Comentarista: Henrique Lins
Texto Bíblico Base Semanal: Neemias 4.1-23
1. E sucedeu que, ouvindo Sambalate que edificávamos o muro, ardeu em ira, e se indignou muito; e escarneceu dos judeus.
2. E falou na presença de seus irmãos, e do exército de Samaria, e disse: Que fazem estes fracos judeus? Permitir-se-lhes-á isto? Sacrificarão? Acabá-lo-ão num só dia? Vivificarão dos montões do pó as pedras que foram queimadas?
3. E estava com ele Tobias, o amonita, e disse: Ainda que edifiquem, contudo, vindo uma raposa, derrubará facilmente o seu muro de pedra.
4. Ouve, ó nosso Deus, que somos tão desprezados, e torna o seu opróbrio sobre a sua cabeça, e dá-os por presa, na terra do cativeiro.
5. E não cubras a sua iniqüidade, e não se risque de diante de ti o seu pecado, pois que te irritaram na presença dos edificadores.
6. Porém edificamos o muro, e todo o muro se fechou até sua metade; porque o coração do povo se inclinava a trabalhar.
7. E sucedeu que, ouvindo Sambalate e Tobias, e os árabes, os amonitas, e os asdoditas, que tanto ia crescendo a reparação dos muros de Jerusalém, que já as roturas se começavam a tapar, iraram-se sobremodo,
8. E ligaram-se entre si todos, para virem guerrear contra Jerusalém, e para os desviarem do seu intento.
9. Porém nós oramos ao nosso Deus e pusemos uma guarda contra eles, de dia e de noite, por causa deles.
10. Então disse Judá: Já desfaleceram as forças dos carregadores, e o pó é muito, e nós não poderemos edificar o muro.
11. Disseram, porém, os nossos inimigos: Nada saberão disto, nem verão, até que entremos no meio deles, e os matemos; assim faremos cessar a obra.
12. E sucedeu que, vindo os judeus que habitavam entre eles, dez vezes nos disseram: De todos os lugares, tornarão contra nós.
13. Então pus guardas nos lugares baixos por detrás do muro e nos altos; e pus ao povo pelas suas famílias com as suas espadas, com as suas lanças, e com os seus arcos.
14. E olhei, e levantei-me, e disse aos nobres, aos magistrados, e ao restante do povo: Não os temais; lembrai-vos do grande e terrível Senhor, e pelejai pelos vossos irmãos, vossos filhos, vossas mulheres e vossas casas.
15. E sucedeu que, ouvindo os nossos inimigos que já o sabíamos, e que Deus tinha dissipado o conselho deles, todos voltamos ao muro, cada um à sua obra.
16. E sucedeu que, desde aquele dia, metade dos meus servos trabalhava na obra, e metade deles tinha as lanças, os escudos, os arcos e as couraças; e os líderes estavam por detrás de toda a casa de Judá.
17. Os que edificavam o muro, os que traziam as cargas e os que carregavam, cada um com uma das mãos fazia a obra e na outra tinha as armas.
18. E os edificadores cada um trazia a sua espada cingida aos lombos, e edificavam; e o que tocava a trombeta estava junto comigo.
19. E disse eu aos nobres, aos magistrados e ao restante do povo: Grande e extensa é a obra, e nós estamos apartados do muro, longe uns dos outros.
20. No lugar onde ouvirdes o som da buzina, ali vos ajuntareis conosco; o nosso Deus pelejará por nós.
21. Assim trabalhávamos na obra; e metade deles tinha as lanças desde a subida da alva até ao sair das estrelas.
22. Também naquele tempo disse ao povo: Cada um com o seu servo fique em Jerusalém, para que à noite nos sirvam de guarda, e de dia na obra.
23. E nem eu, nem meus irmãos, nem meus servos, nem os homens da guarda que me seguiam largávamos as nossas vestes; cada um tinha suas armas e água.
Momento Interação
As oposições à reconstrução estavam chegando com Sambalate e Tobias que zombavam e menosprezavam todo trabalho que se estavam fazendo. A intenção era humilhar o povo para fazê-los desanimar de todo trabalho e não lutarem pelo que estavam fazendo. Os três primeiros versos narram essa reação deles que estavam movidos de inveja e, com forte preconceito, os chamavam de fracotes, como se eles não estivessem também em cativeiro. A diferença era que os judeus acreditavam em seu líder e estavam disposto a trabalhar e enfrentar qualquer oposição. Eles além do líder que era muito bom, tinham o apoio de toda a comunidade e o apoio real. Eles jamais iriam recuar, mas teriam de enfrentar forte oposição. Neemias (Ne 4.4,5) vai então fazer uma de suas três orações (Ne 6.14; 13.29) imprecatórias neste livro pedindo que maldições justas caíssem sobre os seus inimigos. Elas somente eram feitas em situações extremadas de enfrentamento do inimigo (Sl 79.12; 94.1-3; 137.7-9). No entanto, orações similares devem ser entendidas no contexto de guerra santa do Antigo Testamento e devem ser contrabalançadas com bondade e misericórdia para com outros (Mt 5.43,45; Rm 12.14-21).
Introdução
Neemias aqui está reconstruindo os muros com a participação de todo o Israel e ainda enfrentando algumas oposições. A cidade é constituída de um muro ao redor no qual há diversas portas. Os reparos começaram na Porta das ovelhas, seguiram no sentido anti-horário até retornarem à Porta das Ovelhas, novamente. Jesus Cristo, o Messias esperado, aquele que entraria nessa cidade que estava sendo reconstruída por Neemias e todo povo de Deus, ele mesmo se chamou de a Porta das Ovelhas! O assunto das portas dos muros sendo restaurados aqui, em Neemias 3, e as portas da Nova Jerusalém e o fato de Jesus ser a Porta das Ovelhas merece, de nossa parte, uma dedicação maior ao assunto a fim de estudá-lo adequadamente partindo agora do capítulo 4 até o capítulo 6.
I. Os Inimigos da Obra de Jerusalém (Ne 4.1-23)
As oposições à reconstrução estavam chegando com Sambalate e Tobias que zombavam e menosprezavam todo trabalho que se estavam fazendo. A intenção era humilhar o povo para fazê-los desanimar de todo trabalho e não lutarem pelo que estavam fazendo. Os três primeiros versos narram essa reação deles que estavam movidos de inveja e, com forte preconceito, os chamavam de fracotes, como se eles não estivessem também em cativeiro. A diferença era que os judeus acreditavam em seu líder e estavam disposto a trabalhar e enfrentar qualquer oposição. Eles além do líder que era muito bom, tinham o apoio de toda a comunidade e o apoio real. Eles jamais iriam recuar, mas teriam de enfrentar forte oposição.
Neemias (vs 4 e 5) vai então fazer uma de suas três orações (Ne 6.14; 13.29) imprecatórias neste livro pedindo que maldições justas caíssem sobre os seus inimigos.
Elas somente eram feitas em situações extremadas de enfrentamento do inimigo (Sl 79.12; 94.1-3; 137.7-9). No entanto, orações similares devem ser entendidas no contexto de guerra santa do Antigo Testamento e devem ser contrabalançadas com bondade e misericórdia para com outros (Mt 5.43,45; Rm 12.4-21). Jesus não nos ensinou a vingar, nem buscar a morte de nossos inimigos ou a maldição deles, mas tudo a Deus entregar que está vendo tudo e a ele pertence toda a vingança, como está escrito: “Ora, nós conhecemos aquele que disse: A mim pertence a vingança; eu retribuirei. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo”. (Hebreus 10:30). Eles oraram, mas não esperaram acontecer algo, junto com a oração a ação correspondente de trabalho e muito trabalho. A obra prosseguia firme e já até a metade o muro tinha se fechado (vs 6).
Nos versos 7 e 8 outros grupos se juntam a Sambalate e a Tobias, e aos outros opositores das obras de Deus, quais sejam os arábios, amonitas. O novo grupo que a eles se ajuntou agora eram os homens de Asdode, os asdoditas. Neemias agora estava completamente cercado desses opositores, uma vez que Asdode ficava a oeste de Jerusalém. Eles ficaram deveras irados com as boas notícias que vinham das construções e que já se começavam a fechar até as brechas dos muros. Nesse momento sobressai um grande desânimo em Judá por causa dos escombros e desses opositores. No verso 11 vemos que agora eles ameaçavam era de morte os que nos muros trabalhavam. Iriam ali se infiltrarem apenas para matar os trabalhadores.
Era uma espécie de guerra psicológica procurando mesmo enfraquecer e desanimar todo o povo de Deus.
A atitude do homem de Deus, Neemias, foi então colocar guardas e vigias para estarem atentos às ameaças dos inimigos e assim transmitirem paz e segurança aos trabalhadores já desanimados mesmo de tanto trabalho necessário. Assim, em meio às ameaças crescentes, os trabalhadores empunhavam armas pela primeira vez depois do exilio. Neemias também não cessava de fortalecê-los com palavras e exemplos., chamando a atenção de todos que o Senhor estaria ali com eles, por isso não deveriam temer nada.
II. A Exortação de Neemias (Ne 5.1-19)
A especulação financeira, possivelmente acompanhada de juros excessivos, tornou a situação insuportável. Quando alguns dos devedores não conseguiam pagar suas dívidas, seus filhos eram tomados como escravos (v. 5). A estrutura econômica e social estava à beira de um colapso. A situação deles não era nada fácil e logo começaram a clamar e até as suas mulheres (vs 1) começaram a clamar contra os judeus, seus irmãos. Havia uma crise instalada denotando um grande problema dentro da comunidade, e não fora. Havia um grupo – vs 2 - , provavelmente constituído de pessoas que não tinham terras, que por causa do seu trabalho não remunerado para reconstruir o muro, não tinham dinheiro suficiente para comprar alimentos para suas famílias numerosas. Eles pediam apenas o trigo suficiente para não morrerem de fome nem eles nem seus familiares.
Havia ainda outro grupo (vs 3), constituído de donos de terras cujos campos haviam sido provavelmente negligenciados, por causa, entre outros motivos, do trabalho deles no muro. Em decorrência disso, se voltavam para outros para comprar cereais, mas não tinham dinheiro para pagar por eles. Em resultado, haviam hipotecado suas propriedades para comprar o trigo necessário. Sabemos que a crise era feia em Judá e que muitas vezes, a escassez de alimentos era um sinal do julgamento de Deus (Dt 11.16,17; 1 Cr 21.12; Ag 1.7-11). Talvez essa fome tenha sido um julgamento de Deus por causa das ações e do comportamento injusto dos líderes. O que Neemias enfrentava ali como líder não era nada fácil. Até os inimigos do lado de fora eram muito mais fáceis de serem enfrentados do que a crise interna econômica que se alargava ainda mais.
Havia ainda outros grupo constituído de proprietários de terras que, por falta de renda, não tinham como pagar os impostos devidos ao rei persa. Para solucionarem o problema tomaram dinheiro emprestado para pagar os tributos. O resultado de tudo isso para esses três grupos era a escravidão. De acordo com Levítico 25.39-43, um homem que ficava pobre podia vender a si mesmo, juntamente com a sua família, para um outro israelita a fim de recuperar a sua estabilidade financeira. Devia ser tratado como um trabalhador contratado, e não como escravo. Neemias ficou a par de tudo o que acontecia e muito se aborreceu (vs 6) com os fatos, pelo que repreendeu severamente os nobres e tomou uma medida ousada. Ele os chamou de usurários e neles acabou se incluindo. Ao que parece, tudo indica que Neemias havia contribuído para o problema ao fazer empréstimos a juros, talvez por simples descuido (Ne 1.6,7). Finalmente no verso 10, Neemias, arrependido, sugere e todos acatam, que fossem literalmente perdoados todos empréstimos.
III. A Conclusão da Obra em Jerusalém (Ne 6.1-19)
Neemias aqui está tratando do último estágio das oposições enfrentadas (cap. 2; 4; 5 e agora no 6) e o muro está perto de sua conclusão. Sambalate, novamente, e Tobias, Gesem, o árabe, e o resto dos nossos inimigos novamente é citado como tendo ouvido que a obra de reconstrução dos muros estava muito adiantada, inclusive com as suas brechas tampadas, faltando apenas agora a coloção das portas. O fato é que essa frase “tendo ouvido...” dá continuidade à série de frases semelhantes e procura trazer o leitor de volta ao assunto principal de Ne 1.1-7.3, do qual as oposições internas do capítulo 5.1-19, foi uma digressão.
O conflito se intensifica até chegar ao seu clímax quando o muro está praticamente pronto. A última tentativa de interromper o trabalho tem três objetivos:
(1) fazer mal (vs. 2-4).
(2) amedrontar (vs. 5-9).
(3) desacreditar (vs. 10-13).
O mesmo está tentando Satanás fazer com a evangelização, com a entrega da mensagem de Deus, que não pode ser de jeito nenhum aprisionada. Ali, ele procurava atingir Neemias; hoje, tenta atingir cada crente na face da terra, pois sabe que a obra que Deus colocou nas suas mãos não pode ser impedida, mas ele sempre tentará. Quando Jesus Cristo subiu aos céus, levou cativo o cativeiro, e deu dons aos homens (Ef 4.8) e, tendo despojado os principados e potestades, os exibiu publicamente e deles triunfou na mesma cruz (Cl 2.15). Agora, todo o poder lhe foi entregue e ele sabe disso que pouco tempo lhe resta e ele irá perseguir os filhos da mulher procurando impedir a obra de Deus – agora, não a reconstrução dos muros da cidade – a proclamação da Palavra de Deus. Veja o que diz o texto de Mateus, o último capítulo, quando Jesus fala aos seus discípulos e a nós.
Sabendo disso, ele procura fazer mal, amedontrar e desacreditar os evangelistas. Ele pode até tentar fazer calar e aprisionar os corpos de Paulos e Silas, mas somente aprisionará os seus corpos, pois a Palavra de Deus não pode ser aprisionada jamais. Sambalate estava intencionalmente decidido a matar e a parar a obra que Neemias empreendia, por isso tanto insistia com ele para que atendesse aos seus chamados persistentes. Neemias sempre lhe dava a mesma resposta e dizia estar ocupado com a reconstrução e que não haveria motivos para ir até ele. Se o muro estava sendo reconstruído, Judá tinha um histórico de rebelião contra os seus governantes e, ainda, Neemias era um líder de grande competência que amava a sua terra natal, o temor e a acusação deles de revolta era bem plausível, por isso que insistiam nisso. No entanto, era a inveja o que mais os motivava a procurar desanimá-los e mesmo subjugá-los.
Por fim, pela quinta vez, Sambalate envia o seu moço com uma carta aberta, não selada – toda carta naquela época costumava ser selada. O propósito da carta era, a primeira vista, atemorizar o povo. Na verdade, porém, tinha como objetivo maior impedir que a reconstrução do muro fosse concluída. Neemias em mais uma das suas curtas orações pede a Deus que fortaleça a sua mão para justamente continuar a obra que tanto tentavam impedir. Quem dera fôssemos assim com a obra que temos de fazer de evangelização no mundo todo!
A despeito de todas as provocações e ameaças, Neemias permaneceu firme em seu propósito e a reconstrução é concluída. Apesar da forte oposição, o muro ao redor de Jerusalém foi completado com sucesso. Na verdade, esse versículo constitui a conclusão da seção anterior iniciada no v. 1, com o v. 16 introduzindo o episódio final de Neemias 1.1-7.3. As últimas seis tentativas de interromper o trabalho haviam fracassado. A conclusão da obra se deu em 25 de elul, após 52 dias (4 x 13 dias) de grande trabalho e concentração, aproximadamente em agosto-setembro de 445 a.C. A frase “ouvindo-o todos os nossos inimigos” gera uma expectativa nos leitores de mais conflito, mas, em vez disso, Neemias prossegue relatando a resolução do caso: os inimigos cessaram suas tentativas de interromper o trabalho.
Conclusão
Nada melhor do que uma grande obra sendo concluída na presença do Senhor. Até os seus inimigos reconheceram que realmente não foi uma tarefa simples terminar toda aquela obra de reforma dos muros em menos de dois meses. Foram oposições externas e internas que os obrigaram a trabalhar com uma mão e porem mãos às armas com a outra. Com um olho fechavam as brechas do muro e os reparavam e com o outro vigiavam o inimigo. Sem dúvida, a obra foi reconhecida como um milagre de Deus, que tinha infundido tal confiança e persistência nos trabalhos dos judeus. Deus está nesse negócio e o melhor a fazermos – posso dizer que pensavam assim os seus inimigos, é respeitarmos essa grande obra! Em breve, muito breve, o Messias estaria por ali, naquela cidade, naquele templo.
Sugestão de Leitura da Semana: SANTOS, Matheus. O Viver do Cristão. São Paulo: Evangelho Avivado, 2019.
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