sábado, 26 de fevereiro de 2022

Comentário Bíblico Mensal: Fevereiro/2022 - Capítulo 5 - O Cristão e o Relacionamento com Deus

 




Comentarista: Matheus Gonçalves



Texto Bíblico Base Semanal: Salmos 139.1-10


1. SENHOR, tu me sondaste, e me conheces.

2. Tu sabes o meu assentar e o meu levantar; de longe entendes o meu pensamento.

3. Cercas o meu andar, e o meu deitar; e conheces todos os meus caminhos.

4. Não havendo ainda palavra alguma na minha língua, eis que logo, ó Senhor, tudo conheces.

5. Tu me cercaste por detrás e por diante, e puseste sobre mim a tua mão.

6.Tal ciência é para mim maravilhosíssima; tão alta que não a posso atingir.

7.Para onde me irei do teu espírito, ou para onde fugirei da tua face?

8.Se subir ao céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás também.

9. Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar,

10. Até ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá.



Momento Interação

DEUS nos chama a um relacionamento de Pai e Filho, intimidade, pois qual é o pai que não quer ver o filho bem? Sabemos que o propósito de DEUS é ter uma família de muitos filhos semelhantes a JESUS ! A base desta grande família são as nossas famílias ! Como estamos em casa? Amo minha esposa? Amo meus filhos? Mesmo quando as coisas não saem como eu quero?

Nosso relacionamento com Deus começa quando Ele nos chama ou nos atrai. Jesus disse: "Ninguém pode vir a Mim, se o Pai, que Me enviou, o não trouxer; e eu O ressuscitarei no último Dia" (Jo 6.44). Depois que Deus nos chama, Ele espera que, a partir daí, tomemos a iniciativa de nos aproximarmos dEle. Se fizermos isso, então recebemos essa encorajadora promessa: "Chegai-vos a Deus, e Ele se chegará a vós" (Tg 4.8). Então, a promessa de uma ressurreição para a vida após a morte torna-se o principal fator motivador. E essa é "uma melhor esperança, pela qual chegamos a Deus" (Hb 7.19).

A Bíblia é mais valiosa do que todos os outros livros do mundo juntos. Ela não tem preço! É a revelação que o Criador entregou à Sua criação sobre Seu plano e sobre como devemos viver nossas vidas para cumprir o nosso propósito e de obter os melhores e duradouros resultados. Até mesmo reis foram ordenados a ler as Escrituras todos os dias (Dt 17.18-20). A Bíblia é a Palavra de Deus—por ela Deus fala a cada um de nós. Temos de ouvi-la e ouvi-la atentamente!

Introdução

Construir um bom relacionamento com Deus é o objetivo principal de praticamente qualquer cristão. Isso é de extrema importância para se manter firme na caminhada, mesmo diante das maiores dificuldades. No entanto, começar a se relacionar e ter mais intimidade com Deus não é algo tão fácil e intuitivo. Afinal, isso requer esforços, paciência e, principalmente, perseverança. Para entender o que é o relacionamento com Deus, você pode pensar em como é se relacionar com uma pessoa próxima, como os seus pais ou o seu melhor amigo. Pense no que está envolvido no seu dia a dia, como diálogo, intimidade, confiança, troca, entre outros aspectos. Ter um contato íntimo com o Senhor é análogo, pois requer contato, confiança e, principalmente, perseverança — afinal, para construir um relacionamento sólido, é preciso alimentá-lo constantemente. A diferença, nesse caso, é que Deus conhece todo o seu interior, nunca erra e está sempre presente.

São três os maiores princípios desse relacionamento: a oração, perseverança e obediência. Partindo disso, é necessário ter em mente que Deus sempre está disposto a ouvir, independentemente do que tenha acontecido e do estado em que você se encontra. Por isso, não deixe de contar a ele o que está passando e sentindo. Entretanto, para chegar até ele é preciso manifestar interesse em segui-lo. Algo que é preciso ter bem forte em seu coração é que Deus não é invasivo, ou seja, Ele não força contato conosco se não estamos o procurando. E é essa a importância de manter uma busca constante pelas coisas do alto. Além disso, conforme vamos conhecendo a Palavra, é possível entender a importância de seguir a vontade do Senhor. Um dos livros da Bíblia que deixam isso mais explícito é o de Jonas, que recebe uma missão de Deus, tenta se esquivar, porém, percebe que a obediência é o melhor caminho e traz frutos não apenas para a própria caminhada, mas para a de muitos outros.

I. O Relacionamento com Deus quebrado no Éden

Um dos efeitos imediatos da Queda foi a separação da humanidade e Deus. No Jardim do Éden, Adão e Eva tinham perfeita comunhão com Deus. Quando se rebelaram contra Ele, essa comunhão foi quebrada. Adão e Eva se tornaram conscientes do seu pecado e ficaram envergonhados. Tentaram se esconder (Gn 3.8-10) e o homem tem se escondido de Deus desde então. Somente através de Cristo pode essa comunhão ser restaurada porque nEle nos tornamos justos e sem pecado aos olhos de Deus, assim como Adão e Eva eram antes de pecar. "Àquele que não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus" (2 Co 5.21). Por causa da Queda, a morte tornou-se uma realidade e toda a criação está sujeita a ela. Todos os homens morrem, todos os animais morrem, toda a vida vegetal morre. "Toda a criação geme" (Rm 8.22), esperando o momento em que Cristo voltará para libertá-la dos efeitos da morte. Por causa do pecado, a morte é uma realidade inescapável, e ninguém está imune. "Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor" (Rm 6.23). Pior ainda, não só morremos, mas, se morrermos sem Cristo, experimentamos a morte eterna.

Um outro efeito da Queda é que os humanos perderam de vista a finalidade para a qual foram criados. O propósito principal do homem e o maior objetivo na vida é glorificar a Deus e desfrutar dEle para sempre (Rm 11.36, 1 Co 6.20, 1 Co 10.31, Sl 86.9). Portanto, o amor a Deus é a essência de toda moralidade e bondade. O oposto é a escolha de si mesmo como o ser supremo. O egoísmo é a essência da Queda e o que segue são todos os outros crimes contra Deus. De todas as formas, o pecado é voltar-se a si mesmo, o que é confirmado na forma como vivemos nossas vidas. Chamamos a atenção para nós mesmos e nossas boas qualidades e realizações. Minimizamos os nossos defeitos. Buscamos favores especiais e oportunidades na vida, querendo uma vantagem extra que ninguém mais tem. Exibimos vigilância por nossos desejos e necessidades enquanto ignoramos os dos outros. Em suma, nós nos colocamos no trono de nossas vidas, usurpando o papel de Deus.

Quando Adão escolheu rebelar-se contra o seu Criador, ele perdeu a sua inocência, incorreu a pena da morte física e espiritual, e sua mente foi obscurecida pelo pecado, assim como as mentes de seus sucessores. O apóstolo Paulo disse dos pagãos: "E assim como eles rejeitaram o conhecimento de Deus, Deus, por sua vez, os entregou a um sentimento depravado" (Rm 1.28). Ele disse aos Coríntios que "o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus" (2 Co 4.4). Jesus disse: "Eu, que sou a luz, vim ao mundo, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas" (Jo 12.46). Paulo lembrou aos Efésios: "pois outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor; andai como filhos da luz" (Ef 5.8). O propósito da salvação é "para lhes abrir os olhos a fim de que se convertam das trevas à luz, e do poder de Satanás a Deus, para que recebam remissão de pecados e herança entre aqueles que são santificados pela fé em mim" (At 26.18).

II. O Relacionamento com Deus restaurado em Cristo Jesus

A Queda produziu no homem um estado de depravação. Paulo falou daqueles "cujas consciências estão cauterizadas" (1 Tm 4.2) e aqueles cujas mentes estão espiritualmente escurecidas como resultado de rejeitar a verdade (Rm 1.21). Neste estado e longe da graça divina, o homem é absolutamente incapaz de fazer ou escolher aquilo que é aceitável a Deus. "Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem em verdade o pode ser" (Rm 8.7). Sem a regeneração sobrenatural do Espírito Santo, todos os homens permaneceriam em seu estado caído. Entretanto, na sua graça, misericórdia e bondade, Deus enviou o Seu Filho para morrer na cruz e tomar sobre Si a penalidade do nosso pecado, reconciliando-nos com Deus e possibilitando a vida eterna com Ele. O que foi perdido na Queda é recuperado na Cruz. Como visto, para ter um bom relacionamento com Deus, é preciso seguir em busca daquilo que Ele oferece. Uma das melhores formas de aprender e pôr em prática os ensinamentos cristãos é por meio da convivência na igreja. Ao frequentar esse espaço você pode ter contato com diversos testemunhos e pessoas que estão dispostas a ajudar e serem ajudadas.

A reconciliação com Deus só é possível através de Cristo. Isso significa que a única forma de o homem se reconciliar com Deus é por meio dos méritos do Senhor Jesus Cristo que através de sua obra redentora satisfez as exigências da justiça de Deus e trouxe paz aos redimidos. A Bíblia diz de uma forma muito clara que Jesus Cristo é único mediador entre Deus e o homem (1 Tm 2.15). Cristo nos deu acesso ao Santuário Celestial; por causa de sua justiça hoje podemos nos achegar com confiança com trono da graça de Deus (Hebreus 4:16). Então Cristo é a nossa reconciliação com Deus; à parte d’Ele não há outra forma de nos aproximarmos de Deus. Além disso, a Bíblia deixa claro que todos os homens, independentemente de sua raça, língua, nacionalidade ou qualquer característica – absolutamente todos – necessitam ser reconciliados com Deus. Por isso que na Carta aos Efésios o apóstolo Paulo explica que tanto os judeus quanto os gentios são reconciliados com Deus por meio de Cristo (Ef 2.16).
 
O pecado trouxe sérias consequências para a humanidade. A mais grave delas – e de onde todas as outras consequências resultam – foi a separação entre o homem e Deus. Isso significa que por causa do pecado o relacionamento entre Deus e o homem foi destruído. É fácil entendermos isso quando sabemos que basicamente o pecado é a transgressão da Lei de Deus. Deus é totalmente santo e justo e não pode tolerar o pecado. Então isso quer dizer que a culpa pelo relacionamento ter sido quebrado é inteiramente do homem. Foi o homem quem se tornou desobediente e preferiu ser inimigo de Deus ao ter prazer em transgredir sua Lei. Portanto, depois de ter sido corrompido pelo pecado, o homem se tornou incapaz de, por sua própria vontade, fazer qualquer bem espiritual em relação a Deus. O que realmente dá prazer ao homem morto em suas ofensas e pecados não é fazer a vontade de Deus e andar em seus caminhos, mas é fazer a vontade de sua própria carne e andar segundo o curso deste mundo. Logo, a paz foi perdida e o homem desobediente passou a ser merecedor da justa ira de Deus (Ef 2.1-3).

Reconciliar significa “fazer as pazes”, ou seja, “restabelecer a paz”. Na Bíblia o verbo “reconciliar” e seus cognatos traduz um termo grego que era empregado inclusive para se referir a um ajuste de valor numa transação comercial, ou para falar da troca de moedas de valor equivalentes. Passando ao contexto de relacionamento, esse termo traz o sentido de “voltar a ter o favor de alguém” ou “restabelecer um estado de harmonia anterior” no sentido de restaurar uma condição favorável que foi perdida. Então fica claro que o homem precisava de reconciliação com Deus. Por causa do pecado ele havia perdido o favor divino e passou a estar debaixo da Sua ira. Mas ainda havia um grande problema: a situação do homem era tão terrível que não havia nada que ele pudesse fazer para restaurar novamente o seu relacionamento com Deus. Havia um valor a ser ajustado que o homem jamais poderia pagar. Então a única forma para que houvesse reconciliação com Deus novamente, era se o próprio Deus providenciasse esse pagamento.

III. Conhecendo e Prosseguindo em conhecer ao Senhor

Quando falamos que Cristo é a nossa reconciliação com Deus, estamos afirmando que em Cristo a graça de Deus é restaurada aos pecadores que se arrependem e colocam sua confiança n’Ele ao compreender sua morte expiatória. O Filho de Deus morreu por nós quando ainda éramos pecadores (Romanos 5:8). Então uma vez tendo sido reconciliados, os redimidos agora têm paz com Deus. É isso que a Bíblia diz: “Sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5.1). O motivo e a fonte dessa paz é o próprio Cristo. Por isso o apóstolo Paulo escreve: “Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derribando a parede da separação que estava no meio, na sua carne, desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz, e, pela cruz, reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades” (Ef 2.14-16).

Perceba que Paulo não apenas diz que Cristo restabeleceu a paz entre Deus e os homens, mas também uniu em um só corpo dois povos que estavam separados – judeus e gentios. Cristo derrubou a “parede da separação que estava no meio” desses dois povos. Agora pelo Evangelho de Cristo, o Espírito Santo reúne, na presença do Pai tanto judeus quanto gentios. A reconciliação com Deus pela obra de Cristo foi completa. Definitivamente nenhum povo foi excluído. Assim, todos aqueles que recebem a Cristo como seu redentor mediante a fé, fazem parte de um novo templo espiritual edificado para a habitação de Deus no Espírito (Ef 2.20-22). Reconciliados com Deus por sua união com Cristo, aqueles que eram inimigos de Deus agora são chamados “amigos” (cf. Jo 15.15); aqueles que eram filhos da desobediência agora são chamados “filhos de Deus” (cf. 1 Jo 3.1). Essa reconciliação é tão perfeita que em Cristo, pelo Espírito, o próprio Deus habita naqueles que foram reconciliados (1 Co 3.16).

A declaração: “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor” é um convite que fala sobre a necessidade de adquirir o conhecimento revelado do Senhor. Essa frase está registrada no livro do profeta Oseias, e ao que parece faz parte de um tipo de cântico de arrependimento. O versículo completo diz: “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor; como a alva, a sua vinda é certa; e Ele descerá sobre nós como a chuva, como a chuva serôdia que rega a terra” (Os 6.3). Mas é verdade que esse versículo está dentro de um texto de difícil interpretação. Bons expositores bíblicos se dividem quanto ao propósito dessa declaração; embora todos concordem que sua máxima é absolutamente verdadeira, ou seja, “conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor” deve ser um objetivo comum a todo crente verdadeiro.

O exemplo de Israel deve servir de alerta a todos nós. O povo estava se deleitando com o seu pecado e pensava que podia enganar o Senhor com uma falsa aparência de piedade. Inclusive, a forma como o versículo bíblico é registrado parece demonstrar que o povo pensava que o favor de Deus em resposta à fidelidade daqueles que se comprometem com Ele, era algo mecânico. Em outras palavras, o povo pensava que bastava uma demonstração de compromisso para que automaticamente Deus derramasse suas bênçãos. Por isso logo após registrar: “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor”, o versículo completa: “Como a alva, será a sua saída; e Ele a nós virá como a chuva, como a chuva serôdia que rega a terra”. Isso significa que no entendimento do povo hipócrita, o favor do Senhor para com eles seria tão certo quanto o nascer do sol a cada dia, ou as chuvas da primavera.

Mas em Sua resposta o Senhor também aplicou os fenômenos da natureza para falar da inconstância de Israel: “Porque a vossa beneficência é como a nuvem da manhã e como o orvalho da madrugada, que cedo passa” (Os 6.4). Infelizmente Israel estava agindo com falsidade. O povo não buscou o Senhor verdadeiramente; em vez disso mentiu para Ele (Os 7.10-16). Tudo isso mostra que aquele povo estava preocupado mesmo era com o castigo pelo pecado, e não com o pecado em sim. Os israelitas não estavam arrependidos genuinamente; apenas queriam escapar do juízo de Deus. O povo queria as bênçãos do Senhor, não um compromisso sincero com Ele; queria uma aliança com base em rituais mecânicos e não com base em lealdade e sinceridade. Então que diferentemente do comportamento superficial e inconstante dos israelitas do tempo do profeta Oseias, que nossos lábios possam declarar de forma sincera e comprometida as conhecidas palavras: “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor”.

Conclusão

É nesse ponto que entra o sacrifício expiatório de Cristo. Jesus Cristo assumiu o lugar dos pecadores diante do juízo de Deus pagando a dívida que lhes era devida. Ele se fez “pecado por nós” e assumiu a punição que cabia ao homem por ter transgredido a Lei de Deus (2 Co 5.21; Gl 3.13). Então Ele cancelou “o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-na cruz” (2 Co 2.14). Por isso que o apóstolo Paulo escreve que a história da redenção provém de Deus, “que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação” (2 Co 5.18,19).


Recomendação de Leitura da Semana: SOUZA, Éverton; BARROS, Emanuel. A Imagem do Deus Invisível. São Paulo: Evangelho Avivado, 2018.


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