O Evangelho de João, capitulo 2, narra o primeiro milagre de Jesus feito em Caná da Galileia. Essa passagem contem muitos princípios práticos para a vida cristã. E ainda está cheia de curiosidades.
Queremos destacar alguns pontos relevantes que podemos aprender nessa passagem.
Lugar em que o milagre foi realizado
O milagre realizado por Cristo aconteceu em Caná da Galileia, uma cidade da tribo de Aser, perto de Tiro, à distância de 16 km, ficava perto também de Nazaré. Era a terra natal de Natanael (Jo 21.2). Jesus realizou outros milagres em Caná, como a cura de um oficia do rei (Jo 4.46-54).
Jesus e os discípulos são convidados para o casamento
Os versículos 1 e 2 da passagem, nos mostram que Jesus foi convidado para o casamento juntamente com os seus discípulos. Era provável que Maria fosse parenta dos noivos pelo fato do texto demonstrar que Maria se encontrava naquela festa.
É importante falarmos sobre as festas de casamento daquela época. Geralmente, a festa judaica de casamento tinha a duração de sete dias, vinham os parentes dos noivos de cidades distantes e vizinhos para se alegrar com os noivos. Era parte da cultura judaica também as pessoas serem hospitaleiras, então os noivos eram responsáveis por toda a despesa do casamento, uma delas, sustentar os parentes que vinham de longe para celebrar o casamento. Com isso, percebemos que os gastos dos casamentos judaicos daquela época eram bem altos.
O que podemos aprender com Jesus nessa festa, é que Ele era uma pessoa social, não se isolava da sociedade. Isso é um exemplo para todos os cristãos, devemos aprender que a vida cristã não se resume apenas estar dentro de quatros paredes (igreja), mas sermos pessoas sociais.
Maria percebe a falta de vinho
Tendo acabado o vinho, Maria disse: “eles não têm mais vinho” (Jo 2.3).
Maria percebe a falta de vinho na festa e chama a responsabilidade para si, talvez por se sentir parente dos noivos. “A falta de vinho em uma festa de casamento era comparado a um desastre, o vinho era símbolo de alegria e esperança para os noivos, a falta de vinho culminaria no fracasso dos casados”.
A pergunta diante disso é: o que fazer quando o vinho acaba? Ou podemos dizer: o que fazer quando nada em nossa vida dá certo e tudo vai de mal a pior? Devemos fazer como Maria, apresentar nossas necessidades a Cristo, porque sabemos que somente Ele pode cuidar de cada um de nós. Logo, nesse trecho aprendemos sobre a oração, o que Maria fez foi um gesto de oração.
Jesus responde Maria sobre a falta de vinho
Depois de Maria falar sobre a falta de vinho, Jesus responde: “Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora” (Jo 2.4).
Será que Jesus estava sendo grosso com sua mãe por chamá-la de “mulher”? A resposta é não. Jesus ao chamar de “mulher”, era um sinal de respeito naquele contexto, podemos ver isso no próprio Evangelho de João:
Disse-lhe Jesus: “Mulher pode crer-me que vem a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai” (Jo 4.21).
Vendo Jesus sua mãe e junto dela o discípulo amado, disse: “mulher, eis aí teu filho” (Jo 19.26).
Diante disso, podemos dizer que era normal o tratamento de Jesus com Maria e outras mulheres em outras passagens.
O que Jesus queria dizer ao falar para Maria que ainda não era chegada a sua hora? Podemos entender isso por meio do contexto do Evangelho de João. Na festa do tabernáculo, diante de seus irmãos que não acreditavam nele, Jesus disse: O meu tempo ainda não chegou (Jo 7.6); Ninguém prendeu Cristo, João relata, porque não era ainda chegada a sua hora (Jo 8.20); disse Jesus: é chegada a hora de ser glorificado o Filho do Homem (Jo 12.23). Esse último verso revela o que Jesus quis dizer a Maria sobre sua hora, isto é, sobre sua morte e ressurreição.
Mas o texto nos ensina uma grande lição. Muitas vezes estamos como Maria, querendo que Deus faça as coisas dentro nosso tempo. Jesus disse para Maria que ainda não era sua hora, isso revela a autoridade de Cristo sobre Maria. No tempo de Deus, ele realizaria a obra que ele deveria realizar. Portanto, no momento certo Deus há de realizar sua obra em nossa vida de acordo com sua vontade.
Maria ordena obediência a Cristo
Então, Maria falou aos serventes: “Fazei tudo o que ele vos disser” (Jo 2.5).
Maria traz um conselho sábio aos serventes, ordenando obediência a Cristo. Aqui aprendemos sobre a importância de obedecermos a Cristo, principalmente os seus mandamentos. Quem obedece aos mandamentos de Deus, realmente o ama. João na sua primeira epístola disse: “Aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar assim como ele andou” (1Jo 2.6). Portanto, umas das marcas de um verdadeiro seguidor de Cristo, é a obediência.
Jesus usa seis talhas de pedras
Estava ali seis talhas de pedra, que os judeus usavam para as purificações, e cada uma levava duas ou três metretas. Jesus lhes disse: “Enchei de água as talhas. E eles as encheram totalmente” (Jo 2.6,7).
As talhas que Jesus manda encher de água era uma espécie de jarro ou vaso, mas feitos de pedras. Essas talhas tinham a capacidade de suportar entre 80 a 120 litros de água, no total daria 720 litros. Aqui fica subtendido a proporção do milagre de Cristo.
Os judeus colocavam águas em talhas geralmente porque acreditavam no poder purificador da água. Eles acreditavam que água armazenada em pedra manteria sua pureza e deixaria em uma temperatura boa.
Mas aqui devemos analisar um ponto importante, isso não estava na palavra de Deus, isso era um costume entre eles. A religião judaica tinha se transformado em uma religião legalista, eles não comiam sem lavar as mãos, lavar copos, jarros, por exemplo, (Mc 7.4). Jesus combateu bastante o legalismo da sua época, a ponto de dizer para os fariseus que eles estavam deixando os mandamentos de Deus para guardar as tradições de homens, ou seja, as tradições estavam acima da palavra de Deus (Mc 7.10).
Atualmente, o legalismo ainda assola muitas igrejas com suas regras. Podemos destacar o legalismo como a religião do medo, da aparência, dos usos e costumes. A igreja brasileira está mergulhada no legalismo, lideres ensinando doutrinas de homens com textos fora do seu contexto, dizendo o que pode e o que não pode, instruindo sem base bíblica. O legalismo afasta as pessoas de viverem o verdadeiro evangelho, é um cristianismo que valoriza apenas o externo e não o interno; em casa vivem uma vida e na igreja outra completamente diferente. O legalismo é como um cheiro podre nas narinas de Deus.
Jesus transforma água em vinho
Então lhes disse Jesus: “Tirai agora, e levai ao mestre-sala”. Eles fizeram, e logo que o mestre-sala provou a água transformada em vinho, não sabendo de onde viera, se bem que sabiam os serventes que tinha tirado a água, chamou o noivo (Jo 2.8,9).
Há alguns pontos importantes a serem analisados nesse trecho. Primeiro, não sabemos a que horas a água foi transformada em vinho. Não fica claro no texto se foi enquanto levava ou quando chegou ao mestre-sala. Segundo, a humildade de Jesus. Em nenhum momento Cristo chama atenção para si na festa, mas age naturalmente e por detrás das cortinas. Terceiro, Jesus ao transformar a água em vinho, mostra seu poder de transformar um elemento em outro. Nenhum cientista até hoje transformou um elemento em outro, somente Jesus.
A transformação da água em vinho nos ensina que Jesus muda os pecadores. Jesus tem todo o poder de transformar o mais vil pecador e o fazer assentar entre os príncipes para a gloria de Deus.
O argumento do mestre-sala sobre o vinho
E logo que o mestre-sala provou a água transformada em vinho, não sabendo de onde viera, se bem que sabiam os serventes que tinham tirado a água, chamou o noivo, e disse: todos põem primeiro o vinho bom e, quando já beberam fartamente, então o inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho (Jo 2.9,10).
Esse trecho nos mostra o argumento do mestre-sala quando prova a água transformada em vinho. O mestre-sala era uma espécie de empregado da casa que dirigia o cerimonial nas recepções, ficava responsável por todo andamento da festa, coisas básicas como mesa, cortina, luz e etc. O mestre-sala percebe algo diferente na festa sobre o vinho, chama o noivo e diz que sempre na festa se coloca primeiro o vinho bom para depois servir o inferior, contudo o noivo tinha feito diferente, era algo inovador.
Quando o vinho na festa acaba, Jesus não mandou encher os barris de vinho do casamento, mas as talhas que os judeus usavam para as purificações. Isso nos mostra que o vinho de Jesus é completamente diferente. O mundo sempre apresenta seu vinho, sabemos que tudo que o mundo oferece é passageiro, porém, o vinho de Cristo que é a verdadeira felicidade e salvação é para sempre.
Jesus revela sua glória e os discípulos creram
Este, o primeiro dos seus sinais miraculoso, Jesus realizou em Caná da Galileia. Assim, revelou sua glória, e seus discípulos creram nele (Jo 2.11).
Podemos dizer que a parte central desse texto se concentra no versículo 11. O objetivo de Jesus ao realizar esse milagre era mostrar sua glória e fazer que os discípulos cressem nele como filho de Deus. O texto revela que o milagre era um sinal, sabemos que um sinal sempre aponta para algo além da pessoa, um exemplo disso são as placas de sinalização, ao olhar para ela a pessoa não para no sinal, mas para onde ela está apontando. Assim, os milagres de Jesus apontavam para sua pessoa divina, o Messias prometido pelos os profetas, o próprio Deus encarnado.
Os discípulos creram em Jesus como filho de Deus e como o próprio Deus. Crê em Jesus não é simplesmente confessar como Deus e salvador, mas seguir também os seus ensinos.
Como podemos colocar isso em prática? Jesus manifestou sua glória e os discípulos creram nele. Isso nos ensina que devemos manifestar a glória de Deus em nossas vidas, o Catecismo Puritano ensina que o objetivo principal do homem é glorificar a Deus e ter comunhão com Ele para sempre. Paulo disse quer comais, quer bebais, ou faça outra coisa qualquer, fazei tudo para glória de Deus (1Co 10.31). Devemos a semelhança dos discípulos, crê em Jesus no sentido de sempre seguir os seus ensinos.
Conclusão
As lições práticas que podemos extrair para a nossa vida cristã sobre o milagre de Jesus em transformar água em vinho é:
Primeiro, Cristo deve ser o centro de todo casamento. Aquele casamento não faltou o vinho porque os noivos convidaram Jesus. Segundo, Jesus transforma. Isso nos mostra que Jesus tem o poder de transformar o mais vil pecador. Terceiro, o relato desse casamento aponta para o grande banquete de casamento celestial que haverá no final dos tempos por meio da volta de Cristo. Quarto, Jesus faz provisões para o seu povo. Quinto, devemos apresentar nossas necessidades a Cristo por meio da oração. Sexto, a humildade de Jesus. Sétimo, o objetivo do primeiro milagre de Jesus em Caná, era manifestar sua glória e que os discípulos cressem nele.
Sidney Muniz
Notas:
Catecismo Puritano – Charles Spurgeon
Novo Manual dos Usos e Costumes dos Tempos Bíblicos – Ralph Gower
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