sábado, 19 de junho de 2021

Comentário Bíblico Mensal: Junho/2021 - Capítulo 3 - O Amor do Esposo pela Esposa

 




Comentarista: Felipe Vieira



Texto Bíblico Base Semanal: Cantares 4.1-12


1. Eis que és formosa, meu amor, eis que és formosa; os teus olhos são como os das pombas entre as tuas tranças; o teu cabelo é como o rebanho de cabras que pastam no monte de Gileade.

2. Os teus dentes são como o rebanho das ovelhas tosquiadas, que sobem do lavadouro, e das quais todas produzem gêmeos, e nenhuma há estéril entre elas.

3. Os teus lábios são como um fio de escarlate, e o teu falar é agradável; a tua fronte é qual um pedaço de romã entre os teus cabelos.

4. O teu pescoço é como a torre de Davi, edificada para pendurar armas; mil escudos pendem dela, todos broquéis de poderosos.

5. Os teus dois seios são como dois filhos gêmeos da gazela, que se apascentam entre os lírios.

6. Até que refresque o dia, e fujam as sombras, irei ao monte da mirra, e ao outeiro do incenso.

7. Tu és toda formosa, meu amor, e em ti não há mancha.

8. Vem comigo do Líbano, ó minha esposa, vem comigo do Líbano; olha desde o cume de Amana, desde o cume de Senir e de Hermom, desde os covis dos leões, desde os montes dos leopardos.

9. Enlevaste-me o coração, minha irmã, minha esposa; enlevaste-me o coração com um dos teus olhares, com um colar do teu pescoço.

10. Que belos são os teus amores, minha irmã, esposa minha! Quanto melhor é o teu amor do que o vinho! E o aroma dos teus ungüentos do que o de todas as especiarias!

11. Favos de mel manam dos teus lábios, minha esposa! Mel e leite estão debaixo da tua língua, e o cheiro dos teus vestidos é como o cheiro do Líbano.

12. Jardim fechado és tu, minha irmã, esposa minha, manancial fechado, fonte selada.


Momento Interação

O casamento possui período de fases. Os desafios e as dificuldades surgem como forma de amadurecer a relação, e o casal se fortalecer e assim, abençoarem as vidas de novos cônjuges que iniciam a caminhada de uma vida à dois. Na noite de núpcias, o marido novamente elogia a beleza de sua esposa, e em linguagem altamente simbólica, a mulher convida o seu cônjuge para participar de tudo o que ela tem para oferecer. Eles fazem amor e Deus abençoa sua união. Com a maturação do casamento, o marido e sua mulher passam por um momento difícil, simbolizado em um outro sonho. Neste segundo sonho, a sulamita repulsa seu marido e ele sai. Sentindo-se culpada, ela procura por ele por toda a cidade; desta vez, no entretanto, ao invés de ajudá-la, os guardas a espancaram -- simbólico de sua consciência pesarosa. As coisas têm um final feliz, com os amantes se encontrando e se reconciliando. Quando o cântico termina, o marido e a esposa estão confiantes e seguros em seu amor, eles cantam sobre a natureza permanente do amor verdadeiro, e deixam claro que muito querem estar na presença um do outro.

Introdução

A Bíblia coloca o marido como o líder da unidade familiar. Assim como Cristo é a cabeça da Igreja, o marido é a cabeça da mulher (Ef 5.23). Essa é realmente uma implicação muito séria, pois significa que assim como Cristo lidera a Igreja, o marido crente também deve liderar sua família. Obviamente isso quer dizer que a liderança do marido cristão deve ser uma liderança amorosa, justa e santa. Por isso que a conduta do crente como marido deve ser uma conduta de amor e respeito pautada na Palavra de Deus e à semelhança do amor e do cuidado de Cristo por Sua Igreja. O apóstolo Paulo explica que os maridos devem amar suas próprias esposas, “assim como também Cristo amou a Igreja, e se entregou por ela; a fim de santificá-la, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, para apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível” (Ef 5.25-27).

Portanto, o marido crente deve amar sua esposa não com um amor egoísta, mas com um amor sacrifical. O amor do marido por sua esposa jamais deve objetivar seus próprios interesses. Além disso, como sacerdote de sua casa, o marido deve amar sua esposa com um amor santificador. Amparada no amor de seu marido, a mulher é santificada e protegida das investidas estranhas ao seu matrimônio. Na sequência Paulo também diz que os maridos devem amar suas esposas com um amor abnegado e cuidador. Ele explica que o crente precisa amar sua mulher como ama seu próprio corpo. Nesse sentido, o marido que ama a sua mulher ama-se a si mesmo (Ef 5.28). Dessa forma, assim como não é esperado que alguém maltrate seu próprio corpo, também não é esperado que o marido maltrate sua esposa. Ao contrário disso, ele deve cuidar dela, protegê-la e sustentá-la, assim como o Senhor cuida da Igreja (Ef 5.29). A palavra “cuidar” nesse versículo traduz um termo grego que pode significar “acariciar”. Isso quer dizer que o cuidado do marido por sua esposa deve ser expresso em carinho e atenção.

I. O Amor do Esposo pela Esposa

A conduta do crente em relação à família é explicada de forma clara na Bíblia. Não há qualquer dúvida de que a conduta do crente como marido deve ser exemplar na liderança de sua família, bem como também deve ser a conduta da esposa como sábia edificadora de sua casa nos princípios do Senhor (Pv 14.1). Já os filhos cristãos, por sua vez, devem honrar e obedecer aos seus pais, e os pais crentes não devem provocar os seus filhos. Na Carta aos Efésios encontramos o texto bíblico que aborda de forma mais direta qual deve ser a conduta do crente em relação à família. Entre os capítulos 5 e 6 de sua epístola, o apóstolo Paulo faz uma exposição sobre a vida familiar cristã de acordo com a vontade de Deus. Em sua exposição o apóstolo aborda o papel do marido, da esposa e dos filhos num lar cristão.

A Bíblia ensina a plena dignidade da mulher, de modo que diante do Senhor não há distinção entre homens e mulheres (Gl 3.8). Mas também é verdade que a Bíblia ensina que homens e mulheres foram chamados para executar papeis diferentes. Então o fato de a Bíblia mostrar o homem no papel de líder de sua casa, isso não quer dizer que a mulher é inferior a ele ou menos digna. Em vez disso, a mulher é a ajudadora que Deus providenciou para completar o homem. O apóstolo Paulo usa a analogia do relacionamento de Cristo e a Igreja para falar da relação entre o marido e a esposa. Então assim como a Igreja é sujeita a Cristo, a esposa deve ser sujeita ao marido (Ef 5.22,23).

Mas a submissão da esposa ao marido não deve ser uma submissão incondicional e irracional, nem um instrumento para lhe colocar numa posição de inferioridade. Também é interessante notar que a Bíblia não ensina uma submissão genérica; isto é, a Bíblia não ensina que toda mulher de forma geral deve ser submissa a todo homem. Mas a Bíblia fala da submissão da esposa ao seu próprio marido. Quando a Bíblia diz que a mulher deve se sujeitar ao seu marido, isso não quer dizer que a mulher é menos importante que o marido ou que ela não tenha direitos perante ele. Devemos perceber que a Bíblia ensina a submissão da esposa à liderança santa, justa e amorosa do marido. Os maridos jamais devem se esquecer que a Bíblia diz que a mulher deve ser submissa a um marido que a ama como Cristo ama a Igreja. Quando o marido lidera sua casa como Cristo lidera Sua Igreja, a esposa tem prazer em estar sob sua liderança, pois isso implica num lar seguro e feliz. 

II. O Valor do Amor Conjugal

O “matrimônio” está livre das sanções de ascetismo por um lado e de comportamento lascivo da libertinagem do outro. “O leito” – e o relacionamento de confiança e amor que ele simboliza (Ef 5.21; 1 Pe 3.1-8) – deve ser respeitado e colocado como prioridade, “digno de honra”. Deus julgará aqueles que o desonrem por impureza sexual geral ou relações sexuais extramatrimoniais, “impuros e adúlteros”. Isso inclui os que têm casos extraconjugais (1 Co 6.9,10). Inclui “matrimônios” que jamais deveriam ter sido consumados por causa de divórcios e segundo casamentos antibíblicos (Mt 19.9). Inclui aqueles que mantêm relações sexuais em “relacionamentos a longo prazo” sem o compromisso do casamento, pois são relações imorais. Inclui aqueles que são sexualmente imorais, mesmo sendo “maiores de idade” consentindo aos atos de fornicação (Gl 5.19-21). Inclui aqueles que estão em relacionamentos com pessoas do mesmo sexo, mesmo que alegam ser “monógamos e comprometidos” (Rm 1.26,27). 

O julgamento de Deus virá sobre todos esses como também os outros relacionamentos significantes que evitam o casamento, o relacionamento lícito de “marido e mulher”. Se quiser ter uma relação íntima dentro da vontade de Deus, você tem de fazê-lo num relacionamento heterossexual, comprometido e amoroso, monógamo e matrimonial (Gn 2.24; Mt 19.9; Ef 5.31). Ignorar até as leis de estados civis a respeito da solenidade dos votos matrimoniais a favor de “sabemos que estamos comprometidos um ao outro" não escapará o julgamento de Deus (Rm 13.1).  Agora tal relacionamento no “matrimônio” deve ser “honrado por todos”. Há uma honra muito grande em estar casado. Eu sei que o casamento é um remédio amargo para alguns, cujas expectativas eram egoístas ou irreais. Eles ficaram desapontados que o “matrimônio” não cumpriu todas as suas fantasias douradas de todos os seus sonhos dourados, que a outra pessoa, com quem estão casados, não é igual a eles de todas as maneiras e às vezes é intolerável e insuportável.

O casamento é como um investimento na bolsa de valores a longo prazo, com altas e baixas pelo caminho. Mas é digno de honra se comprometer com uma pessoa para toda a vida, crescer juntos e interdependentes, construir o relacionamento com amor e dependência, envelhecer juntos e enfrentar o inverno da vida juntos. É um vôo menos romântico do que uma jornada cheia de desafios com topos de montanhas e o sol do deserto no caminho.  Mas alguns perguntam: “O que há de tão importante no casamento? Não vejo como um pedaço de papel pode fazer tanta diferença”. Estes mesmos críticos sabem a importância de uma carteira de habilitação, a certidão da escritura da sua casa, os documentos do carro em seu próprio nome, afirmando que o carro foi totalmente pago, o boletim de escola do seu filho, o consentimento a receber tratamento médico, o cartão do CPF, o extrato bancário e inúmeros outros “pedaços de papel” que formalizam, obrigam e simbolizam um relacionamento.

III. O Exemplo de como ser um Exímio Marido

Há dois relacionamentos em vida nos quais Deus exige compromisso absoluto: o relacionamento do cristão com Cristo e o relacionamento da pessoa casada com seu companheiro. Uma pessoa pode trocar sua cidadania por outra, pode mudar de emprego ou de casa ou de congregação. Mas, os compromissos com Cristo e com o companheiro de casamento são para a vida toda. Abandono de qualquer dos dois traz o desprezo de Deus. Quando uma pessoa se torna cristã, ela promete sua lealdade a Cristo como seu Senhor e Rei. Perseguições podem vir, ou desânimo, ou tentações ou problemas na igreja, mas ela promete ser fiel, fiel até a morte. Semelhantemente, quando alguém se casa, ele promete à companheira seu amor e fidelidade enquanto os dois viverem. Problemas podem surgir, ou doença, ou dificuldades financeiras, ou pressão dos membros da família, ou mal-entendidos, mas ele promete ser fiel. Ele não a deixará. Ele nem pensa em divórcio. Ele tem um compromisso com ela—ele pertence a ela e ela a ele—e o compromisso é absoluto.

A vontade de Deus em relação à permanência do casamento é claramente revelada. No casamento, um homem deixa seu pai e sua mãe e se une à sua esposa (Gn 2.24). São ligados (Rm 7.2,3). São ajuntados por Deus e não devem ser separados (Mt 19.6). Eles se tornam uma só carne (Mt 19.6). Não conseguimos imaginar termos mais fortes para descrever a permanência do relacionamento. Não é de admirar que Malaquias disse que Deus odeia o divórcio (Ml 2.16). A maior alegria que o homem pode realizar na terra se encontra nesses dois relacionamentos de compromisso absoluto. A alegria não é encontrada no meio-compromisso. Um homem que está sempre considerando outros empregos, nunca se comprometendo com seu atual emprego, é um homem instável, dividido entre duas opções. É assim com a pessoa que tenta servir ao Senhor com meio-compromisso. Ele anda entediado e desinteressado, com apenas a religião suficiente para ficar infeliz. Ele procura segurar o mundo com uma mão e o Senhor com a outra, e não acha a felicidade em nenhum dos dois. Por outro lado, precisamos olhar para os apóstolos e os primeiros discípulos para ver que o compromisso absoluto, o tipo de compromisso que aceita perseguição e faz sacrifício, é um elemento básico da felicidade no Senhor (At 2.41-47; 5.40-42; 16.25).

É assim com o casamento. Deus sabia que a alegria no casamento seria encontrada somente no compromisso absoluto. Portanto, ele ordenou pelo apóstolo Paulo: "...cada um tenha a sua própria esposa, e cada uma, o seu próprio marido" (1 Co 7.2). Essa declaração pode perturbar aqueles que, no passado, ignoraram o ensinamento dele (as consequências do pecado sempre são terríveis - Gálatas 6.7,8), mas ela é para o benefício do homem, e vem de Deus, o qual manda para o nosso bem (Dt 10.13).

Conclusão

Vamos considerar a “honra” que deve ser dada ao casamento. A palavra timios no grego é traduzida como “precioso” ou “caro” em outros textos. Por exemplo, a fundação da cidade santa em Apocalipse 21.19 tem “pedras preciosas”. O sangue do Cordeiro perfeito de Deus, pelo qual nós somos redimidos dos nossos pecados, é “precioso” (1 Pe 1.19). As promessas de Deus que nos motivam à piedade são “preciosas” (2 Pe 1.4). Jesus, como a pedra viva e pedra angular, é “precioso” (2 Pe 2.4-6). O “espírito suave e manso” de uma mulher cristã piedosa é “precioso” aos olhos de Deus (1 Pe 3.4). E o “matrimônio e o leito matrimonial” são timios também. Não precisa de um estudioso para ver o valor que Deus dá ao casamento.

O matrimônio é para adultos. É trabalho sério. É uma lembrança contínua do significado de manter a sua palavra. Meus pais colocaram a sua certidão de casamento num quadro na parede do seu quarto. Eu lembro bem disso. Papel creme, letras enfeitadas, redondinhas, tinta vermelha dos lados, uma sombra de perfil de um homem e uma mulher, virados um para o outro, e palavras sérias sobre o que haviam feito e quando haviam feito. Eu olhava para isso como criança e me perguntava “por que colocaram esta coisa na parede aqui? Eles já sabem que são casados. Não é como se fosse um prêmio ou algo assim” (Eu sei, criança estranha). Mas era um “prêmio” para eles por mais de 41 anos. Para eles não era apenas um pedacinho de papel. Enquadrava todo o seu jeito de lidar um com o outro e eles jamais queriam esquecer disso.

É assim com o matrimônio. Para aqueles que odeiam as “algemas” do casamento e as correntes que os unem, eu digo “AMADUREÇAM!" Às pessoas insatisfeitas com seus casamentos: Parem de procurar “o lado mais verde da cerca”, “amor mais livre” e “ligações sexuais perfeitas”. Considerem o matrimônio da maneira que Deus o pretendeu. Ele não exige que todos se casem nem condena aqueles que continuem solteiros. Ele não dá honra a todos os casamentos apenas porque os dois dizem “Eu aceito”. Mas aqueles que têm o direito de casar, que amam profundamente e sem egoísmo, que se comprometem “para toda a vida” um ao outro, nutrindo o seu relacionamento em temor ao Senhor, estes serão abençoados. E no fim do tempo, quando vocês tiverem vivido bem, amado bem e servido ao Criador juntos, vocês o ouvirão dizer “Vocês honraram o casamento e assim fazendo, me honraram e vingaram a minha vontade num mundo cheio de pecados. Bem feito, servos bons e fiéis. Entrem na paz do seu Senhor.” Não dá para ser melhor que isso.



Sugestão de Leitura da Semana: LINHARES, Gustavo. Tempos Trabalhosos. São Paulo: Evangelho Avivado, 2020.


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