Comentarista: Emanuel Barros
Texto Bíblico Base Semanal: João 15.1-16
1. Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador.
2. Toda a vara em mim, que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto.
3. Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho falado.
4. Estai em mim, e eu em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em mim.
5. Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.
6. Se alguém não estiver em mim, será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem.
7. Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito.
8. Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos.
9. Como o Pai me amou, também eu vos amei a vós; permanecei no meu amor.
10. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e permaneço no seu amor.
11. Tenho-vos dito isto, para que o meu gozo permaneça em vós, e o vosso gozo seja completo.
12. O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei.
13. Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos.
14. Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando.
15. Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer.
16. Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda.
Momento Interação
Uma das primeiras coisas que acontecem logo após a conversão é descobrirmos que agora, nosso maior propósito de vida é fazer a vontade de Deus (1Co 6.20), descobrir o que Ele espera de nós (Ef 5.15-17). E na verdade não se trata de nenhum segredo. Jesus deixou isso bem claro em João 15.16, onde Ele diz: “Vocês não me escolheram, mas eu os escolhi para irem e darem fruto, e fruto que permaneça, a fim de que o Pai vos conceda tudo o que pedirem em meu nome” (NVI). Jesus nos escolheu para darmos fruto e fruto que permaneça! Essa é a vontade de Deus pra nossas vidas! Mas do que se trata esse fruto? Talvez possa se pensar que sejam vidas que conhecerão a Jesus através de nós, mas na verdade não, fruto aqui está no singular, trata-se de apenas um fruto, o fruto do Espírito.
Introdução
Só é possível frutificar no Reino de Deus se estivermos em Cristo Jesus. Esta é a conclusão que seu aluno precisa chegar ao final deste trimestre. Ao longo dele, vimos o caráter bíblico e prático acerca do Fruto do Espírito como oposição às Obras da Carne. Neste trimestre, destacamos o embate que se dá na vida do cristão em relação ao “frutificar” no Reino de Deus e o de manifestar as obras da carne. Nesse aspecto, trabalhamos as seguintes oposições: Alegria x Invejas; Paz x Inimizades; Paciência x Dissensões; Benignidade x Porfias; Bondade x Homicídios; Fidelidade x Idolatria e Heresias; Mansidão x Pelejas; Temperança x Prostituição e Glutonaria. Concluindo que o amor é a razão ímpar para frutificarmos na presença do Senhor. Propositalmente, o tema do amor foi colocado como o último na lista do Fruto do Espírito.
Por isso, a parábola da vinha ganha uma grande importância em nosso estudo. O que João 15 deixa muito claro é que ninguém pode frutificar no Reino de Deus se não estiver firmado em nosso Senhor: “Eu sou a videira, vós, as varas; quem está em mim, e eu nele, este dá muito fruto, porque sem mim nada podereis fazer” (Jo 15.5). Todo discípulo é chamado por Jesus para dar muito fruto. Mas há uma pergunta imediata que precisa ser feita: Que fruto é este?
O texto bíblico responde taxativamente: “O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei. [...] Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando. [...] Isto vos mando: que vos ameis uns aos outros” (vv.12,14,17). De modo que o teólogo Donald Stamps confirma esse entendimento e o amplia conforme Gálatas 5: “Todos os cristãos são escolhidos ‘do mundo’ (v.19) para ‘dar fruto’ para Deus (vv.2,4,5). Essa frutificação se refere (1) às virtudes espirituais tais como as mencionadas em Gálatas 5.22,23 — amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança (cf. Ef 5.9; Cl 1.10; Hb 12.11; Tg 3.18) e (2) à conversão a Cristo doutras pessoas” (Jo 4.36,12.24).
I. Jesus, a Videira Verdadeira
Neste último capítulo deste Comentário Bíblico Mensal, estudaremos a respeito da frutificação na vida do crente. Você tem produzido o fruto do Espírito? Precisamos frutificar! Por isso, necessitamos estar ligados à Videira Verdadeira. É Cristo em nós que nos permite produzir o fruto do Espírito. Sem Ele nada podemos (Jo 15.4). O propósito de uma vida frutífera é tão somente glorificar o Pai (Jo 15.8). Deus fez a terra com a capacidade de ser produtiva. Nela constam elementos que a fazem produzir. Porque a terra por si mesma frutifica; primeiro, a erva, depois, a espiga, e, por último, o grão cheio na espiga (Mc 4.28). Na vida espiritual, para que de fato haja frutificação, isto é, o efeito de frutificar, é imprescindível que a terra do coração seja trabalhada pela Palavra de Deus. Dessa forma, os bons frutos irão aparecer, e é por meio dessa fertilidade que se prova a fidelidade do crente (Mt 13.8).
A primeira coisa que vemos quando lemos o capítulo 15 de João, é que não há como acontecer produtividade se não houver investimento, mas note que Deus investiu grandemente em Israel, que é comparado a uma videira (Is 5.1,2; Sl 80.8-19), esperando fruto, mas não aconteceu. Deus investe no seu Filho, que no texto aparece como a genuína videira. Ele faz isso porque sabe que é por intermédio do seu filho que a vida verdadeira para o mundo irá surgir. É dEle que vem a seiva para a salvação, a capacidade para a frutificação. Há um cuidado especial do Pai com a videira, Cristo, mas Ele cuida dos ramos produtivos, eliminando os galhos que não servem para nada, para que a produção seja ainda maior.
A produtividade espiritual é possível quando acontece tanto o aírei, que aqui é uma ação direta de Deus de tirar, arrancar, quanto o kathaírei, que é a ação de limpar, podar, ou fazer sua própria análise. Essas duas ações acontecem por meio da Palavra. Não há capacidade em nós mesmos para produzirmos o fruto; ele é resultado da nossa permanência em Cristo Jesus. Observe que o verbo imperativo grego meínate, permanecei, é o segredo para que a produtividade aconteça, pois é de Cristo que sai a vida para o ramo a fim de que a produção do fruto do Espírito seja real.
Quem permanece em Cristo recebe a seiva para não ser um ramo inútil, infrutífero. Muitas pessoas ficam impressionadas com o desempenho do grande ministério do apóstolo Paulo, como ele conseguiu levar tão longe a mensagem do evangelho e escrever tantas cartas. O segredo é que ele sempre permanecia em Cristo, recebia dEle a vida verdadeira: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim” (Gl 2.20). Improdutividade, esterilidade, falta de fruto, é resultado da quebra de comunhão com Cristo. Israel desvencilhou-se da vontade de Deus, por isso se tornou apenas um galho seco de uma videira, que não prestava para nada, a não ser para ser queimada.
II. Enraizados em Cristo
A palavra “verbo” já aparecia nas páginas do Antigo Testamento, só que com o conceito de sabedoria. Logos quer dizer palavra. A razão de João fazer uso dessa palavra é porque no seu tempo todos sabiam muito bem o sentido e a expressão que essa palavra tinha, o que ela enunciava; todavia, o propósito de João fazer uso dessa palavra é que ele usa esse logos para denotar a palavra de Deus em ação conforme também registra o escritor aos hebreus (Hb 1.1-3). Esse logos, palavra, pode ser entendido como o logos cósmico, isto é, o agente de toda a criação. João especifica que dEle não vem somente a vida, mas que Ele é a própria vida, é Ele quem dá a verdadeira luz, conhecimento da própria vida de Deus (Jo 17.3). Esse conhecimento que o verbo dá de Deus, possibilita ao homem receber as verdades divinas; assim ele pode deixar as trevas, que é a vida moral comprometida com o pecado.
Mas no texto Jesus diz que se suas palavras estivessem nos seus discípulos. Observe que nesse caso Ele faz uso de hêma, que é a palavra falada, dizeres, expressão, mas tudo se resume em Cristo, de modo que quer eles estivessem em Jesus, quer na Palavra, estariam vivendo e recebendo a verdadeira vida. É a fé que leva a oração do crente a ser atendida quando segue todo o ensino dito por Jesus, e os que permanecem em sua Palavra são transformados, purificados para dar muitos frutos. É importante entender uma coisa: oração respondida é também frutificação espiritual (Jo 14.13), e pela produção de fruto o Pai é glorificado, pois isso prova o relacionamento perfeito que o crente está tendo com Ele. Entendemos então que estar em Cristo e nos seus ditos é a forma de sermos capacitados para produzirmos muito para Deus. Isso dá glorificação ao Pai, pois prova que o crente está produzindo o fruto segundo a sua espécie, ou seja, ele está sendo semelhante a Jesus, e tal fruto é o descrito em Gálatas 5.22. Não há como duvidar, quem está em Cristo reproduz seu caráter (Jo 8.31; 1 Jo 3.2).
É no relacionamento do Pai com o Filho e do discípulo com Cristo que o verdadeiro amor se processa, gerando vida, alegria, obediência, sem qualquer constrangimento. O desejo de Jesus para que todos permanecessem nEle, isto é, no seu amor, é porque tudo vinha do Pai, pois assim como Ele era amado, quem permanecesse nEle seria amado também (Jo 3.35; 5.20). Jesus sempre permaneceu no amor do Pai, isso é comprovado por causa de sua obediência, sempre fazendo aquilo que lhe agradava (Jo 8.29). A grande prova do amor dos discípulos para com Jesus estava na obediência plena ao Pai. Se assim eles procedessem, estariam sempre tendo aprovação em tudo e gozando da companhia divina. É impossível um cristão ser produtivo fora da obediência a Cristo, aos seus ensinos, pois o amor, como virtude do fruto do Espírito, leva o crente a ser obediente, para que Deus possa se comprazer nele.
III. Frutos que Permanecem
Jesus ensina os discípulos a amar não tomando como base qualquer filosofia ou uma figura humana, mas Ele usa a si mesmo, dizendo: Como eu vos amei... Jesus amou se doando (Jo 3.16). Os discípulos foram objetos do amor verdadeiro de Jesus cristo, por isso logo, logo eles irão se multiplicar, porque irão amar de modo semelhante. A frutificação espiritual só acontece quando o amor verdadeiro é posto em pratica, se doando, se sacrificando. Foi nesse mesmo sentimento que Paulo disse que, se possível, queria ser separado de Cristo por causa de seus irmãos (Rm 9.3). O amor que está em evidencia aqui é o Ágape. Jesus procurou desenvolver com esses discípulos um bom relacionamento, uma amizade marcada pelo amor e obediência. Ele abre o seu coração e lhes diz o porquê de sua vinda ao mundo e morte. Naquele momento, Jesus não estava se relacionando com eles no nível de escravo, posição que eles continuarão tendo, mas como amigo estaria manifestando seus sentimentos, planos, esperanças, pois o escravo não precisa saber do que o seu Senhor pensa.
Note que sempre Jesus procura voltar ao tema do assunto que abriu a seção: videira e ramo, pois seu alvo é que todos sejam frutescentes. Os discípulos teriam que produzir o fruto da videira, isto é, Cristo, pois desse modo dariam frutos bons, duráveis. Ligados em Jesus, tudo que seus servos fazem é bem aceitável, é de qualidade. Podemos dizer que, vivendo no amor de Cristo, é do sacrifico, da doação, do bom relacionamento, da amizade, que fica provado que esta é a base, o fundamento para que aconteça a verdadeira frutificação espiritual. Se o amor não estiver presente, tudo será em vão, como disse Paulo: "Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria" (1 Co 13.1-3).
Nos tempos antigos, especialmente quando eram intensas as perseguições contra os servos de Cristo, eles venceram porque cultivaram o amor de Cristo em seus corações. Em nossos dias estamos vendo a revolta de muitos contra os cristãos, aqueles que procuram fazer a vontade de Deus, mas a igreja só poderá vencer se realmente firmar no amor ensinado pela Palavra. O mundo sem Deus está no controle do maligno, seu propósito sempre é ser contrario àquilo que fere seus desejos pecaminosos. Jesus foi objeto de ódio dos pecadores, porque falava a verdade; os discípulos foram perseguidos da mesma forma, porque estavam no mundo, mas fora do mundanismo, da carnalidade. Nisso consistia o ódio para com eles.
Conclusão
Jesus passa a dar instrução aos seus discípulos quanto aos sofrimentos a que seriam submetidos e como eles poderiam suportar (Mt 10.22). quem permanecesse nEle ficaria de pé. O relacionamento de Jesus com os seus discípulos era tão forte, o amor que os ligava era tão lindo, que quando Paulo estava perseguindo os crentes, o próprio Jesus lhe disse: Por que me persegues? (At 9.4; 22.7). Jesus diz que a geração do seu tempo estaria em condições lamentáveis, porque nenhuma outra teve o privilégio que agora estava tendo, pois estavam contemplando o amor de Deus expresso em sua pessoa, viram suas grandes obras, ouviram suas palavras, pelas quais poderiam mudar de vida, mas rejeitaram, por isso teriam uma sentença maior (Mt 11,23,24).
Alguém pode perguntar: Mas por que tanto ódio contra esses discípulos? Jesus vinha de Deus, os discípulos vinham dEle, todo o relacionamento aqui era espiritual, estava fora do poder do mundo pecaminoso, era contra o pecado, sendo que essa oposição não era tolerada. É o que acontece atualmente; muitas pessoas não gostam dos crentes porque reprovam as obras da carne, das trevas, as quais são praticadas por aqueles que não querem vir par a luz. Paulo diz que até falar das obras que os homens sem Deus praticam é vergonhoso (Ef 5.12). Jesus se revelou como amor, o mundo o odiou. Jesus se revelou como a luz, o mundo não quis brilhar. Jesus se revelou como a vida, eles não quiseram. Jesus se revelou como o caminho, pão, água, e eles descartaram.
Jesus diz que todo o ensino que transmitiu aos seus discípulos não deixaria de ter seu vigor, pois quando Ele fosse retirado deste mundo, o Espírito Santo estaria com eles, capacitando-os a suportarem toda e qualquer situação ou perseguição difícil (Mt 10.19) e uma prova de que isso aconteceu pode ser vista em Atos 5.32. O Espírito Santo estaria no coração dos discípulos fortalecendo-os nas verdades ensinadas por Jesus, posto que Ele é a própria verdade (Jo 14.17).
Sugestão de Leitura da Semana: SILVA, Oliveira. A Missão dos Discípulos de Cristo. São Paulo: Evangelho Avivado, 2018.
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