Comentarista: Henrique Lins
Texto Bíblico Base Semanal: Mateus 10.24-42
24. Não é o discípulo mais do que o mestre, nem o servo mais do que o seu senhor.
25. Basta ao discípulo ser como seu mestre, e ao servo como seu senhor. Se chamaram Belzebu ao pai de família, quanto mais aos seus domésticos?
26. Portanto, não os temais; porque nada há encoberto que não haja de revelar-se, nem oculto que não haja de saber-se.
27.O que vos digo em trevas dizei-o em luz; e o que escutais ao ouvido pregai-o sobre os telhados.
28. E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo.
29. Não se vendem dois passarinhos por um ceitil? e nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai.
30. E até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados.
31. Não temais, pois; mais valeis vós do que muitos passarinhos.
32. Portanto, qualquer que me confessar diante dos homens, eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus.
33. Mas qualquer que me negar diante dos homens, eu o negarei também diante de meu Pai, que está nos céus.
34. Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada;
35. Porque eu vim pôr em dissensão o homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra;
36. E assim os inimigos do homem serão os seus familiares.
37. Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim.
38 E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim.
39. Quem achar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a sua vida, por amor de mim, achá-la-á.
40. Quem vos recebe, a mim me recebe; e quem me recebe a mim, recebe aquele que me enviou.
41. Quem recebe um profeta em qualidade de profeta, receberá galardão de profeta; e quem recebe um justo na qualidade de justo, receberá galardão de justo.
42. E qualquer que tiver dado só que seja um copo de água fria a um destes pequenos, em nome de discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão.
Momento Interação
Jesus pregou a maravilhosa mensagem da chegada iminente do reino. “Percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades entre o povo” (Mt 4.23). A palavra de Deus e a palavra do reino podem ser usadas indiferentemente. “A todos os que ouvem a palavra do reino e não a compreendem, vem o maligno e arrebata o que lhes foi semeado no coração. Este é o que foi semeado à beira do caminho” (Mt 13.19; Lc 8.11). Os discípulos são guiados pela “doutrina dos apóstolos” (At 2.42), porque Deus lhes deu a obra de ordenar a vontade do céu sobre os cidadãos do reino na terra (cf. Mt 18.18). E por essa razão, Jesus disse aos seus discípulos: “Assim como meu Pai me confiou um reino, eu vo-lo confio” (Lc 22.29).
Introdução
O Reino de Deus é basicamente o domínio, o reinado ou a soberania de Deus sobre tudo. A doutrina acerca do Reino de Deus permeia a Bíblia como um todo. Por isso é preciso entender que a expressão “Reino de Deus” traz um conceito bastante amplo, cujo significado e sentido devem ser compreendidos à luz do contexto de toda Escritura. As profecias acerca do Reino de Deus estão presentes desde o Antigo Testamento. Mas é no Novo Testamento que a mensagem sobre o Reino de Deus se desenvolve de uma forma ainda mais clara, principalmente sendo o tema mais frequente da pregação de Jesus. No Sermão do Monte, por exemplo, Jesus tratou explicitamente sobre a ética do Reino de Deus; bem como em suas parábolas ele ensinou sobre os princípios que caracterizam a natureza desse reino. Grande parte das parábolas de Jesus é introduzida com o objetivo de revelar algum aspecto do Reino de Deus (“E o Reino de Deus é como […]”).
O conceito do Reino de Deus pode ser trabalhado tanto de forma mais ampla quanto mais restrita; tanto em seu significado mais geral quanto mais específico. Como foi dito, seu significado geral fala do reinado eterno e soberano de Deus sobre tudo. Do começo ao fim a Bíblia mostra Deus como o rei supremo que governa todas as coisas (cf. Sl 103.19; 113.5; Dn 4.34,35; Mt 5.34; Ef 1.20; Cl 1.16; Hb 12.2; Ap 7.15). Já o Reino de Deus em seu significado mais restrito fala de tudo o que envolve a ação soberana de Deus na redenção de seu povo. Por isso inclui-se no conceito de “Reino de Deus” a obra de Cristo, a realidade presente da Igreja e as bênçãos da salvação, e a consumação de todas as promessas na bem-aventurança eterna no universo redimido.
Nesse sentido é impossível dissociar a ideia de salvação do conceito de Reino de Deus. A entrada no Reino de Deus expressa justamente a realidade de ser redimido por Cristo e habitado pelo Espírito Santo. Então ninguém pode entrar no Reino de Deus por seus próprios méritos. Os discípulos entenderam a intima conexão entre salvação e Reino de Deus. Quando Jesus disse que é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus, eles logo questionaram: “Então, quem pode ser salvo?” (Mc 10.25,26).
I. Os Sermões de Cristo
No cristianismo, o termo Cinco discursos de Mateus é uma referência a cinco discursos específicos proferidos por Jesus no Evangelho de Mateus. São eles: o "Sermão da Montanha", o "Discurso Missionário" (ou "da Missão"), o "Discurso das Parábolas", o "Discurso sobre a Igreja" e o "Discurso sobre o Fim dos Tempos". Estudiosos geralmente concordam com a existência de cinco diferentes discursos no Evangelho de Mateus, embora existam discussões e diferentes opiniões sobre detalhes específicos. No início do século XX, estudiosos tem argumentado que existem de fato cinco narrativas (mais um prólogo e um epílogo) em Mateus, enquanto outros defendem três grandes segmentos em Mateus nos quais os cinco discursos se desenrolam. Cada um dos discursos tem também paralelos, mais curtos, nos evangelhos de Marcos e Lucas. O primeiro se relaciona com Lucas 6.20-49. O segundo, com Marcos 67-13, Lucas 9.1-6 e Lucas 10.1-12. O trecho correspondente ao terceiro discurso é Marcos 4.3-34. O quarto está em Marcos 9.35-48 e o último, em Lucas 21.5-36 e Marcos 135-37.
Os cinco discursos
Sermão da Montanha
O primeiro discurso, que se estende pelos capítulos 5, 6 e 7, é chamado de "Sermão da Montanha" e é uma das mais conhecidas e citadas partes do Novo Testamento. Ele inclui as Bem-aventuranças e o Pai Nosso. Para a maior parte dos fieis, o Sermão da Montanha contém os principais pilares da fé cristã. As Bem-aventuranças são um elemento chave do sermão, na forma de "bençãos", Jesus apresenta um novo conjunto de ideais cristãos baseados no amor e na humildade e não na força e na obediência, ecoando os mais altos ideais da doutrina de Jesus sobre a misericórdia, espiritualidade e compaixão.
Discurso da Missão
O segundo discurso em Mateus 10 é uma instrução aos doze apóstolos e é, por vezes, chamado de "Discurso da Missão" ou "Discurso Missionário" ou ainda "Comissão Menor", num contraste com a mais famosa Grande Comissão. Direcionado aos doze nomeados em Mateus 10.2,3, Jesus aconselha-os sobre como viajar de cidade em cidade, a não levarem nada consigo e a pregarem apenas para comunidades israelitas. Ele pede ainda que tenham cuidado com os adversários, mas que não tenham medo, pois saberão o que dizer para se defender quando for necessário «porque o Espírito Santo vos ensinará naquela hora o que deveis dizer (Lc 12.12).
Discurso das Parábolas
O terceiro discurso, em Mateus 13, é uma reunião de diversas parábolas sobre o Reino dos Céus e é geralmente chamado de "Discurso das Parábolas" ou "Discurso Parabólico". A primeira parte do discurso, em Mateus 13.1-35, se passa quando Jesus deixa uma casa e se senta à beira de um lago para falar aos discípulos e à multidão que se aglomerou para ouvi-lo. Neste trecho estão O Semeador, O Joio e o Trigo, O Grão de Mostarda e O Fermento. Na segunda, Jesus volta para dentro da casa e fala apenas aos discípulos, um trecho que contém O Tesouro Escondido, A Pérola e A Rede.
Discurso sobre a Igreja
O quarto discurso, em Mateus 18, é geralmente chamado de "Discurso sobre a Igreja" e inclui as parábolas da Ovelha Perdida e do Credor Incompassivo, que também são referências ao Reino dos Céus. O tema geral do discurso é uma antecipação de uma futura comunidade de fieis e o papel dos apóstolos, que a liderarão. Falando aos seus apóstolos em Mateus 18.18, Jesus afirma que "tudo o que ligardes sobre a terra, será ligado no céu; e tudo o que desligardes sobre a terra, será desligado no céu". Este poder é dado primeiro a Pedro no capítulo 16 depois de sua confissão de fé. Além do poder de ligar e desligar, Pedro recebeu as chaves do Reino dos Céus e é considerado a "rocha" sobre a qual Cristo construiu sua Igreja. O discurso destaca a importância da humildade e do auto-sacrifício como virtudes elevadas na comunidade cristã e ensina que, no Reino de Deus, é a humildade das crianças que importa e não a proeminência social ou as aparências.
Discurso das Oliveiras
O discurso final, em Mateus 24, é geralmente chamado "Discurso das Oliveiras" por ter sido proferido no Monte das Oliveiras, "Discurso sobre o Fim dos Tempos" ou ainda como "Sermão profético" e corresponde aos capítulos Marcos 13 e Lucas 21. Ele trata basicamente do julgamento e da conduta esperada de um seguidor de Jesus, além da necessidade de vigilância destes seguidores em vista do iminente juízo que se aproxima. Jesus inicia o discurso depois de receber uma pergunta dos discípulos sobre o "fim dos tempos" (o "fim do mundo" e o início do mundo que virá), sua mais longa resposta à qualquer pergunta no Novo Testamento. O discurso é geralmente visto como sendo uma referência à destruição futura do Templo em Jerusalém e também ao fim do mundo e à Segunda Vinda de Cristo, mas muitas opiniões acadêmicas sobrepõem estes dois episódios e decidir qual versículo se refere ao qual evento permanece um tema complexo e discutível
II. As Parábolas de Cristo
‘Parábola’ é uma pequena narrativa que transmite lições de moral ou ensinamentos para a vida através de alegorias. Esse tipo de narrativa literária construída com figuras é muito comum nas sociedades orientais, e cada elemento da parábola é associado a um significado especifico. Na sua grande maioria, os ensinamentos de Jesus foram transmitidos através de parábolas, entretanto, as narrativas de Jesus não tinham por objetivo transmitir lições de ordem moral ou comportamental, e nem estabelecer uma filosofia de vida. Qual o motivo de Jesus fazer uso de parábolas? Era somente uma predileção do Mestre dos mestres? Tem relação com o gosto das pessoas, que preferiam ouvir boas estórias?
Jesus fez uso de parábolas ao ensinar o povo de Israel devido as profecias do Antigo Testamento, que vaticinava que o Cristo ensinaria utilizando especificamente esse recurso. “Abrirei a minha boca numa parábola; falarei enigmas da antiguidade” (Sl 78.2); “Para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta, que disse: Abrirei em parábolas a minha boca; Publicarei coisas ocultas desde a fundação do mundo” (Mt 13.35). Uma das maneiras que os filhos de Israel dispunham para identificar quem era o Cristo enviado de Deus, era observar qualquer dentre os seus irmãos que anunciasse as palavras de Deus por intermédio de parábolas, e comparar com o que foi predito pelos profetas.
Desde que Deus falou ao povo de Israel através do profeta Moisés, ficou evidente que Deus falava abertamente somente com Moisés, e com o restante do povo, Deus falava através de enigmas. “E disse: Ouvi agora as minhas palavras; se entre vós houver profeta, eu, o SENHOR, em visão a ele me farei conhecer, ou em sonhos falarei com ele. Não é assim com o meu servo Moisés que é fiel em toda a minha casa. Boca a boca falo com ele, claramente e não por enigmas; pois ele vê a semelhança do SENHOR; por que, pois, não tivestes temor de falar contra o meu servo, contra Moisés?” (Nm 12.6-8). O motivo de Jesus fazer uso de parábolas é bem claro: “E neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz: Ouvindo, ouvireis, mas não compreendereis, E, vendo, vereis, mas não percebereis. Por isso lhes falo por parábolas; porque eles, vendo, não veem; e, ouvindo, não ouvem nem compreendem” (Mt 13.12,13).
III. As Exortações de Cristo
Na Bíblia exortar significa motivar alguém a seguir Jesus da maneira correta. Assim, dependendo da situação, exortar implica ensinar, aconselhar, consolar ou até repreender. Exortar significa motivar ou insistir com alguém para fazer algo. A Bíblia nos exorta a seguir Jesus e obedecer a Deus fielmente, sem desistir. A exortação ajuda a manter os olhos fixos no alvo. Os líderes têm uma responsabilidade especial de exortar a igreja. Como são mais maduros e conhecem mais da palavra de Deus, eles têm autoridade para exortar outros a viver de maneira que agrada a Deus (2 Tm 4.1,2). Mas a exortação não é trabalho exclusivo dos líderes. A Bíblia diz que os crentes devem exortar uns aos outros, para se fortalecerem e crescerem juntos na caminhada cristã (1 Ts 5.11). Exortar não é o trabalho de apenas uma ou duas pessoas na igreja; é o trabalho de todos. Precisamos partilhar nossa motivação.
O objetivo da exortação é ajudar outra pessoa a seguir Jesus fielmente, sem desistir (1 Ts 5.14). Isso pode ser feito de muitas maneiras mas o mais importante é o amor. A exortação deve ser feita com amor, e o desejo de ver o bem da pessoa, não para machucar nem forçar. Também é importante ter respeito. Insultar não é humilhar. Por isso, é bom pedir sabedoria a Deus para dizer a coisa correta para exortar da melhor maneira. Quem exorta também precisa estar aberto para ser exortado. A exortação ajuda a crescer e ficar mais maduro. Todos precisamos exortar e ser exortados.
Conclusão
Apesar de Deus governar todo o universo soberanamente de seu trono, por causa do pecado a humanidade caída se recusa a reconhecer o governo de Deus. Desde o início da história do mundo os ímpios têm se levantado em rebelião contra o Reino de Deus. Mas isso um dia isso chegará ao fim. O Reino de Deus durará para sempre e toda oposição a ele caíra em ruína. Mas segundo as Escrituras, tudo isso envolve um longo processo histórico. O compromisso com o Reino de Deus foi primeiramente guardado na linhagem piedosa de Sete, que culminou na obediência de Noé. Depois, num novo estágio, ele foi mantido com Abraão e sua descendência. Então é possível dizer que no Antigo Testamento a revelação do Reino de Deus limitava-se ao povo de Israel. Enquanto isso, as demais nações estavam em trevas e em completa rebelião contra Deus.
Mas havia um propósito muito mais amplo; o Reino de Deus não haveria de ficar restrito apenas ao povo de Israel. Aquele era somente um estágio temporário que daria lugar a um novo estágio, um estágio final e superior do Reino de Deus. Por isso os profetas profetizaram sobre a expansão do Reino de Deus sobre toda a terra, onde judeus e gentios haveriam de se juntar em total rendição e obediência a Deus, cujo reino jamais teria fim (cf. Gn 17.17-20; 18.18; 1 Cr 16.23-36; Sl 67; 97; Is 52.7-15; Ml 4; Rm 4.13-17).
Recomendação de Leitura da Semana: JUNIOR, Carlos Alberto. A Obra da Redenção. São Paulo: Evangelho Avivado, 2020.
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