sábado, 23 de outubro de 2021

Comentário Bíblico Mensal: Outubro/2021 - Capítulo 4 - A Confiabilidade da Bíblia

 




Comentarista: Marcos Rogério



Texto Bíblico Base Semanal: Lucas 4.1-13


1. E Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto;

2. E quarenta dias foi tentado pelo diabo, e naqueles dias não comeu coisa alguma; e, terminados eles, teve fome.

3. E disse-lhe o diabo: Se tu és o Filho de Deus, dize a esta pedra que se transforme em pão.

4. E Jesus lhe respondeu, dizendo: Está escrito que nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra de Deus.

5. E o diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo.

6. E disse-lhe o diabo: Dar-te-ei a ti todo este poder e a sua glória; porque a mim me foi entregue, e dou-o a quem quero.

7. Portanto, se tu me adorares, tudo será teu.

8. E Jesus, respondendo, disse-lhe: Vai-te para trás de mim, Satanás; porque está escrito: Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás.

9. Levou-o também a Jerusalém, e pô-lo sobre o pináculo do templo, e disse-lhe: Se tu és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo;

10. Porque está escrito: Mandará aos seus anjos, acerca de ti, que te guardem,

11. E que te sustenham nas mãos, Para que nunca tropeces com o teu pé em alguma pedra.

12. E Jesus, respondendo, disse-lhe: Dito está: Não tentarás ao Senhor teu Deus.

13. E, acabando o diabo toda a tentação, ausentou-se dele por algum tempo.

Momento Interação

Usando os mesmos critérios pelos quais julgamos as outras obras históricas, a Bíblia não só é confiável, mas é mais confiável do que quaisquer outros escritos comparáveis. A confiabilidade é uma questão de veracidade e cópia exata. Escritos que são historicamente e fatualmente corretos e que foram fielmente preservados ao longo do tempo seriam considerados confiáveis. Níveis mais elevados de verificação histórica e melhor confiança na transmissão facilitam a determinação de se uma obra antiga é digna de confiança. Por essas medidas, podemos considerar a Bíblia confiável. Como acontece com qualquer obra histórica, nem todos os detalhes bíblicos podem ser diretamente confirmados. A Bíblia não pode ser acusada de insegura simplesmente porque contém partes que não podem ser confirmadas ou que ainda não foram confirmadas. O que é razoável é esperar que seja exata onde puder ser verificada. Este é o principal teste de confiabilidade, e aqui a Bíblia tem um histórico estelar.

Introdução

A autoridade da Palavra de Deus como regra de fé e prática decorre de sua origem divina. A origem e fonte das Escrituras testifica de sua singularidade. Os escritores bíblicos viam a Palavra de Deus como ocupando status único na categoria de todos os demais livros. Para eles a Palavra de Deus era tida como "sagradas escrituras" (Rm 1.2), "sagradas letras" (2 Tm 2.15) e "oráculos de Deus" (Rm 3.2; Hb 5.12). Os escritores bíblicos deixaram claro que seus escritos não eram obras deles, mas comunicação da parte de Deus por meio do Espírito Santo (Nm 9.30; 2 Sm 23.2; Is 1.1; Jr 38.21; Ez 2.2; Ez 11.5,24 ; Am 1.1; Mq 1.1; Mq 3.8; Hb 1.1; Zc 7.12).

O Novo Testamento reafirma essas declarações do Antigo (Mc 12.36; At 28.25; 1 Pe 1.10; 2 Pe 1.21; 2 Pd 3.16). Algumas vezes as Escrituras deixam tão claro a autoria do Espírito Santo que o autor humano desaparece quase que completamente aparecendo apenas como instrumento (Hb 3.7; Hb 9.8). O que nos garante a confiabilidade, inerrância e exatidão das Escrituras Sagradas é o fato de ao longo das Escrituras Deus revelar a Si mesmo.  Por meio de mãos humanas Deus se revelou por meio do Espírito Santo.

I. A Palavra de Deus é Inerrante

A inerrância bíblica deve ser definida mais em termos de verdade e de falsidade do que em termos de erro. A idéia básica de inerrância é que não há engano ou falsidade nos ensinamentos das Escrituras Sagradas, por consequência da inspiração divina, resultando daí sua autoridade máxima em questões de fé e prática. Devemos ter a mente aberta às discussões sobre esse tema tão importante para entendê-lo corretamente. Quando reivindicamos a inerrância da Bíblia não estamos afirmando que os escritores bíblicos ao escrever a Palavra de Deus em hebraico, aramaico e grego não cometeram nenhum erro gramatical. Sabemos que os discípulos eram pessoas de pouca cultura (At 4.13). O Novo Testamento foi escrito em grego koinê, mas se encontra cheio de aramaísmos, ou seja, uma estrutura linguística com expressões que são corretamente compreendidas quando se entende o aramaico.

É evidente que quem escreveu os evangelhos sofria influência do aramaico, como se detecta em certos "aramaísmos" dos textos, mas é praticamente certo que os evangelistas escreveram em grego. Aramaísmo é característica linguística do aramaico que ocorra em outra língua.  Os hebraísmos ou aramaísmos não implicam em erro doutrinário, apenas em imprecisões gramaticais.  Nenhum outro autor do Novo Testamento desrespeita tão frequentemente os cânones de estilo, gramática e sintaxe da língua grega como João o faz no Apocalipse. Isso sugere que o grego koinê para João era um segundo idioma. João escreveu às igrejas da Ásia portanto seria inviável escrever em hebraico língua falada pelos eruditos nas sinagogas ou o aramaico falado pelas pessoas mais simples no círculo familiar.  O Espírito Santo iluminou a mente dos escritores e os inspirou a relatar as verdades divinas sem anular suas personalidades e individualidades. A perfeita Palavra de Deus foi escrita na imperfeita linguagem humana.  Vamos abordar também algumas discrepâncias numéricas.

Em (2 Sm 10.18) diz que Davi matou 40.000 homens a cavalo, mas (1 Cr 19.18) diz que Davi matou 40.000 homens a pé. 
(Lc 18 35) diz que ao aproximar-se de Jericó foi a ocasião em que Jesus curou o cego, mas (Mc 10.46) diz que nessa ocasião Jesus estava saindo de Jericó. 
Em (Nm 25.9) diz que a praga matou 24.000 mortos, mas em (1 Co 10.8) diz que foram 23.000 mortos.
Em (1 Rs 4.26) diz que Salomão tinha 40.000 cavalos em estrebaria, mas em (2 Cr 9.25) diz que ele possuía 4.000 cavalos em estrebaria. 
Em (Sm 24.24) diz que Davi pagou 50 ciclos de prata a Araúna, mas em (1 Cr 21.25) diz que 600 ciclos de ouro foi o preço pago a Araúna. 
Em (2 Sm 24.9) diz que em Israel durante o levantamento do censo realizado por Joabe a mando de Davi havia em Israel 800.000 homens de guerra e em Judá 500.000, mas em (1 Cr 21.5) havia em Israel 1.100.000 homens de guerra e em Judá 470.000.
Em (Mt 28.5) lemos que um anjo falou às mulheres que seguiam a Jesus e foram até o Seu túmulo sobre Sua ressurreição, mas em (Lc 24.4) lemos que eram dois varões com vestes resplandecentes.

Agora surge a pergunta: As imprecisões numéricas e os erros gramaticais implicam na inerrância da Bíblia Sagrada como a infalível Palavra de Deus? Obviamente que não! Claro que Deus poderia fazer com que nenhuma imprecisão numérica ou equívoco gramatical fizesse parte da Bíblia, mas o propósito de Deus foi garantir a infabilidade da Bíblia como a infalível revelação de Sua vontade trazendo esta um relato fidedigno dos atos de Deus na história e uma clara revelação de Sua vontade.

Os algarismos em hebraico são muito parecidos e não é anormal que se confunda uns com outros, mas nada disso implica na veracidade, inerrância e infabilidade da Palavra de Deus. As verdades bíblicas são a norma pela qual todas as áreas do conhecimento devem ser testadas e toda ciência está sujeita à Palavra de Deus. As aparentes contradições entre a Bíblia e a ciência são, muitos vezes resultado de especulação, tendenciosidade ou de uma má compreensão tanto da Bíblia como da ciência. É um grave erro julgar a Palavra de Deus de acordo com padrões humanos quando, na verdade, toda a sabedoria humana está sob a autoridade da Palavra de Deus e deve ser por esta provada.

A leitura superficial das Escrituras inevitavelmente conduzirá a uma compreensão superficial das mesmas. A alta crítica estudado a Bíblia como uma literatura meramente humana.  A Bíblia apresenta a mensagem de salvação sem apresentar qualquer contradição doutrinária. Também apresenta profecias que se cumpriram com notável exatidão como as profecias de Daniel 2, 7 e 8 entre muitas outras.  A imperfeição e as limitações dos escritores bíblicos de forma alguma desautoriza a Bíblia como normatiza e inerrante Palavra de Deus e muito menos implica em sua veracidade e sacrocidade. A inerrância e infabilidade da Bíblia Sagrada não implica em linguagem perfeita, mas em uma fidedigna revelação da vontade de Deus. Portanto, ao lermos e estudarmos a Palavra de Deus devemos ir com profunda humildade cristã e disposição para aprender o que Deus quer nos revelar: "Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente" (1 Co 2.14). A Palavra de Deus é fiel, a Bíblia é inerrante em seus ensinos e a Palavra de Deus nunca falha. Trataremos mais dessas aparentes contradições ou discrepâncias e suas soluções no livro de apoio desse comentário.

II. A Palavra de Deus é Infalível

Em 2 Timóteo 3.16, Paulo testifica da fidelidade, veracidade e infabilidade da Palavra de Deus afirmando que toda a Escritura é divinamente inspirada. A palavra grega para inspirada utilizada por Paulo é theopneustos que literalmente significa soprada por Deus ou proveniente do fôlego de Deus. A inspiração foi o processo através do qual Deus nos comunicou as Escrituras Sagradas. Nesse quesito a Bíblia se distingue de qualquer outro livro religioso como o Alcorão, Livro de Mórmon, Vedas, Avestá, Cabala, Livro dos Médiuns e qualquer outro livro supostamente sagrado.  Deus inspirou a mente dos homens separados, escolhidos por Ele (2 Pe 1.21) e através dessa inspiração lhes comunicou verdades espirituais que eles escreveram o que viram e ouviram e assim foi consolidada as Escrituras Sagradas.

Os diferentes estilos literários e cultura dos autores bíblicos revelam que Deus lhes comunicou essas verdades e eles as descreveram em sua própria linguagem humana. O profeta era, em outras palavras a boca de Deus, mas falava na sua própria linguagem humana e utilizando aspectos de sua cultura para comunicar essas revelações. Isso é evidente quando notamos na Bíblia a diversidade de estilos e termos que aparecem na Bíblia refletindo a diversidade cultural de seus autores. Os escritores bíblicos foram os instrumentos de Deus e não sua pena, por isso a linguagem bíblica não é a maneira de Deus se expressar, mas a maneira humana. Mas, isso de forma alguma implica na veracidade das Escrituras Sagradas, uma vez que as declarações desses homens são revelações do próprio Deus. Os dez mandamentos foram escritos diretamente pelo próprio Deus em tábuas de pedra duas vezes (Êx 31.18; Êx 32.16; Dt 10.2-4) e Moisés copiou esses mandamentos na Torah (Êx 20.3-17; Dt 5.7-21), mas as demais Escrituras Sagradas são resultado da revelação.

Assim como Jesus é uma combinação do Divino com o humano (Jo 1.14) o mesmo o ocorre com a Bíblia Sagrada, é uma combinação da revelação de Deus com a linguagem humana. Jesus é a Palavra encarnada e a Bíblia a Palavra escrita. Esse e outros fatores faz da Bíblia um livro absolutamente singular na literatura humana inclusive entre os livros religiosos. A Bíblia não é perfeita em sua linguagem humana, mas é perfeita em sua mensagem divina.

III. A Palavra de Deus é Suficiente

Como cristãos cremos na totalidade e suficiência das Escrituras assim como cremos na inerrância, infabilidade, perfeição, confiabilidade e inspiração da mensagem do Evangelho presente em toda a mensagem bíblica.  Em caminho na estrada para a aldeia chamada Emaús Jesus apareceu aos discípulos e propositalmente de uma forma que eles não o conheceram (Lc 24.1-4) e os discípulos narraram-lhe os últimos eventos e manifestaram seu grande desapontamento, pois acreditavam que Jesus seria um rei político e militar terrestre que reinaria sobre Jerusalém libertando-os do jugo romano (Lc 24.5-24). Nesse ínterim Jesus poderia ter-se dado a conhecer, mas em vez de firmar a fé dos discípulos na evidência do milagre de Sua ressurreição encaminhou a mente dos discípulos às Escrituras Sagradas dizendo: "Ó néscios e tardos de coração para crer em tudo o que os profetas disseram!  Porventura, não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória? E, começando por Moisés, discorrendo por todos os Profetas, expunhá-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras" (Lc 24.25-26).
Nesse claro texto algumas coisas ficam evidentes: 

1. Jesus encaminha a mente dos discípulos não a sinais e milagres, mas às Escrituras como regra de fé, prática e doutrina.
2. Jesus utilizou da totalidade das Escrituras de Seus dias.
3. Jesus demonstrou a suficiência das Escrituras para evidenciar a direção de Deus nos acontecimentos, para explicar as profecias e tratar de doutrinas, nesse caso da doutrina da Sua ressurreição.
4. Jesus deixou claro o caráter sagrado das Escrituras.
5. Jesus mostrou que as profecias se cumprem mostrando que a Bíblia Sagrada não é um livro qualquer.
6. Jesus revelou a hermenêutica bíblica permitindo que a Bíblia fosse sua própria intérprete. Jesus deixou as Escrituras a si mesmas se explicarem comparando os diversos textos que tratam de Sua ressurreição.

Os discípulos relataram que as palavras de Jesus quando Este lhes expunha as Escrituras lhes ardia o coração (Lc 24.32) [Almeida Revista e Atualizada], ou seja, a pregação de Jesus não era pregação coaching, pregação motivacional de caráter emocional, mas uma pregação expositiva e cristocêntrica, pois expunha as Escrituras e estar testificam de Jesus como sua mensagem central (Jo 5.39). Se o pregador quer alcançar o coração das pessoas com o mesmo êxito que Jesus o fez deve pregar a Bíblia como Jesus pregou.

Em outra ocasião, durante Seu ministério público Jesus pregou às Escrituras e mostrou como estas profetizaram Seu ministério (Lc 4.16-21). Nessa ocasião novamente Jesus deixa claro a suficiência das Escrituras. Religiosos nessa ocasião que processavam ser o povo de Deus guardador de Seus mandamentos se encheram de ira e tentaram assassinar Jesus expulsando-o da sinagoga e o precipitando de um penhasco (Lc 4.28-30). Mas Jesus foi livrado deles. No deserto da tentação Jesus deixou claro que além da suficiência das Escrituras Sagradas também aplicam-se no auxílio contra a tentação e a vitória sobre o pecado (Mt 4.1-10; Mc 1.12-13; Lc 4.1-13). Assim como Jesus e tendo Ele como nosso exemplo cremos com toda a firmeza e convicção na suficiência das Escrituras Sagradas como regra de fé e prática contendo o conhecimento necessário à salvação, guia infalível de Sua vontade, o revelador de doutrinas e o relato fiel dos atos de Deus na história.

Conclusão

O Espírito Santo separou, preparou e capacitou certas pessoas para que recebessem e transmitissem as verdades divinas. O Espírito Santo não os escolheu por causa ideia talentos naturais, mas dotou essas pessoas de capacidade e as santificou para esse propósito, essas pessoas assim como nós e sujeitos às metas fraquezas e tentações como nós (Tg 5.17-18), assim como nós necessitavam continuamente da graça de Deus e de levar uma vida de vigilância e oração. 

Jesus não escreveu nada na Palavra de Deus, assim como João Batista e outros grandes homens de Deus nada escreveram na Palavra de Deus de modo que os que participaram no trabalho da transmissão escrita da Palavra de Deus nenhuma vantagem ou privilégio tinham em relação aqueles que transmitiram a Palavra de Deus oralmente. Por outro lado, a transmissão escrita é igualmente importante porque é um registo que pode e deve ser lido diariamente (Dt 17.19; At 17.11). Esses homens e mulheres de Deus, as vezes recebiam sonhos e visões (Nm 12.6) e, em outras ocasiões, Deus se manifestava a eles de forma audível (1 Sm 9.15; 1 Sm 16.7). João e Paulo receberam visões celestiais acompanhadas de instruções orais (2 Co 12.1-4; Ap 1-5).

Através dessas mensagens Deus comunicou Sua vontade em linguagem humana.  A Bíblia Sagrada é o livro mais importante já escrito e muitas vezes não é tão valorizado. O clero restringiu sua leitura e interpretação somente aos sacerdotes e com o advento da Reforma Protestante, a Liberdade de Expressão, Liberdade de Imprensa e as Sociedades Bíblicas temos o enorme privilégio de ter em mãos este livro sagrado singular, único de sua espécie. Cabe a nós levar nossa nação e nossa igreja de volta à Bíblia promovendo um verdadeiro reavivamento e reforma espirituais. Nunca na história houve um legítimo reavivamento e reforma espiritual sem a Palavra de Deus. Onde a Bíblia é negligenciada há apostasia e ruína e a Revolução Francesa deixa isso evidente.  Que Deus nos abençoe nessa grandiosa obra!

Recomendação de Leitura da Semana: RIBEIRO, Anderson. A Mensagem de Cristo. São Paulo: Evangelho Avivado, 2020.


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