão em sua vida escreveu sobre a efemeridade da vida e sobre a eternidade que Deus colocou no homem. Salomão após viver a sua vida, agora chegando a idade avançada, viu pessoas morrerem, pessoas trabalharem por trabalhar sem objetivo algum de vida ou com o Senhor, pessoas correndo atrás de coisas passageiras, temporárias, e também pessoas que deixam a vida passar como sempre tivessem o amanhã e que jamais fossem morrer. Ele resume o estilo de vida de muitos e de maneira com texto introdutório do Livro de Eclesiastes: "vaidade de vaidades, tudo é vaidade" (Ec 1.1).

Podemos até pensar que Salomão escreveu um livro com grande incredulidade na vida e até mesmo para muitos possa parecer que o Livro de Eclesiastes não é um livro bíblico, mas um livro socio-filosófico, o que é um grande engano. Salomão expôs as suas angústias reconhecendo que a vida dele poderia ter sido aproveitado de uma forma melhor, sem arrependimentos e com grande regozijo em sua alma. Ele reconhecer que apesar de ter feito tanto em sua vida, todas as suas ações longe de Deus e com proveito próprio, não lhe satisfazia a sua alma. Por fora, um homem poderoso em uma nação e no oriente, por dentro, um homem com um vazio existencial que somente Deus poderia preencher tal lacuna em sua alma e em sua vida. Salomão reconhece isto e com a sua velhice, vem a sua experiência e mostra-nos o principal objetivo de vida: Temer a Deus evitarmos as coisas superficiais e passageiras em vida, que não agregam ao nosso ser e ao nosso espírito. Somente o Senhor pode preencher o vazio que se encontra nos corações de muitos no mundo afora. Salomão entende que com o passar da sua vida, mais precioso é estar junto do Pai e distante do mundo e das coisas passageiras.

Busquemos a Eternidade em Deus

Salomão em sua vida com avançada idade, reconhece os valores de Deus em detrimento dos valores do mundo que ele em sua juventude experimentou e amargou grande derrotas morais e sociais quando antes, tinha o seu coração corrompido e distanciado do Criador. Eclesiastes ensina-nos a vivermos prudentemente temendo a Deus com reflexos para a eternidade com Ele. Sigamos as orientações bíblicas de Salomão. Deixemos de lado as questões fúteis e passageiras do presente século e corramos em direção de uma vida cujo o tempo em que vivemos é o tempo de Deus e não o tempo do mundo. Deus estabeleceu um dia (um tempo) em que haveria de julgar o mundo por meio do varão que o destinou, e deu irrefutável certeza a todos nós, ressuscitando o varão, a saber, Jesus Cristo, dentre os mortos (At 17.31). Por isso, valorizemos a vida temendo a Deus e buscando as coisas espirituais, dos céus (Cl 2.4). 



Referências:

Bíblia Sagrada. Almeida Revista e Corrigida. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009.

Comentário Bíblico Evangelho Avivado Volume 1 - Antigo Testamento. São Paulo: Evangelho Avivado, 2018.

GONÇALVES, José. Sábios Conselhos para um Viver Vitorioso. Rio de Janeiro: CPAD, 2013.

GONÇALVES, Matheus. Vida com Deus. Evangelho Avivado, 2020.

GONÇALVES, Matheus. Conhecendo o Deus da Bíblia. São Paulo: Evangelho Avivado, 2017.

KIDNER, Derek.  Provérbios, introdução e comentário - Série cultura bíblica. São Paulo: Vida Nova, 1990.

KELLER, Timothy; KELLER, Kathy. A Sabedoria de Deus - um ano de devocionais diários em Provérbios. São Paulo: Vida Nova, 2019.

LOPES, Hernandes Dias. Provérbios - Comentários Expositivos Hagnos. São Paulo: Hagnos, 2016.

PEREIRA, Leonardo; ROGÉRIO, Marcos. Panorama Bíblico Volume 3 - Livros Poéticos. São Paulo: Evangelho Avivado, 2017.

ROGÉRIO, Marcos. Livros Poéticos. São Paulo: Evangelho Avivado, 2019.

ROGÉRIO, Marcos. Provérbios. São Paulo: Evangelho Avivado, 2017.

domingo, 19 de abril de 2020

Comentário Bíblico Mensal: Abril/2020 - Capítulo 3 - Marcos - O Evangelho do Servo Sofredor




Comentarista: Anderson Ribeiro



Texto Bíblico Base Semanal: Marcos 3.6-12

6. E, tendo saído os fariseus, tomaram logo conselho com os herodianos contra ele, procurando ver como o matariam.
7. E retirou-se Jesus com os seus discípulos para o mar, e seguia-o uma grande multidão da Galiléia e da Judéia,
8. E de Jerusalém, e da Iduméia, e de além do Jordão, e de perto de Tiro e de Sidom; uma grande multidão que, ouvindo quão grandes coisas fazia, vinha ter com ele.
9. E ele disse aos seus discípulos que lhe tivessem sempre pronto um barquinho junto dele, por causa da multidão, para que o não oprimisse,
10. Porque tinha curado a muitos, de tal maneira que todos quantos tinham algum mal se arrojavam sobre ele, para lhe tocarem.
11. E os espíritos imundos vendo-o, prostravam-se diante dele, e clamavam, dizendo: Tu és o Filho de Deus.
12. E ele os ameaçava muito, para que não o manifestassem.

Momento Interação

O livro de Marcos é um dos quatro relatos da vida de Cristo que encontramos no começo do Novo Testamento. Este livro fala sobre a pessoa mais significante na história do mundo, o Filho de Deus. Marcos é o mais curto dos evangelhos e, geralmente, o mais fácil para entender. É um livro de ação, que mostra como Deus age na forma do homem. Aprendemos muito aqui, não somente das palavras de Jesus, mas também do exemplo da sua vida. O relato de Marcos não é apenas uma coleção de histórias, mas uma narrativa escrita para revelar que Jesus era o Messias, não só para os judeus, mas para os gentios também. Em uma profissão dinâmica, os discípulos, liderados por Pedro, assumiram a sua fé nEle (Mc 8.29,30), embora não tenham compreendido plenamente Sua messianidade até depois da Sua ressurreição.  

Este evangelho é único porque ele enfatiza as ações de Jesus mais do que Seus ensinamentos. É escrito de forma simples, movendo-se rapidamente de um episódio da vida de Cristo para outro. Ele não começa com uma genealogia como em Mateus porque os gentios não estariam interessados em Sua linhagem. Após a apresentação de Jesus no Seu batismo, Jesus começou Seu ministério público na Galileia e chamou os primeiros quatro de Seus doze discípulos. O que se segue é o registro da morte, vida e ressurreição de Jesus.

Introdução

O livro de Marcos relata o ministério, a morte e a Ressurreição de Jesus Cristo em um relato rápido que muitas vezes centraliza-se nos feitos poderosos do Salvador. O primeiro deles é a Expiação, que Marcos enfatiza como a missão central de Jesus como o Messias há muito prometido. Ao estudar o relato de Marcos e o testemunho de como o Salvador cumpriu Sua missão expiatória, você pode tornar-se mais convertido ao evangelho e encontrar ânimo para seguir o Salvador.

I. Marcos - Um Evangelho Singular

Enquanto Mateus foi escrito para um público Judeu Marcos parece ter voltado sua atenção para os romanos, particularmente os gentios. Isto parece evidente quando vemos alguns detalhes em sua forma de escrever. Marcos, ao empregar algum tema em aramaico, tem o cuidado de traduzir para seus leitores (Mc 3.17; 5.41; 7.11,34; 10.46; 14.36; 15.22,34). Por outro lado, em alguns lugares ele usa expressões latinas, em vez de seus equivalentes gregos (5.9; 6.27; 12.15,42; 15.16,39). Ele também conta o tempo de acordo com o sistema romano (6.48; 13:35) e explica cuidadosamente os costumes judaicos (7.3,4; 14.12; 15.42). Ele também omite elementos judaicos, como as genealogias encontradas em Mateus e Lucas. 

Esse Evangelho também faz menos referência ao Antigo Testamento, além de incluir menos matéria que seria de particular interesse para os leitores judaicos, como aqueles que criticam os fariseus e os saduceus (estes últimos são mencionados apenas uma vez em Marcos 12.8). Quando menciona Simão de Sirene (Mc 15.21), Marcos o identifica como o Pai de Rufo, um destacado membro da igreja de Roma (Rm 16.13). Tudo isto apoia um comum entendimento por todos estes séculos que o Evangelho de Marcos foi escrito inicialmente para um público gentio em Roma. Em 64 d.C., Nero acusou a comunidade cristã de colocar fogo na cidade de Roma. Por esse motivo instigou uma temerosa perseguição na qual Paulo e Pedro morreram. Em meio a uma igreja perseguida, vivendo constantemente sob ameaça de morte, o evangelista Marcos escreveu suas “boas novas”. Está claro que ele quer que seus leitores tomem a vida e exemplo de Jesus como modelo de coragem e força.

II. Data e Autoria do Evangelho de Marcos

Marcos (também chamado de João Marcos) é o autor desse livro. Embora Marcos não tenha estado entre os discípulos originais de Jesus Cristo, ele converteu-se mais tarde e tornou-se um assistente do Apóstolo Pedro, e ele pode ter escrito seu evangelho com base no que ele aprendeu com Pedro. Marcos e sua mãe, Maria, moravam em Jerusalém; a casa deles era um lugar onde os primeiros cristãos se reuniam (At 12.12). Marcos saiu de Jerusalém para ajudar Barnabé e Saulo (Paulo) na primeira viagem missionária (At 12.25; 13.4–6, 42–48). Paulo escreveu mais tarde que Marcos estava com ele em Roma (ver Colossenses 4:10; Filemom 1.24; refere-se a ele como Marcos nesses versículos) e o elogia como um companheiro que “é muito útil para o ministério” (2 Tm 4.11). Pedro refere-se a ele como “meu filho Marcos” (1 Pe 5.13), mostrando a proximidade do relacionamento deles. Não sabemos exatamente quando o evangelho de Marcos foi escrito. Marcos provavelmente escreveu o evangelho em Roma entre 64 d.C. e 70 d.C., talvez pouco depois do martírio do Apóstolo Pedro cerca de 60 d.C. 

III. Marcos - Um Homem Objetivo na Escrita

O nome desse Evangelho vem de uma pessoa muito próxima ao apóstolo Pedro e um personagem importante também no livro de Atos onde Marcos é citado como “João, cognominado Marcos” (At 12.12,25; 15.37,39). Depois de ter sido liberto da prisão (At 12.12), Pedro foi à casa da mãe de João Marcos em Jerusalém. João Marcos era primo de Barnabé (Cl 4.10) e juntamente com ele seguiu na primeira viagem missionária de Paulo (At 12.25; 13.5). Contudo Marcos os abandonou no caminho para Perge, voltando para Jerusalém (At 13.13). Quando Barnabé desejou que João Marcos participasse da segunda viagem missionária, Paulo recusou. O Atrito resultante entre Paulo e Barnabé fez com que os dois se separassem (At 15.38-40).

A vacilação anterior de João Marcos evidentemente deu lugar a uma grande força e maturidade e com o passar do tempo ele mostrou o seu valor até mesmo para o apóstolo Paulo. Quando escreveu a carta aos colossenses, Paulo os instruiu que, se João Marcos fosse até eles, deveria ser bem recebido (Cl 4.10). Ele até citou Marcos como um companheiro de ministério (Fm 24). Mais tarde Paulo escreveu a Timóteo: “toma contigo Marcos e traze-o, pois me é útil para o ministério” (2 Tm 4.11). A restauração de João Marcos a um ministério útil nas mãos do Senhor pode ter acontecido, em parte, por causa da mediação de Pedro. O relacionamento próximo de Pedro com Marcos fica evidente a partir da referência que faz a ele chamando-o de “meu filho Marcos” (1 Pe 5.13). Como se sabe Pedro, em sua juventude, também era muito instável emocionalmente e sua influência sobre um homem mais jovem foi fundamental para ajudá-lo a sair da instabilidade da sua juventude e alcançar a maturidade. Maturidade da qual ele precisaria para a obra que Deus o havia chamado.

Este Evangelho sem dúvida foi baseado na narrativa dos fatos do Apóstolo Pedro a João Marcos. Este se tornou o seu “porta-voz” escrevendo com precisão tudo que ouviu do apóstolo Pedro. Entretanto não foi na ordem exata que ele relatou os feitos do Senhor, pois ele não esteve tão perto do Senhor como Pedro. Um historiador disse que o Evangelho de Marcos são “as memórias de Pedro” e sugere que Marcos escreveu esse evangelho quando esteve na Itália. Este fato esta de acordo com os pais da igreja primitiva que também consideravam que este evangelho tenha sido escrito em Roma para benefício dos Cristãos romanos.

IV. O Evangelho do Servo Sofredor

O evangelho de Marcos contém detalhes — tais como citações aramaicas, expressões em latim e explicações de costumes judaicos — que parecem destinar-se a um público composto principalmente por romanos e pessoas de outras nações gentias, bem como aqueles que se haviam convertido ao cristianismo, provavelmente em Roma e em todo o Império Romano. Muitos acreditam que Marcos tenha estado com Pedro durante um período marcado por duras provas de fé para muitos membros da Igreja em todo o Império Romano. Um terço do evangelho de Marcos conta os ensinamentos e as experiências do Salvador durante Sua última semana de vida. Marcos prestou testemunho de que o sofrimento do filho de Deus finalmente triunfou sobre o mal, o pecado e a morte. Esse testemunho demonstrou que os seguidores do Salvador não precisam temer; quando eles enfrentaram perseguição, desafios ou até a morte, estavam seguindo o Mestre. Eles podiam suportar com confiança, sabendo que o Senhor os ajudaria e que todas as Suas promessas seriam cumpridas.

O evangelho de Marcos começa de repente e de forma dramática e mantém um ritmo acelerado, narrando os acontecimentos em uma sequência rápida. Marcos usa com frequência a palavra logo, dando um efeito de ritmo rápido e ação. Embora 90% do material em Marcos também se encontre em Mateus e Lucas, o relato de Marcos inclui com frequência detalhes adicionais que nos ajudam a apreciar mais plenamente a compaixão do Salvador e a reação do povo que o cercava (compare Marcos 9.14–27 com Mateus 17.14–18). Por exemplo, Marcos relatou a recepção entusiástica que o Salvador recebeu na Galileia e em outros lugares no início do Seu ministério (Mc 1.32,33, 45; 2.2; 3.7–9; 4.1). Marcos também narrou meticulosamente a reação negativa dos escribas e fariseus, cuja oposição progredia rapidamente dos pensamentos céticos (Mc 2.6,7) à planos para destruir Jesus (Mc 3.6). Entre os temas importantes em Marcos estão as perguntas de quem era Jesus e quem entendia Sua identidade, bem como o papel do discípulo como alguém que deve “tomar a sua cruz e seguir a [Jesus]” (Mc 8.34). Além disso, o evangelho de Marcos é o único que relata a parábola da semente que cresce sozinha (Mc 4.26,27), a cura de um surdo na região de Decápolis (Mc 7.31–37), e a cura gradual de um cego em Betsaida (Mc 8.22–26).

Conclusão

Marcos apresenta Jesus como o servo sofredor de Deus (Mc 10.45). Seu foco está mais nos feitos de Jesus do que nos seus ensinos, enfatizando particularmente o serviço e o sacrifício. Marcos omite os longos sermões encontrados nos outros evangelhos, geralmente relatando apenas breves trechos que apresentam a essência do ensino de Jesus. Marcos também omite qualquer relato a respeito dos ancestrais e do nascimento de Jesus, começando já no início do ministério público de Jesus, quando ele foi batizado por João Batista no deserto. Marcos demonstra a humanidade de Cristo mais claramente do que qualquer outro evangelista, enfatizado as suas emoções (Mc 1.41; 3.5; 6.34; 8.12; 9.36), suas limitações enquanto homem (Mc 4.38; 11.12; 13.32) e outros pequenos detalhes a respeito de Jesus que destacam o lado humano de Jesus do Filho de Deus (7.33,34; 8.12; 9.36; 10.13-16).

Ele mostra Jesus como o servo, em simplicidade, mas cheio de força e a vitalidade de um touro. A força que não se resume nas muitas falácias, mas no poder da ressurreição e da grandiosidade dos vida prática e real do Cristo. É um evangelho curto, mas que transforma a sua vida e existência. Um evangelho que irá colocar em cheque aquilo que existe dentro do seu coração e te fará meditar sobre o seu caminho. Apesar de pequeno e muitíssimo simples, este é o evangelho que toca em nossa ferida de forma profunda e viva e que objetiva a transformação da vida do homem através do poder do Cristo ressurreto.



Sugestão de Leitura da Semana: CAMPOS, Ygor. Panorama Bíblico Volume 5 - Evangelhos e Atos. São Paulo: Evangelho Avivado, 2017.