Texto Bíblico Base Semanal: Lucas 22.39-44
39. E, saindo, foi, como costumava, para o Monte das Oliveiras; e também os seus discípulos o seguiram.
40. E quando chegou àquele lugar, disse-lhes: Orai, para que não entreis em tentação.
41. E apartou-se deles cerca de um tiro de pedra; e, pondo-se de joelhos, orava,
42. Dizendo: Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua.
43. E apareceu-lhe um anjo do céu, que o fortalecia.
44. E, posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se como grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão.
Momento Interação
Ao longo desta leitura, observamos a ênfase de Lucas em alguns aspectos do trabalho de Jesus. Ele destaca várias vezes a atenção que Jesus deu aos menosprezados, especialmente mulheres, crianças e os pobres. Jesus não julgava as pessoas por sua posição socioeconômica. Como imitadores do Mestre, devemos reconhecer o valor eterno de todos. Lucas inclui, também, uma ênfase nas orações de Jesus, relatando mais de doze vezes que o Filho conversou com seu Pai em oração. Se o próprio Jesus considerou as orações importantes, nós devemos valorizar o privilégio de nos comunicarmos com Deus. Lucas nos ensina sobre o maior homem de todos os tempos, o Filho de Deus que veio do céu para nos resgatar dos nossos pecados e nos ensinar como viver!
Introdução
A obra lucana é composta por dois livros: evangelho de Lucas e Atos dos Apóstolos. O primeiro livro apresenta a vida, as atividades e os ensinamentos de Jesus, desde a Galileia até Jerusalém. O segundo livro narra a vida e o desenvolvimento das primeiras comunidades cristãs de Jerusalém até Roma. Essa obra descreve o caminho da Palavra: da periferia para o centro; do ambiente do campo para a cidade; do mundo judaico para um ambiente de cultura grega. Segundo a compreensão romana, o reino de César anunciava que a paz e a segurança vinham dos poderosos, do centro para a periferia.
Como historiador, o escritor se propõe a fazer uma investigação cuidadosa, retomando os acontecimentos desde as origens. Ele recolhe informações de outras fontes, como, por exemplo, do evangelho de Marcos, do evangelho Q e da tradição das comunidades. A obra de Lucas é destinada a Teófilo, nome que pode indicar uma pessoa importante, alguém que deve ter financiado o seu trabalho. Mas o nome Teófilo também significa aquele que ama a Deus. É possível que essa obra tenha sido dedicada às amigas e aos amigos de Deus.
De acordo com a apresentação, o objetivo é claro: “para que verifiques a solidez dos ensinamentos que recebeste” (Lc 1,4). A finalidade dessa obra é animar as comunidades que estão enfrentando desânimo, cansaço, insegurança e descrença. Muitas pessoas estão abandonando a comunidade (Lc 24,13). É preciso reavivar a fé das comunidades cristãs e retomar o fervor missionário. Entre os quatro evangelistas, é Lucas quem mais se aproxima do conceito atual de historiador. Cuidadoso no seu trabalho, é provável que ao começar a prepará-lo já teve a previsão da publicação de uma obra em dois volumes. O primeiro é o Evangelho que leva o seu nome; o segundo, Atos dos Apóstolos. Com a publicação desses livros, o autor quis transmitir uma mensagem de valor universal: que Jesus, o “Filho do Altíssimo” (1.32), representa o último capítulo do desenvolvimento da humanidade; e que a sua existência terrena, manifesta sob a denominação de “Filho do Homem” (6.22), significa que Deus veio estabelecer o seu Reino entre nós e que nos convida a participar dessa realidade nova e definitiva (17.20-21).
I. Uma Narrativa Coordenada
“Visto que muitos já tentaram compor uma narração dos fatos que se cumpriram entre nós – conforme no-los transmitiram os que, desde o princípio, foram testemunhas oculares e ministros da Palavra – a mim também pareceu conveniente, após acurada investigação de tudo desde o princípio, escrever-te de modo ordenado, ilustre Teófilo, para que verifiques a solidez dos ensinamentos que recebeste” (Lc 1.1-4). Conforme as regras literárias do século I, o autor explica o motivo de sua obra, método, destinatário e objetivo.
O propósito deste Evangelho é fornecer uma narrativa segura para os leitores gentios de língua e cultura grega, carecidos de um relato circunstanciado da vida, feitos e ministério de Jesus, fundamentarem a sua aprendizagem da doutrina cristã. O autor assume o seu livro como um relato cuidado e ordenado sobre a vida de Jesus, resultante da consulta dos escritos existentes acerca do assunto e da investigação aturada dos factos (1.1–4).
Essa preocupação é visível, por exemplo, em episódios que não se acham nos outros Evangelhos. Relativamente ao nascimento e à infância de Jesus, bem como em relação a João Batista, seu precursor: a anunciação angélica feita aos pastores, os belos cânticos de Maria (Magnificat), de Zacarias (Benedictus) e de Simeão (Nunc dimitis), a mudez de Zacarias, a visita de Maria a Isabel e o reconhecimento, pelos profetas Simeão e Ana, de Jesus como o Messias prometido a Israel, e ainda a discussão de Jesus, com doze anos, com os doutores da lei no templo em Jerusalém (1.5—2.52).
II. Data e Autoria do Evangelho de Lucas
Tanto o estilo quanto a linguagem oferecem evidências convincentes de que a mesma pessoa escreveu Lucas e Atos. “ O primeiro tratado” Atos 1.1 é, então provavelmente , uma referência ao terceiro evangelho, como o primeiro de uma série de dois volumes. E o fato de o escrito dedicar ambos os livros a Teófilo também demonstra solidamente uma autoria comum. Visto que a tradição de igreja atribui com unanimidade essas duas obras a Lucas, o médico, um companheiro próximo de Paulo (Cl 4.14; Fm 24; 2 Tm 4.11), e, como as evidências internas sustentam esse ponto de vista, não há motivos para contestar a autoria de Lucas. O presente Evangelho foi escrito para cristãos de procedência gentílica. Desde a Antiguidade tem-se mantido como critério praticamente unânime a identificação do seu autor com Lucas, o companheiro de Paulo (2 Tm 4.11; Fm 24), a quem este se refere em Cl 4.14 como o “médico amado”.
Nenhum outro dado, porém, em relação ao nosso evangelista foi registrado no Novo Testamento. Eruditos que admitem que Lucas usou o Evangelho de Marcos como fonte para escrever seu próprio relato datam Lucas por volta do ano 70 dC. Outros, entretanto, salientam que Lucas o escreveu antes de At, que ele escreveu durante o primeiro encarceramento de Paulo pelos romanos, cerca de 63 dC. Como Lucas estava em Cesaréia de Filipe durante os dois anos em que Paulo ficou preso lá (At 27.1), ele teria uma grande oportunidade durante aquele tempo para conduzir investigações que ele menciona em 1.1-4. Se for este o caso, então o Evangelho de Lucas pode ser datado por volta de 59-60 dC, mas no máximo até 75 dC.
III. O Evangelho do Filho do Homem
Uma característica distinta do Evangelho de Lucas é sua ênfase na universalidade da mensagem cristã. Do cântico de Simeão, louvando Jesus como “luz... Para as nações” (2.32) ao comissionamento do Senhor ressuscitado para que se “pregasse em todas as nações” (24.47), Lucas realça o fato de que Jesus não é apenas o Libertador dos judeus, mas também o Salvador de todo o mundo. A fim de sustentar esse tema, Lucas omite muito material que é estritamente de caráter judaico. Por exemplo, ele não inclui o pronunciamento de condenação de Jesus aos escribas e fariseus (Mt 23), nem a discussão sobre a tradição judaica (Mt 15.1-20; Mc 7.1-23). Lucas também exclui os ensinamentos de Jesus no Sermão da Montanha que tratam diretamente do seu relacionamento com a lei (Mt 5.21-48; 6.1-8, 16-18). Lucas também omite as instruções de Jesus aos Doze para se absterem de ministrar aos gentios e samaritanos (Mt 10.5).
Por outro lado, Lucas inclui muitas características que demonstram universalidade. Ele enquadra o nascimento de Jesus em um contexto romano (2.1-2; 3.1), mostrando que o que ele registra tem significado para todas as pessoas. Ele enfatiza ainda, as raízes judaicas de Jesus. De todos os escritores dos Evangelhos só ele registra a circuncisão e dedicação de Jesus (2.21-24), bem como sua visita ao Templo quando menino (2.41-52). Somente ele relata o nascimento e a infância de Jesus no contexto de judeus piedosos como Simeão, Ana, Zacarias e Isabel, que estavam entre os fiéis restantes “esperando a consolação de Israel” (2.25). Por todo o Evangelho, Lucas deixa claro que Jesus é o cumprimento das esperanças do Antigo Testamento relacionadas à salvação.
Conclusão
Desde o prólogo do Evangelho (1.1-4), Lucas revela uma grande preocupação de referir em detalhes “uma narração coordenada dos fatos que entre nós se realizaram” (1.1). E mesmo que ele não tenha vivido pessoalmente o acontecimento de Cristo, trata de proclamá-lo “conforme nos transmitiram os que desde o princípio foram deles testemunhas oculares” (1.2). Com esse objetivo, havia-se entregado de antemão a uma “acurada investigação de tudo desde sua origem” (1.3). Igualmente, como faria mais tarde ao compor o livro dos Atos dos Apóstolos, também agora dedica Lucas o seu “primeiro livro” (At 1.1) a um personagem de destaque chamado Teófilo, acerca de quem não nos chegou maior informação. Apenas o conhecemos por essas dedicatórias, que, na moldura dos seus respectivos prólogos (Lc 1.1-4; At 1.1-5), correspondem às formas literárias usuais entre os escritores gregos de então.
Lucas, certamente, preocupou-se em narrar de maneira inteligente e ordenada tudo quanto sabia acerca da pessoa e do ministério de Jesus. Entretanto, não é menos certo que, em sentido estrito, nunca pretendeu escrever uma biografia, senão um Evangelho. A sua intenção não esteve simplesmente orientada para dar a conhecer a vida, as características pessoais e a atividade de Jesus em meio à multiplicidade de situações religiosas, políticas e sociais em que se desenvolve o drama humano. Lucas, o evangelista, escreve desde a fé e para a fé, oferecendo com isso um testemunho pessoal de que Jesus é o Messias que veio a dar cumprimento perfeito ao plano salvador preparado por Deus antes de todos os tempos.
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