"A
que, pois, compararei os homens da presente geração, e a que são eles
semelhantes? São semelhantes a meninos que, sentados na praça, gritam
uns para os outros: Nós vos tocamos flauta, e não dançastes; entoamos
lamentações, e não chorastes" (Lucas 7:31-32).
A
ressurreição do filho da viúva de Naim foi um dos mais notáveis
milagres de Jesus, mas o relato dele não tinha sido suficiente para
acalmar a perplexidade e a dúvida do prisioneiro João Batista. Teria
isto que ser o assunto de seu poderoso chamado ao arrependimento da
nação antes da iminente chegada do reino do céu? Onde estava o "machado
posto na raiz da árvore", o julgamento abrasador sobre os ímpios e a
exaltação dos justos? Ele era como um leão enjaulado que, acostumado a
perambular livre, estava sendo abatido pelo seu longo confinamento. Os
milagres de Jesus, não importa quão maravilhosos fossem, podem agora ter
parecido a ele prosaicos em vista das grandes expectativas que sua
momentosa proclamação do reino tinha criado, até nele mesmo.
A
resposta de Jesus é gentil, mas firme. Ele disse que precisavam
reconhecer no que ele fazia —mostrando misericórdia aos oprimidos,
pregando o evangelho aos mansos — os sinais proféticos do reino de Deus
(Isaías 35:5-6; 61:1 e seguintes) e que não devem ser levados a tropeçar
porque o caminho que ele tomou não foi o caminho que eles imaginavam
(Lucas 7:18-23). O Senhor então fala às multidões em defesa de João. Não
havia nada de brando ou fraco nele. Ele não era nenhum esperto
manipulador do sentimento popular. Sua pregação, destemida e resoluta,
freqüentemente ia a contrapelo, e ele mesmo viveu em dedicação
desconfortável ao seu imensamente significativo apelo. Como o arauto
imediato do Messias, ele era "mais do que um profeta" e sua grandeza
entre os homens não ultrapassada, mas ele não haveria de ver a chegada
do reino que ele tinha tão corajosamente anunciado. Mas o que ele tinha
feito foi determinar quem entre o povo estava preparado para recebê-lo e
quem não estava, e no processo vergastou a cobertura de pretensões
hipócritas dos fariseus. A ilustração de Jesus do vinho novo e dos odres
velhos se destinava a responder a acusação que seus discípulos tinham
falta de seriedade espiritual porque, diferentes dos fariseus e dos
discípulos de João, eles eram dados a alegre festividade antes que a
sóbrio jejum. Mas tão logo isso se tornou aparente, fez pouca diferença
para os críticos de Jesus se ele festejava ou jejuava. Era o seu próprio
caráter e ensinamento que os ofendiam e nenhuma mudança do estilo de
vida seria bastante forte para silenciar os incansáveis ataques deles
contra tudo o que ele fazia.
A
insaciável natureza da oposição dos escribas e fariseus não foi mais
dramaticamente revelada do que na resposta deles à pregação de João
Batista. Aqui deveria estar o homem dos seus sonhos, abstêmio, solitário
e recluso. Mas, ironicamente, eram os mundanos e abertamente religiosos
publicanos que enxameavam alegremente para seu batismo, enquanto os
fariseus, com sua propalada piedade, recusavam o chamado de João para o
arrependimento (Lucas 7:29-30).
Tudo
tinha se tornado tão previsível e tão triste. Jesus lhes disse que lhe
lembravam crianças na praça, que recusavam qualquer jogo proposto por
seus companheiros. Eles se recusaram a brincar de casamento e a brincar
de funeral. A descrição deles pelo Senhor não é uma alegoria onde as
personagens precisam ser identificadas, mas uma ilustração do tipo de
mente que não quer jogar em nenhuma circunstância, contudo continua a
justificar a recusa. Não tinha nada a ver como o modo como João pregava
ou Jesus vivia, era a mensagem deles de humilde arrependimento que era
inaceitável para os convencidos fariseus e não estavam aceitando nada
dela, não importa como viesse embrulhada. Eles falavam com tanta
confiança do julgamento justo de Deus, mas quando João veio e pregou-o e
os chamou ao arrependimento, eles o rejeitaram. Eles falavam
ansiosamente do Messias, mas quando ele chegou, em vez de regozijar,
eles cavilaram e criticaram. O Batista, para eles, era um azedo
"Joãozinho de uma nota só" com febre cerebral. Tudo o que ele sabia era
"arrependei-vos, arrependei-vos, arrependei-vos". E com Jesus era
alegria demais e perdão, confraternização fácil demais com a ralé (Lucas
7:33-34). Assim, completaram a loucura de seus pais, que piedosamente
pediram a Deus pela libertação do Egito, mas quando sua libertação
apareceu, eles não gostaram dela. Como crianças petulantes, eles
clamaram a Deus, mas quando ele veio, eles não o quiseram.
Estamos
nós, também, fazendo o jogo de Deus? Fazemos muita declaração de
desejarmo-lo em nossas vidas, mas desaprovamos, criticamos e queixamos
quando alguém nos fala de suas exigências? E cobrimos nossa rejeição de
sua vontade com queixas sobre como foi dito, ou porque foi dito, ou quem
o disse? Homens verdadeiros e mulheres de Deus podem aprender a vontade
do seu Salvador até mesmo com seus piores inimigos! Há muitos cristãos
que ainda estão brincando como crianças na praça. Eles não são sérios.
Revertendo a advertência de Paulo aos Coríntios (1 Coríntios 14:20), em
entendimento eles são como crianças estragadas, mas em malícia, ciúme e
rivalidade eles têm profunda experiência. Em face da penetrante mensagem
do evangelho, eles não se afligirão pelos seus pecados nem regozijarão
na maravilhosa bondade de Deus. Em vez de justificar Deus, eles se
justificam a si mesmos e assim revelam, como fizeram aqueles velhos
queixosos, impertinentes egoístas, que eles não são filhos da sabedoria,
mas os deformados descendentes da consumada estupidez (Lucas 7:35).
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