Comentarista: Matheus Gonçalves
Introdução
A partir deste capítulo e nos próximos, vamos estudar sobre o processo formação da Bíblia. Por que temos 66 livros na Bíblia, e quanto aos livros apócrifos? A canonicidade vai tratar disto.
A inspiração é meio pelo a Bíblia recebeu sua autoridade; a canonização é o processo pelo qual a Bíblia recebeu sua aceitação definitiva.
A palavra cânon deriva do grego kanōn (“cana, régua”), que por sua vez vem do hebraico "kaneh", que significa vara de medir (Ez 40.3). Era usada antes do cristianismo de modo mais amplo com o sentido de padrão ou norma. O Novo Testamento emprega o termo em sentido figurado referindo-se a padrão ou regra de conduta. (Gl 6.16). No começo do cristianismo, a palavra cânon significava “regra” de fé ou Escrituras autorizadas. O conceito de cânon, como o conhecemos hoje, estava em desenvolvimento na época de Atanásio (c. 350 d.C.).
Temos dois sentidos para a palavra cânon:
Ativo: a Bíblia é o livro pelo qual tudo mais deve ser julgado.
Passivo: Significava a regra que um escrito deveria ter para ser considerado inspirado ou tendo autoridade.
I. A Formação da Bíblia
A Bíblia que temos hoje é um livro único e completo, porém, para quem não sabe, ela é formada por vários livros que foram escritos e colecionados ao logo da história. Mas a questão é: quem escreveu, colecionou e definiu quais seriam estes livros?
Bom, para saber mais sobre todo este processo, precisamos começar falando sobre a inspiração divina das Escrituras. Deus, o autor da Bíblia (Js 24.26), se revelou de forma especial para alguns homens durante a história (Hb 1.1, At 3.21), e os inspirou a escrever o conteúdo bíblico (Dn 9.2,9-10, Is 30.8).
Toda a Bíblia é inspirada por Deus (2 Tm 3.16). Mas isso não significa dizer que Deus a ditou, palavra por palavra. Afinal, pela variedade de gênero, estilo e vocabulário, percebemos que, durante a escrita, os autores humanos mantiveram sua personalidade (Lc 1.1-4, 1 Co 7.12). Todavia, de forma alguma, os escritores se utilizaram de ideias, conceitos ou opiniões próprias, mas foram inspirados, ou seja, movidos pelo Espírito Santo (2 Pe 1.20-21), para utilizarem palavras aprovadas por Deus (2 Sm 23.2, Dt 4.2). Deus guiou e supervisionou os escritores da Bíblia, para que eles, dentro de suas limitações e circunstâncias, compusessem e registrassem, sem erros, a mensagem do Criador para a sua criação (1Co 2.13). Mas, se os povos antigos não sabiam qual seria o desfecho da história bíblica e não conheciam a Bíblia como nós conhecemos hoje (Ef 3.5–6), como eles poderiam definir quais livros fariam parte dela ou não?
Bom, este processo é conhecido como a formação do cânon sagrado. E, como não poderia ser diferente, contou com a providência divina em recrutar homens conscientes e piedosos para identificar e preservar os livros inspirados (2Rs 23.24, Ne 8.8, 2Cr 17.9).
II. O Antigo Testamento
No Antigo Testamento, por exemplo, após a redação de um texto inspirado por parte dos profetas (1 Sm 10.25), o povo de Deus reconhecia nessa obra a autoridade divina (Êx 24.3), e colecionava este conteúdo como literatura sagrada (2 Cr 34.30, Dt 31.24-26). E mesmo antes de apresentar sinais de desgaste, em virtude dos materiais que eram utilizados, como plantas ou peles de animais, o conteúdo era preservado através de cópias, feitas com extremo cuidado, pelos escribas (Ed 7.6). Por volta de 400 a.C., todos os livros do Antigo Testamento já haviam sido escritos, categorizados e agrupados segundo suas características em comum, formando o cânon hebraico.
III. O período Interbíblico
Depois disso, houve um período de 400 anos entre o Antigo e o Novo Testamento, onde vários outros livros foram escritos. Dentre eles, os livros apócrifos ou deuterocanônicos, que tem sua inspiração divina rejeitada pelos judeus e cristãos protestantes, mas aceita pelos católicos. Apesar de serem historicamente autênticos e, inclusive, terem feito parte da Septuaginta (LXX), que foi a tradução do Antigo Testamento para o grego, estes livros não fazem parte da Bíblia hebraica, pois não tiveram sua inspiração divina reconhecida pelos judeus. Verdade é que, por questões históricas e metodológicas, a igreja católica incluiu estes livros em seu cânon sagrado, enquanto os protestantes permaneceram com o mesmo conteúdo do cânon hebraico.
IV. O Novo Testamento
Já no caso da formação do Novo Testamento, o processo foi um pouco mais complexo do que no Antigo, pois a revelação divina se expandiu por diversos povos em diferentes regiões (At 1.8), e já não havia um povo, zeloso como os judeus (Rm 10.1-2), que fosse responsável por colecionar estes livros.
Contudo, algo que facilitou a identificação do conteúdo inspirado do Novo Testamento, foi que, durante a maior parte deste processo, aqueles que receberam autoridade divina (Mt 28.18-20, Ef 2.20) e foram testemunhas oculares da vida e da ressurreição de Cristo (At 10.39-41), estavam vivos. E foi, principalmente por recomendação dos apóstolos (1 Co 11.2, Fp 3.1-2, 2 Pe 2.1) que, desde o princípio, os cristãos tinham a preocupação em identificar, reunir e preservar os escritos inspirados (Cl 4.16, 2 Pe 3.1-2), que, inclusive, serviam como base doutrinária para as igrejas (1 Ts 2.13, 1 Co 14.37). Afinal, diversos ensinamentos falsos a respeito de Jesus Cristo, começaram a circular na época (2 Ts 2.1-2, 2 Co 11.4). Exigindo que os cristãos fossem extremamente cautelosos ao receber ensinamentos e doutrinas (1 Tm 4.1, 2 Co 11.12-15, 1 Tm 6.3-4). Sendo assim, antes mesmo da promulgação oficial do cânon do Novo Testamento, em meados do século IV, os livros inspirados já eram devidamente identificados pelas comunidades cristãs.
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