Capítulo 4: A Crucificação e a Morte de Jesus Cristo




Texto Bíblico Base Semanal: Lucas 23.33-46

33. E, quando chegaram ao lugar chamado a Caveira, ali o crucificaram, e aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda.
34. E dizia Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem. E, repartindo as suas vestes, lançaram sortes.
35. E o povo estava olhando. E também os príncipes zombavam dele, dizendo: Aos outros salvou, salve-se a si mesmo, se este é o Cristo, o escolhido de Deus.
36. E também os soldados o escarneciam, chegando-se a ele, e apresentando-lhe vinagre.
37. E dizendo: Se tu és o Rei dos Judeus, salva-te a ti mesmo.
38. E também por cima dele, estava um título, escrito em letras gregas, romanas, e hebraicas: ESTE É O REI DOS JUDEUS.
39. E um dos malfeitores que estavam pendurados blasfemava dele, dizendo: Se tu és o Cristo, salva-te a ti mesmo, e a nós.
40. Respondendo, porém, o outro, repreendia-o, dizendo: Tu nem ainda temes a Deus, estando na mesma condenação?
41. E nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o que os nossos feitos mereciam; mas este nenhum mal fez.
42. E disse a Jesus: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino.
43. E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso.
44. E era já quase a hora sexta, e houve trevas em toda a terra até à hora nona, escurecendo-se o sol;
45. E rasgou-se ao meio o véu do templo.
46. E, clamando Jesus com grande voz, disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, havendo dito isto, expirou.

Momento Interação

Estudantes da Palavra, em um Comentário Bíblico Mensal não temos como abordar todo o Evangelho de Lucas. Contudo, os pontos vitais deste Evangelho estão sendo estudado por nós decorrentes da vida e da obra de Jesus. A sua Crucificação e Morte é um dos momentos mais emblemáticos do pilar do evangelho. Foi um julgamento forjado, covarde, movido por enorme inveja dos escribas e fariseus, aonde Jesus Cristo mostra sua plena certeza a todos nós do cumprimento da vontade do seu Pai em ir para a Cruz por amor a humanidade. É na Cruz que vemos o maior ato de amor do Senhor dos Senhores, do Rei dos Reis.

Introdução

Lucas 23 narra o julgamento, a condenação, a crucificação e a morte de Jesus com riqueza de detalhes que impressiona o leitor. Até Pilatos e Herodes com Jesus vieram a reatar a amizade que tinham. Era dever deles e responsabilidade julgá-lo com justiça, mas essa estava cega e não seguiu a Deus, antes o ventre dos homens que queriam a sua morte.

O homem tem o senso de justiça nele por causa da graça soberana de Deus, único justo. A justiça é um atributo da divindade e se fôssemos personificá-la trazendo à existência entre nós teríamos de chamá-la de Deus. Deus é justiça e a justiça está com Deus. Quando apelamos para a justiça, estamos apelando para Deus. Quando nos queixamos que ela foi torcida, estamos com isso dizendo ou clamando a Deus que a execute, pois passamos a falar em seu nome. Ninguém ali queria nada com a justiça, por isso o resultado absurdo de condenação à morte por crucificação.

Jesus morreu! Sua traição, prisão, acusação, julgamento, condenação, sofrimento, castigo, crucificação e morte ocorreram dentro de um período de mais ou menos 12 horas. Foi tudo tão rápido! Os discípulos perderam o chão e ainda estavam absortos em pensamentos sem entenderem bem o que estava se sucedendo.

I. Momentos Antecedentes a Prisão de Cristo

Estava chegando o dia de aflição para Jesus Cristo por causa da missão que o Pai lhe confiou. Dentre os seus escolhidos, havia um do diabo que já estava negociando a sua traição por dinheiro. Diz a palavra de Deus que Satanás entrou dentro dele e ele combinou com os principais sacerdotes e escribas como isso se daria. Jesus então começa a preparar a páscoa e precisava de um lugar. Da mesma forma que falara aos discípulos para apanharem um jumentinho para ele entrar em Jerusalém, para se cumprir as Escrituras, desta mesma forma, ele os orienta para irem para prepararem o lugar e tudo se sucedeu conforme ele instruíra.

Jesus celebra a sua última ceia aqui nesta terra tendo sentado ao seu lado direito, lugar de destaque e honra, Judas, o traidor. Ele participa da ceia. Jesus não o expõe aos outros. Parecia que Jesus acreditava até o fim que ele poderia se converter e se arrepender. Na verdade, o Senhor sabia quem era ele e que não se arrependeria, mas nos deixou uma lição importante sobre o amor, a paciência e as Escrituras. Terminada a ceia, eles vão orar, mas Judas não se interessava por esta parte, antes estava concluindo seu plano maligno de entregar Jesus e assim estava trazendo os que iriam prender a Jesus.
Jesus ora intensamente, mas por fim cede à vontade do Pai: “seja feita a sua vontade”.

II. Uma Armação Orquestrada para Jesus

Lucas registra as injustiças e as insolências cometidas contra Jesus em seu julgamento. Levantou-se toda a assembleia para levar Jesus a Pilatos. Não era necessário que todos comparecessem, mas um grupo grande impressionaria Pilatos pela sua seriedade e solidariedade. Como se aproximava a festa, os sacerdotes e escribas estavam inquietos buscando como iriam matá-lo. A rigor, a Festa dos Pães Asmos e a Páscoa eram festas diferentes (Nm 28.26-27), mas a Páscoa era seguida imediatamente pela Festa dos Pães Asmos. Na época do Novo Testamento, os nomes dessas festas eram intercambiáveis. A festa comemorava a grandiosa libertação do povo do Egito (Êx 12.17). Os principais sacerdotes detinham o poder político entre os judeus, e foram eles, e não os fariseus, que comandaram a oposição final contra Jesus. A oportunidade surge quando Satanás possuiu Judas (Jo 13.2) e este foi procurar os principais sacerdotes, e não o contrário. Os capitães do templo eram levitas em sua maioria. Parece haver mesmo uma organização maligna com propósitos bem definidos e crentes de que são capazes de fazerem as coisas mudarem, conforme planejamento e execução.

A acusação de toda essa assembleia era que Jesus estaria pervertendo a nação – vs. 2. Uma acusação curiosamente vaga. Também de que estaria vedando pagar tributo a César. Na verdade, Jesus havia dito exatamente o contrário (Lc 20.25). E ainda que estivesse afirmando ser ele o Cristo, o Rei. Na seção registrada por Lucas, Jesus se recusou explicitamente a fazer uso desse termo (Lc 22.67-68). Contudo, em Mateus 16.17, ele confirmou a confissão de Pedro com relação a isso. Assim, num certo sentido essa acusação era verdadeira, porém incorreta no sentido que os judeus estavam apresentando aos romanos, ou seja, de que Jesus afirmava ser um líder político que rivalizava com César. Logo, essa acusação, como todas as outras, era falsa. Pilatos deve ter se impressionado com toda a assembleia e também lhe fez uma pergunta se seria ele o rei dos judeus. Num sentido que era crucialmente importante, Jesus era o Rei dos judeus, de modo que ele não poderia negar. Porém, ele não era rei no sentido que Pilatos entendia o termo e, portanto, não podia confirmar. Logo, a sua resposta foi vaga e neutra (cf. Jo 18.33-38), o que foi suficiente para Pilatos perceber que Jesus não era um revolucionário. No império Romano, o julgamento geralmente era realizado na província onde o crime foi cometido, porém podia ser transferido para a província natal do acusado. Pilatos aproveitou-se dessa minúcia jurídica para enviar Jesus a Herodes. Somente Lucas registra esse detalhe.

III. Jesus perante Pilatos

Ao ver Jesus que tinha sido enviado a Herodes por Pilatos muito se alegrou com ele e esperava ver ali, pessoalmente, algum tipo de sinal ou feito extraordinário, mas Jesus nada lhe respondia. Herodes foi a única pessoa com quem Jesus se recusou a falar. Herodes fez pouco caso de Jesus e não considerou com seriedade as acusações contra ele. Além disso, o tratou com desprezo, escarneceu dele e ainda fê-lo vestir um manto aparatoso e o devolveu a Pilatos, com quem, a partir desse momento, reateve sua amizade.

Jesus comparece pela segunda vez diante de Pilatos e este reunindo seus acusadores e todo o povo resolve apenas castigá-lo e depois soltá-lo. De acordo com a lei romana, uma pessoa poderia receber uma surra leve como uma advertência para que fosse mais cuidadoso no futuro. Pilatos esperava que com esse procedimento conseguisse aplacar a ira dos judeus e ao mesmo tempo libertar um homem que ele sabia ser inocente. A tradição de libertar um prisioneiro durante a Páscoa não tem sido comprovada por fontes extra bíblicas, mas esse tipo de costume era bastante praticado nesse período, e a oferta de Pilatos não é implausível.

A multidão gritava por Barrabás, um homem que seria desconhecido não fosse esse registro. Seu nome significa "filho do pai”, e Lucas relata que seus crimes eram rebelião e assassinato. Barrabás era visivelmente um criminoso, mas para a multidão de Jerusalém ele pode ter sido considerado como um herói do movimento da resistência. Pilatos ainda tentou evitar a condenação de Jesus, brincando com sua plateia, mas eles insistiam com ele que não soltasse a Jesus, mas sim a Barrabas. Pilatos então cede ao desejo da multidão e de seus acusadores, liberta Barrabas e condena Jesus à crucificação. A máxima autoridade humana que poderia e deveria cumprir o seu papel diante de Deus, com o próprio Deus, falhou torcendo e pervertendo toda a justiça.

IV. Jesus e a Crucificação

Um relato do que era a crucificação nos tempos do império de Roma, mostra toda a agonia física e mental que Jesus Cristo passou. O que vemos nos evangelhos e nos filmes é apenas uma simples alusão do que realmente essa tortura era na realidade.

Uma das mais terríveis formas de punição na Roma antiga, a crucificação combinava vergonha, tortura, agonia e morte. Era a mais humilhante das formas de execução. Despojado de suas vestes, o condenado era açoitado impiedosamente pelos carrascos com um azorrague, espécie de chicote com cerca de oito tiras de couro cujas pontas eram reforçadas com objetos perfuro cortantes, como pregos e pedaços de ossos, para aumentar o sofrimento da vitima. Muitos não resistiam ao açoitamento e morriam antes da crucificação. Os que sobreviviam ao flagelo eram, muitas vezes, obrigados a carregar a sua cruz pelas ruas da cidade até o local da execução. Seminus, com a pele e a carne dilaceradas pelo castigo, eram expostos ao escárnio popular. Pessoas cuspiam, atiravam coisas e insultavam os condenados.

O peso da cruz era insuportável para eles que já estavam fragilizados e exaustos pela longa sessão de tortura. Durante o percurso, as quedas eram frequentes e os condenados obrigados a retomar a caminhada com a cruz sobre os ombros. Hoje, acredita-se que os condenados carregavam apenas a viga horizontal da cruz, a outra parte era fincada antes, no local da execução. Finalmente, os braços do condenado eram atados à trave e seu corpo içado. Normalmente, os punhos eram atados à viga por cordas, mas no caso de Jesus, foram usados cravos de ferro, que perfuravam a carne, destruindo nervos e ossos, multiplicando ainda mais o sofrimento.

Com a carne e a pele dilaceradas pelas chibatadas com o azorrague, Jesus recebeu na cabeça espécie de coroa ou capacete feita com galhos entrelaçados de uma planta com espinhos, que perfuram seu couro cabeludo, provocando fortes dores e sangramento abundante. Em seguida, foi vestido com uma túnica. O tecido, em contato com as feridas abertas, gruda na carne. O braço horizontal da cruz é posto sobre seus ombros e ele é exposto à multidão feroz. Já sem forças, Jesus é rebocado com cordas pelos soldados, num percurso de cerca de 600 metros. Seus passos são arrastados, o peso da trave e a fadiga causam várias quedas, ferindo seus joelhos. Os soldados o agridem, o açoitam e o forçam a prosseguir.

V. Jesus e a sua Morte

Lucas registrou os detalhes da morte de Jesus para que esse acontecimento nunca mais fosse esquecido. Jesus estava conduzindo em seus ombros as madeiras que seriam usadas para crucificá-lo, mas estava exausto e os próprios guardas constrangeram um cireneu, chamado Simão a ajudá-lo. Era costume o condenado carregar a própria cruz, ou pelo menos a barra horizontal, até o lugar onde seria crucificado. Jesus começou carregando a sua cruz (Jo 19.17), mas pode ter enfraquecido por causa dos açoites que levou antes da crucificação (Mc 15.15). Os soldados recrutaram um homem dentre a multidão, chamado Simão. Ele era de Cireneu (no norte da África), e posteriormente os seus filhos ficaram conhecidos na igreja (Mc 15.21).

Somente Lucas registrou esse incidente – vs. 27 a 30 - das mulheres que se batiam no peito e o lamentavam. Deveria haver muitos seguidores de Jesus em Jerusalém, mas somente uns poucos devem ter ajuntado para observar o julgamento mais de perto, uma vez que todo o espaço estava ocupado pelos opositores de Jesus. Jesus se dirige a elas como filhas de Jerusalém. Uma referência às mulheres locais, e não às peregrinas da Galileia. Jesus estava preocupado com elas (e não com ele mesmo) e chamou-lhes a atenção para os sofrimentos terríveis que viriam sobre a terra. Ele queria que elas se arrependessem em vez de simpatizarem com ele.

No vs. 31, Jesus concluiu seu arrazoado diante delas dizendo que se aquilo tudo estava acontecendo com ele – lenho verde – imagina com o que fará com o lenho seco – todos eles? Com certeza um dito proverbial, possivelmente sugerindo que se Jesus (que era inocente) estava sendo crucificado, coisa muito pior aconteceria com os judeus (que eram culpados). No caminho, haviam mais dois que seriam crucificados juntos com Jesus (Lc 23.32). Chegaram então ao Calvário. Do latim, calvaria, de onde provém a nossa palavra "caveira". Os quatro Evangelhos relatam que Jesus foi crucificado entre dois ladrões; em sua morte ele "foi contado com os transgressores" (Is 53.12).

Jesus estava sendo crucificado impiedosamente e mesmo assim orava pedindo perdão aos seus ofensores, tanto os judeus como os romanos.  Os soldados, no entanto, ali estavam repartindo as suas vestes. Tradicionalmente, as roupas do condenado eram repartidas entre aqueles que o crucificaram. Assim, esses soldados cumpriram involuntariamente a profecia de Salmo 22.18. As autoridades, e não o povo, é que zombavam (Lc 23.)35. É curioso que falassem sobre "o Cristo" e "o escolhido" quando Jesus parece não ter utilizado nenhum desses títulos com regularidade. Também os soldados escarneciam dele e o provocavam a descer ali da cruz pedindo a ele que, pelo menos, salvasse a si mesmo. Sobre a sua cruz estava escrito em letras gregas, romanas e hebraicas a frase ESTE É O REI DOS JUDEUS – VS. 38.

Dos versos de 39 a 43, vemos a conversa que tiveram os três crucificados, pendurados na cruz. Um zombava também, mas o outro creu no crucificado e Jesus prometeu a ele que naquele mesmo dia estariam juntos no paraíso. Nesse crente da última hora havia algum grau de confiança, pois esse homem acreditava que Jesus não seria aniquilado na morte, mas sim que estava indo para o reino celeste, ou para o paraíso, uma palavra de origem persa que significa "jardim", e mais tarde veio a indicar o lugar dos abençoados (2Co 12.4; Ap 2.7).

Jesus morreu e rasgou-se o véu do santuário de alto a baixo – vs. 45. O véu fazia separação entre o Santo dos Santos e o restante do templo. A morte de Jesus forneceu acesso à presença de Deus. Os Evangelhos de Mateus e Marcos enfatizam a terrível natureza da morte de Jesus em favor dos pecadores. O Evangelho de Lucas não desmente esse aspecto e inclui as palavras de Jesus para demonstrar que sua morte estava de acordo com a vontade do Pai. Foi nesse momento que Jesus exclamou em alta voz “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” e expirou. Uma maneira incomum de se referir à morte. Nenhum dos Evangelhos utiliza uma terminologia comum para a morte de Jesus, o que pode indicar que seus escritores consideraram a morte dele como algo extraordinário. Até o centurião que tudo presenciou ali pode constatar que havia morrido um justo. O modo como Jesus morreu demonstrou que era um homem "justo". Mateus e Marcos utilizam a expressão "Filho de Deus" (Mt 27.54; Mc 15.39). Nesse contexto, as duas referências transmitem o mesmo sentido (Mc 15.39). Agora era a hora da multidão também se lamentar e baterem em seus peitos. Um sinal de lamento. Para a multidão, até agora a crucificação de Jesus estava sendo um espetáculo de entretenimento; porém a morte de Jesus deixou-os tristes e pesarosos. O Evangelho de Lucas não relata qual foi o efeito da morte sobre os discípulos que a testemunharam.

Conclusão


É impressionante observar, porém, que muitas pessoas, até líderes religiosos influentes, continuam com pensamentos parecidos com os dos apóstolos na sua confusão e tristeza. Muitos ainda aguardam um reino terrestre e material, não compreendendo a vitória de Jesus sobre a morte e a realidade do seu reino espiritual, celestial e eterno. O reino de Jesus existe (Cl 1.13), pois já recebeu seu domínio eterno (Dn 7.14; Ap 1.5). Jesus cumpriu o plano eterno para a nossa redenção, e reina para toda a eternidade.

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