terça-feira, 15 de maio de 2018

Cristianismo ao Gosto do Freguês




Por Leonardo Pereira


O que muita gente almeja é uma igreja que: satisfaça suas vontades (2 Tm 4.3), atenda suas preferências; os aceite como estão (mesmo que em pecado), funcione como querem, pregue o que gostam, incentive seus desejos, façam-nos sentir realizados, nutra sua gana, lhes proponha conquistas, prometa soluções rápidas, alimente o seu ego, assimile seus modos e os faça encontrar culturalmente a sua tribo. Essas igrejas a “moda do freguês” e que pregam evangelhos personalizados existem e estão disponíveis no cenário religioso de nosso país. A questão é que nem sempre sentir-se bem num lugar que parece ser a igreja de nossos sonhos cumpre com os reclames doutrinários e as exigências morais e espirituais da Palavra de Deus (Mt 7.21-23) e é exatamente nesse ponto que muitos cristãos geram e encorpam um cristianismo medíocre e crescente. 

O movimento chamado "igreja ao gosto do freguês" está invadindo muitas denominações evangélicas, propondo evangelizar através da aplicação das últimas técnicas de marketing. Tipicamente, ele começa pesquisando os não-crentes. A pesquisa questiona os que não frequentam quaisquer igrejas sobre o tipo de atração que os motivaria a assistir às reuniões. Os resultados do questionário mostram as mudanças que poderiam ser feitas nos cultos e em outros programas para atrair os "destemplados", mantê-los na igreja e ganhá-los para Cristo. Os que desenvolvem esse método garantem o crescimento das igrejas que seguirem cuidadosamente suas diretrizes aprovadas.

O alvo declarado dessas igrejas é alcançar os perdidos, o que é bíblico e digno de louvor. Mas o mesmo não pode ser dito quanto aos métodos usados para alcançar esse alvo. Vamos começar pelo marketing como uma tática para alcançar os perdidos. Fundamentalmente, marketing traça o perfil dos consumidores, descobre suas necessidades e projeta o produto (ou imagem a ser vendida) de tal forma que venha ao encontro dos desejos do consumidor. O resultado esperado é que o consumidor compre o produto. George Barna, a quem a revista Christianity Today (Cristianismo Hoje) chama de "o guru do crescimento da igreja", diz que tais métodos são essenciais para a igreja de nossa sociedade consumista. Líderes evangélicos do movimento de crescimento da igreja reforçam a idéia de que o método de marketing pode ser aplicado – e eles o têm aplicado – sem comprometer o Evangelho. Será?

Em primeiro lugar o Evangelho, e mais significativamente a pessoa de Jesus Cristo, não cabem em nenhuma estratégia de mercado. Não são produtos a serem vendidos. Não podem ser modificados ou adaptados para satisfazer as necessidades de nossa sociedade consumista. Qualquer tentativa nessa direção compromete de algum modo a verdade sobre quem é Cristo e do que Ele fez por nós. Por exemplo, se os perdidos são considerados consumidores, e um mandamento básico de marketing diz que o freguês sempre tem razão, então qualquer coisa que ofenda os perdidos deve ser deixada de lado, modificada ou apresentada como sem importância. A Escritura nos diz claramente que a mensagem da cruz é "loucura para os que se perdem" e que Cristo é uma "pedra de tropeço e rocha de ofensa" (1 Co 1.18 e 1 Pe 2.8). Algumas igrejas voltadas ao consumidor procuram evitar esse aspecto negativo do Evangelho de Cristo enfatizando os benefícios temporais de ser cristão e colocando a pessoa do consumidor como seu principal ponto de interesse. Mesmo que essa abordagem apele para a nossa geração acostumada à gratificação imediata, ela não é o Evangelho verdadeiro nem o alvo de vida do crente em Cristo.

Em segundo lugar, se você quiser atrair os perdidos oferecendo o que possa interessá-los, na maior parte do tempo estará apelando para seu lado carnal. Querendo ou não, esse parece ser o modus operandi dessas igrejas. Elas copiam o que é popular em nossa cultura – músicas das paradas de sucesso, produções teatrais, apresentações estimulantes de multimídia e mensagens positivas que não ultrapassam os trinta minutos. Essas mensagens freqüentemente são tópicas, terapêuticas, com ênfase na realização pessoal, salientando o que o Senhor pode oferecer, o que a pessoa necessita – e ajudando-a na solução de seus problemas.

Biblicamente não existe “evangelho incompleto” ou variante (At 20.27; 2 Tm 3.16; Jo 17.17); o que existe são doutrinas de homens (Mt 15.9) e até de demônios (1 Tm 4.1) que ignoram posições claras da Palavra de Deus, subtraindo admoestações e substituindo-as com irreais promessas de bonança, espalhando pedras de tropeços, prendendo pessoas a heresias e desenvolvendo estultícia religiosa que conduz a perdição (Ap 22.18-19). É ilógica a tentativa de submeter ensinos da Palavra de Deus ao nosso modo de vida cada vez mais temporal, secular e horizontal, extinguindo o cumprimento de mandamentos óbvios e neutralizando ensinos e conseqüências que as Escrituras expõem e asseveram sobre os nossos atos e escolhas (Gl 4.7). Quem quiser seguir a Jesus terá que renunciar a si mesmo, deverá abdicar de seus “direitos”, abrir mão de sua vontade, humilhar-se, perdoar que lhe ofende, considerar os outros superiores a si mesmo, amar a inimigos, fazer o bem, ser bom marido, pai e cidadão, não se prostituir, não adulterar, furtar ou mentir, viver na contra-mão do mundo pois viverá uma vida justa e santa. Enfim isso é um pouquinho do que o verdadeiro evangelho nos propõe. Que Deus nos ajude a vivê-lo! (Fp 2.15).



Fontes: 

1. https://artigos.gospelprime.com.br/igreja-gosto-fregues-voce-quer/ - Acesso dia: 14/05/2018.

2. http://www.chamada.com.br/mensagens/igreja_ao_gosto.html - Acesso dia: 14/05/2018.

3. VARGENS, Renato. Cristianismo ao Gosto do Freguês. Rio de Janeiro: Editora Scrittura, 2013.

4. ROGÉRIO, Marcos. Defendendo o Evangelho de Cristo. São Paulo: Evangelho Avivado, 2018.

5. GONÇALVES, José. Defendendo o Verdadeiro Evangelho. Rio de Janeiro: CPAD, 2009.

6. PEREIRA, Leonardo. A Verdadeira Prosperidade Bíblica. São Paulo: Evangelho Avivado, 2017. 

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