Capítulo 4: O Evangelismo no Novo Testamento




Texto Bíblico Base Semanal: Atos 1.1-8

1. Fiz o primeiro tratado, ó Teófilo, acerca de tudo que Jesus começou, não só a fazer, mas a ensinar,
2. Até ao dia em que foi recebido em cima, depois de ter dado mandamentos, pelo Espírito Santo, aos apóstolos que escolhera;
3. Aos quais também, depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas e infalíveis provas, sendo visto por eles por espaço de quarenta dias, e falando das coisas concernentes ao reino de Deus.
4. E, estando com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, que, disse ele, de mim ouvistes.
5. Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias.
6. Aqueles, pois, que se haviam reunido perguntaram-lhe, dizendo: Senhor, restaurarás tu neste tempo o reino a Israel?
7. E disse-lhes: Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder.
8. Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra.

Momento Interação

Nunca teremos uma igreja conquistadora de almas enquanto não tivermos crentes com o desejo de buscarem o poder de Deus, de estarem cheios do Espírito Santo. Enquanto não tivermos a coragem de nos dispormos de corpo e alma para tal tarefa nunca teremos uma igreja evangelizadora nos moldes da igreja primitiva e, por conseguinte nunca teremos crentes autenticamente avivados. Da-se pouca importância a este fato em reuniões de evangelismo, passa por cima dele apenas superficialmente, e isto é perigoso porque ele, e unicamente ele, é o principal motor do avivamento para o evangelismo, não existe outro, não ha métodos, formulas, ou truques que o substitua.

Jesus sempre usava o evangelismo pessoal, lançava mão de termos como: pescar e semear, algo que só podemos fazer pessoalmente, mais do que isso Ele os ensinou comissionando. Seguindo a ordem de seu mestre, os apóstolos e todos os crentes primitivos, não deixaram de usar o evangelismo pessoal e os resultados eram tremendos. 

Introdução

O evangelismo ou a evangelização, no cerne, envolve o anúncio da intervenção de Deus na história humana, especificamente a ressurreição de Jesus de Nazaré duma morte por crucificação, uma pena que lhe foi atribuída por motivos políticos e religiosos. Ao ressuscitar Jesus e entre os mortos, Deus o vindicou, efetivamente estabelecendo não só a sua inocência, mas também a sua posição como Filho de Deus e realizador das promessas de Deus nas Escrituras para os judeus e para todas as etnias do mundo (Rm 1.1-6). Portanto, o evangelismo possui essencialmente um caráter narrativo, promissório e histórico. Como anúncio é uma narração. É um relato feito por testemunhas e assim é uma atividade verbal e pessoal. Por isso no Novo Testamento a atividade evangelística que mais se sobressai é o testemunho (At 5.32; 1 Co 15.5-11). Entretanto, por envolver o testemunho o evangelismo não é meramente subjetivo, relativo à experiência de cada um. Baseia-se na realização histórica de promessas específicas feitas no Antigo Testamento a respeito dum novo período na história humana demarcada pela vinda do Messias. Estas promessas também se destacam no evangelismo (At 2.25-32; 3.18, 24; 1 Co 15.3-4).

I. A Mensagem de Cristo com uma Direção (At 1.8)

O contexto de Atos 1.8 é a ascensão de Cristo. Os que estavam reunidos no monte das Oliveiras perguntaram ao Mestre quando seria o tempo da restauração do reino de Israel. O Senhor respondeu que não competia a eles conhecer tempos e épocas que o Pai reservou para a Sua exclusiva autoridade. Porém, prometeu: “Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra”. Em Atos 1.8 o Senhor Jesus repete as promessas da Grande Comissão (Mt 28.18-20; Mc 16.14-18; Lc 24.44-49; J.o 20.21).

1. O poder do Espírito: Há uma série de termos para “poder” no Novo Testamento. Lucas empregou dynamis em Atos 1.8, mas tem também exousia, thronos, bia, ischys, energia, kratos e keras. Será que existiu algum motivo especial para que Lucas usasse a palavra dynamis ao invés de qualquer outra, ou ele a escolheu aleatoriamente? Vejamos: Exousia é uma palavra usada com muita freqüência no Novo Testamento. A rigor é traduzida como “autoridade”. Contudo, geralmente era empregada num contexto político (cf. Rm 13.1-3). Thronos indicava, a priori, a sede do governo, mas depois passou a significar a pessoa que detinha semelhante posição de autoridade ou força. Bia está associada ao emprego da força coerciva. Energia é poder no seu exercício; força em ação. Ischys significa força física. Kratos tem um sentido semelhante ao de ischys, mas se refere mais ao exercício da autoridade. E keras (lit.: chifre), por sua vez, indica força e, juntamente com kratos, formam as duas palavras do Novo Testamento cujo significado fica mais perto de exousia e dynamis. Contudo, dynamis tem um sentido todo exclusivo. É a palavra do poder sem fronteiras, por assim dizer. Ela é a palavra por excelência para se referir ao poder do Espírito Santo. Portanto, Lucas sabia muito bem que ao escolher dynamis estava utilizando o termo que melhor representava a ação poderosa do revestimento do Espírito na vida do crente e da igreja. “… permanecei, pois na cidade”, disse Jesus aos discípulos, a quem Ele havia comissionado para evangelizar o mundo, “até que do alto sejais revestidos de poder…” (Lc 24.49; At 1.8). Quando o Espírito Santo foi derramado por ocasião do Pentecostes, “com grande poder os apóstolos davam o testemunho da ressurreição do Senhor Jesus…” (At 4.33). E ainda: “Estêvão, cheio de graça e poder, fazia prodígios e grandes sinais…” (At 6.8). Temos também a declaração de Pedro na casa de Cornélio a respeito de Jesus, que “Deus ungiu…com o Espírito Santo e poder…” (At 10.38). Nestes exemplos Lucas revela que desde o princípio o evangelho foi disseminado pelo poder do Espírito Santo.

2. Poder e testemunho: No dia de Pentecostes a promessa de Atos 1.8 se cumpriu. A igreja foi batizada e revestida do poder do Espírito Santo. Entretanto, o poder do Espírito para a igreja não tem, como nunca teve, um fim em si mesmo. Em Atos não existe esta concepção moderna equivocada de que o poder do Espírito é para edificar o crente e ficar tudo por isso mesmo. Não! O poder do Espírito tinha como finalidade primordial capacitar os crentes para dar testemunho de Cristo. No Novo Testamento os dons ou manifestações do Espírito (línguas, curas, profecias, etc.) foram dados com o único objetivo de que a igreja testemunhasse de Jesus ao redor do mundo. Nada do que a igreja recebe do Espírito tem nela um fim em si mesmo. “Recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas…”, disse Jesus (At 1.8).O poder do Espírito é o segredo do sucesso da missão da igreja. Lembremos que os discípulos de Jesus foram homens que andaram cerca de três anos com o Mestre. Conheceram-nO intimamente, foram ensinados por Ele, ouviram Seus sermões e viram Seus milagres. Viram Seus sofrimentos, morte, ressurreição e ascensão. Se alguma vez existiram homens que estivessem em melhor posição e condição de falar ao mundo acerca da ressurreição de Jesus e de todos os fatos a respeito dEle, estes homens eram Seus discípulos. Entretanto, o que o Senhor Jesus diz é que eles seriam totalmente incapazes de fazê-lo se do alto não fossem revestidos do poder do Espírito.

II. Os Discípulos foram genuínos exemplos de Evangelização

“Cristo era “poderoso em obras e palavras” (Lc 24.19). Seus milagres são chamados dynameis (cf. Heb. gebûrôt; i.é, “atos poderosos”), porque neles, o reino de Deus na terra começa a ter efeito poderoso, e a luta contra o diabo é levada a efeito no nível da existência humana (Mt 12.22-30; Mc 6.2; Lc 19.37; At 10.58). Jesus é o “mais forte” que, como Representante de Deus, subjuga o “homem forte”, o diabo (cf. Mc 1.8 com 3.22-30). Os milagres de Jesus são operados por um poder dentro dEle (Mc 5.39 par. Lc 5.17; Mc 6.14). Lucas liga este poder, dado por Deus, com o Espírito Santo em Lc 1.35; 4.14; At 1.8; 10.38. Os milagres, portanto, são encarados como evidência da parte de Deus quanto a Jesus ser o Messias, Aquele que foi ungido pelo Espírito (At 2.22; 10.38). A glorificação do Messias faz dEle, em grau ainda maior, Mediador do poder salvífico de Deus. É, pois, pelo poder do Espírito que Jesus derramou sobre os Seus servos, que estes podem operar atos poderosos (At 4.7; 6.8; 8.13; 19.11)”. Às vezes os sinais e prodígios preparavam o palco, por assim dizer, para uma pregação cheia do Espírito (cf. At 3; 16.16-34); outras vezes estavam intercalados numa pregação (cf. At 20.7-12), mas na maioria das vezes sucediam a mensagem do evangelho (cf. At 19.8-12).

III. As Cartas são Autênticas Mensagens Evangelísticas

Os cristãos primitivos levavam a Palavra para qualquer lugar que fossem (8.4). O que manteve Paulo dezoito meses ou mais em Corinto foi a Palavra (18.5). Em Éfeso a mesma coisa, durante os dois anos em que trabalhou ali (19.10). E quando Lucas quer indicar o sucesso de uma missão, ele diz que a Palavra do Senhor “crescia e prevalecia poderosamente”. “A pregação autoritativa dos apóstolos (At 4.33; Cf. 6.8-10) é vista como prova de um poder sobrenatural”. Não é por menos que o evangelho causou tanto impacto sobre Teófilo (At 1.1; cf. Lc 1.1), o centurião Cornélio (10.44), o procônsul de Chipre (13.7) e os cidadãos de Antioquia (13.44). Não é de admirar que o ministério da Palavra fosse prioridade para os doze (6.4). Também não é de admirar que eles comprometessem seus convertidos com ela (20.28) e que os missionários anônimos de Atos 8.4 a tinham como sua grande arma. Quando alguém cria é porque a Palavra trouxe fé (4.4). Quando alguém recebia o Espírito isto acontecia por ouvir a Palavra (10.44). Quando alguém se tornava cristão é porque o Espírito iluminava o coração dos ouvintes com a mensagem apostólica (16.14). “Não é exagero dizer que a Palavra é o principal instrumento na missão evangelizadora da igreja, sob o poder do Espírito de Deus”.. Será que o poder do Espírito dos tempos bíblicos continua sendo o mesmo para a igreja evangélica brasileira hoje? Com certeza, pois precisamos testemunhar. E não é possível um testemunho autêntico de Jesus sem o poder do Espírito. A Igreja Primitiva tinha desafios imensuráveis, mas não se curvava diante deles. Clamava a Deus para ser revestida com mais e mais poder para proclamar com ousadia e intrepidez as verdades do Senhor a quem ela tanto amava (At 4.23-31). Era uma igreja de oração que buscava constantemente a plenitude e enchimento do Espírito Santo. A igreja de hoje, principalmente no mundo ocidental, também possui seus desafios. Felizmente (ou seria infelizmente?) seus desafios são mais de ordem interna que externa. Atualmente já não são tantos os Pilatos, os Herodes, os judeus e gentios que estão perseguindo a igreja. Hoje, a igreja é perseguida pelo fantasma de sua própria morbidez por persistir, muitas vezes, numa vida contemplativa, alienada do mundo, com pouca ou nenhuma perspectiva da missão para a qual ela foi chamada.

Conclusão

O evangelismo é um anúncio, sim, e é pessoal no sentido de ser transmitido por pessoas transformadas pelos eventos narrados na mensagem proclamada. Mas, é também histórico. Por mais pessoal que seja, a mensagem possui um conteúdo essencial, sem o qual a mensagem não seria mais evangelística. E este conteúdo se refere à crucificação e a morte duma pessoa que viveu e morreu de fato, e igualmente de fato foi ressurreto por Deus (At 2.23; 5.30; 10.39; 13.29; Dt 21.22-23; Gl 3.10-13; 1 Pe 2.24). O caráter histórico e verificado destes eventos completam a nossa definição das três características necessárias do evangelismo: é um anúncio de promessas divinas realizadas na morte e na ressurreição de Jesus de Nazaré, agora proclamado Jesus Cristo.

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