Capítulo 1: Epístola de Tiago - Padrão Cristão de Viver

 




Texto Bíblico Base Semanal: Tiago 1.1-12

1. Tiago, servo de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos que andam dispersas, saúde.
2. Meus irmãos, tende grande gozo quando cairdes em várias tentações;
3. Sabendo que a prova da vossa fé opera a paciência.
4. Tenha, porém, a paciência a sua obra perfeita, para que sejais perfeitos e completos, sem faltar em coisa alguma.
5. E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto, e ser-lhe-á dada.
6. Peça-a, porém, com fé, em nada duvidando; porque o que duvida é semelhante à onda do mar, que é levada pelo vento, e lançada de uma para outra parte.
7. Não pense tal homem que receberá do Senhor alguma coisa.
8. O homem de coração dobre é inconstante em todos os seus caminhos.
9. Mas glorie-se o irmão abatido na sua exaltação,
10. E o rico em seu abatimento; porque ele passará como a flor da erva.
11. Porque sai o sol com ardor, e a erva seca, e a sua flor cai, e a formosa aparência do seu aspecto perece; assim se murchará também o rico em seus caminhos.
12. Bem-aventurado o homem que sofre a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o amam.

Momento Interação

Com clareza e vigor Tiago nos ensina como devemos agir e viver, se é que queremos ser cristãos. A Carta de Tiago foi escrita a todos os cristãos do seu tempo e trata de assuntos práticos da vida cristã. O autor fala de pobreza a riqueza; tentação; preconceito; maneira de viver; o falar; o agir, o criticar; orgulho e humildade; paciência, oração e fé. Ele põe acima de tudo a necessidade de não somente crer como também agir. Não adianta nada alguém dizer que tem fé se não provar por meio das suas ações que a sua fé é viva e verdadeira. "Porque, assim como o corpo sem o espírito esta morto, assim também a fé sem ação esta morta" (Tg 2.26). A verdadeira fé cristã se manifesta em ações cristãs. O autor chama a si mesmo de "mestre" (Tg 3.1). 

Introdução

Escrevendo de modo extremamente parecido em estilo com a literatura de sabedoria do Antigo Testamento, ainda que com evidentes premissas cristãs, Tiago apresenta como tema a Religião Pura. A epístola é claramente cristã pelo fato que reconhece as reivindicações de Cristo (Tg 1.1; 2.17), que faz referência à Segunda Vinda de Cristo (Tg 1.12; 5.7,8), fazendo relembrar o ensino da chamada “literatura de sabedoria” do Antigo Testamento, conforme encontramos nos livros de Jó, Provérbios e Eclesiastes e em alguns dos Salmos. Tiago faz repetido uso do paradoxo ao asseverar a superioridade dos valores espirituais. Tiago se mostra prático e livre de embaraços teológicos, em sua ênfase. Seu primeiro capítulo, que fala sobre o programa de Deus de santificação real na vida do crente, introduz e apresenta em miniatura os tópicos que são tratados de modo amais completos nos capítulos restantes. Tiago deu à sua Epístola um ar de autoridade sem presunção.

I. Tiago - O Autor da Epístola

Quando falamos sobre quem foi Tiago na Bíblia, precisamos saber que pelos quatro personagens bíblicos são mencionados no Novo Testamento com este nome. O nome Tiago é a forma grega (Iakobos) do nome hebraico Jacó (Ya’aqob), que significa “segurador de calcanhar” ou “suplantador”. Existem quatro Tiago no Novo Testamento. Dois deles pertenciam ao grupo dos doze apóstolos de Jesus. Outro era meio irmão de Jesus. Já o último, e o mais desconhecido deles, era pai do apóstolo Judas, também chamado Tadeu (Lc 6.16; At 1.13). Existe muita discussão com relação aos três principais personagens citados na Bíblia com este nome. Os estudiosos debatem especialmente sobre o Tiago que exerceu liderança na Igreja de Jerusalém e sobre o escritor da Epístola de Tiago.

A posição mais favorável é a de que o Tiago líder da Igreja, e Tiago, o autor da Epístola, tenham sido a mesma pessoa, que, por sua vez, provavelmente também era o irmão do Senhor Jesus. Tiago é mencionado como um dos líderes mais influentes na Igreja em Jerusalém. Ele aparece em destaque na ocasião do concílio registrado em Atos 15.13. Muito provavelmente ele foi o autor da Epístola que recebe este nome no Novo Testamento. Também é amplamente aceito que ele era o meio irmão de Jesus, apesar de em sua carta ele simplesmente se denominar como servo do Senhor Jesus. Os Evangelhos falam sobre os irmãos de Jesus, e o nome de um deles era Tiago (Mt 13.55; Mc 6.3). 

Além disso, o apóstolo Paulo refere-se a um Tiago, irmão do Senhor, o qual ele encontrou enquanto esteve em Jerusalém para ver o apóstolo Pedro (Gl 1.19). O mesmo apóstolo também nos informa que esse Tiago recebeu pessoalmente a visita do Cristo ressurreto (1 Co 15.5,7). Paulo também confirma que esse Tiago era uma das colunas da Igreja em Jerusalém, ao lado de Pedro e João (Gl 2.9). O fato de também os crentes judeus que chegaram a Antioquia dizerem que foram enviados por Tiago, confirma ainda mais sua liderança em Jerusalém. Escritos dos primeiros séculos afirmam que Tiago morreu apedrejado e espancado por ser fiel ao Senhor Jesus.

II. Data e Local da Escrita da Epístola

A epístola de Tiago é datada por volta de 45 d. C., bem antes do primeiro concílio em Jerusalém, que se deu por volta de 50 d. C., o que torna a mais antiga epístola do Novo Testamento. Segundo o historiador Flávio Josefo, Tiago foi morto por volta do ano 62 d. C. Os destinatários da epístola são os judeus dispersos convertidos ao cristianismo (Tg 1.1), daí o tom austero e a linguagem peculiar aos judeus. Quando escreveu esta epístola, Tiago buscou contrapor o ensinamento judaico de ter fé no único Deus, com o ensinamento do evangelho, que é ter fé em Jesus Cristo, pois de nada adianta alguém dizer que crê em Deus, mas que não obedece o mandamento de Deus, que é crer em Cristo.

A abordagem de Tiago nos lembra o ensinado por Jesus: “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim” (Jo 14.1), evidenciando a relevância da matéria abordada em função do público alvo: judeus convertidos ao cristianismo. Entretanto, um entendimento equivocado acerca da epístola de Tiago se difundiu em meio a cristandade, de que ele defendia a salvação pelas obras, opondo-se ao apóstolo dos gentios, que defendia a salvação pela fé. A má compreensão da abordagem de Tiago fez com que Martinho Lutero detestasse a essa epístola, denominando-a “epístola de palha”. Ele não conseguiu visualizar que o ensinamento de Tiago não difere do ensinado pelo apostolo Paulo.

III. O Conteúdo da Epístola de Tiago

A Epístola de Tiago busca caminhar na fé através da religião verdadeira (Tg 1.1-27), da fé genuína (Tg 2.1-3.12) e da sabedoria genuína (Tg 3.13-5.20). Este livro contém um notável paralelismo com o Sermão da Montanha de Jesus em Mateus 5-7. Tiago começa no primeiro capítulo descrevendo os traços gerais do caminhar na fé. No capítulo dois e no início do capítulo três, ele discute a justiça social e faz um discurso sobre a fé em ação. Ele então compara e contrasta a diferença entre a sabedoria terrena e a que provém do alto e nos encoraja a afastar-nos do mal e a nos aproximarmos de Deus. Tiago faz uma repreensão particularmente severa aos ricos que acumulam e aqueles que são autossuficientes. Finalmente, ele termina encorajando os crentes a serem pacientes no sofrimento, orando e cuidando uns dos outros e reforçando a nossa fé através da comunhão.

Alguns acham que esta carta foi escrita em resposta a uma interpretação excessivamente zelosa do ensino de Paulo sobre a fé. Essa visão extrema, chamada de antinomismo, sustentava que através da fé em Cristo é possível estar completamente livre de todas as leis do Antigo Testamento, todo o legalismo, toda a lei secular e toda a moralidade de uma sociedade. O livro de Tiago se dirige aos cristãos judeus dispersos entre todas as nações (Tg 1.1). Embora os ensinamentos paulinos se concentrem em nossa justificação com Deus, os ensinamentos de Tiago concentram-se nas obras que exemplificam essa justificação. Tiago escreveu aos judeus para incentivá-los a continuar crescendo nesta nova fé cristã. Tiago destaca que as boas ações fluirão naturalmente daqueles que estão cheios do Espírito e questiona se alguém pode ou não ter uma fé salvadora se os frutos do espírito não puderem ser observados, assim como Paulo descreve em Gálatas 5.22-23.

A Epístola de Tiago é a descrição principal da relação entre fé e obras. Os judeus cristãos (os recipientes da carta de Tiago) estavam tão arraigados na Lei Mosaica e no seu sistema de obras que Tiago dedicou muito tempo para explicar a difícil verdade de que ninguém é justificado pelas obras da lei (Gl 2.16). Ele declara-lhes que, mesmo se muito se esforçarem para manter todas as diferentes leis e rituais, cumprir essa tarefa é impossível e transgredir a menor parte da lei os tornava culpados de toda ela (Tg 2.10) porque a lei é uma entidade e quebrar uma parte dela é o mesmo que quebrá-la por completo.

IV. Tiago - A Epístola do Viver Cristão e da Fé

A epístola de Tiago tem início com exortação à perseverança na fé, vez que na perseverança conclui-se a obra da fé (Tg 1.3,4). Quem suporta as provações sem desvanecer é bem-aventurado, vez que receberá de Deus a coroa da vida, que será dada aos que O obedecem (amam) (Tg 1.12). Tiago faz uso do termo ‘fé’ no sentido de ‘crer’, ‘acreditar’, ‘confiar’, diferentemente do apóstolo Paulo, que utiliza o termo tanto no sentido de ‘crer’ quanto no sentido de ‘verdade’, sendo que este último significado é muito mais utilizado que aquele. Em seguida, Tiago apresenta a essência do evangelho, que é o novo nascimento por intermédio da palavra da verdade (Tg 1.18). Após asseverar que é necessário receber como servo obediente a palavra do evangelho, que é poder de Deus para salvação (Tg 2.21), Tiago exorta os seus interlocutores a cumprirem o determinado no evangelho, não se esquecendo da doutrina de Cristo (Tg 2.21).

Tiago lembra que quem atenta para a verdade do evangelho e nela persevera, não sendo ouvinte esquecido, é executor da obra estabelecida por Deus: crer em Cristo (Tg 2.25). À vista da obra exigida por Deus, Tiago demonstra que ser religioso sem refrear o que procede do coração, é enganar-se a si mesmo, e a religião desse indivíduo se revela vã (Tg 2.26,27). Novamente Tiago chama os seus interlocutores de irmãos, para então conclama-los a não fazerem acepção de pessoas, já que professavam ser crentes em Cristo (Tg 2.1). Se alguém fala que é crente no Senhor Jesus, deve proceder conforme essa crença: não fazendo acepção de pessoas por causa de origem, língua, tribo, nação, etc. (Tg 2.12)

A abordagem de Tiago muda novamente através de um grave: – ‘Meus irmãos’, para questioná-los se é proveitoso alguém dizer que tem fé, se não tem obras. É possível uma crença sem obras salvar? O termo obra no contexto deve ser compreendido conforme a visão do homem da antiguidade, que é o resultado da obediência a um mandamento. Para os homens à época, mandamento por parte de um senhor e obediência por parte de um servo resultava em obra. A abordagem muda de acepção de pessoas para salvação. Primeiro; Quem tem fé em Cristo não pode fazer acepção. Segundo: Quem diz que tem fé que Deus é um só, se não realizar a obra exigida por Deus, não será salvo.

A questão não se trata de alguém que diz ter fé em Cristo, antes se algum que diz ter fé, porém, é fé em um único Deus. Quem tem fé em Cristo será salvo, pois essa é a obra exigida por Deus. Não pode se salvar alguém que diz ter fé em Deus, mas que não crê em Cristo, vez que não é executor da obra. A obra exigida de quem diz que tem fé (crença) é a obra que a perseverança termina (Tg 1.4), ou seja, é permanecer crendo na lei perfeita, a lei da liberdade (Tg 1.25).      Como os cristãos convertidos dentre os judeus sabiam que a obra exigida por Deus é crer em Cristo, ao argumentar que não basta diz que tem fé, Tiago estava enfatizando que é inócuo crer em Deus e não crer em Cristo.

A abordagem no capítulo 3 muda novamente quando é dito: meus irmãos (Tg 3.1). A instrução tem em vista aqueles que queriam ser mestres, porém, para esse exercício ministerial é imprescindível ser ‘perfeito’. Ser ‘perfeito’ no contexto é não tropeçar na palavra da verdade (Tg 3:2), e assim estará apto a conduzir o corpo (os instrumentos). Após exemplos do que a palavra é capaz de promover, novamente a abordagem é mudada, para tratar da impossibilidade de proceder mensagens distintas de uma mesma pessoa, contrapondo o conhecimento de Deus versus a sabedoria e tradição humana (Tg 3.10 -12). Por fim, a instrução é para que os cristãos convertidos dentre os judeus não falassem mau um dos outros (Tg 4.11), e, por figura (ricos), faz referência aos judeus que mataram o Cristo. A epístola é encerada tratando do tema inicial: perseverança (Tg 5.11), encorajando os crentes a serem pacientes no sofrimento.

Conclusão

Encontramos em Tiago instruções simples, diretas e valiosas. Tratando das provações, ele disse: “Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança” (Tg 1.2,3). Sobre a obediência à palavra de Deus, Tiago escreveu: “Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (Tg 1.22). E para combater a noção de salvação pela fé sem a obediência, acrescentou: “Verificais que uma pessoa é justificada por obras e não por fé somente.... Porque, assim como o corpo sem espírito é morto, assim também a fé sem obras é morta” (Tg 2.24,26).

Tiago mostra sua preocupação com o perigo de alguém abandonar a fé em Cristo, e encerrou a carta com orientações sobre o resgate dos desviados: “Meus irmãos, se algum entre vós se desviar da verdade, e alguém o converter, sabei que aquele que converte o pecador do seu caminho errado salvará da morte a alma dele e cobrirá multidão de pecados” (Tg 5.19,20). Do começo ao fim, o livro de Tiago apresenta instruções práticas que podem e devem ser aplicadas em nossas vidas a cada dia.


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