terça-feira, 14 de setembro de 2021

Autoridade e Catolicismo

 




Por Leonardo Pereira



A Igreja Católica deriva a autoridade para suas práticas de duas fontes diferentes: A Sagrada Escritura e a Sagrada Tradição. É ensinado aos católicos que as Escrituras são a palavra de Deus e que milhares de anos atrás a palavra de Deus foi escrita sob a inspiração do Espírito Santo. Para compor os livros que compreendem o Velho e o Novo Testamentos, Deus escolheu certos homens que, ainda que usando suas próprias capacidades e estilo, escreveram o que ele queria que fosse comunicado, nada mais, nada menos. Essa palavra, a Bíblia, é significativa e sagrada. A Bíblia, contudo, não é a única fonte de autoridade para os católicos. De acordo com o Catecismo da Igreja Católica (revisão de 1994), fé não é uma "religião do livro," mas antes uma religião da "Palavra" de Deus. Essa "não é uma palavra escrita e muda, mas encarnada e viva."
   
As Escrituras do primeiro século foram registradas e finalmente compiladas na Bíblia, mas os católicos creem que a divina inspiração não parou quando os apóstolos e seus contemporâneos morreram. Eles creem que a pregação dos apóstolos, que foi expressa de um modo especial na Bíblia, é também preservada numa linha contínua de sucessão até o fim do tempo. Esta revelação contínua é conhecida como a Tradição Sagrada. Os católicos entendem que o Papa é inspirado e fala por Deus, nos dias atuais. Através dos séculos, vários Papas fizeram decretos em nome de Deus e esses decretos foram seguidos como parte da tradição da Igreja Católica. Alguns desses decretos de Papas foram revistos através dos anos porque o Papa atual é considerado como tendo a mais atualizada informação de Deus.

A Igreja Católica, portanto, não proclama receber sua certeza sobre as verdades reveladas somente das Escrituras. Tanto a Sagrada Escritura como a Sagrada Tradição precisam ser aceitas e honradas igualmente.

Autoridade e a Bíblia

Logo antes de sua ascensão ao céu, as Escrituras nos contam que Jesus disse, "Toda a autoridade foi dada a mim no céu e sobre a terra. Portanto, vão e façam com que todos os povos se tornem meus discípulos, batizando-os em nome do Pai, e do filho, e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que ordenei a vocês. Eis que estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo" (Mt 28.18-20). Na Epístola de Paulo aos Efésios, vemos um retrato claro da posição de Jesus a respeito da igreja: "Que lhes ilumine os olhos da mente, para que compreendam a esperança para a qual ele os chamou; para que entendam como é rica e gloriosa a herança destinada ao seu povo; e compreendam o grandioso poder com que ele age em favor de nós que acreditamos conforme a sua força poderosa e eficaz. Ele a manifestou em Cristo, quando ressuscitou dos mortos e o fez sentar-se à sua direita no céu, muito acima de qualquer principado, autoridade, poder e soberania, e de qualquer outro nome que possa nomear, não só no presente, mas também no futuro. De fato, Deus colocou tudo debaixo dos pés de Cristo e o colocou acima de todas as coisas, como Cabeça da Igreja, a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que plenifica tudo em todas as coisas" (Ef 1.18-23).
 
A Bíblia ensina que Jesus tem autoridade exclusiva sobre sua igreja. Não estando mais na terra, contudo, ele está presente na palavra de Deus. A Bíblia confirma que a palavra de Deus tem autoridade na igreja. A segunda epístola de Paulo a Timóteo diz: "Quanto aos maus e impostores, eles progredirão no mal, enganando e sendo enganados. Quanto a você, permaneça firme naquilo que aprendeu e aceitou como certo; você sabe de quem o aprendeu. Desde a infância você conhece as Sagradas Escrituras; elas têm o poder de lhe comunicar a sabedoria que conduz à salvação pela fé em Jesus Cristo. Toda Escritura é inspirada por Deus e é útil para ensinar, para refutar, para corrigir, para educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, preparado para toda boa obra" (2 Tm 3.13-16).
 
O termo "Sagrada Tradição" não é mencionado nas Escrituras. Contudo, há lugares onde "tradição" é mencionada. Em alguns lugares a tradição que está sendo seguida é condenada enquanto em outros é elogiada. No evangelho de Marcos, vemos Jesus censurando os fariseus por seguirem a tradição, antes que a palavra de Deus: "Os fariseus e os doutores da Lei perguntaram então a Jesus: 'Porque os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos, pois comem pão sem lavar as mãos?' Jesus respondeu: 'Isaías profetizou bem sobre vocês, hipócritas, como está escrito: Este povo me honra com os lábios, mas o coração deles está longe de mim. Não adianta nada eles me prestarem culto, porque ensinam preceitos humanos. Vocês abandonam o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens'. E Jesus acrescentou: 'Vocês são bastante espertos para deixar de lado o mandamento de Deus a fim de guardar as tradições de vocês" (Mc 7.5-9, 13; cf. Mt 15.2-9).
 
Em sua Epístola aos Colossenses, Paulo adverte: "Cuidado para que ninguém escravize vocês através de filosofias enganosas e vãs, de acordo com tradições humanas, que se baseiam nos elementos do mundo, e não em Cristo. É em Cristo que habita, em forma corporal, toda a plenitude da divindade. Em Cristo vocês têm tudo de modo pleno. Ele é a cabeça de todo principado e de toda autoridade" (Cl 2.8-10). Em duas circunstâncias vemos falar de tradições de modo positivo. Na segunda Epístola aos Tessalonicenses, Paulo, Silvano e Timóteo escrevem: "Por isso, irmãos, fiquem firmes e mantenham as tradições que lhes ensinamos de viva voz ou por meio da nossa carta" (2 Ts 2.15). Paulo também aproveita a oportunidade para admoestar a igreja de Tessalônica: "Irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo ordenamos: fiquem longe de qualquer irmão que vive sem fazer nada e não segue a tradição que recebeu de nós" (2 Ts 3.6). A distinção entre a tradição que é positiva e a que é negativa é encontrada em sua fonte. Tradições que se originam dos humanos são condenadas, enquanto as tradições que se originam de Deus e são levadas através dos apóstolos e outros discípulos inspirados são aprovadas.

Resumo

Até este ponto temos visto que os ensinamentos e práticas da Igreja Católica diferem às vezes das práticas dos cristãos nas Escrituras. Algumas práticas católicas são encontradas na Bíblia; algumas não são nem mesmo mencionadas; outras parecem ser condenadas. O fato que a Igreja Católica declara derivar sua autoridade igualmente da Sagrada Escritura e da Sagrada Tradição é responsável por esta divergência. Quaisquer práticas passadas, presentes ou futuras da Igreja Católica que não podem ser apoiadas pelas Escrituras podem ser explicadas seguindo-as até o Papa que lhes deu existência. Para alguns, confiar tanto na Sagrada Escritura como na Sagrada Tradição como guias parece ser lógico e aceitável, mas se o Papa pode mudar as práticas autorizadas pela Sagrada Escritura, então a Sagrada Escritura e a Sagrada Tradição não podem ser iguais, como são declaradas. Quando o que o Papa decreta contradiz a palavra de Deus, antes que ser honrada, parece que aquela porção da Escritura é anulada.
   
Como foi mencionado antes, os católicos acreditam que Pedro foi o primeiro Papa. A Bíblia confirma que Pedro era inspirado, e dá exemplos dele e dos outros apóstolos distribuindo dons espirituais, tais como profecia, a outros discípulos. Os crentes que receberam os dons espirituais dos apóstolos foram capazes de operar milagres e profetizar exatamente como os apóstolos, contudo, aqueles crentes não podiam passar os dons espirituais que tinham recebido. Desde que somente os apóstolos foram capazes de distribuir dons espirituais (At 8.14-18), uma vez que os apóstolos morreram, como os futuros Papas receberam a capacidade de profetizar sobre assuntos relacionados com a igreja?
   
As Escrituras não fazem nenhuma menção a Pedro ser um Papa, nem mencionam nenhuma sucessão de liderança na igreja, além dos anciãos. As Escrituras também não fornecem nenhuma evidência de que o dom espiritual da profecia continuaria através dos séculos. Em 1 Coríntios 13.8, é-nos dito que o dom da profecia terminaria.


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