quarta-feira, 4 de agosto de 2021

A Terra de Israel

 
 
 
Por Leonardo Pereira
 
 
 
O pedaço da terra mais disputado do mundo talvez seja a terra de Canaã. Este lugar, hoje chamado de Israel, ocupa uma faixa bem estreita entre o mar Mediterrâneo e o rio Jordão. Canaã é pequena, contendo uma área bem menor que o estado de Sergipe e menos de uma metade dos metros quadrados de Alagoas. Mesmo assim, esse território tem sido almejado e contestado desde a antiguidade. O que a Bíblia nos ensina sobre esta terra, a quem pertence hoje, e quais são os planos que o Senhor tem para seu futuro?

A História da Terra

Quando Deus chamou Abraão para que deixasse a parentela e fosse para uma determinada terra (Gn 12.1), este foi para Canaã. Ali, ele peregrinou e criou sua família. O Senhor prometeu que daria aos descendentes de Abraão "esta terra" (Gn 12.7), e repetiu a promessa para Abraão (Gn 13.14,15, 17; 17.8), Isaque (Gn 26:3-4) e Jacó (Gn 28.13). O Senhor explicou que o cumprimento ia demorar uns quatrocentos anos (Gn 15.13-16). De fato, 430 anos depois (Êx 12.40,41), o Senhor levantou Moisés que libertou o povo do Egito e o conduziu à terra prometida. Por causa da incredulidade do povo, a realização da promessa demorou mais uma geração (Nm 13-14). Mas finalmente, Israel entrou e conquistou a terra (Consulte o Livro de Josué).

Israel tomou conta de toda a terra que Deus prometeu. "Assim o Senhor deu aos israelitas toda a terra que tinha prometido sob juramento aos seus antepassados, e eles tomaram posse dela e se estabeleceram ali ... De todas as boas promessas do Senhor à nação de Israel, nenhuma delas falhou; todas se cumpriram" (Js 21.43, 45). O próprio Josué afirmou num discurso aos líderes de Israel: "Vocês sabem, lá no fundo do coração e da alma, que nenhuma das boas promessas que o Senhor, o seu Deus, lhes fez deixou de cumprir-se. Todas se cumpriram; nenhuma delas falhou" (Js 23.14b; veja também 1 Rs 4.21; Ne 9.7,8).

Deus deu a terra para o povo de Israel de forma incondicional. Logo antes da entrada do povo na terra prometida, o Senhor explicou: "Não é por causa de sua justiça ou de sua retidão que você conquistará a terra delas. Mas é por causa da maldade destas nações que o Senhor, o seu Deus, as expulsará de diante de você, para cumprir a palavra que o Senhor prometeu, sob juramento, aos seus antepassados, Abraão, Isaque e Jacó" (Dt 9.5). Os israelitas receberam a terra apenas porque Deus havia garantido aos patriarcas que a daria aos seus descendentes. Mas eles iriam continuar na terra somente por sua fidelidade ao Senhor. Em Deuteronômio 28 e Levítico 26, Deus salientou as maldições que o povo ia sofrer caso quebrasse a aliança, inclusive a expulsão da terra: "Vocês serão desarraigados da terra em que estão entrando para dela tomar posse" (Dt 28.63b). Eles desobedeceram ao acordo que fizeram com Deus múltiplas vezes e apesar de longanimidade enorme, finalmente o Senhor concretizou as maldições contra a nação: Assíria e Babilônia levaram-na em cativeiro.

Depois do exílio, porém, Deus se comprometeu que deixaria o povo retornar para a terra prometida (Dt 30.5). De fato, sob a liderança de Josué e Zorobabel, o povo voltou para a terra de Canaã (veja Esdras). Infelizmente, o povo novamente se afastou do Senhor, e Jesus anunciou que seria expulso da terra mais uma vez. Depois de ter passado um capítulo salientando os erros dos líderes, Jesus decretou: "Eis que a casa de vocês ficará deserta ...Eu lhes garanto que não ficará aqui pedra sobre pedra; serão todas derrubadas" (Mt 23.38; 24:2). Ele falou que Jerusalém seria destruída naquela geração (Mt 24.34), e assim aconteceu. No ano 70 d.C. o general Tito com o exército romano cercou, conquistou e aniquilou a cidade de Jerusalém.

A Terra Hoje

Não resta mais nenhuma promessa de Deus referente a Canaã. Deus já cumpriu a promessa de dar a terra aos descendentes de Abraão e para deixar o povo voltar após o cativeiro. Quando o povo perdeu a terra pela segunda vez, perdeu todo o seu direito a ela. Em 1948, alguns judeus retornaram, mas este evento não é cumprimento de nenhuma profecia bíblica; é simplesmente um acontecimento político.

As escrituras afirmam nitidamente que não há mais distinção entre judeus e gentios perante o Senhor. "Não há diferença entre judeus e gentios, pois o mesmo Senhor é Senhor de todos e abençoa ricamente todos os que o invocam" (Rm 10.12; Cl 3.11). Qualquer promessa possuída pelos judeus hoje aplica-se igualmente aos gentios, porque Deus não mais diferencia os dois em nada. Todos os servos fiéis ao Senhor são contados como Israel hoje. "Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus. E, se vocês são de Cristo, são descendência de Abraão e herdeiros segundo a promessa" (Gl 3.28,29). O Israel de Deus inclui todos os servos dele independente da sua nacionalidade (Gl 6.16; Rm 4.11-17).

O propósito de Deus na própria escolha de Abraão foi justamente isso: através do seu descendente abençoar todas as famílias da terra. A eleição de Abraão, portanto, não foi destinada a favorecer a família dele, mas a utilizá-la para salvar o mundo. Os profetas do Velho Testamento indicaram que haveria uma época em que judeu e gentio seriam indistinguíveis. "O Senhor dos Exércitos os abençoará, dizendo: 'Bendito sejam o Egito, meu povo, a Assíria, obra de minhas mãos, e Israel, minha herança'" (Is 19.25; 19.16-25). Em Cristo, o uso especial de Israel físico cessou, e o povo de Deus se tornou um corpo unido, composto tanto do judeu como do grego.

Resposta a Objeções

Algumas pessoas pensam que Deus tem-se comprometido a dar a terra a Israel hoje por causa da promessa a Abraão: "Toda a terra de Canaã, onde agora você é estrangeiro, darei como propriedade perpétua a você e a seus descendentes; e serei o Deus deles" (Gn 17.8). A noção da perpetuidade da possessão da terra leva algumas pessoas a concluir que o judeu ainda tem o direito a esta terra hoje. Porém, a palavra 'perpétua' no Antigo Testamento não significa algo que nunca cessa. Se fosse assim, os anos que Israel ficou fora da terra no exílio e no intervalo entre 70 e 1948 teriam violado a promessa. 'Perpétuo' em hebraico significa um bom tempo. Note que a circuncisão era 'aliança perpétua' (Gn 17.13), mas sabemos que hoje circuncisão não tem mais nada a ver com nosso relacionamento com Deus (Gl 5.1-4; 6.15). Também o sábado era 'aliança perpétua' (Êx 31.16), mas hoje o sábado não faz mais parte das nossas obrigações perante o Senhor (Cl 2.16,17). Os sacerdotes levíticos eram 'sacerdócio perpétuo' (Nm 25.13), mas o sacerdócio hoje está mudado porque foi impossível alcançar a perfeição por meio do sacerdócio levítico (Hb 7.11,12). Então a idéia de perpetuidade no Velho Testamento se limitava a continuidade naquela época.

Outras pessoas notam as profecias que dizem que o povo de Deus viverá na terra para sempre; por exemplo, "Viverão na terra que dei ao meu servo Jacó, a terra onde os seus antepassados viveram. Eles e os seus filhos e os filhos de seus filhos viverão ali para sempre, e o meu servo Davi será o seu líder para sempre" (Ez 37.25). Os profetas geralmente expressaram as bênçãos espirituais em Cristo em termos ligados com as coisas já conhecidas. Existem várias profecias do Velho Testamento que não se entendem em termos materiais. Neste próprio trecho o Davi que seria o líder para sempre não se referiu ao literal Davi, mas a Jesus, o grande descendente de Davi (At 2.25-36).  Jeremias previu a continuidade do sacerdócio, mas não se referiu ao sacerdócio literal, mas a Jesus, nosso sumo sacerdote (Hb 7-10). "Vejam, eu enviarei a vocês o profeta Elias antes do grande e temível dia do Senhor" (Ml 4.5). O Elias não era Elias literal, mas João Batista, um parecido com Elias (Lc 1.17; Mt 11.14; 17.13).  Os profetas disseram que animais seriam oferecidos em sacrifício pelo pecado (Ez 43.19, 22, 25; 45.15, 17), mas não se oferecem animais literalmente hoje. Cristo é o Cordeiro de hoje (Jo 1.29). As pessoas aceitas por Deus, de acordo com os profetas, seriam circuncisas (Ez 44.9), mas a circuncisão em questão é espiritual, do coração (Rm 2.28,29). Os profetas ensinaram que os sábados precisariam ser santos (Ez 44.24), mas os sábados literais não fazem mais parte das nossas obrigações perante o Senhor (Cl 2.16,17). As profecias escritas no Velho Testamento devem ser interpretadas de forma figurada (espiritual), e não de forma literal (material). Por isso, quando lemos que pessoas viveriam na terra para sempre, devemos entender que a terra significa a terra espiritual dos lugares celestiais em que vivemos com Cristo, não a terra literal de Canaã.

Não resta nenhuma promessa de Deus quanto à terra física de Canaã. As promessas de hoje tratam da pátria celestial onde temos nossa cidadania (Fp 3.20,21); almejemo-la.
 
 
 
 

 

 






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