Por Leonardo Pereira
O surgimento do chamado pentecostalismo moderno – porque houve algumas manifestações do tipo pentecostal em outros séculos da história da Igreja - surgiu nos primeiros anos do século XX, exatamente a partir de 1901, em diferentes pontos dos EUA. Houve uma primeira manifestação no estado do Kansas, na cidade de Topeka, mas o que deu realmente notoriedade e fama para o movimento pentecostal inicial e o que começou a torná-lo um movimento internacional foi o famoso Avivamento da Rua Azusa , em Los Angeles, em 1906. Esse episódio se deu sob a liderança de um pastor negro chamado William Seymour . Como tinham pessoas de muitas etnias e nacionalidades participando deste avivamento da Rua Azusa, isso contribuiu para a rápida difusão do movimento, não só nos Estados Unidos, mas em outros países. Tanto é que, quatro anos depois, o pentecostalismo chegou no Brasil. No entanto, dentro de pouco tempo, houve outra cidade dos Estados Unidos que se tornou um grande centro do movimento pentecostal: Chicago.
O Começo do Pentecostalismo no Brasil
Aqui, no Brasil, o movimento começou em 1910, com a Igreja Congregação Cristã no Brasil, através de um pregador chamado Luigi Francescon , o pioneiro pentecostal no Brasil. No ano seguinte, em 1911, chegou o segundo grupo, Assembleia de Deus. Francescon baseou suas atividades em São Paulo, e a Assembleia de Deus, em Belém do Pará. Daniel Berg e Gunnar Vingren , dois missionários suecos que tinham sido batistas e depois se tornaram pentecostais, foram os fundadores da Assembleia de Deus no Brasil. Isso significa que essas duas igrejas agora estão completando seu centenário. Segundo Paul Freston , um sociólogo muito conhecido nos meios evangélicos e um grande estudioso do protestantismo brasileiro, há três ondas, três períodos de implantação do pentecostalismo no Brasil. A primeira onda é representada por essas duas igrejas antigas. A segunda onda é dos anos 40 e 50, quando o pentecostalismo se tornou mais urbano, e surgiram igrejas como a do Evangelho Quadrangular , a Igreja Pentecostal o Brasil para Cristo e, um pouco depois, a Igreja Deus é amor . E a partir dos anos 70, a terceira onda, que é o neopentecostalismo, começou com a Igreja Universal do Reino de Deus, de Edir Macedo , que foi fundada em 1977, no Rio de Janeiro. Outras dessa onda são a Igreja Internacional da Graça de Deus e a Igreja Mundial do Poder de Deus ; inclusive os nomes são muito parecidos.
A Expansão Pentecostal no Brasil
Ao longo dos últimos cem anos, a expansão pentecostal no país contribuiu para transformar o campo religioso brasileiro, para consolidar o pluralismo religioso e para constituir um mercado religioso competitivo no país. O pentecostalismo é um movimento religioso muito diversificado internamente, marcado por grande pluralidade teológica, litúrgica, estética, organizacional (modelos de governo eclesiástico distintos) e comportamental. Pode-se afirmar que há, na verdade, múltiplos pentecostalismos. Portanto, não há uma igreja representativa de seu conjunto. Por outro lado, em termos de sua amplitude demográfica, a Assembleia de Deus ocupa uma posição privilegiada, uma vez que concentrava 47,5% dos pentecostais brasileiros em 2000, segundo os dados do Censo Demográfico do IBGE.
Mas, dividida em duas grandes convenções nacionais, a Assembleia de Deus apresenta grande variação interna nos planos doutrinário, eclesiástico, dos usos e costumes, da relação com os meios de comunicação de massa e com a política partidária. Isso se deve, em parte, à sua ampla distribuição geográfica pelo país, à sua composição em diferentes ministérios dotados de relativa autonomia e às idiossincrasias de suas lideranças pastorais locais. Em suma, a própria Assembleia de Deus contém enorme diversidade interna, variando dos que se mantêm apegados aos velhos usos e costumes de santidade pentecostal e se opõem à instrumentalização política da igreja e dos fiéis aos novos defensores da Teologia da Prosperidade, e daí por diante.
Qual é a igreja que melhor representa hoje a proposta pentecostal?
Vários fenômenos têm contribuído, em maior ou menor medida, para o crescimento pentecostal desde meados do século passado. No plano jurídico, a separação entre Estado e igreja e a garantia de liberdade religiosa permitiram a inserção e criação de novos grupos religiosos no país, bem como sua expansão e legitimação. O que, por sua vez, possibilitou a formação e consolidação do pluralismo e de um mercado religioso. Nos planos social e econômico, a enorme desigualdade social, a explosão da violência e da criminalidade urbana, as altas taxas de pobreza, a elevada proporção de lares monoparentais, chefiados por mulheres pobres, a precariedade da situação de grande parte dos trabalhadores no mercado de trabalho, sobretudo no informal, favorecem uma religião que tende a direcionar sua missão de salvação aos sofredores e desprivilegiados.
Não é à toa que o lema proselitista da Igreja Universal é "Pare de sofrer: Nós temos a solução". Nos planos cultural e religioso, a disseminada religiosidade popular, marcada por crenças e práticas de cunho mágico e taumatúrgico de matriz cristã, o elevado contingente de católicos não praticantes e a relativa fragilidade institucional da Igreja Católica, caracterizada pelo baixo número de vocações sacerdotais e de padres, facilitam o trânsito religioso e o trabalho evangelístico dos pentecostais. E, no campo político, os pentecostais têm sido demandados a participar da política partidária e influir na esfera pública por candidatos, partidos e governantes.
O Rumo da Igreja Pentecostal no Brasil
Sem incorrer em futurologia, pode-se afirmar que elas tendem a se acomodar crescentemente ao "mundo" que, retoricamente, tanto combatem, mas mantendo sempre certa defasagem, por conta de suas inclinações sectárias ancoradas no velho literalismo bíblico e numa moralidade sexual cristã de caráter tradicionalista. Tal adaptação, aliás, vem ocorrendo de forma acelerada desde os anos 50. Evidências disso existem aos montes, tais como a adoção proselitista dos meios de comunicação de massa, que antes eram considerados demoníacos, o paulatino abandono dos usos e costumes de santidade (antes biblicamente fundamentados e, por isso, sagrados), a incorporação dos ritmos e estilos musicais da moda, o ingresso na política partidária (proibido atualmente por poucas igrejas), a valorização positiva dos bens e riquezas materiais, como demonstra soberbamente a Teologia da Prosperidade, que vem se disseminando por boa parte do campo evangélico.
O aumento da escolaridade dos fiéis e das novas lideranças pastorais, por exemplo, tenderá a promover modificações nas relações entre o rebanho e seus pastores, de modo a reduzir as distâncias hierárquicas, e a incitar cada vez mais a busca por melhor formação teológica. Um dos caminhos prováveis que várias igrejas pentecostais deverão percorrer é o de diminuição do fervor missionário em favor da qualificação pastoral e de sua prédica, mais ao gosto das classes médias, tendendo, com isso, a assemelhar-se, um pouco, com denominações protestantes tradicionais. Tal opção, porém, tende a gerar cismas diversas, justificadas com o propósito de resgatar o fervor primitivo, romper com a erudição teológica, ou com um Evangelho de "muito saber", mas "frio" e de "pouco poder". Cismas que são importantes para tentar manter seu extenso recrutamento entre os mais pobres. Por várias razões, é provável também que seu crescimento diminua nas próximas décadas. Por enquanto, o terreno brasileiro para sua expansão é dos mais férteis.
O Legado do Pentecostalismo no Brasil
O pentecostalismo produziu transformações gigantescas no protestantismo brasileiro. Até o surgimento do pentecostalismo, o protestantismo era composto pelas chamadas igrejas tradicionais ou históricas da Reforma. A partir do pentecostalismo, houve uma mudança radical, primeiro um crescimento exponencial do protestantismo brasileiro por causa do crescimento pentecostal, e depois os pentecostalistas introduziram, no protestantismo brasileiro, inclusive nas igrejas históricas em maior ou menor grau, uma série de crenças e práticas que hoje influenciam bastante principalmente o chamado evangelicalismo brasileiro. As pregações ao ar livre, os cultos evangelistas com apelos fortemente emocionais, um novo estilo de música, as manifestações físicas, com pessoas levantando as mãos e batendo palmas, dizendo glória, aleluia etc., tudo isso é herança do movimento pentecostal.
No que diz respeito ao neopentecostalismo, essa explosão imensa representada por igrejas gigantescas, como a Igreja Universal do Reino de Deus e sua nova teologia, diferente do pentecostalismo tradicional, que é a Teologia da Prosperidade, trouxe todo um conjunto novo de valores e práticas que os pentecostais e os protestantes desconheciam até então. No protestantismo tradicional sempre houve uma extrema valorização da vida espiritual, das realidades transcendentais em contraste com as realidades do mundo material, que era considerado de menor importância para o crente. O neopentecostalismo defende que não tem problema em aceitar esse mundo, de querer ser rico e importante, porque isso é bênção de Deus.
O legado do pentecostalismo é misto. Ele trouxe contribuições valiosas, mas também trouxe elementos extremamente problemáticos e preocupantes para o protestantismo brasileiro, por exemplo, o personalismo, o culto da personalidade através desses líderes, que são quase que idolatrados por muitas igrejas e que fazem questão de criar entre seus fiéis uma profunda veneração por eles. São líderes como o Edir Macedo e o Estevam Hernandes , da Igreja Renascer em Cristo. A riqueza e o sucesso são apontados como provas da fidelidade a Deus e das benções de Deus sobre a vida das pessoas, criando uma espiritualidade individualista, egocêntrica, onde a pessoa só busca seus projetos e objetivos pessoais, deixando de lado os interesses da comunidade. No entanto, há coisas positivas também. Muita gente foi beneficiada pelo trabalho das igrejas pentecostais. Muitas famílias e comunidades foram transformadas.
Referências:
ALENCAR, Gedeon Freire de. Matriz Pentecostal Brasileira - Assembléias de Deus - 1911 a 2011. São Paulo: Editora Recriar, 2019.
ALVES, Eduardo Leandro. A sociedade Brasileira e o Pentecostalismo Clássico. Rio de Janeiro: CPAD, 2021.
ARAÚJO, Isael de. História do Movimento Pentecostal no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD,
DAMASCENO, Guilherme. Pentecostalismo Brasileiro. São Paulo: Editora Reflexão, 2018.
MARIANO, Ricardo. Neopentecostais: Sociologia do novo pentecostalismo no Brasil. São Paulo: Edições Loyola, 2019.
MATOS, Alderi. A Caminhada Cristã na História. Viçosa/MG: Editora Ultimato, 2005.
MATOS, Alderi. Os Pioneiros Presbiterianos do Brasil. São Paulo: Cultura Cristã, 2019.
SOARES, Esequias. O Pentecostalismo Brasileiro. Rio de Janeiro: CPAD, 2021.
PASSOS, João Décio. Pentecostais: origens e começo. São Paulo: Editora Paulinas, 2005.
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