sábado, 10 de agosto de 2019

Comentário Bíblico Mensal: Agosto/2019 - Capítulo 2 - A Singularidade do Novo Nascimento




Comentarista: Matheus Santos



Texto Bíblico Base Semanal: João 3.1-16

1. E havia entre os fariseus um homem, chamado Nicodemos, príncipe dos judeus.
2. Este foi ter de noite com Jesus, e disse-lhe: Rabi, bem sabemos que és Mestre, vindo de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele.
3. Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.
4. Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer?
5. Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.
6. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.
7. Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo.
8. O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim étodo aquele que é nascido do Espírito.
9. Nicodemos respondeu, e disse-lhe: Como pode ser isso?
10. Jesus respondeu, e disse-lhe: Tu és mestre de Israel, e não sabes isto?
11. Na verdade, na verdade te digo que nós dizemos o que sabemos, e testificamos o que vimos; e não aceitais o nosso testemunho.
12. Se vos falei de coisas terrestres, e não crestes, como crereis, se vos falar das celestiais?
13. Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu.
14. E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado;
15. Para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
16. Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.

Momento Interação

Quando tratamos de um assunto tão fundamental para a vida cristã, normalmente são levantadas inúmeras questões e mitos a respeito dele. Todos nós – ou pelo menos a grande maioria – sabemos da necessidade de sermos nascidos de Deus. Porém, muitos, ao serem indagados sobre o que é ou o que fazer para conquistar tal milagre, gaguejam e, em seguida, mecanicamente disparam um relato "decorado". Não podemos nascer de Deus se não nos focarmos em moldar o nosso caráter e nossas atitudes. 

Bons Estudos!

Introdução

Nicodemos, um judeu importante, membro do Sinédrio, foi se encontrar com Jesus. Ele respeitava Jesus como mestre, mas ainda não havia entendido bem a verdadeira missão que Jesus tinha vindo realizar. No versículo 3, Jesus faz uma declaração que expressa o núcleo da mensagem que Nicodemos precisava compreender: “Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo [não for regenerado], não pode ver o reino de Deus”. Portanto, nascer de novo, é o pré-requisito fundamental para que a pessoa tenha acesso ao reino de Deus. Nicodemos não estava preparado para esta resposta. Ele era uma pessoa respeitável, um homem idôneo, era aquilo que costumamos chamar de “gente de bem”. Sendo assim, como, por que e em que sentido ele precisava nascer de novo? Nesse novo nascimento, somos totalmente dependentes da ação do Espírito. Ele é soberano na regeneração. Jesus ensina: “O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito” (Jo 3.8). A ação do Espírito na regeneração é tão soberana quanto a ação do vento, que sopra onde quer. Além disso, ela também é misteriosa, como os movimentos do vento.

I. O Nascer de Novo

Novo nascimento é um ato exclusivo de Deus na vida do homem, transformando sua inclinação ao mal em uma disposição para fazer o bem, capacitando-o através do Espírito Santo a fazer aquilo que é correto diante dele. A verdade de que o homem precisa nascer de novo, isto é, a necessidade da regeneração, é um dos pontos centrais da teologia cristã. Infelizmente muitos cristãos não entendem corretamente o que é a regeneração ou o novo nascimento, e assim não percebem seu significado fundamental conforme exposto nas Escrituras. A pergunta de Nicodemos sobre como é possível o homem nascer de novo ainda permanece sendo a pergunta de muita gente (Jo 3.4). A expressão “novo nascimento” e outras correlatas a ela, como, “ser vivificado”, “nascido de Deus” etc., são também utilizadas no Novo Testamento para transmitir a mesma verdade, e servem perfeitamente ao objetivo de indicar uma mudança drástica na vida do individuo.

A doutrina acerca do novo nascimento é apresentada ao longo de toda a Bíblia. Mesmo no Antigo Testamento, as Escrituras apontam para a necessidade de o homem nascer de novo. Por exemplo, no salmo 51 encontramos o salmista Davi falando da condição natural do homem como pecador, ao dizer: “Eu nasci na iniquidade, e em pecado concebeu minha mãe” (Sl 51.5). Nesse salmo Davi está apontando para o pecado original que significa o pecado derivado de nossa origem, no sentido de que a pecaminosidade marca a todos os homens sem exceção desde o nascimento, fazendo com que seus corações sejam inclinados ao mal antes mesmo de cometerem algum tipo de pecado. Logo em seguida, ao reconhecer a total depravação do homem, o salmista entende que apenas uma intervenção divina é capaz de capacitar o homem a fazer o que é correto diante de Deus, através de um novo coração puro e a renovação de um espírito reto (Sl 51.10). Na profecia do profeta Isaías lemos que Deus é aquele que vivifica o espírito dos abatidos e o coração dos contritos (Is 57.15). O mesmo também foi profetizado através do profeta Ezequiel, quando Deus diz: “Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo” (Ez 36.26). Já no Novo Testamento, a doutrina da regeneração se torna ainda mais clara. O próprio Jesus falou sobre ela em sua conversa com o fariseu Nicodemos, advertindo-o sobre a necessidade de o homem nascer de novo (Jo 3). Os apóstolos também escreveram detalhadamente sobre esse tema (2 Co 5.17; Ef 2.5; 4.24; Cl 2.13; Tt 3.5; 1 Pe 1.3,23).

II. Nascendo da Água e do Espírito 

Sabemos que a lei nunca pode aperfeiçoar ninguém por conter somente a sombra dos bens futuros (Hb 10.1). Porém, ela sempre apontou a necessidade da circuncisão do coração. O que a lei propunha era impossível o homem alcançar por meio dela, visto que, a própria lei estava enferma pela carne (Rm 8.3). A lei somente serviu de ‘tutor’ para conduzir o homem a Cristo (Gl 3.24), ou seja, ao apontar a necessidade da circuncisão do coração, a lei conduz o homem a Cristo, pois somente nele é possível alcançar circuncisão através do despojar do corpo da carne: a circuncisão de Cristo (Cl 2.11). Podemos extrair uma grande lição da lei: ela foi escrita em tábuas de pedras e entregue ao povo, mas, não pode aperfeiçoar ninguém, visto que, mesmo após a entrega da lei, Moisés continuou apregoando a necessidade da circuncisão do coração (Dt 10.16 ; Dt 30.6 ; 2 Co 3.3,7). Caso a lei fosse essencial para a salvação do homem não haveria a necessidade de Moisés apregoar a circuncisão do coração. Conclui-se que, a lei entregue em tábuas de pedra não operou a transformação necessária no coração do povo, visto que, eles ainda precisavam da circuncisão do coração.

A ação divina nunca foi por intermédio da lei, visto que, a mensagem de Deus sempre foi: “Ouve, ó Israel…”, pois a fé é o único meio de se achegar a Deus (Rm 10.17). Caso ouvissem a voz de Deus, haveria uma mudança radical neles: deixariam de ter um coração de pedra e passariam a ter um coração de carne (Dt 11.18 ; Jr 4.4). A intervenção divina na vida do povo só ocorreria no momento em que eles ouvissem e gravassem a lei em seus corações. A circuncisão é uma ação divina por meio da sua palavra (Dt 30.6 -8). Nascer da água é o mesmo que nascer da palavra: Jesus é o Verbo de Deus, ou seja, a Palavra encarnada (Jo 1.14). Sobre este aspecto Paulo escreveu: “Para santificá-la, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra…” (Ef 5.26) “Se alguém tem sede, vem a mim e beba” (Jo 7.37). Jesus é a água que produz vida naqueles que são purificados por Ele, ou seja, naqueles que creem.

Nascer do Espírito é o mesmo que nascer de Deus, visto que, Deus é Espírito e aqueles que d’Ele são nascidos recebem um novo espírito e um novo coração. Portanto, “…o que é nascido do Espírito é espírito” (Jo 3.6), e os que creem recebem poder para serem feitos filhos de Deus! Ora, se o homem crê, da plenitude de Deus já recebeu (Jo 1.16; Cl 2.7,8). Passa a ser participante da natureza natureza divina (2 Pe 1.4). Quem crê na Palavra encarnada como diz as Escrituras, do seu interior terá rios de água viva fluindo, ou seja, isto foi dito: “… do Espírito que haviam de receber os que nele cressem” (Jo 7.37 -39), o nascer do Espírito.

III. A Vida Eterna em Cristo Jesus

É importante entender que Deus não tem qualquer obrigação de regenerar o homem que está morto em seus delitos e pecados. Por sua própria natureza pecaminosa, o homem é merecedor da ira de Deus, recebendo sobre si o justo castigo por seus pecados. No entanto, a Bíblia diz que Deus, pelo beneplácito de sua vontade, separou e vivificou para si um povo, o qual foi feito filho de adoção por Jesus Cristo (Ef 5.1). É nesse ponto que podemos entender por que Deus regenera o homem pecador. O apóstolo Paulo explica que Deus, “que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo” (Ef 2.4,5). O apóstolo Pedro também falou sobre isso, ao bendizer “o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” (1 Pe 1.3). Isso significa que o novo nascimento é fruto da riquíssima misericórdia de Deus, e de seu incalculável amor, e toda essa obra da salvação é para o louvor da sua glória (Ef 1.6,12,14).

Conclusão

Após a Queda do homem e a consequente origem do pecado na humanidade, o homem foi separado de Deus, tornando-se morto espiritualmente. Daí vem a importância fundamental da regeneração, pois no novo nascimento o homem é ressuscitado espiritualmente, torna-se morto para o pecado e passa a viver para Deus. Numa ordem lógica e não temporal, o homem só poderá crer após ter sido ressuscitado, e é isso o que a Bíblia ensina. O apóstolo João escreve: “Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo, é nascido de Deus” (Jo 5.1). Perceba que ele não diz que o individuo se torna filho de Deus porque crê que Jesus é o Cristo, mas diz que porque o individuo é nascido de Deus é que ele crê em seu Filho Unigênito.

Jesus Cristo é bastante claro ao dizer que se o homem não nascer de novo ele não poderá entrar no reino de Deus, isso porque sem o novo nascimento o homem nem mesmo pode crer no Filho de Deus e ser justificado mediante sua obra redentora. Isso também implica na verdade de que qualquer suposta regeneração que não resulta na imediata e inseparável fé em Cristo como seu Salvador, de fato não é um novo nascimento genuíno (Jo 3.16,36; 5.24).

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