Comentarista: Éverton Souza
Texto Bíblico Base Semanal: Lucas 3.1-18
1. E no ano quinze do império de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos presidente da Judéia, e Herodes tetrarca da Galiléia, e seu irmão Filipe tetrarca da Ituréia e da província de Traconites, e Lisânias tetrarca de Abilene,
2. Sendo Anás e Caifás sumos sacerdotes, veio no deserto a palavra de Deus a João, filho de Zacarias.
3. E percorreu toda a terra ao redor do Jordão, pregando o batismo de arrependimento, para o perdão dos pecados;
4. Segundo o que está escrito no livro das palavras do profeta Isaías, que diz: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor; Endireitai as suas veredas.
5. Todo o vale se encherá, E se abaixará todo o monte e outeiro; E o que é tortuoso se endireitará, E os caminhos escabrosos se aplanarão;
6. E toda a carne verá a salvação de Deus.
7. Dizia, pois, João à multidão que saía para ser batizada por ele: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir?
8. Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento, e não comeceis a dizer em vós mesmos: Temos Abraão por pai; porque eu vos digo que até destas pedras pode Deus suscitar filhos a Abraão.
9. E também já está posto o machado à raiz das árvores; toda a árvore, pois, que não dá bom fruto, corta-se e lança-se no fogo.
10. E a multidão o interrogava, dizendo: Que faremos, pois?
11. E, respondendo ele, disse-lhes: Quem tiver duas túnicas, reparta com o que não tem, e quem tiver alimentos, faça da mesma maneira.
12. E chegaram também uns publicanos, para serem batizados, e disseram-lhe: Mestre, que devemos fazer?
13. E ele lhes disse: Não peçais mais do que o que vos está ordenado.
14. E uns soldados o interrogaram também, dizendo: E nós que faremos? E ele lhes disse: A ninguém trateis mal nem defraudeis, e contentai-vos com o vosso soldo.
15. E, estando o povo em expectação, e pensando todos de João, em seus corações, se porventura seria o Cristo,
16. Respondeu João a todos, dizendo: Eu, na verdade, batizo-vos com água, mas eis que vem aquele que é mais poderoso do que eu, do qual não sou digno de desatar a correia das alparcas; esse vos batizará com o Espírito Santo e com fogo.
17. Ele tem a pá na sua mão; e limpará a sua eira, e ajuntará o trigo no seu celeiro, mas queimará a palha com fogo que nunca se apaga.
18. E assim, admoestando-os, muitas outras coisas também anunciava ao povo.
Momento Interação
A datação elaborada de Lucas é colocada no início do ministério de João, e não no início do ministério de Jesus; isso demonstra a importância que Lucas deu a João em seu Evangelho. Essa data era provavelmente 27-29 d.C. Lucas especifica o ano e as principais autoridades à época. O ano era o décimo quinto do império de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos presidente da Judéia, e Herodes (em seu testamento, Herodes, o Grande, deixou a administração da Judeia para Arquelau e as tetrarquias para Filipe e Antipas. Porém, Arquelau fez um governo tão ruim que os romanos o retiraram do cargo e indicaram o seu próprio governador, Pôncio Pilatos), tetrarca da Galiléia e seu irmão Filipe tetrarca da Itureia e da província de Traconites, e Lisânias tetrarca de Abilene (um tetrarca era, tecnicamente, um governador que administrava a quarta parte, porém o termo acabou sendo usado para designar regentes insignificantes).
O Herodes relatado aqui é Herodes Antipas. A região que Filipe governava ficava a nordeste do mar da Galileia. Não se tem nenhuma outra informação quanto ao governador Lisânias, mas se sabe que Abilene era uma área mais ao norte das regiões mencionadas aqui. Embora Lucas (Lc 3.2) cite como sumos sacerdotes Anás e Caifás, os judeus tinham apenas um sumo sacerdote de cada vez. Os romanos depuseram Anás e indicaram em seu lugar Caifás, genro de Anás, como sumo sacerdote. Apesar da imposição romana para que Caifás exercesse a função oficialmente, muitos judeus ainda consideravam Anás como o verdadeiro sumo sacerdote. Foi dentro desse contexto e época que veio a palavra de Deus, no deserto, ao João, filho de Zacarias. A mensagem de João não era dele mesmo, mas a diligente palavra do próprio Deus. Por isso que saiu João a percorrer toda a terra ao redor do Jordão pregando o batismo de arrependimento, para perdão de pecados (Lc 3.3)
Introdução
Desde o ano 722 antes de Cristo o país onde vivia o povo de Israel estava dominado por nações estrangeiras. A partir do ano 63 a.C este domínio passou a ser feito pelos romanos. Roma era a maior potência política e econômica daquela época. Em 63 a.C um general de nome Pompeu conquistou a Palestina que desde então passou a fazer parte do império romano. A palestina funcionava como uma província semi-autônoma, pois as autoridades locais foram mantidas. No tempo do nascimento de Cristo o imperador era Otavio Augusto. Ele governou de 27 a.C a 14 d.C. Quando Cristo foi morto o imperador era Tibério e ele reinou de 14 a 37 de nossa era.
Os romanos mantinham o seu domínio sobre as províncias do império a ferro e fogo e para conseguir isto cobravam impostos de todas as nações dominadas. Freqüentemente faziam recenseamentos nas provinciais para calcular se o recebimento dos impostos estava correspondendo ao crescimento da população. O recenseamento feito na época do nascimento de Cristo tinha esta finalidade (cf. Lc 2.1-7). Nas províncias do império os imperadores eram representados pelos procuradores romanos. No tempo em que Jesus Cristo foi morto o procurador era Pôncio Pilatos. Ele morava na cidade de Cesaréia e visitava Jerusalém somente na época das grandes festas, para cuidar, sobretudo, da segurança da população.
Na Palestina o órgão político mais importante era o SINÉDRIO. Este era como um senado, composto por 71 membros comandados por um sumo-sacerdote. Este órgão era o responsável pela vida dos judeus, pela aplicação do cumprimento da lei e pela ordem interna. No contexto político destacavam-se os partidos político-religiosos que lutavam pelo predomínio no meio do povo. Todos eles tinham ima conotação religiosa. Entre os partidos mais fortes destacavam-se os saduceus, fariseus, essênios e os zelotas. Como hoje, cada partido lutava para continuar influenciando o povo. Foi neste ambiente que Jesus Cristo nasceu como um homem histórico, encarnado na história humana. Foi neste ambiente que ele lançou a semente do reino de Deus e convocou um grupo de pessoas, os apóstolos, para continuar a sua missão. Após Jesus Cristo e especialmente após a revelação do Espírito Santo em Pentecostes, os discípulos começaram a reunir-se em comunidades, tendo por base a comunidade de Jerusalém. Foi assim que nasceu a Igreja.
I. Jesus e os Escribas
Os escribas eram pessoas cuja profissão era escrever. Eles registravam e copiavam coisas importantes por escrito, como: documentos legais ou administrativos, registros históricos, informação comercial e as Escrituras. No Novo Testamento, os escribas também eram professores da lei judaica. Antigamente, poucas pessoas sabiam ler e escrever. Mesmo entre quem sabia, livros e material de escrita eram muito caros e poucos tinham a oportunidade de praticar. Por isso, o escriba tinha uma função muito importante. O trabalho do escriba era registrar por escrito tudo que fosse importante preservar.
Assim, o escriba atuar em várias áreas diferentes. Ele podia ter a função de contabilista, mantendo registros de compras e vendas para comerciantes, construtoras ou serviços administrativos. Também poderia servir como historiador, escrevendo relatos dos momentos mais importantes de sua época ou de feitos dos reis. Alguns escribas escreviam ficção ou registravam histórias populares. Além disso, muitos escribas tinham uma função religiosa, copiando textos religiosos com exatidão. Onde era preciso alguém que sabia escrever, ali o escriba encontrava trabalho
Várias partes da Bíblia provavelmente foram escritas por escribas. Dois escribas importantes mencionados na Bíblia são Baruque e Esdras. Baruque trabalhava para o profeta Jeremias, que ditava suas palavras de profecia para ele (Jr 36.32). Esdras era um sacerdote, escriba e doutor da Lei de Deus que voltou do exílio na Babilônia e liderou um avivamento religioso judaico (Ed 7.6). Além desses escribas, outros podem ter contribuído para a Bíblia. Vários dos livros históricos e/ou as fontes originais que foram usadas para escrevê-los provavelmente foram escritos por escribas. Outros profetas além de Jeremias podem ter contratado o serviço de escribas para registrar suas palavras.
No Novo Testamento, os escribas judeus eram também doutores, ou mestres, da Lei. Além de copiar os textos sagrados, eles se dedicavam à interpretação e aplicação da Lei de Moisés. Eles eram parecidos com professores de teologia. Os escribas ensinavam a Lei e sua interpretação aos outros judeus e eram muito respeitados por seu conhecimento. Em várias ocasiões, Jesus repreendeu os escribas (mestres da lei) por seus ensinamentos errados (Mt 23.13-15). Muitos escribas davam mais valor às regras da tradição do que às leis de Deus! Por causa disso, vários escribas se tornaram inimigos de Jesus e participaram da conspiração para matá-lo.
II. Jesus e os Fariseus
A origem deste movimento tem como ponto de partida a classe trabalhadora. O surgimento deles provem dos “piedosos” que pertenciam a luta armada de Judas Macabeu. Eles provinham, na época de Jesus das camadas sociais dos artesãos, pequenos comerciantes e gente pertencente à classe média. Tinham características de serem nacionalistas e de odiarem os estrangeiros. Na época de Jesus eram moderados e aceitavam a política da convivência imposta pelos conquistadores romanos. Na Judeia eles faziam a política dos sacerdotes de Jerusalém e das classes ricas de Jerusalém. Os fariseus com as suas atitudes conseguiam manipular o povo e exercer autoridade sobre eles. Aparentemente se apresentavam como partido das massas populares e contra a aristocracia. O povo sem alternativa os respeitavam, pois possuíam peso político sem exercerem o poder.
Os fariseus e saduceus eram dois partidos religiosos que interpretavam a Lei de Deus de forma diferente. Os fariseus eram judeus zelosos, com muitas regras, e os saduceus eram sacerdotes que tentavam incorporar ideias gregas no judaísmo. Jesus reprovou das práticas tanto dos fariseus como dos saduceus. Os fariseus e saduceus surgiram nos anos entre o retorno do exílio na Babilônia e a vida de Jesus. Os fariseus eram um grupo de judeus muito religiosos, que se dedicavam a obedecer a toda a Lei de Deus e a interpretar corretamente as Escrituras Sagrada (o que chamamos hoje de Antigo Testamento). Eles também seguiam muitas tradições orais. Os fariseus acreditavam que para agradar a Deus cada pessoa tinha de obedecer fielmente a todas as regras das Escrituras e da tradição. Os fariseus eram bem vistos pelo povo judeu por seu zelo em obedecer a Deus e porque não comprometiam seus valores para agradar outros. Os fariseus formaram as sinagogas, que foram o modelo para as igrejas atuais, para ensinar a Palavra de Deus ao povo. Eles acreditavam na ressurreição e aguardavam a vinda de um Salvador de Israel.
Jesus condenou os fariseus por sua hipocrisia (Mt 23.27,28). Eles faziam muitas coisas só para manter as aparências e davam mais atenção à tradição oral que à Palavra de Deus. Muitos caíram no legalismo: obedecer a todas as regras se tornou mais importante que um coração sincero e arrependido. Jesus também condenou seu desprezo e sua falta de compaixão por todos que não conseguiam seguir seu alto padrão de vida. Os fariseus eram mais “missionários” que os saduceus, pois os fariseus costumavam estar mais perto do povo, fazendo seu trabalho de proselitismo e aplicando as Escrituras numa linguagem mais acessível ao povo. Embora ensinando muita coisa correta e conforme a ortodoxia judaica (Mt 23.3), os fariseus foram duramente denunciados por Jesus em razão de ensinarem coisas corretas, mas não viverem conforme seus discursos. Daí vem a fama de hipocrisia atrelada ao título de fariseu.
Fariseus também são conhecidos como legalistas, em virtude de uma interpretação não raras vezes demasiadamente literalista da lei de Moisés, bem como devido colocarem com força de lei para o povo as muitas tradições orais preservadas e perpetuadas por séculos entre os judeus, mas que nem sempre revelavam uma disposição correta para com a Palavra de Deus, senão uma vontade de colocar um fardo pesado sobre o povo iletrado. Em Mateus 23 está a mais longa denúncia pública feita contra os fariseus em toda Bíblia. João Batista já havia chamado os tais de “raça de víboras” (Mt 3.7), mas neste capítulo de Mateus, Jesus os chama ainda de “hipócritas” (v. 13), “guias cegos” (v. 16), “tolos e cegos” (v. 17) e os compara a “sepulcros caiados” (v. 27), ou seja, túmulos bem acabados, rebocados e pintados por fora, enquanto no interior guardam decomposição e mal cheiro. É incrível que Jesus não teve problema com o povo comum, os leigos; o problema de Jesus era justamente com esses homens religiosos e instruídos.
III. Jesus e os Saduceus
Os saduceus eram uma elite religiosa de sacerdotes. Eles controlavam tudo que acontecia no Templo e tinham grande influência política. O poder dos saduceus vinha de sua preocupação em manter boas relações com os invasores romanos. Para os saduceus, só os primeiros cinco livros do Velho Testamento (conhecidos como a Torá ou o Pentateuco) tinham autoridade divina. Eles não focavam tanto em todas as regras dos fariseus e acreditavam que podiam incorporar ideais gregos no judaísmo. Os saduceus não se davam bem com os fariseus. Jesus condenou os saduceus porque não acreditavam na ressurreição. Eles também ignoravam o mundo espiritual e muitas vezes se preocupavam mais com o poder político que com a obediência a Deus (At 23.8). Quando o Templo foi destruído os saduceus deixaram de existir.
Os saduceus precisavam produzir frutos próprios do arrependimento. O motivo era que eles, assim como os fariseus, não guardavam a lei de Deus (Mt 3.7,8) O próprio Cristo Jesus comparou o ensino corrupto deles a fermento (Mt 16.6, 11,12). Com respeito às crenças religiosas deles, Atos 23.8 declara: “Os saduceus dizem não haver nem ressurreição, nem anjo, nem espírito, mas os fariseus declaram publicamente todos estes”. Foi com relação à ressurreição e ao casamento de cunhado que um grupo de saduceus tentou confundir Cristo Jesus. Mas ele os calou. Citando os escritos de Moisés, que os saduceus professavam aceitar, Jesus refutou a alegação deles de que não há ressurreição (Mt 22.23-34; Mr 12.18-27; Lc 20.27-40). Mais tarde, o apóstolo Paulo, diante do Sinédrio, dividiu esta mais alta corte judaica por jogar os fariseus contra os saduceus. Isto era possível por causa das diferenças religiosas entre eles (At 23.6-10).
Embora divididos em questão de religião, os saduceus juntaram-se aos fariseus em procurar tentar Jesus por pedir-lhe um sinal (Mt 16.1), e os dois grupos estavam unidos na sua oposição a ele. A evidência bíblica indica que os saduceus tinham um papel destacado em procurar a morte de Jesus. Saduceus eram membros do Sinédrio, corte que tramou contra Jesus e que, mais tarde, o condenou à morte. A corte incluía Caifás, o saduceu e sumo sacerdote, e evidentemente também outros sacerdotes de destaque (Mt 26.59-66; Jo 11.47-53; At 5.17,21). Portanto, sempre que as Escrituras Gregas Cristãs falam de certa ação tomada pelos principais sacerdotes, evidentemente havia saduceus envolvidos nisso (Mt 21.45, 46; 26.3, 4, 62-64; 28.11, 12; Jo 7.32). Os Saduceus parecem ter tomado a dianteira em tentar impedir a divulgação do cristianismo após a morte e ressurreição de Jesus (At 4.1-23; 5.17-42; 9.14).
IV. Jesus e os Principais dos Sacerdotes
O Velho Testamento nos ajuda a entender a obra de um sumo sacerdote. O sumo sacerdote levita agia como representante dos homens, entrando na presença do Senhor para oferecer sangue em benefício dos homens pecadores. Em nenhum outro lugar esta função é ilustrada mais vividamente do que nos eventos do Dia da Expiação. Neste dia, o décimo dia do sétimo mês de cada ano, o sumo sacerdote entrava no Santo dos Santos do tabernáculo para fazer expiação pelos seus próprios pecados e pelos do povo. Levítico 16 descreve o que era feito neste dia. O sumo sacerdote, depois de lavar seu corpo e vestir as vestes santas, punha um incensário cheio de incenso no Santo dos Santos para formar uma nuvem sobre o propiciatório. O Santo dos Santos era a menor das duas salas dentro do tabernáculo. A arca da aliança ficava localizada nesta sala e era ali que Deus se encontrava com o homem. A cobertura da arca da aliança era chamada de propiciatório. Dois bodes eram escolhidos como oferenda pelo pecado e sortes eram lançadas sobre eles. Um bode teria que ser morto e oferecido ao Senhor em benefício do povo; o outro seria um bode emissário. Um novilho era selecionado também como uma oferenda pelo sumo sacerdote e sua família.
O sumo sacerdote matava o novilho fora do santuário propriamente e levava um pouco de sangue do novilho para dentro do Santo dos Santos, onde aspergia-o sobre o propiciatório. Em frente do propiciatório ele aspergia sangue, com o dedo, sete vezes, para fazer expiação por seus próprios pecados e os de sua família. A nuvem de incenso na sala protegia-o de ver o Senhor e morrer como consequência. Ele, então, matava o bode selecionado por sorte para ser a oferenda e levava um pouco de sangue para dentro do Santo dos Santos, mais uma vez espalhando o sangue em cima e na frente do propiciatório, para fazer expiação pelos pecados do povo. Depois, o bode vivo era levado para o deserto e solto, levando embora consigo os pecados do povo. Os corpos do novilho, do bode e de um carneiro oferecido como holocausto eram totalmente queimados.
Para assassinar Jesus, houve uma espécie de acórdão político proposto por Caifás, o sumo sacerdote e chefe do Sinédrio (o Supremo Tribunal da época), ao governo local, que estava sob o comando de Pôncio Pilatos e de Herodes Antipas, o rei dos judeus. Na época, o Grande Sinédrio de Jerusalém era um tribunal formado por 71 homens ricos e considerados sábios, que interpretavam e aplicavam a lei. O sumo sacerdote ocupava um cargo de confiança no governo romano. Devia obediência e fidelidade a Roma, mesmo sendo ele um judeu. Naquele tempo, a Palestina vivia intenso período de efervescência política e religiosa. Além dos saduceus, existiam outros grupos religiosos que atuavam politicamente. Eles não se opuseram à condenação de Jesus. Assim como os saduceus, fariseus, herodianos, sicários e escribas não viam Jesus com bons olhos, como pode ser observado nos Evangelhos.
Astuto, manipulador e sagaz são qualidades que poderiam ser aplicadas a Caifás, o sumo sacerdote que presidiu dois dos julgamentos de Jesus. Ainda que não fosse pelos relatos bíblicos, só o fato dos romanos o deixarem permanecer no cargo por mais tanto tempo (18 anos) já mostra que ele era um manipulador astucioso. Mas é nas Escrituras que vemos sua habilidade em se manter no poder político. Após a ressurreição de Lázaro, ele tramou friamente a morte de Jesus. Ele tentou tranquilizar a consciência de qualquer membro do Sinédrio que talvez não tivesse coragem de acusar a Jesus. Ele fez isso atribuindo motivos elevados a este ato perverso: "Convém que morra um só homem pelo povo e que não venha a perecer toda a nação" (Jo 11.50).
Quando ele, com a ajuda de Judas, conseguiu prender o Salvador, o propósito de cada passo seu foi para ver Jesus morto o mais rápido possível, sem nenhuma consideração para com a justiça ou a lei. Depois de Jesus se apresentar diante de Anás, sogro de Caifás e considerado por alguns judeus o verdadeiro sumo sacerdote, Caifás e o Sinédrio expuseram Jesus a dois julgamentos falsos. No primeiro julgamento, Caifás cinicamente presidiu uma demonstração pública de perjúrios. Quando Jesus permaneceu calado sem se rebaixar ao nível de seus acusadores, Caifás impacientemente demandou uma resposta direta à pergunta de ser ele ou não o Filho de Deus. Ouvindo uma resposta afirmativa, de modo hipócrita rasgou suas vestes, fingindo estar chocado, e declarou: "Blasfemou! Que necessidade mais temos de testemunhas? Eis que ouvistes agora a blasfêmia!" (Mt 26.65). Ele então assistiu, sem interferir, a uma multidão profana que cuspia em Jesus e o ridicularizava.
O ódio de Caifás pelo caminho de Deus não terminou com a morte de Jesus. Ele continuou ativo, perseguindo a Pedro e a João (At 4.6) e provavelmente era o sumo sacerdote mencionado em Atos 5.17-21, 27; 7:1 e em 9.1, o qual perseguia os cristãos com todo o vigor. Para Caifás, a vida nada mais era que lucrar e preservar o seu bocado de poder insignificante.Mesmo com toda a sua manobra e trama, ele é uma personalidade absolutamente insignificante na História, a não ser por tratar infamemente Jesus e os cristãos. Sua obsessão por conservar-se no poder o tornava frio, indiferente e incapaz de ver que o Filho de Deus estava ali no seu meio.
V. Jesus e os seus Discípulos
A morte de Jesus na cruz como sacrifício pelos pecados dos homens foi determinada no plano eterno para a redenção dos homens. Durante seu ministério, Jesus caminhava propositalmente para esse momento importante, o auge da sua missão terrestre. Os relatos do evangelho, especialmente o de João, mostram sua determinação em cumprir esse plano conforme predeterminado, para morrer da maneira certa, no lugar certo e no momento certo. Os discípulos que acompanhavam Jesus demoraram para entender esse aspecto da sua missão. Como muitos judeus e até muitos religiosos dos nossos dias, imaginavam um reino terrestre dominado por um Cristo que ganharia seu poder no campo de batalha carnal, vencendo seus inimigos em guerras literais aqui na terra. Pensando dessa maneira, os discípulos enfrentavam dificuldades enormes quando Jesus falou da sua própria morte. Mateus, no seu relato da última parte do ministério de Jesus, traz algumas afirmações específicas que Jesus fez sobre sua morte iminente. Os avisos são praticamente idênticos, mas as reações dos discípulos refletem preocupações diferentes e até mostram a evolução do pensamento desses seguidores do Senhor.
Em um período de crise no ministério de Jesus, as opiniões sobre esse homem de Nazaré estavam polarizando. A maioria dos líderes dos judeus rejeitou as afirmações desse pregador itinerante. O povo comum se mostrou confuso, achando que Jesus fosse algum profeta do Antigo Testamento que teria voltado a viver entre os homens. Os discípulos mais íntimos, porém, depois de acompanhar os ensinamentos e as obras de Jesus, estavam se firmando na sua convicção da sua divindade como o Messias ou Cristo profetizado no Antigo Testamento. A famosa confissão de Pedro representa esse entendimento correto: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16.16). A compreensão dos apóstolos se mostrou, várias vezes, limitada e até errada. Seus comentários e perguntas mostram que esperavam um reino terrestre e político com Jesus na posição de rei. Desta perspectiva, a afirmação de Jesus, logo depois da confissão de Pedro, foi especialmente chocante. Ele disse que seria maltratado e morto em Jerusalém, e que ressuscitaria três dias depois (Mt 16.21). A reação de Pedro foi de negação. Ele repreendeu o próprio Senhor, dizendo que não seria rejeitado e morto. Jesus disse que Pedro estava interferindo nas obras de Deus.
Algum tempo depois, os apóstolos estavam com Jesus na Galileia quando ele repetiu o comentário sobre a iminência da sua morte, seguida pela ressurreição ao terceiro dia (Mt 17.22,23). Desta vez, a reação dos discípulos foi de profunda tristeza. Não negaram as palavras de Jesus, como Pedro havia feito da outra vez, mas mostraram sua preocupação em ficar sem Jesus. Em João 14, Jesus tratou da mesma dificuldade, percebendo que os discípulos se sentiam órfãos. Ainda não conseguiram olhar além da morte para ver a vitória na ressurreição, mesmo Jesus incluindo essa promessa e cada predição. Jesus e os discípulos estavam se aproximando de Jerusalém, poucos dias antes da crucificação, quando ele falou novamente da sua morte e ressurreição. Desta vez, não houve repreensão nem demonstração de tristeza, mas uma outra reação que mostrou a mesma dificuldade para compreender a natureza do reino messiânico. João e Tiago chegaram com sua mãe para conversar com Jesus. Pediram posições de importância no gabinete do Rei! Parece que o entendimento deles sobre a ressurreição havia evoluído, e agora estavam olhando para além da morte para ver a vitória e o reino que viria. Mas, ainda esperavam um reino material, terrestre e político. Não compreendiam a natureza espiritual do domínio do Rei Jesus.
Conclusão
Podemos aprender com os fariseus, saduceus e outros grupos religiosas da época evitando os seus erros. Os dois grupos caíram em extremos. Os saduceus reduziram sua religião ao minimalismo, uma fachada religiosa para obter poder político. Os fariseus exageraram nas regras, se esquecendo do que é mais importante. Os dois grupos se afastaram de Deus e tinham prioridades erradas. Eles também não tinham a humildade para aceitar que podiam estar errados. Quando Jesus os repreendeu, em vez de se arrependerem os dois grupos se uniram para o matar! (Mt 21.45,46).
Nossa perspectiva é outra, pois vivemos quase 2.000 anos depois da morte de Jesus. É impressionante observar, porém, que muitas pessoas, até líderes religiosos influentes, continuam com pensamentos parecidos com os dos apóstolos na sua confusão e tristeza. Muitos ainda aguardam um reino terrestre e material, não compreendendo a vitória de Jesus sobre a morte e a realidade do seu reino espiritual, celestial e eterno. O reino de Jesus existe (Cl 1.13), pois já recebeu seu domínio eterno (Dn 7.14; Ap 1.5). Jesus cumpriu o plano eterno para a nossa redenção, e reina para toda a eternidade.
Sugestão de Leitura da Semana: RIBEIRO, Anderson. A Mensagem de Cristo. São Paulo: Evangelho Avivado, 2020.
Eu acabei de ler o livro, A VIDA DIÁRIA NOS TEMPOS DE JESUS, e esse artigo veio para enriquecer mais ainda o meu conhecimento nessa temática, obrigado.
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