sábado, 26 de junho de 2021

Comentário Bíblico Mensal: Junho/2021 - Capítulo 5 - O Amor Conjugal que não se Apaga

 




Comentarista: Felipe Vieira



Texto Bíblico Base Semanal: Cantares 8.5-14

5. Quem é esta que sobe do deserto, e vem encostada ao seu amado? Debaixo da macieira te despertei, ali esteve tua mãe com dores; ali esteve com dores aquela que te deu à luz.

6. Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço, porque o amor é forte como a morte, e duro como a sepultura o ciúme; as suas brasas são brasas de fogo, com veementes labaredas.

7. As muitas águas não podem apagar este amor, nem os rios afogá-lo; ainda que alguém desse todos os bens de sua casa pelo amor, certamente o desprezariam.

8. Temos uma irmã pequena, que ainda não tem seios; que faremos a esta nossa irmã, no dia em que dela se falar?

9. Se ela for um muro, edificaremos sobre ela um palácio de prata; e, se ela for uma porta, cercá-la-emos com tábuas de cedro.

10. Eu sou um muro, e os meus seios são como as suas torres; então eu era aos seus olhos como aquela que acha paz.

11. Teve Salomão uma vinha em Baal-Hamom; entregou-a a uns guardas; e cada um lhe trazia pelo seu fruto mil peças de prata.

12. A minha vinha, que me pertence, está diante de mim; as mil peças de prata são para ti, ó Salomão, e duzentas para os que guardam o seu fruto.

13. Ó tu, que habitas nos jardins, os companheiros estão atentos para ouvir a tua voz; faze-me, pois, também ouvi-la.

14. Vem depressa, amado meu, e faze-te semelhante ao gamo ou ao filho dos veados sobre os montes dos aromas.


Momento Interação

 A leitura do texto arremete aos dias do reinado de Salomão, no início da monarquia israelita. Percebe-se um período de tranquilidade e paz onde o casal central desenvolve sua história amorosa, o que corrobora para o período áureo dos reinados de Davi (ao final) e Salomão. As diversas referências a animais e plantas exóticas também arremetem ao vasto conhecimento adquirido por Salomão. O singelo esforço que Salomão faz em sua obra, é tão somente o de fazer realçar a beleza desse interlúdio lírico cuja mensagem precisa não somente ser redescoberta, mas também deve ser colocada em prática, pois fornece uma excelente receita para uma vida conjugal prazerosa e feliz, bem como serve de parâmetros para uma prática sexual que confronta abertamente a inconsequente libertinagem e permissividade que a Sociedade tem adotado nesses últimos tempos, dos quais as novelas brasileiras se constituem um triste retrato deste degradante contexto. 

Diante de um quadro social cada vez mais caótico, onde o número de divórcios aumentam assustadoramente, em que o número de meninas e adolescentes grávidas parece não declinar e a liberalidade sexual é ensinada didaticamente nos meios de comunicação, torna-se urgente “descobrir” esse precioso livro do Cântico dos Cânticos e seu salutar e libertador ensino sobre as temáticas sexuais, sem medo e sem pudor moralista, pois se trata de um livro que detêm exatamente o mesmo valor e relevância dos demais livros que conjuntamente formam a primeira parte da Bíblia. A prevalência do divórcio e de tentativas modernas de redefinir o casamento estão em notório contraste com o Livro de Cantares de Salomão. Casamento, diz o poeta bíblico, deve ser comemorado, desfrutado e reverenciado. Este capítulo fornece algumas orientações práticas para fortalecer nosso casamento


Introdução

O casamento não é invenção humana que pode ser definida e destruída conforme os caprichos egoístas dos homens. O casamento foi criado por Deus. Ele é testemunha dos nossos votos e está preparado para julgar a nossa desobediência. Desrespeito pelos compromissos do casamento destrói a nossa comunhão com o nosso Criador. É imprescindível que aprendamos a ver o casamento como Deus o vê: "Cada um tenha a sua própria esposa". Em 1 Coríntios 7.2, Paulo repete o princípio que Deus estabeleceu quando criou o primeiro casal. "Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne" (Gn 2.24). 

As palavras de Jesus em Mateus 19.4-6 afirmam que a intenção de Deus desde a criação de Adão e Eva era que o homem fosse fiel a uma esposa legítima até a morte. As palavras que descrevem o primeiro casamento mostram que o Senhor pretendia que outros seguissem o mesmo padrão. Adão não tinha pais para deixar, mas os filhos de centenas de gerações posteriores têm cumprido este aspecto do princípio perpétuo estabelecido no Éden. Mesmo em sociedades corrompidas por anarquia e iniquidade, o casamento mantém uma posição honrada (Hb 13.4).

Juntar duas pessoas numa união completa descreve vividamente a beleza do casamento que Deus planejou. Deus não pretendia deixar o homem sozinho; então ele lhe deu a companheira perfeitamente adequada. Quando um homem e uma mulher se casam, eles formam uma nova e única unidade. Eles dividem uma relação sexual especial que jamais deve ser compartilhada com outros (1 Co 7.3-5). Quando a mulher segue a liderança de amor do marido (Ef 5.22-33), os dois participam juntos de sonhos e sofrimento, de conquistas e calamidades, do vigor da juventude e da fragilidade da velhice. Para este par privilegiado, a vida não se define mais com a palavra eu, e sim com a palavra nós.

Ao longo dos anos, a fusão de duas mentes na busca da mesma meta eterna cria uma intimidade e compreensão sem igual em relações humanas. A faísca de admiração no olhar de uma jovem noiva é apenas uma sombra do brilho constante no olho de uma mulher que superou décadas de desafios da vida com o homem que ela ama. O prazer que o noivo sente quando toma a mão da sua noiva é meramente um presságio do carinho que sentirá anos depois quando toma a mão de sua mulher, então envelhecida, para firmar os seus passos incertos.

I. Os Cônjuges aos Pés do Senhor

Aqueles que desprezam a perfeição do plano divino sofrem as tristes conseqüências de lares quebrados, corações esmagados, e espíritos quebrantados. Uma sociedade que apóia divórcios pecaminosos e incentiva casamentos ilícitos ceifará o que semeia. O sacrifício necessário para casamentos bem-sucedidos é sufocado pelo egoísmo que os destrói. O amor que fornece segurança é substituído pela lascívia que deixa esposas e filhos inocentes abandonados e desprotegidos num mundo cruel. Nem leis humanas nem doutrinas engenhosas podem mudar o fato que Deus permite apenas dois motivos para contrair novas núpcias: morte do primeiro companheiro (Rm 7.3; 1 Co 7.8-9,39) ou divórcio porque o parceiro cometeu adultério (Mt 19.9).

Outros abusos da vontade de Deus também causam destruição. O sexo antes do casamento, incluído no termo bíblico fornicação ou relações sexuais ilícitas, sempre está errado (1 Co 6.9-11,18; 7.2; Gl 5.19; Hb 13.4). Mesmo quando perdoado pela graça de Deus, o sexo antes do casamento, muitas vezes, traz graves conseqüências. Além das possíveis conseqüências físicas, a fornicação pode roubar o casamento posterior da intimidade especial que Deus fez para ser dividida exclusivamente por pessoas casadas. Relações homossexuais são outra perversão do plano de Deus. Todas as tentativas de "autoridades" humanas a defender a conduta homossexual como algo "natural" não podem apagar as palavras nítidas de Romanos 1.26,27 e 1 Coríntios 6.9-11. Homossexuais, como fornicadores, adúlteros e todos os outros pecadores, precisam se arrepender para buscar o perdão de Deus (Lc 13.3; At 2.38; 8.22; Mt 3.8).

O casamento é uma das ricas bênçãos preparadas para nós pelo benevolente Criador. Quando seguimos o plano dele, gozamos das maravilhas do amor e da segurança nesta vida, e a expectativa de um lar perfeito na eternidade.

II. A Força do Amor

Um amor cristão está profundamente preocupado como o bem-estar espiritual de outros. Um homem com tal amor, tendo escolhido uma mulher piedosa para sua companheira, jamais pensaria em violar a virtude dela, não importa quão forte suas paixões possam ser. Ele não a vê como um objeto a ser usado para seu prazer, mas como um tesouro a ser respeitado e protegido. É impensável, também, que uma mulher cristã, exercendo aquele amor que vem de Deus, se orgulhasse de "fazer um homem ficar nervoso" pelo modo como ela se veste ou se comporta. Ainda que ela possa "saber como cuidar-se," ela entende que o "o saber ensoberbece, mas o amor edifica" (1 Co 8.1). O amor que vem de Deus nunca deve desafiar outro a pecar com as palavras, "Se me ama, você fará". Amor piedoso "não se regozija na iniquidade". Qualquer expressão suposta de amor que seja desagradável a Deus, é fraudulenta.

Muitos cristãos devotos em outras situações parecem aceitar o velho adágio que "na guerra como no amor tudo vale". "Inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas" parecem ser perfeitamente justificados. Não importa a ocasião, estas são obras da carne e "não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam" (Gl 5.19-21). Muitos que não recorreriam a golpes físicos para acertar uma rivalidade usarão de trapaça, engano, duplicidade, astúcia, perfídia, mexerico, calúnia e o que mais possa vir-lhes à cabeça para conseguir seu intento. "Esta não é a sabedoria que desce lá do alto; antes, é terrena, animal e demoníaca. Pois onde há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão e toda espécie de cousas ruins" (Tg 3.15,16). 

Nenhum homem ou mulher é digno de tal corrupção da alma. É melhor exercer aquela "sabedoria, porém, lá do alto [que] é, primeiramente pura; depois, pacífica, indulgente, tratável, plena de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem fingimento" (Tg 3.17). Esta sabedoria conquistará qualquer parceiro que valha a pena conquistar. Graças a Deus, muitos que sucumbem a tal tentação se arrependem e amadurecem depois que seu prêmio é conquistado. O jovem que conquistou sua noiva naquela noite à beira do rio, amadureceu e não recomendará seu ato a outros. Não, verdadeiramente, a lei do amor piedoso não fica suspensa durante o casamento.

III. O Legado do Relacionamento Conjugal

Como frequentemente acontece em mensagens proféticas, este Salmo evidentemente aplica-se a duas personagens. Provavelmente tenha sido escrito em honra do casamento de um rei de Israel ou de Judá e estende a Jesus, conforme a citação em Hebreus 1.8,9. Ao longo da história, têm surgido várias sugestões em relação à ocasião original do Salmo. Alguns sugerem o casamento de Salomão com a filha do Faraó (1 Rs 3.1), ou de Salomão com uma princesa sidônia (1 Rs 11.1-5). Outros sugerem o casamento de Acabe com Jezabel (1 Rs 16.31). Ainda outros acham mais provável o casamento de Jeorão, um descendente de Davi, com Atalia, filha de Acabe e Jezabel e, por isso, descendente dos reis de Sidom (2 Rs 8.16-18,25-26).

Mas a citação de uma parte deste Salmo em Hebreus 1.8,9 nos leva a uma aplicação ao reino messiânico. Assim, a figura comum do casamento para descrever a relação do Senhor com seu povo é usada aqui para profetizar sobre a glória da igreja de Jesus Cristo. Neste Salmo, o Rei é elogiado por sua beleza, coragem, glória, etc. (1-5). A citação em Hebreus 1.8,9 claramente aplica os versículos 6 e 7 ao Messias, e serve para reforçar a doutrina da divindade de Cristo. O rei aparece em toda a sua glória, acompanhado pela rainha adornada de ouro (8-9).

O casamento mostra a dedicação da noiva (o povo de Deus) e o amor do marido (Cristo, o Rei). Da mesma maneira que uma noiva deixa os pais para morar com o marido, esta formosa noiva esquece de seu povo e entra no palácio do Rei. Nisto, ela mostra a lealdade ao Senhor, deixando para trás as coisas do reino das trevas (Cl 1.13) e se inclinando em submissão ao seu marido. Habitando com ele no palácio real, ela é abençoada para sempre (Ef 5.25-27; Ap 19.7,8; 21.2). O versículo 11 diz que ele cobiça ou deseja a beleza dela, usando a intimidade do casamento para descrever o amor do Senhor para seu povo purificado (Ef 5.27,28). O casamento é a relação mais especial entre seres humanos. Vários autores bíblicos usaram esta figura para nos mostrar um pouco da bênção da comunhão com Deus.

Conclusão

O casamento é a primeira relação humana. Tem sobrevivido a milhares de anos na história da humanidade. Ao mesmo tempo, o casamento está constantemente sob ataque. Muitos procuram diminuir a santidade desta relação especial de um homem e uma mulher, apoiando casamentos de homossexuais. Outros negam a sua permanência, defendendo o divórcio por qualquer motivo. E muitas pessoas simplesmente ignoram a importância do casamento, vivendo amigadas e desrespeitando o plano divino para um compromisso especial e exclusivo entre duas pessoas.  No meio a tanta corrupção do plano de Deus, os discípulos casados precisam lutar para manter casamentos sólidos, conforme a palavra do Senhor. 

Deus definiu o casamento quando criou o primeiro casal. Ele disse: “Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne” (Gn 2.24). Observamos nestas palavras os elementos básicos da aliança do casamento: uma decisão de entrar num novo relacionamento (deixar pai e mãe); um compromisso assumido (unir-se a sua mulher); uma relação especial que sela a aliança (tornar-se uma só carne).  Apesar dos abusos tolerados durante milhares de anos, Jesus afirmou os mesmos princípios como base da sua legislação sobre o casamento (Mt 19.4-6; Mc 10.6-8). Continuando a mesma ênfase na mensagem do Novo Testamento, Paulo frisou o caráter monógamo do casamento: “...cada um tenha a sua própria esposa, e cada uma, o seu próprio marido” (1 Co 7.2). A lei conjugal vigora até a morte de um dos cônjuges, deixando o viúvo livre para casar de novo (Rm 7.1-3; 1 Co 7.39; 1 Tm 5.14; Mt 22.30). 

No geral, Deus proíbe o divórcio e pessoas divorciadas que casam de novo praticam adultério (Lc 16.18; Mc 10.11,12; 1 Co 7.10,11). Se alguém se divorciar, assim pecando contra Deus, deve reconciliar-se com o cônjuge ou ficar só (1 Co 7.11). Se um descrente abandonar seu cônjuge cristão, este pode deixá-lo sair, mas Deus não autoriza segundo casamento nestes casos (1 Co 7.15). A única situação em que o Senhor autoriza divórcio e segundo casamento é no caso de divórcio por causa de relações sexuais ilícitas (Mt 19.9).  É triste observar que um dos maiores desafios que os casados enfrentam hoje vem de igrejas que ensinam falsas doutrinas sobre a santidade deste relacionamento especial. Muitos pastores e teólogos procuram amenizar as exigências do Senhor, dando abertura para pessoas entrarem ou ficarem em casamentos ilícitos. Vamos observar alguns dos argumentos usados para negar a força da palavra de Deus e enfraquecer a santidade do casamento: 

Alguns procuram negar a validade das núpcias contraídas antes de se converter, dizendo que o casamento abençoado é o casamento de crentes. São diversos os argumentos usados para tentar dizer que uma mensagem se aplica aos descrentes, e outra, aos cristãos. Mas, por estudo cuidadoso das Escrituras, podemos ver os problemas com tais ensinamentos. José respeitou o casamento de pessoas que não serviam a Deus (Gn 39.7-9), e nós devemos mostrar o mesmo respeito hoje. O casamento veio antes da Lei de Moisés, antes do evangelho e antes da igreja. Nunca foi subordinado a alguma instituição religiosa, e não depende de nenhuma organização religiosa para ter sua validade. No Novo Testamento, Jesus falou sobre o casamento sem limitar suas palavras a determinadas pessoas. A mensagem dele é para a salvação de todos (Rm 1.16), exige o arrependimento de todos (At 17.30) e julgará todos (Jo 12.47). 



Sugestão de Leitura da Semana: GOMES, Eliezér. Batalha Espiritual. São Paulo: Evangelho Avivado, 2019.


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