sábado, 6 de fevereiro de 2021

Comentário Bíblico Mensal: Fevereiro/2021 - Capítulo 1 - Deserto - Lugar de Aprendizado

 




Comentarista: Leonardo Pereira



Texto Bíblico Base Semanal: Deuteronômio 11.8-16

8. Guardai, pois, todos os mandamentos que eu vos ordeno hoje, para que sejais fortes, e entreis, e ocupeis a terra que passais a possuir;
9. E para que prolongueis os dias na terra que o Senhor jurou dar a vossos pais e à sua descendência, terra que mana leite e mel.
10. Porque a terra que passas a possuir não é como a terra do Egito, de onde saíste, em que semeavas a tua semente, e a regavas com o teu pé, como a uma horta.
11. Mas a terra que passais a possuir é terra de montes e de vales; da chuva dos céus beberá as águas;
12. Terra de que o Senhor teu Deus tem cuidado; os olhos do Senhor teu Deus estão sobre ela continuamente, desde o princípio até ao fim do ano.
13. E será que, se diligentemente obedecerdes a meus mandamentos que hoje vos ordeno, de amar ao Senhor vosso Deus, e de o servir de todo o vosso coração e de toda a vossa alma,
14. Então darei a chuva da vossa terra a seu tempo, a temporã e a serôdia, para que recolhais o vosso grão, e o vosso mosto e o vosso azeite.
15. E darei erva no teu campo aos teus animais, e comerás, e fartar-te-ás.
16. Guardai-vos, que o vosso coração não se engane, e vos desvieis, e sirvais a outros deuses, e vos inclineis perante eles;

Momento Interação

Várias pessoas na Bíblia passaram bastante tempo no deserto, onde enfrentaram desafios e aprenderam lições importantes de Deus. Algumas épocas da vida são como um deserto: um lugar seco e quente, sem muita vida, difícil de suportar. Enfrentamos dificuldades e temos pouco alívio. No entanto, nesses tempos de passagem pelo “deserto”, podemos aprender lições valiosas, que vão transformar nossa vida. A verdade é que toda nossa vida depende de Deus. Mas, quando estamos em circunstância normais, muitas vezes nos esquecemos disso. Pomos nossa confiança em outras coisas, como o dinheiro, a família, a inteligência, a carreira, a felicidade … No deserto, as coisas em que confiamos falham. Temos de depender de Deus. Então vemos como Deus é poderoso e descobrimos que Ele está no controle. E, quanto mais dependemos de Deus, mais fortes ficamos. O comentarista deste mês é Leonardo Pereira. Escritor, articulista, teólogo, editor e membro da direção de estudos bíblicos do Ministério Evangelho Avivado. Bons Estudos!

Introdução

Durante todo o mês de Fevereiro estudaremos acerca da jornada de Israel pelo deserto cerca dos seus quarenta anos sob a liderança de Moisés, filho de Anrão e Joquebede. Iremos analisar durante os capítulos uma retrospectiva de como o Senhor Deus dos Céus e da Terra soberanamente liderou, guiou, conduziu, guardou e julgou o seu povo com sabedoria e excelência. As diversas lições do deserto no que concerne ao povo de Israel, trazem à nós em nosso presente tempo, preciosíssimas lições de vida, morais, éticas, sociais, eclesiásticas, e espirituais. Ao estudarmos a peregrinação dos hebreus no deserto ao longo de quatro décadas, as suas lições, valores, reflexões e ensinamentos, assim, compreenderemos melhor sobre como devemos viver para Deus nos dias de hoje, servi-lo com imensa alegria, e caminharmos juntamente com Ele, de fé em fé, e de glória em glória. As lições do deserto representa a jornada de uma vida, a um nível sublime de crescimento e maturidade em nosso relacionamento com o Criador. 

I. Deserto - Local Marcante nas Escrituras Sagradas

Nos desafios da vida, passamos por inúmeros lugares em busca de respostas e de soluções. Alguns procuram por hospitais, outros ao corpo de bombeiros, e muitos outros vão em direção às igrejas. Situações adversas vem sobre nós e em muitas ocasiões, buscamos por resoluções imediatas de nossos problemas e dificuldades. Não foi diferente também para com muitos povos no Antigo Testamento. Muitos profetas foram convocados pelo Senhor a fim de que repreendessem as nações pelos pecados cometidos e encorajá-los a perseveraram na fé do Deus Vivo e Todo-Poderoso. Um dos profetas do Senhor, Moisés, foi chamado por Deus com a grande finalidade de liderar a nação de Israel em direção à Terra Prometida. Durante esta trajetória muitas ocasiões ocorrem e o palco principal dos eventos da primeira geração dos hebreus ocorrem no deserto à partir da saída do povo do Senhor em uma jornada de aproximadamente quarenta anos. Sem dúvidas o deserto é um evento marcante não somente para a nação de Israel, bem como os eventos que decorrem para as bênçãos de toda a humanidade.

1. O que é o Deserto? A palavra deserto possui muitas conotações geográficas, sociais e bíblicas. Contudo, é uma palavra que possui uma forte ênfase nas Escrituras Sagradas. De acordo com o Dicionário Aurélio, deserto é uma área "desabitada, despovoada, região que recebe anualmente precipitação de água inferior à 250mm, ou, então, em que essa precipitação é maior, porém distribuída de forma heterogênea, do que resultam pobreza de vegetação e fraca densidade populacional". Nas palavras do Pequena Enciclopédia Bíblica de Orlando Boyer, "a palavra deserto indica um lugar ermo, vazio (Mt 3.1; Lc 15.4), planície oculta, às vezes, de pastagens (Êx 3.1), região árida (Is 35.1; 51.3), lugar vasto e desolado (Sl 78.40), lugar desolado (Sl 102.6). Encontramos durante toda a Escritura 17 vezes a palavra deserto, e a Palavra de Deus cita ao menos sete deserto, seis no Antigo Testamento (Êx 19.2; Dt 2.8; Jz 1.16; 1 Sm 23.15; 24.1; 1 Rs 19.15) e uma vez no Novo Testamento (At 8.26).

2. A Entrada de Israel no Deserto. A entrada de Israel no deserto se deve à muitos eventos que ocorrem nas terras do Egito. Ao ter sido chamado pelo Senhor para ser um instrumento de libertação dos hebreus em terra estrangeira havendo o seu povo ser muito afligido por Faraó e pelos próprios egípcios (Êx 3.1-10), Moisés opera por intermédio do Senhor, muitos sinais e maravilhas diante dos hebreus e dos próprios egípcios, dos quais os fizeram Faraó se render, ainda que endurecesse o seu coração continuamente para impedir aos hebreus de saírem as terras dos Egito (cf. Êx 6.28-12.36). Logo após a saída dos hebreus das terras estrangeiras rumo à Terra Prometida, Faraó inicia uma perseguição muito forte ao povo hebreu desde a sua partida até a entrada do deserto de Etã, próximo ao Mar Vermelho (Êx 13.17-20). Com 600 carros escolhidos pelo próprio Faraó, todos os carros do Egito e os capitães sobre todos eles, os alcançaram próximo ao mar, perto da região de Pi-Hairote, diante de Baal-Zefrom, muito próximo ao Mar Vermelho (Êx 14.9). O Senhor exorta a Moisés que diga ao povo que marchem em frente diante do Mar Vermelho. O milagre acontece, o povo hebreu passa em seco pelo Mar Vermelho, e logo após todo o povo passar, Moisés estendeu a sua mão sobre o mar e todo os egípcios que perseguiram o povo do Senhor pereceram no meio do mar (Êx 14.27-29).

3. A Palavra do Senhor para Israel.  Depois de Israel comemorar a libertação do cativeiro egípcio com cânticos e danças (cf. Êx 15.1-22), a jornada de Israel se inicia em uma região desértica chamada Mara, aonde foi feito ali o primeiro acampamento dos israelitas depois dos eventos no Mar Vermelho (Êx 15.23) Ali houve o começo da identidade da nação hebreia como um povo, com os seus costumes, com os seus valores, com as suas raízes. Porém, aonde havia alegria, regozijo e louvores a Deus, começara a ter espaços para a murmuração, angústia, tristeza e incredulidade. Israel saiu do Egito mas os valores egípcios ainda não haviam saído dos israelitas. Havia uma prisão das suas mentes e de seus corações à escravidão e as aflições dos egípcios e do Faraó. Em Mara inicia um fator determinante á fim de que os hebreus pudessem ter uma completa conversão de suas antigas vidas. Deveriam eles deixarem os valores que adquiriram do Egito, e introduzissem dentro de sí mesmos os valores divinos, da fé no Deus de Abraão, do Deus de Toda Provisão, do Deus que os tirou do Egito com poderosa e forte mão, utilizando o seu servo Moisés como instrumento para libertá-los das amarras dos egípcios.

II. Deserto - Palco de Grandes Eventos

É muito comum no meio cristão as pessoas citarem o deserto como um lugar de desafios, de provações e de inúmeras lutas na história dos discípulos de Jesus, sobretudo no cotidiano, vida familiar e social. No entanto, o deserto vai muito mais além do que são citados. É no deserto que grandes momentos da nação de Israel, dos patriarcas, e do próprio Senhor e Salvador Jesus Cristo. O deserto como podemos constatar pelas Escrituras Sagradas, foi e é um palco de grandes eventos marcantes que são relembrados até hoje pelo povo de Deus. Dentre muitos eventos que podemos citar, podemos relembrar a fuga de Davi em momentos de sua vida para o deserto, a jornada de Israel, a pregação de João Batista e a tentação que o Senhor Jesus passou no deserto com as artimanhas de Satanás. Estes eventos são muitos importantes, pois deles decorre a continuidade do legado da Igreja de Cristo em nosso tempo e no porvir.

1. A Jornada de Davi pelo Deserto. A vida de um dos maiores compositores, guerreiros, reis e profetas que a nação de Israel já possuiu, foi uma vida também pautada pela perseguição, peregrinação e aflição. Davi antes de ter-se tornado rei sofreu uma intensa perseguição de Saul, segundo monarca de Israel, quando este ficou tremendamente enciumado e ofuscado pela fama de Davi. Em detrimento deste incômodo na vida de Saul, Davi teve que fugir inúmeras vezes a fim de não ser assassinado pelas mãos daquele que outrora lhe dera um espaço em seu exército e em sua casa. Um desses locais na qual Davi buscou guarida é o deserto de Zife, local aonde o Senhor o protegeu e o guardou a fim de que Saul não lhe tomasse a sua vida (cf 1 Sm 23.14-16). Ainda que estivesse em desvantagem, em uma área remota o Senhor fez do deserto de Zife um lugar de abrigo e de segurança para o filho de Jessé.

2. A Peregrinação de Israel. A nação de Israel logo após a partida do Egito, indo pelo caminho o qual o Senhor os indicara e havendo todos passado em seco pelo Mar Vermelho, livrando-se de vez das amarras dos egípcios, passa ter como o deserto um local para habitarem, mas não para se manterem para sempre. Durante todo o período em que o povo esteve no deserto, muitos eventos ocorrem, e a mão do Senhor sempre lhes dava a correta direção aonde devessem ir ou aonde deveriam ficar. As raízes do Egito estavam em seus corações e levaria tempo até que todos pudessem estarem em conformidade com o Senhor e com a sua Palavra. Coube esta grandiosa tarefa ao experiente Moisés, o grande libertador e legislador dos hebreus que teria a responsabilidade de ensiná-los e orientá-los nas questões mais vitais possíveis, desde o menor caso até o gravíssimo. Moisés na unção e no Espírito do Senhor realizou uma obra poderosa diante dos hebreus e diante do Senhor para a sua glória.

3. A Pregação de João Batista no Deserto da Judéia. O contexto do ministério de João Batista seria dado como paradoxal para os nossos dias. Suas características não são aquelas que muitos hoje esperam de um homem de Deus como uma grande mensagem. Quando o evangelista Mateus relata a vida e o ministério de João Batista, ele e o faz de modo muito claro e objetivo: "E, naqueles dias, apareceu João o Batista pregando no deserto da Judéia, E dizendo: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus. Porque este é o anunciado pelo profeta Isaías, que disse: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, Endireitai as suas veredas. E este João tinha as suas vestes de pelos de camelo, e um cinto de couro em torno de seus lombos; e alimentava-se de gafanhotos e de mel silvestre" (Mt 3.1-4). Completamente contrastando com o modelo atual de profeta e de profecia, João Batista não revolucionou ou inovou. Trouxe a mensagem profética das Escrituras, sempre consciente da sua missão na terra, que é o de preparar o caminho para o Messias, missão esta que concluí com louvores, não como  um profeta famoso ou reconhecido, mas como aquele que disse a respeito do seu Senhor: "É necessário que ele cresça e que eu diminua" (Jo 3.30).

4. A Tentação de Jesus no Deserto. Se há um momento ímpar sobre um homem que passou maiores provações do que ninguém no deserto, é o próprio Senhor e Salvador Jesus Cristo. Passando quarenta dias em um intenso jejum, logo após fora tentado por Satanás em todas as áreas da sua humanidade: corpo (Mt 4.3), mente (Mt 4.6) e coração (Mt 4.8,9). Contudo, Jesus Cristo rebateu todas as tentações do inimigo com a Palavra de Deus. Em nenhum momento deste período de tentações o Senhor deixou a Palavra de fora de sua defesa. Conforme o próprio Senhor Jesus Cristo disse à Satanás: "Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus" (Mt 4.4). Ainda distante de Nazaré e longe de todos, a Palavra do Senhor estava lhe dando conforto e consolo ao seu corpo cansado e alma fadigada (Mt 4.10).

III. Passaremos pelo Deserto na Presença de Deus

Todos nós passaremos por inúmeros desafios nesta vida. Como o mundo sofreu grandes consequências em decorrência do pecado, todo o planeta desde as maiores criações até as menores, incluindo também o ser humano neste contexto, sofremos profundamente com a Queda do Homem. O Senhor não deixou a humanidade abandonada ou desamparada. Aonde houve a Queda aconteceu também a promessa da redenção humana. Esta redenção veio na pessoa de Jesus Cristo que veio salvar os pecadores levando-os ao arrependimento, expiando os seus pecados e levando-os diretamente a presença do Pai. Em meio as lutas, o Senhor Jesus Cristo não nos abandona; pelo contrário, a sua própria Palavra nos afirma que estará com o seu povo continuamente (Mt 28.20).

1. A Presença de Deus Conosco. Em primeiro lugar, cremos que venceremos as tempestades das nossas vidas se manter a fé operante, viva e maravilhosa na presença do Senhor que sempre está conosco. Jamais deveremos andar pensando que estamos sozinhos, entregues à própria sorte ou que as dificuldades e as situações conflituosas de nossas vidas possam fazer-nos perder a fé no Deus Vivo. Devemos entregar todas as nossas ansiedades ao Senhor. Só Ele e somente Ele pode agir em nosso favor. A presença do Senhor é o cerne do viver cristão, é a prova vívida de que por onde quer que andemos, o Senhor não nos deixa sozinhos, quer seja em momentos de paz, quer seja em momentos de aflições.

2. Devemos confiar no Senhor. O mundo pós-moderno tende a nos fazer ter em nós mais dúvidas do que perguntas. Se antes, questões como família, Bíblia, ética e Deus eram assuntos devidamente resolvidos pela fé no Criador de Todas as Coisas, muitos sociólogos, escritores, professores, cientistas e filósofos pós-modernistas colocam dúvidas na mente e nos corações de muitos que outrora já tinham em suas vidas, assuntos estes já por resolvidos. Em meio à todo este caos e dilemas da vida humana com mais descrença que com certezas, devemos confiar no Senhor para superarmos todas as dúvidas que ecoam em nossas vidas. Não devemos deixar de confiar no Senhor ainda que venham dias difíceis, complicados e trabalhosos. Aonde estiver a descrença, a incerteza, a dúvida e a incredulidade, que não venhamos entrar por este caminho, e confiar plenamente nas ações poderosas do Senhor Todo Poderoso.

3. O Senhor não nos Abandona. Muitos que perderam bens materiais, pessoais e sociais, passam a ter o Senhor com o seu inimigo e constantemente passam a negá-lo como se o não existisse. Contudo, devemos antes de buscar um culpado ou crer que Deus é responsável pelas ações deletérias no mundo, lembrarmos que o mundo foi duramente afetado pela entrada do pecado na terra. O próprio Senhor Jesus tratou sobre o assunto do coração do homem em sua profundidade: "Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, fornicação, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias. São estas coisas que contaminam o homem" (Mt 15.19,20a). Ainda que a nossa natureza seja corrompida pelo pecado, o Senhor não nos abandona. Ele limpa o pecador de todo o pecado e regenera nossas vidas à sua imagem e semelhança conforme as palavras do apóstolo Paulo: "Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito. Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte" (Rm 8.1,2).

Conclusão

Neste capítulo estudamos acerca do deserto, sua relação com Israel, suas conotações e os seus inúmeros desafios. Concluímos que o deserto além de ser um local árido, de difícil acesso, permanência e dificuldade para se viver, é um exemplo ilustrado de como é também a vida do verdadeiro cristão. Este tema, apesar de ser comum no meio cristão, é muito mais além do que é citado. Israel ficou um longo período no deserto, e muitos outros também na história bíblica e na história recente também passaram por situações bastantes em comum. No entanto, aprendemos com o Senhor e Salvador Jesus Cristo que podemos passar por um longo período de dificuldades e desafios e ainda assim, mantermos intacta a nossa fé inabalável no Altíssimo. Falar de deserto é voltarmos a lembrar dos desafios do povo de Israel, de muitas outras figuras importantes das Escrituras e olharmos como modelo de fé e de exemplo, de maneira que sejamos inspirados a seguirmos em frente, sempre olhando para Cristo, Autor e Consumador da Nossa Fé.



Sugestão de Leitura da Semana: ATAÍDE, Romulo; MUNIZ, Sidney; PEREIRA, Leonardo; ROGÉRIO, Marcos. Comentário Bíblico Evangelho Avivado Volume 1 - Antigo Testamento. São Paulo: Evangelho Avivado, 2017.


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