A
Reforma Protestante começou em 1517, quando Martinho Lutero divulgou
suas 95 Teses em Wittenberg, Alemanha. O que levou ao movimento é mais
complexo. O movimento foi condicionado pelos fatores políticos, sociais,
econômicos, morais e intelectuais. Mas, acima de tudo, foi um movimento
religioso liderado por homens interessados em uma reforma verdadeira do
cristianismo.
O declínio do poder papal
O
surgimento de monarquias nacionais nos séculos XIII a XV veio às custas
do poder do papado. Este fato é ilustrado pela luta do Papa Bonifácio
VIII com o rei da França, que resultou na humilhação e morte precoce do
papa em 1303. O papado subseqüentemente estava localizado em Avinhão,
França durante um período de aproximadamente 75 anos, conhecido na
história como o Papado de Avinhão ou o Cativeiro Babilônico da igreja
(1303-1377). Durante aquele tempo o papa foi dominado pela monarquia
francesa. Esforços de restaurar o papado para Roma apenas provocaram,
inicialmente, uma divisão, conhecida como o Grande Cisma. Papas rivais
alegaram legitimidade até a situação finalmente se resolver em 1417.
Acontecimentos
tão escandalosos na alta liderança da Igreja Católica Romana levaram ao
aumento de corrupção e à perda de confiança na igreja. Muitos
questionaram a autoridade absoluta reivindicada pelo
papa. Outros
clamavam cada vez mais por uma reforma da igreja nos “líderes e
membros”.
Corrupção moral na liderança da igreja
Os
anos antes da Reforma Protestante também foram marcados pela corrupção
moral e o abuso de posição na igreja Católica Romana. O sacerdócio era
culpado de vários abusos de privilégios e responsabilidades, inclusive
simonia (usar as próprias riquezas ou influência para comprar uma
posição eclesiástica), pluralismo (ocupar vários cargos simultaneamente)
e absentismo (a falha em residir na paróquia onde deviam administrar). A
prática do celibato que foi imposta pela igreja no sacerdócio muitas
vezes era abusada ou ignorada, levando a conduta imoral por parte do
clero. Padres ignorantes com mentes mundanas corromperam suas posições
pela negligência e abuso de poder.
Durante o século XV, o mundanismo e a corrupção na igreja chegou ao pior. O problema da corrupção chegou até o papado.
Entre
aqueles que pediam uma reforma da igreja estava o domiciano Giralamo
Savonarola (1452-1498) de Florença, Itália. Este pregador impetuoso
falou contra os morais corruptos dos líderes da cidade e dos abusos do
papado. O povo foi ganho pela causa de Savonarola em Florença, mas
devido a rivalidades religiosas e circunstâncias políticas, o movimento
durou pouco. Savonarola foi enforcado e queimado por heresia em 1498.
Primeiros movimentos religiosos da Reforma
Durante
o final da Idade Média surgiram vários movimentos que desafiaram
algumas das doutrinas básicas da Igreja Católica Romana. Muitos destes
movimentos foram oficialmente condenados pela igreja como heresias e
foram severamente oprimidos.
Os
Albigensianos surgiram no sul da França no final do século XII e início
do século XIII. Os Albigensianos (também chamados de Catari) seguiam um
dualismo rigoroso semelhante ao antigo gnosticismo. Eles defendiam o
Novo Testamento como o único padrão de autoridade — um desafio à
autoridade alegada pelo papa. A seita tornou-se o objeto de uma campanha
terrível de perseguição quando o Papa Inocêncio III lançou uma cruzada
contra eles em 1204.
Um
movimento conhecido como os Waldensianos provavelmente foi fundado no
século XI por Pedro Waldo. Pregadores viajantes conhecidos como os
Homens Pobres de Lyons enfatizaram o estudo e a pregação da Bíblia.
Traduziram o Novo Testamento para a língua comum do povo, rejeitaram as
doutrinas católicas do sacerdócio e purgatório, e defenderam à volta às
Escrituras como a única autoridade na religião.
Na
Inglaterra, João Wiclif (1324-1384), um professor bem-conhecido da
Oxford, também desafiou a autoridade do papado. Durante o Papado de
Avinhão, ele argumentou que todo o domínio legítimo vem de Deus e é
caracterizado pela autoridade exercida por Cristo na terra – não de ser
servido mas sim, de servir. Durante o Grande Cisma, Wiclif ensinou que a
verdadeira igreja de Cristo, em vez de consistir em um papa e
hierarquia da igreja, é um corpo invisível dos eleitos. Ele promoveu o
estudo das Escrituras sobre a tradição da igreja. E ensinou que as
Escrituras devem ser colocadas nas mãos dos eleitos, e na sua própria
língua. Assim Wiclif fez uma tradução inglesa em aproximadamente 1384.
No
fim, Wiclif foi condenado por heresia, mas sua influência continuou.
Seus seguidores, chamados de lolardos espalharam seus ensinamentos como
um movimento oculto na Inglaterra. Rejeitaram a doutrina da
transubstanciação, a veneração de imagens, o celibato do clero e outras
doutrinas católicas como abominações. Foram uma influência importante na
Inglaterra na véspera da Reforma Protestante.
Uma
outra voz precoce clamando pela reforma foi a de João Hus (1369-1415),
um pregador e estudioso boêmio. Influenciado pelos escritos de Wiclif,
Hus argumentou que a verdadeira igreja não era a instituição como
definida pelo catolicismo, mas o corpo dos eleitos sob a liderança de
Cristo. Ele insistiu que a Bíblia é a autoridade final pela qual o papa e
qualquer cristão será julgado. Hus foi queimado por heresia em 1415,
aproximadamente um século antes da resistência de Lutero em Wittenberg. O
movimento Husita continuou a crescer depois da morte do seu líder,
preparando o caminho para a Reforma Protestante.
Religião, movimentos místicos e pietistas
No
final da Idade Média uma forma de misticismo religioso surgiu na
Alemanha. Muitos dos místicos, como Meister Eckhart, enfatizaram temer o
divino através da contemplação mística, em vez de através de uma
abordagem racional à religião.
Outros,
como Gerhard Groote, ensinaram uma abordagem mais prática ao
cristianismo. Groote fundou os Irmãos da Vida Comum como um esforço de
chamar seguidores a uma devoção e santidade renovadas. Seguiram a devotio moderna,
uma vida de devoção disciplinada centralizada em meditar na vida de
Cristo e seguir a mesma. A obra de mais influência desta escola de
pensamento foi A Imitação de Cristo, escrita por Thomas à Kempis.
Quando não se opuseram à igreja católica ou à hierarquia, o movimento
criticava a corrupção da igreja. Seu ênfase no relacionamento pessoal
com Deus parecia minimizar o papel da função sacramental da igreja.
Escolas fundadas pelos Irmãos enfatizavam escolaridade e devoção e
tornaram-se centros para a reforma. Muitos dos líderes da Reforma
Protestante foram influenciados pelos seus ensinamentos.
O Renascimento
O
Renascimento (ou Renascença) foi um movimento que constituiu a
transição do mundo medieval para o mundo moderno. Começou no século XIV
na Itália como resultado de um interesse renovado na cultura clássica ou
humanística da Grécia e Roma. Estudiosos do Renascimento estudaram
antigos manuscritos recuperados de um mundo que era decididamente mais
secular e individualístico do que religioso e unido. Os artistas do
período enfatizaram a beleza da natureza e do homem. A religião no
Renascimento tornou-se menos importante conforme os homens voltaram sua
atenção ao prazer do aqui e agora.
O
Renascimento afetou os papas do período. Muitos dos “Papas do
Renascimento”, como Júlio II (1441-1513), eram humanistas mais
interessados na cultura clássica e arte do que em assuntos espirituais.
Alguns, como Alexandre VI (1431-1503), viveram vidas notoriamente
malvadas e escandalosas. Leão X (1475-1521), o filho de Lorenzo
de’Medici e papa quando Martinho Lutero afixou as 95 Teses, uma vez
disse que Deus lhe deu o papado, então ele ia “aproveitar”.
O
Renascimento contribuiu para a Reforma de outras maneiras mais
positivas. A invenção da prensa de impressão móvel por Johann Gutenberg,
em aproximadamente 1456, forneceu um meio para a divulgação de idéias.
Estudiosos do Renascimento ao norte dos Alpes dividiram muitos dos
mesmos interesses – uma paixão pelas fontes antigas, uma ênfase no ser
humano como indivíduo e uma fé nas capacidades racionais da mente
humana. No entanto, esses “cristãos humanistas do norte” estavam menos
interessados no passado clássico do que no passado cristão. Eles
aplicaram as técnicas e os métodos do humanismo do Renascimento no
estudo das Escrituras nas suas línguas originais, assim como o estudo
dos “pais da igreja” como Augustinho. Sua preocupação principal com os
seres humanos era pelas suas almas. Sua ênfase era étnica e religiosa em
vez de estética e secular.
O
resultado desta ênfase era um interesse num retorno às Escrituras e a
restauração do cristianismo primitivo. Os humanistas bíblicos apontaram
os maus na igreja da sua época e pediram uma reforma interna. Talvez
quem teve mais influência foi Disidério Erasmo (aproximadamente
1466-1536). Conhecido como o “príncipe dos humanistas”, Erasmo usou sua
ampla escolaridade para desenvolver um texto do Novo Testamento em
grego, baseado em quatro manuscritos gregos que estavam disponíveis para
ele. Como a ajuda da prensa de impressão, Erasmo publicou o texto grego
do Novo Testamento em 1516. A capacidade de estudar a Bíblia na sua
língua original encorajou uma comparação mais precisa da igreja dos seus
dias com a igreja do Novo Testamento. Martinho Lutero, por exemplo,
usou imediatamente o texto grego de Erasmo. Ele logo percebeu que a
interpretação da Vulgata Latina em Mateus 4:17 de “pagar penitência”
mais precisamente seria “arrepender-se”. Tal conhecimento contribuiu
para uma percepção crescente de que o sistema sacramental não era
apoiado pelas Escrituras.
Assuntos doutrinárias e autoridade religiosa
O
assunto imediato que levou Lutero a afixar suas 95 propostas para
debate em 1517 foi o abuso do sistema católico romano de indulgências. A
doutrina de indulgências, inicialmente formulada no século XIII, era
associada com o sacramento de penitência e a doutrina do purgatório.
Enquanto acreditava-se que o sacramento fornecia perdão dos pecado e do
castigo eterno, acreditava-se que havia uma satisfação temporal que o
pecador arrependido teria que cumprir nesta vida ou no purgatório. A
indulgência era um documento que a pessoa podia comprar por uma certa
quantia de dinheiro que a livraria da punição temporal do pecado.
Acreditava-se que os méritos excedentes de Cristo e dos santos seriam
guardados numa “tesouraria de mérito” celestial da qual o papa podia
tirar méritos para o benefício dos vivos. Em 1517 o dominicano Johann
Tetzel estava vendendo uma indulgência plena especial (prometendo o
perdão completo dos pecados) para conseguir dinheiro para a igreja.
Metade do dinheiro seria dada ao Arcebispo Alberto, a quem o papa havia
dado uma dispensa especial para ocupar dois cargos. O resto ajudaria a
financiar o término do catedral de São Pedro em Roma. O protesto de
Lutero inicialmente era contra o que via como o abuso do sistema de
indulgências. Também era um desafio à autoridade papal que tornava tais
abusos possíveis.
Depois
de um tempo Lutero rejeitou todo o sistema sacramental católico romano.
Mais do que qualquer outro fator, suas conclusões surgiram de seu
estudo intensivo da Bíblia. A partir de aproximadamente 1513 até 1519
Lutero discursou sobre as Escrituras na Universidade de Wittenberg. Ele
estava convicto de que a Bíblia era a única autoridade verdadeira na
religião (sola scriptura), em oposição ao papa ou um conselho
geral da igreja. Através do seu estudo ele percebeu que muitos dos
aspectos do sistema teológico da Igreja Romana não eram baseados nas
Escrituras. Lutero acreditava que havia resgatado a verdadeira essência
do cristianismo nos seus ensinamentos de que a salvação é pela graça
através da fé em Cristo (sola fide), e não através de um sistema
de obras como manifestado no sistema sacramental católico. Ele desafiou o
conceito católico do sacerdócio com a declaração de que o Novo
Testamento ensinava o sacerdócio de crentes.
Enquanto
muitos outros fatores se combinaram para tornar a Reforma Protestante
possível, acima de tudo era a crença dos reformadores em voltar à
autoridade única da Bíblia que definiu o movimento. A que ponto
conseguiram em fazer uma verdadeira reforma pode ser julgado pelo quanto
aderiram a esse princípio.
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