Comentarista: Matheus Gonçalves
Texto Bíblico Base Semanal: Romanos 1.18-32
18. Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens, que detêm a verdade em injustiça.
19. Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou.
20. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis;
21. Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu.
22. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos.
23. E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis.
24. Por isso também Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si;
25. Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém.
26. Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza.
27. E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro.
28. E, como eles não se importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convêm;
29. Estando cheios de toda a iniqüidade, fornicação, malícia, avareza, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade;
30. Sendo murmuradores, detratores, aborrecedores de Deus, injuriadores, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais e às mães;
31. Néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural, irreconciliáveis, sem misericórdia;
32. Os quais, conhecendo o juízo de Deus (que são dignos de morte os que tais coisas praticam), não somente as fazem, mas também consentem aos que as fazem.
Momento Interação
Todo ser humano está envolvido num ambiente cultural. Mas toda cultura, por sua vez, carrega os efeitos do pecado após a Queda, de modo que só o Evangelho muda a cultura humana em seus aspectos que desagradam a Deus, e a redime de modo a proclamar a glória do Senhor. É verdade que muitos cristãos têm dúvida sobre qual deve ser o seu relacionamento com a cultura. Será que o crente deve se isolar culturalmente? Será que ele deve abraçar, sem reservas, a cultura de seu tempo e lugar? Ou será que deve haver uma abordagem equilibrada partindo do princípio de que o Evangelho muda a cultura humana?
Não é uma tarefa fácil apresentar uma definição do que é a cultura. Ao longo dos tempos centenas de definições já foram apresentadas. A dificuldade se dá pelo fato de a palavra cultura ser frequentemente empregada de forma muito ampla e com sentidos diferentes. A decadência cultural é inegável. Contudo, como cristãos devemos nos atentar a alguns princípios bíblicos sobre este assunto. Em primeiro lugar, precisamos saber que o mandato cultural é parte da aliança de Deus com a humanidade. O homem é a coroa da criação, e Deus lhe outorgou autoridade para dominar sobre ela. Isso, claro, implica no fato de que o desenvolvimento do conhecimento do homem, e o resultado dele em obras e realizações, são parte do propósito divino.
Introdução
Existem algumas ponderações importantes a serem feitas quanto ao tema em questão. Em primeira análise, ele pressupõe que um determinado grupo, os cristãos, possuem uma importância no momento em que estes “atuam” ou “exercem” algo naquilo que chamamos de sociedade. Em uma perspectiva Aristotélica, a pólis (cidade-estado) é o bem mais elevado, devido este ser originado pela reunião dos diversos grupos que, associados, resultam na sociedade. Se a noção do discípulo de Platão for virtuosa, o que acreditamos ser, de imediato categorizaríamos, a partir do tema, os cristãos como partícipes da pólis, porém, com alguma peculiaridade e capacidade que são pertinentes a estes. Diante disso, vale ressaltar na continuidade da prévia política em Aristóteles, que este afirma pejorativamente ser “bruto ou divino”, o homem incapaz de viver em sociedade. De imediato é trazido a nossa memória a relutância por parte de muitos ditos “evangélicos”, que não compreenderam sua real importância na sociedade, tendo suas vidas quase que transcendentais ou gnósticas, não podendo se contaminar com a matéria presente.
Em contrapartida, o nosso Santíssimo e Majestoso Senhor Jesus Cristo, rompe com todas as lógicas presentes na discursão do material e do imaterial, quando é concebido na barriga de uma mulher, mas gerado pelo Espírito Santo, e no momento do seu nascimento, crescimento e amadurecimento, este Homem Deus e Deus Homem vai ao encontro dos seres humanos presentes na cidade-estado e nos grupos da pólis aristotélica. O resultado disso? Uma atuação extraordinária dos atributos divinos no âmago social, seja pelo viés do amor, do perdão, da sabedoria, da compaixão, do poder, dos milagres, das curas, da restituição de uma vida sóbria, honesta e sã. Vale atentar que no caso em questão, ainda não estamos apreciando a atuação divina na redenção oriunda da cruz.
A partir do pano de fundo exposto no estudo sobre relacionamentos, notamos que nós, cristãos, discípulos e servos do nosso Mestre e Senhor Jesus, temos mais do que uma opção, temos um dever de ser como o nosso Mestre, de agir como o nosso Senhor, de seguir os seus passos, de sermos invadidos pela poeira dos seus pés. E nada melhor do que a compreensão de que tendo sido salvos pela atuação poderosa e graciosa do Espírito Santo, devemos agora como novas criaturas, viver e atuar significativamente na sociedade, a começar pelo levar as boas novas a todos os perdidos, anunciando a redenção presente na pessoa de Jesus Cristo, o caminho, a verdade e a vida. O Brasil, atualmente, é terreno sedento desta atuação cristã. Mais do que nunca se ouve o clamor popular por redenção. O problema é que este clamor por redenção é direcionado ao estado, ao dinheiro, a liberdade, e a tantas outras coisas. Categorizando de imediato uma idolatria pagã, onde seres humanos caídos colocam sua esperança em tudo o que não é Deus. Por isso, convido vocês para que a partir deste momento, sejam abertos os seus lábios para anunciar a única e verdadeira redenção encontrada na pessoa de Jesus Cristo, e vivendo a partir desta realidade, servir com amor o seu eu presente no seu próximo,
I. A Cultura Humana e os efeitos da Queda
Todo ser humano está envolvido num ambiente cultural. Mas toda cultura, por sua vez, carrega os efeitos do pecado após a Queda, de modo que só o Evangelho muda a cultura humana em seus aspectos que desagradam a Deus, e a redime de modo a proclamar a glória do Senhor. É verdade que muitos cristãos têm dúvida sobre qual deve ser o seu relacionamento com a cultura. Será que o crente deve se isolar culturalmente? Será que ele deve abraçar, sem reservas, a cultura de seu tempo e lugar? Ou será que deve haver uma abordagem equilibrada partindo do princípio de que o Evangelho muda a cultura humana?
Não é uma tarefa fácil apresentar uma definição do que é a cultura. Ao longo dos tempos centenas de definições já foram apresentadas. A dificuldade se dá pelo fato de a palavra cultura ser frequentemente empregada de forma muito ampla e com sentidos diferentes. Etimologicamente, a palavra cultura vem do latim e traz a ideia de “cultivar a terra” – que em sua raiz deriva de colere, “cuidar de”. O trabalho com o solo esteve entre as primeiras atividades desenvolvidas pela humanidade. Isso quer dizer que a agricultura não apenas serviu para desenvolver o conhecimento do homem no que diz respeito às atividades de cultivo, mas também a inúmeras outras atividades que tiveram lugar na história da raça humana.
Talvez por isso com o tempo a palavra cultura passou a ser empregada pelas pessoas para falar da ideia de “cultivar conhecimento”. Hoje, o conceito de cultura é extremamente complexo, e em seu sentido amplo abarca o resultado do conhecimento humano em todas as suas atividades. Então a cultura muitas vezes designa a soma das obras humanas tanto no que diz respeito à sua realização quanto no que diz respeito à sua apreciação. Isso obviamente inclui usos e costumes que refletem crenças e valores. Michael Horton define cultura como sendo “a atividade humana que intenciona o uso, prazer e enriquecimento da sociedade” (O Cristão e a Cultura). Num sentido mais estrito, a palavra cultura conserva esse seu conceito mais amplo, mas o aplica de forma mais específica para designar as características – adquiridas, desenvolvidas e transmitidas – que são próprias de um grupo social numa determinada época.
Há ainda uma sub categorização da cultura no o que é chamado de “cultura popular” – esporte, política, educação, gêneros populares de música e arte, diversão, etc. – e o que é chamado de “alta cultura” – ciência, música, literatura e artes clássicas, etc. A decadência cultural é inegável. Contudo, como cristãos devemos nos atentar a alguns princípios bíblicos sobre este assunto. Em primeiro lugar, precisamos saber que o mandato cultural é parte da aliança de Deus com a humanidade. O homem é a coroa da criação, e Deus lhe outorgou autoridade para dominar sobre ela. Isso, claro, implica no fato de que o desenvolvimento do conhecimento do homem, e o resultado dele em obras e realizações, são parte do propósito divino. Ao criar o homem à Sua imagem e semelhança, Deus comunicou à criatura certas capacidades de cumprir esse propósito. Sendo à imagem de Deus, o homem se parece com o Criador em certo sentido; ou seja, Deus lhe comunicou certas características que refletem algumas qualidades divinas. Portanto, a cultura humana era originalmente boa, visto que o homem foi colocado neste mundo para ser o representante de Deus; o refletor de Sua glória. Além disso, a Bíblia diz claramente que tudo quanto Deus criou era muito bom (Gênesis 1:28).
II. O Cristão e o Relacionamento com a Sociedade
temos que reconhecer que de fato a cultura humana está sob os efeitos da Queda do Homem. O pecado contaminou o homem em todos os sentidos. Embora tenha sido criado originalmente bom, por causa do pecado agora o homem é inclinado ao mal. Então todas as suas obras, atividades, costumes, crenças e valores carregam as marcas do pecado. O livro de Gênesis mostra isso muito claramente. Tão logo que a humanidade começou a se desenvolver, a cultura humana já era marcada por mentiras, assassinatos, imoralidades e outras coisas muito ruins (cf. Gn 4-6). Também precisamos admitir que nem todo resultado do conhecimento humano é mal. O pecado corrompeu a natureza humana e, consequentemente, sua cultura. Mas a imagem de Deus no homem não foi perdida – embora tenha ficado desfigurada. Por isso há coisas boas na cultura humana; coisas que resultam da graça comum de Deus para Suas criaturas; coisas que revelam a imagem de Deus no homem – ainda que não com nitidez – e que não afrontam o padrão moral de Deus.
Muitos cristãos ao longo dos tempos se posicionaram de forma totalmente contrária à cultura, criando um tipo de isolacionismo. Nesse grupo houve – e ainda há – a tentativa de estabelecer uma distinção rígida do que é supostamente sagrado e do que é supostamente secular. Outros, por sua vez, acabaram abraçando totalmente a cultura, aceitando elementos que claramente são contrários à Palavra de Deus sob o pretexto de serem apenas aspectos culturais. Obviamente ambos os posicionamentos estão errados e são perigosos. O primeiro está errado porque biblicamente não há essa distinção entre “sagrado” e “secular”. A Bíblia diz que “do Senhor é a terra e tudo o que nela existe, o mundo e os que nele vivem” (Sl 24.1). O apóstolo Paulo escreve que “tudo o que Deus criou é bom, e nada deve ser rejeitado, se for recebido com ação de graças, pois é santificado pela palavra de Deus e pela oração” (1 Tm 4.4,5).
Além disso, o mesmo apóstolo escreve que devemos glorificar a Deus em todas as coisas que fazemos em nossas vidas (1 Co 10.31). Aqueles que tentam separar artificialmente o sagrado do secular acabam criando uma sub cultura cristã que muitas vezes se mostra uma imitação patética do que eles chamam de “cultura secular”. Concordo com Michael Horton que diz que esse tipo de pressão para se criar versões “cristãs” de tudo no mundo, no fim é uma pressuposição de que realmente existe algo essencialmente errado com a Criação. Isso não deixa de ser uma desvalorização da obra de Deus na Criação? Já o segundo grupo que abraça tudo o que há na cultura também erra porque ignora que, de fato, o pecado atingiu totalmente a raça humana e aquilo que é produzido por ela. Essas pessoas tentam incorporar no Cristianismo todo e qualquer elemento cultural, adotam o relativismo e se tornam coniventes – e até propagandistas – de costumes, ideologias e atividades que transgridem a lei moral do Senhor. Por exemplo: cristãos que defendem o aborto e a legalização das drogas, cristãos que enxergam comportamentos imorais e desonestos como simples traços culturais que devem ser aceitos etc.
III. Só o Evangelho muda a Cultura Humana
Se os extremos são errados, o cristão deve lidar com a cultura de forma equilibrada, sempre mantendo em mente três verdades importantes: 1) tudo o que há no mundo pertence ao Senhor; 2) o pecado é uma realidade que afeta toda cultura humana; 3) só o Evangelho muda a cultura humana que carrega os efeitos do pecado. A Bíblia diz que este mundo jaz no maligno (1 João 5:19). Também diz que Satanás é o deus deste século que segou o entendimento dos incrédulos (2 Coríntios 4:4). Porém, ele não é o dono do mundo; ele não age de forma autônoma na criação. Deus é o dono de tudo, de modo que nada acontece além da vontade divina. Satanás não passa de um usurpador que tem atuado temporariamente neste mundo dentro dos limites estabelecidos por Deus. Então em sua rebelião contra Deus, ele tem influenciado a cultura humana desvirtuada pelo pecado.
Mas os verdadeiros cristãos são os agentes transformadores da cultura deste mundo. Eles são chamados para ser sal da terra e luz do mundo (Mt 5.13,14). Eles possuem a mente de Cristo e pelo poder do Espírito Santo a imagem de Deus neles passa a ser restaurada (cf. 1 Co 2.16; Ef 4.24; Cl 3.10). Por isso ao mesmo tempo em que os crentes devem apreciar as coisas boas da cultura que apontam para a grandeza de Deus na criação do homem ao conceder-lhe conhecimento e dons incríveis, eles também devem rejeitar qualquer aspecto cultural que esteja em oposição à Palavra de Deus. Então em tudo isso deve haver entendimento. O cristão não deve rejeitar ou receber toda a cultura, mas deve redimi-la, transformá-la, santificá-la pelo Evangelho para a glória de Deus. Ao mesmo tempo em que aprecia aquilo que a cultura realmente tem de bom, o crente deve fazer oposição clara e vigorosa aos traços culturais que expressam a depravação total do homem, sabendo que de fato o Evangelho muda a cultura humana (cf. 1 Co 6.9-11; Tt 1.5-13).
Conclusão
Por sua misericórdia, graça e soberania, Deus tem permitido que “o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos” (Mt 5.45), de modo que ambos possam plantar e colher, se alimentar, transformar os recursos naturais e usufruir de dádivas comuns liberadas gentilmente pelo grande Provedor do universo. Ressalte-se que o pecado maculou, mas não anulou a inteligência do homem – se assim fosse, o pecador sequer poderia entender a existência de Deus, compreender o evangelho e fazer consciente confissão de pecados. Porém, a capacidade e as habilidades do descrente precisam serem, pela conversão do coração, redimidas e consagradas a Deus para sua glória e benefício do próximo. Esta é a vontade de Deus!
O crente não é uma pessoa alienada, que vive uma cultura totalmente separada da secular. Não é porque somos santos pelo sangue de Cristo que nos santificou, que devemos agora separar-nos de tudo aquilo que foi produzido por pessoas descrentes. Se assim fosse, como disse Paulo, “vos seria necessário sair do mundo” (1 Co 5.10). Isso exigiria de nós sermos transladados imediatamente para outro mundo, onde só existisse crentes criando novas culturas.
Quando a Bíblia diz que “quem está em Cristo nova criatura é, as coisas velhas se passaram e eis que tudo se fez novo” (2 Co 5.17), os termos “nova criatura” e “tudo novo” precisam ser bem entendidos. Não é uma existência distinta da anterior, começando do zero, com coisas totalmente diferentes. Pois, mesmo estando em Cristo, nós ainda temos o mesmo corpo que precisa comer, se banhar, se vestir; continuamos lendo livros, revistas, jornais, ouvindo músicas, assistindo filmes, visitando parques e shoppings, usando a internet, trabalhando e buscando formação e salário melhores, casando e criando filhos, apreciando as cores, tirando fotos e fazendo filmagens, comprando torta, salgados e fazendo festas de aniversário… Resumindo: continuamos humanos, dentro de um contexto inevitavelmente cultural.
Recomendação de Leitura da Semana: GOMES, Eliezér. Maturidade Espiritual. São Paulo: Evangelho Avivado, 2019.
Nenhum comentário:
Postar um comentário