sábado, 1 de agosto de 2020

Comentário Bíblico Mensal: Julho//2020 - Capítulo 5 - Vigiemos em Todo o Tempo




Comentarista: Emanuel Barros



Texto Bíblico Base Semanal: Efésios 5.5-18

5. Porque bem sabeis isto: que nenhum devasso, ou impuro, ou avarento, o qual é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus.
6. Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por estas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência.
7. Portanto, não sejais seus companheiros.
8. Porque noutro tempo éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor; andai como filhos da luz
9. (Porque o fruto do Espírito está em toda a bondade, e justiça e verdade);
10. Aprovando o que é agradável ao Senhor.
11. E não comuniqueis com as obras infrutuosas das trevas, mas antes condenai-as.
12. Porque o que eles fazem em oculto até dizê-lo é torpe.
13. Mas todas estas coisas se manifestam, sendo condenadas pela luz, porque a luz tudo manifesta.
14. Por isso diz: Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá.
15. Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios,
16. Remindo o tempo; porquanto os dias são maus.
17. Por isso não sejais insensatos, mas entendei qual seja a vontade do Senhor.
18. E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito.

Momento Interação

Um dos principais, senão o principal objetivo da revelação de Deus ao homem a respeito do futuro, das coisas que brevemente hão de acontecer, é o de criar condições para que o homem que lhe serve seja vigilante e, assim, não venha a perder a oportunidade de viver eternamente com o seu Senhor. Esta  não  é  uma  especulação  teológica,  mas  o  retrato  puro  e  simples  do que  se  vê  nas  Escrituras.  Quando proferiu  o  Seu  sermão  escatológico,  Jesus  o  concluiu  com  severas  advertências  a  respeito  da  vigilância (Mc 13.32-37), demonstrando, assim, que Seu objetivo em revelar tudo o que havia revelado aos discípulos outro não era senão o de despertar neles o cuidado e a vigilância. “E as coisas que vos digo digo-as a todos: vigiai.” (Mc 13.37), são as palavras de Jesus. Mas o que é vigiar? Vigiar significa, em primeiro lugar, observar com atenção, estar atento. Quem vigia é quem observa com  atenção,  que  está  atento. 

Introdução

O  Senhor  revelou-nos  o  que  irá  acontecer  para  que  os  crentes  sejam observadores de tudo o que está acontecendo à sua volta, a fim de que, com olhos espirituais, identifiquem e detectem nos acontecimentos do dia-a-dia a iminência, a proximidade da volta de Jesus. É por isso que não podemos concordar com aqueles que defendem que os crentes devem viver separados dos demais homens, da  comunidade,  completamente  alienados  a  respeito  do  que  acontece à  sua  volta.  O  verdadeiro cristão  deve  ser  uma pessoa bem informada, que tenha conhecimento do que se passa na sua vizinhança, no seu local de trabalho, na sua escola, no seu bairro, na sua cidade, no seu Estado, no seu país e no mundo. O crente deve ser pessoa que te nha conhecimento de tudo que está acontecendo, porque, só assim, poderá cumprir a ordem de Jesus, que é a de vigiar, ou seja, estar atento às coisas que estão acontecendo. Jesus, mesmo, jamais foi uma pessoa alienada,  estava  bem  informado  a  respeito  dos  fatos  e  deles  se  aproveitava  para  pregar  o  Evangelho  (cf. Lc 13.1-5).

I. Vigiando em Todo o Tempo

A informação, por si só, entretanto, não é suficiente. Informar-se do que está ocorrendo no mundo é uma condição  necessária,  mas  não  suficiente.  Além  de  se  informar  de  tudo  o  que  se  passa,  o  crente  deve, também, ter discernimento espiritual, ou seja, saber interpretar, à luz da Palavra de Deus, sob a orientação do Espírito Santo, o significado de tudo quanto está a ocorrer. O salvo é um homem espiritual e, sendo assim, tudo discerne sem ser discernido por pessoa alguma (1 Co 2.15). Tal  discernimento  somente  advém  de  um  relacionamento  íntimo  com  o  Senhor,  de  uma  vida  de santificação,  de  uma  maior  aproximação  ao  Senhor  Jesus,  de  um  maior  distanciamento  do  pecado,  o  que, como vimos na lição anterior, é efeito da esperança infundida no salvo pelo Espírito Santo (1 Jo 3.2,3). Vigiar  significa observar  secreta  ou  ocultamente,  espreitar,  espiona. O  crente deve  ser  alguém  que  tenha  discernimento,  que  possa  ver  além  da  superficialidade,  que  investiga  o  lado espiritual  dos  acontecimentos.  O  crente  tem  a  mente  de  Cristo  (1  Co 2.9-16),  ou  seja,  tem  acesso  à profundidade das riquezas da sabedoria e da ciência de Deus (Rm 11.33) e, portanto, estando em comunhão com  o  Senhor,  de ve  saber  interpretar  os  acontecimentos  sempre  pelo  ponto- de-vista  espiritual.  O  crente, também,  tem  de  ter  o  discernimento  para  identificar  as  astutas  ciladas  do  diabo.  Para  isto,  devemos  fazer como  Esdras  que,  no  caminho  para  Jerusalém,  orou  e  jejuou  para sentir  a  mão  de  Deus  sobre  si  e  sobre  o povo que com ele estava e, somente assim, pôde chegar ao seu destino, apesar das astutas ciladas do inimigo ao longo do caminho (Ed 8.21-31).

II. O Perigo dos Tempos Futuros

Precisamos estar atentos às coisas espirituais, não podemos nos distrair com as coisas desta vida, pois foi isto que fizeram os seres humanos nos dias de Noé e farão aqueles que não serão arrebatados, como nos diz o Senhor Jesus em Mateus 24.37-39. O  Senhor  Jesus  é  bem  claro  ao  mostrar  que,  nos  dias  de  Noé,  as  pessoas  estavam  tão  envolvidas  com  as coisas desta vida (“comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento”), que não deram qualquer atenção à pregação de Noé, pregação que durou pelo menos cem anos (cf. 2 Pe 2.5) e que havia sido precedida pela profecia de Enoque (Jd 14). Totalmente envolvidas com as coisas desta vida e com o pecado, pois até suas imaginações  eram  más  continuamente  (Gn 6.5),  simplesmente  não  perceberam  o  início  do  dilúvio  e acabaram sendo tragados pelo juízo divino. Que isto não aconteça conosco, amados irmãos!
O crente vigilante é aquele que vive conferindo a santidade, não a santidade dos outros, pois o crente não deve julgar o semelhante, pois esta  é  uma  tarefa  exclusiva  do  Senhor,  o  único  juiz  (Tg 4.11,12).  O  crente  deve  conferir  a  sua  própria condição  espiritual,  deve  examinar-se  constantemente  e  observar  se  está  sendo  fiel  ao  Senhor,  ou  não.  O autoexame  é  uma  necessidade  para  o  cristão,  bem  como  um  anúncio  da  vinda  de  Jesus,  como  vemos, claramente, do ensino de Paulo sobre a ceia do Senhor (1 Co 11.26,28). O crente vigilante esforça-se para, a cada  momento,  se  autoexaminar  e  se  manter  com  as  vestes  limpas  para  que  possa  adentrar  ao  banquete nupcial das bodas do Cordeiro (cf. Mt 22.1-14).

A  vigilância  é,  pois,  um  controle  de  qualidade  da  nossa  santidade,  uma  verificação  ininterrupta  de  nossa comunhão com o Senhor. Evidentemente que o crente vigilante não se considera alguém perfeito e imune ao pecado, mas alguém que precisa diuturnamente da ajuda do Espírito Santo para se manter santo e, para tanto, recorre aos meios de santificação deixados pelo Senhor para que possamos nos manter separados do pecado: a Palavra de Deus (Jo 17.17); a oração (1 Tm 4.4,5), reforçada com o jejum (Mt 9.14,15); o temor do Senhor (2 Co 7.1) e a participação digna na ceia do Senhor (1 Co 11.23,34). Exemplo  da  necessidade  desta  vigilância  vemos  na  passagem  da  volta  do  povo  judeu para  Jerusalém  nos dias  de  Esdras.  O  escriba  hábil  na  lei  do  Senhor  mandou  que  os  maiorais  dos  sacerdotes,  por  serem consagrados do Senhor,  deve riam vigiar e  guardar todos os tesouros que  haviam oferecido  ao Senhor o rei da Pérsia e seus conselheiros, bem como seus príncipes, como os próprios israelitas (Ed 8.24-29).

Assim  como  aqueles  homens  escolhidos  por  Esdras,  nós,  também,  somos  sacerdotes do  Senhor  (Ap 1.6), temos  de  ter  consciência  de  que  fomos  consagrados  ao  Senhor  e,  por  isso,  temos  de  guardar,  com  muito cuidado,  os  tesouros    que  o  Senhor  nos  tem  dado,  as  bênçãos  espirituais  nos  lugares  celestiais  em  Cristo (Ef 1.3), bênçãos que devemos oferecer a Ele, pondo-os em exercício para o bem do povo de Deus e de toda a humanidade. Devemos lembrar que, embora sejamos vasos de barro, recebemos um tesouro excelente, que deve ser devidamente guardado (2 Co 4.7). A vigilância não é, portanto, uma  atitude  episódica,  um  momento  de  reflexão  ou  de  atenção  transitório, periódico,  como  na  semana  da ceia do Senhor ou quando vamos ao culto ou a alguma reunião religiosa, mas uma atitude de vida, um modo de viver, um comportamento contínuo que deve ser uma constante até a vinda do Senhor. Temos uma figura elucidativa  deste  tipo  de  comportamento  entre  aqueles  que  foram  selecionados  por  Deus  para  estarem  ao lado  de  Gideão.  Os  trezentos homens  escolhidos para  compor  este  exército  vitorioso  eram  homens  que,  ao tomarem  água,  se  comportavam  como  cães,  pois  permaneciam  atentos,  olhando  tudo  a  sua  volta,  por  isso foram achados dignos de pertencer ao exército que venceu os inimigos do povo de Deus. É este tipo de gente que  o  Senhor  tem,  também,  escolhido  para  tomar  parte  em  Seu  exército:  pessoas  que  permanecem  atentas em todos os momentos.

A vigilância é o oposto do sono e, portanto, não podemos estar espiritualmente num estado de sono ou de torpor. As Escrituras são claras ao indicar que há a possibilidade de o salvo estar espiritualmente dormindo, como vemos em passagens como Romanos 13.11, 1 Coríntios 11.30 e Efésios 5.14. Em  Romanos 13.11,  o  apóstolo  Paulo,  após  ter  mencionado  como  deve  se  conduzir  o  salvo  em  Cristo  Jesus, afirma que o crente deve conhecer o tempo em que está a viver e observar que a nossa salvação está agora mais perto de nós do que quando aceitamos a fé e, por isso, deve despertar do sono, rejeitando as obras das trevas e se vestindo das armas da luz. Para escaparmos do sono espiritual, torna- se necessário que tenhamos uma vida de santificação, que a cada instante nos distanciemos do pecado e nos aproximemos de Deus, pois os sinais da vinda de Cristo mostram claramente que estamos na iminência do arrebatamento da Igreja. Precisamos conhecer os sinais dos tempos (Mt 16.3).

III. Características de um Cristão Vigilante

Em 1 Coríntios 11.30, o apóstolo Paulo fala de crentes fracos, doentes e que dormem, ou seja, pessoas que estão negligenciando a sua fé e pondo em risco a sua salvação. E qual o motivo disto? Diz o apóstolo que isto se devia  a  uma  participação  indigna  na  ceia  do  Senhor,  ou  seja,  um  comportamento  negligente  quanto  à santificação,  quanto  à  comunhão  com  o  Senhor.  Quem  não  vigia,  quem  não  permanece  atento  ao  seu relacionamento  com o  Senhor,  permite  que  se  tenha  o  surgimento  de  um  sono  espiritual,  de  um  estado  de torpor que o faz perder, dia após dia, a comunhão com o Senhor.  De igual modo, se dermos lugar ao diabo em nossas vidas, se permitirmos que o pecado se introduza em nossa maneira de viver, acabaremos fracos, doentes e acabaremos por sucumbir espiritualmente. Por isso, a Bíblia  é  claríssima  ao  dizer  que  não  devemos  dar  lugar  ao  maligno  (Ef 4.27),  bem  como  que  está  o  diabo pronto a tragar todos os que se descuidarem (1 Pe 5.8). Não podemos nos descuidar. Mesmo um instante de sono espiritual, uma “pescadinha”, como diz o vulgo, é suficiente para trazer grande prejuízo para o crente, como salienta o Senhor Jesus na parábola do joio e do trigo, quando mostrou que o joio pôde ser introduzido no campo precisamente porque os homens dormiram e isto foi o suficiente para que o inimigo semeasse o joio no campo (Mt 13.25).

Em Efésios 5.14, o apóstolo Paulo também está a falar sobre a conduta que deve ter o salvo em Cristo Jesus na sua  vida  sobre  a  face  da  Terra  e,  mais  uma  vez,  diz  que  o  salvo  não  pode  dormir,  ou  seja,  não  pode  viver imprudente mente,  desperdiçando  o  tempo  com  as  coisas  desta  vida  e  deixando  de  observar  a  vontade  do Senhor. A vigilância é um modo de vida, uma maneira de viver e, isto, uma vez mais, tem a ver com a santidade, pois,  como  diz  o  apóstolo  Pedro,  esta  maneira  de  viver  foi  o  resultado  do  resgate que tivemos por obra do sangue de Cristo Jesus, um novo “modus vivendi” que é diferente daquele que recebemos de nossos pais (1 Pe 1.18,19), que é herança da natureza pecaminosa em que fomos gerados (Sl 51.5). O crente vigilante é  um  crente  que  não  só  se  precavém  do  mal  e  das  astutas  ciladas  do  diabo,  como  também  anuncia  a  todos quantos estão à sua volta do perigo que estão a correr, que dá notícia da realidade, da verdadeira situação em que  o  mundo  se  encontra.  Um  cristão  sincero  e  verdadeiro  jamais  se  cala  diante  do  momento  delicado  e importante  que  estamos  vivendo,  pois  é  consciente  de  que  o  servo  de  Deus,  que  é  feito  conhecedor  do cumprimento das profecias bíblicas e da proximidade da vinda do Senhor bem assim de que estamos no final da dispensação da graça, não será tomado por inocente se se calar (cf. Ez 33.1-11). Por isso, o Senhor tem levantado, no meio da Sua Igreja, desde o século XIX, homens e mulheres que, com intrepidez e eloquência,têm sacudido o mundo com a mensagem que ficou um tanto quanto abafada ao longo da história da Igreja: Jesus breve virá!

Conclusão

O  crente  vigilante,  portanto,  é  aquele  que  não  dorme.  Dormir,  como vemos  na  parábola  das  dez  virgens,  tem  o  significado  de  ter  distraída  a atenção  para  as  coisas  desta  vida,descuidar da presença de Deus nas nossas vidas. As virgens loucas não tinham azeite em suas lâmpadas, ou seja, tiveram desviada a  sua atenção para as coisas desta vida  e se descuidaram de ter o Espírito  Santo em seu interior, o que acontece quando nós O entristecemos (Ef 4.30). 

Não dormir é, portanto, não deixar faltar o azeite, o que acontece quando fazemos a vontade do Senhor, quando seguimos a Sua direção, quando nos inclinamos para as coisas do espírito (Rm 8.5-9). Lembramo-nos aqui da salutar recomendação do pregador: “Em todo tempo sejam alvas  as tuas  vestes, e nunca  falte o óleo sobre a tua cabeça” (Ec 9.8). É absolutamente necessário que sempre estejamos a viver em  santidade,  mantendo  nossas  vestes  espirituais  brancas,  bem  como  que  estejamos  debaixo  da  mão  do Senhor, de modo a que o azeite, que é o Espírito Santo, possa nos envolver totalmente.

Somente  os  que  mantêm  as  vestes  brancas  podem  andar  com  o  Senhor,  têm  esta  dignidade  (Ap 3.4)  e somente o farão se forem vigilantes. Foi o que disse Cristo Jesus ao anjo da igreja em Pérgamo (Ap 3.3). Somente  quem  tem  o  óleo  sobre  a  cabeça  é  integralmente  envolvido  pelo  Espírito  Santo,  de  sorte  que  o óleo  desce  da  cabeça  até  a  orla  do  vestido  e,  deste  modo,  pode  ter  comunhão  com  os  irmãos  e  receber  a bênção e a vida para sempre (Sl.133). A distração espiritual nada mais é, portanto, que o envolvimento com as coisas desta vida, o que a Bíblia denomina de “embriaguez”. A pessoa embriagada perde a noção do que está à sua volta, envolvido que está pelos efeitos da substância que a deixou naquela situação.

Por isso, a vigilância é associada, nas Escrituras, à sobriedade, ou seja, ao estado contrário à embriaguez (1 Pe 4.7; 5.8), que o apóstolo Paulo diz ser o estado em que nos enchemos do Espírito (Ef 5.18). Se buscarmos o  conhecimento  das  Escrituras  e  do  poder  de  Deus  (cf.  Mt 22.29;  Mc 12.24),  teremos  a  plenitude  do Espírito  Santo  em  nossas  vidas  e  não  nos  deixaremos  envolver  pelas  coisas  deste  mundo,  não  permitindo que a “embriaguez espiritual” tome conta de nós e nos faça perder a vigilância.



Sugestão de Leitura da Semana: ATAÍDE, Romulo. O Cristão e a Pós-Modernidade. São Paulo: Evangelho Avivado, 2017.

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