sábado, 30 de janeiro de 2021

Comentário Bíblico Mensal: Janeiro/2021 - Capítulo 5 - Recomendações Gerais

 




Comentarista: Mickael Ferreira



Texto Bíblico Base Semanal: Tiago 5.1-20

1. Eia, pois, agora vós, ricos, chorai e pranteai, por vossas misérias, que sobre vós hão de vir.
2. As vossas riquezas estão apodrecidas, e as vossas vestes estão comidas de traça.
3. O vosso ouro e a vossa prata se enferrujaram; e a sua ferrugem dará testemunho contra vós, e comerá como fogo a vossa carne. Entesourastes para os últimos dias.
4. Eis que o jornal dos trabalhadores que ceifaram as vossas terras, e que por vós foi diminuído, clama; e os clamores dos que ceifaram entraram nos ouvidos do Senhor dos exércitos.
5. Deliciosamente vivestes sobre a terra, e vos deleitastes; cevastes os vossos corações, como num dia de matança.
6. Condenastes e matastes o justo; ele não vos resistiu.
7. Sede pois, irmãos, pacientes até à vinda do Senhor. Eis que o lavrador espera o precioso fruto da terra, aguardando-o com paciência, até que receba a chuva temporã e serôdia.
8. Sede vós também pacientes, fortalecei os vossos corações; porque já a vinda do Senhor está próxima.
9. Irmãos, não vos queixeis uns contra os outros, para que não sejais condenados. Eis que o juiz está à porta.
10. Meus irmãos, tomai por exemplo de aflição e paciência os profetas que falaram em nome do Senhor.
11. Eis que temos por bem-aventurados os que sofreram. Ouvistes qual foi a paciência de Jó, e vistes o fim que o Senhor lhe deu; porque o Senhor é muito misericordioso e piedoso.
12. Mas, sobretudo, meus irmãos, não jureis, nem pelo céu, nem pela terra, nem façais qualquer outro juramento; mas que a vossa palavra seja sim, sim, e não, não; para que não caiais em condenação.
13. Está alguém entre vós aflito? Ore. Está alguém contente? Cante louvores.
14. Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor;
15. E a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados.
16. Confessai as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis. A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos.
17. Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós e, orando, pediu que não chovesse e, por três anos e seis meses, não choveu sobre a terra.
18. E orou outra vez, e o céu deu chuva, e a terra produziu o seu fruto.
19. Irmãos, se algum dentre vós se tem desviado da verdade, e alguém o converter,
20. Saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador, salvará da morte uma alma, e cobrirá uma multidão de pecados.

Momento Interação

Em Tiago 5, os ricos injustos são alertados sobre o juízo de Deus que recairá sobre eles, por explorarem ao pobre e não se importarem com seu sofrimento. Não devemos desanimar diante dos sofrimentos da vida. É necessário mantermos a esperança e a paciência, esperando com expectativa a volta de Jesus Cristo. Tiago continua exortando os cristãos em relação a oração, o louvor e a confissão de pecados. Ele cita o exemplo da paciência e fé de Elias, que orou três vezes antes que o Senhor Deus o atendesse.

Introdução

Deus condena as riquezas mal adquiridas e mal empregadas. Que em nossos bolsos possam entrar milhões e bilhões, mas jamais em nossos corações. Não devemos ter medo de administrar os recursos que Deus nos concede e devemos fazê-lo com temor e reverência santa a Deus. O fato é que estamos esperando pelo Senhor que prometeu que voltaria e de nós é exigida paciência até que tudo venha a se cumprir em nossas vidas e na história dos homens. Enquanto esperamos pacientemente como Tiago nos exorta, devemos evitar juramentos irresponsáveis e, por fim, ele nos mostra como deve ser nosso proceder em várias experiências da vida. Dos vs. de 1 a 6, Tiago fará advertências aos ricos. Como em outra passagem dessa epístola, Tiago aplicou seus princípios às atitudes e ao comportamento dos cristãos abastados (cf. Tg 1.10,11; 2.1-13). Em nenhuma parte a Bíblia condena a riqueza em si ou por si mesma. As posses materiais são, na verdade, com frequência vistas como bênçãos de Deus (Pv 10.22).

I. Condenação aos Ricos Soberbos

Tiago generaliza que os ricos são suscetíveis às tentações de explorar os pobres ou ignorar as legítimas necessidades deles. Aqueles que não são caridosos promovem a opressão. Eles irão receber severo castigo de Deus (Lc 6.24). Conseguir riqueza de modo pecaminoso, como aquela que foi acumulada por negar aos trabalhadores o salário digno, não é bênção. Em vez disso, é um motivo para ser julgado por Deus. O que dizer de políticos e filhos de políticos importantes que da noite para o dia se tornaram milionários? Sítios, apartamentos tríplex, jatinhos, mordomias, favores, presentes, reformas absurdas, palestras milionárias, movimentações de dinheiros e capitais de forma ilícita, como tudo isso pode ser assim esquecido sem a devida mão da justiça executando seu dever?

Os que assim procedem vergonhosamente roubando e sugando uma nação inteira serão julgados por Deus e bem-aventurados os que são julgados e condenados ainda em vida, pois se morrem sem de nada saberem, terão pela frente o terrível juízo de Deus, sem misericórdia e sem perdão. O fato triste é que muitos desses políticos ladrões são idolatrados pelos mais símplices e os mais pobres e disso gostam e ainda os inflamam contra a justiça e contra os que buscam o bem e a verdade da nação. Essa é uma violação da lei de Deus  (Tg 5.5) relacionada ao salário dos trabalhadores. O salário não deve apenas ser pago, mas deve ser pago em dia (Lv 19.13; Dt 24.14-15). Violar isso ou roubar dos pobres é mesmo uma tremenda afronta. Quando o governo rouba milhões e milhões, mesmo bilhões para favorecimento de sua corja e rede de larápios não estão roubando dos pobres e os condenando a uma vida miserável e sem estrutura?

Os ricos aqui são equiparados a animais sendo engordados para o abate. Os animais satisfeitos nada sabem da fatalidade que os aguarda. Essas pessoas inescrupulosas vivem luxuosamente na terra, desfrutando prazeres, e fartando-se de comida em dia de abate; dessa maneira, assim condenam e matam o justo, sem que ele ofereça resistência – vs. 5 e 6. Isso relacionado ao justo pode ser tomado de modo literal ou figurado. O uso injusto do poder pode verdadeiramente ter causado a execução de pessoas inocentes. Figurativamente, privar um homem do seu salário é cometer um tipo de assassinato contra ele. Para o incrédulo, todas as bênçãos no final se transformam em maldição, porque para cada coisa boa recebida da providência de Deus sem uma resposta de gratidão e honra, há um correspondente aumento da culpa e da punição.

II. Pacientes para a Segunda Vinda do Senhor

Dos versículos 7 ao 11 do capítulo 5, Tiago pede paciência. Tiago pediu paciência como outra demonstração de sabedoria proveniente de Deus. Os santos devem exercitar paciência enquanto aguardam a prometida vindicação de Deus do seu povo. Deus prometeu acabar com a injustiça neste mundo (Lc 18.1-8). Esse versículo 9 de que o juiz está às portas reflete um sentido urgente da iminente vinda de Cristo. Ele reforça a esperança do Novo Testamento pelo retorno de Jesus, o qual virá no final dos tempos. Tiago também poderia ter em vista a proximidade radical do julgamento que espera todas as pessoas, pois todos comparecerão diante do juiz para prestar contas.  A paciência está vinculada à humildade, à mansidão, ao autodomínio e à perseverança. O que vai determinar a associação com as demais virtudes dependerá da fonte motivadora que exigirá de nós a paciência. 

A paciência está vinculada à humildade quando o que esperamos ou desejamos exige que nos coloquemos esvaziados diante da Soberania divina para que o Senhor realize a seu tempo o que precisamos receber de Suas mãos. Para nossa felicidade e segurança, nem sempre o Senhor nos dará o que pedimos porque o Seu insondável amor por nós nos concederá o que jamais imaginamos e que será infinitamente melhor do que nossa petição inicial (Ef 3.20,21). O Senhor nos concede pelo Espírito Santo, que em nós habita,  a humildade que precisamos para que recebamos com alegria o que contempla os Seus interesses e não os nossos. Com isso encontramos o verdadeiro descanso e contentamento para a nossa alma (mente, emoções, vontade) aos pés Daquele que é manso e humilde de coração (Mt 11.28-30). A humildade é, pois, o pré-requisito indispensável para que os propósitos divinos sejam realidade em nossa vida. 

A paciência está também vinculada à mansidão e ao autodomínio. Tiago apresenta inicialmente a figura do lavrador que lança a semente ao solo preparado para acolhê-la. Após essa ação humana, o que ocorrerá daí em diante está sob a responsabilidade do Criador que fará a semente germinar, crescer e frutificar segundo as leis inerentes ao reino vegetal. As ações humanas ocorrem em apenas dois momentos: na semeadura e depois na colheita. O que não está reservado aos seres humanos, Deus fará. Ele é fiel a Si mesmo e cumpre plenamente Suas responsabilidades independente do que somos e temos. Tudo faz ao que está reservado ao Seu poder e soberania.

III. O Perigo do Juramento

Tiago escreveu sobre uma série de assuntos, especialmente aqueles relacionados à harmonia dentro da igreja. Tiago encerrou a sua epístola tratando de diversos aspectos específicos de vida harmoniosa entre os cristãos. Essa exortação enfática (Tg 5.12) sinaliza a prioridade importante que Tiago dava à religiosidade. Enfatizar que se abstivessem dos juramentos e votos falsos de maneira tão veemente pode parecer estranho aos ouvidos modernos, mas isso é consistente com a preocupação bíblica de manter a aliança e a santidade da fé. 

O ensinamento de Tiago relativo aos jurar evidentemente derivou das instruções de Jesus quanto à questão dos juramentos (cf. Mt 5.33-37). Nem Jesus nem Tiago condenavam os votos ou o juramento corretos. Mais precisamente, ambos condenaram os juramentos levianos (cf. o ensinamento de Paulo em 2 Coríntios 1.23; 1 Tessalonicenses 2.10). Tiago estava preocupado especialmente com o fato de que as promessas vazias destruiriam os relacionamentos entre os cristãos. Por isso que nossa palavra deveria ser o sim e o não. É esperado do cristão que sua palavra seja confiável. Seja, portanto, o sim de vocês, sim, e o não, não, para que não caiam em condenação  (Tg 5.12). 

Tiago está citando o sentimento de Jesus, expresso em Mateus 5:37. Os verdadeiros cristãos não necessitam jurar por isso nem por aquilo. Eles devem ter uma sólida reputação por falarem a verdade. Não devem usar esse tipo de sentenças legalistas que enganam as pessoas pela sutileza de suas palavras e deixam-nas pensar que estão dizendo uma coisa, quando na realidade estão dizendo o contrário. A conversa do cristão deve ser franca, honesta e transparente. Devemos ser capazes de confiar nos cristãos simplesmente por serem cristãos. Em Mateus 5.33-37, Jesus rejeita toda aproximação alternativa para a verdade. Isto é, Ele rejeita a ideia de que alguns compromissos devem ser mantidos porque foram feitos sob juramento de forma específica, ao passo que outros compromissos deixam as pessoas envolvidas praticamente livres de obrigação, por não estarem vinculados a um juramento adequado.

Jesus está lutando pela integridade de todas as nossas palavras, quer sob juramento, quer não. Não é estável a comunidade em cujas palavras não se pode confiar. Como cristãos, compreendemos que todas as nossas palavras são ditas e nossos compromissos feitos na presença de Deus. As palavras e ações do cristão são sagradas. Afinal, a conversa do cristão vem de uma pessoa que foi separada pelo Deus Vivo para um propósito santo (isto é santificação). A conversa do cristão é de alguém que nasceu de novo. A pureza de nossa conversa, a integridade de nossas promessas, a honestidade transparente da pessoa que somos, dão testemunho de que somos cristãos em nossos atos e não só de nome. Assim sendo, os negócios do cristão devem ser as mais honestas transações comerciais que existem. Dão testemunho à comunidade de que somos cristãos.

IV. Oração, Louvores e a Oração da Fé

Encerrando esse ponto, o versículo 12, de Tiago capítulo 5, ele logo começa outros (Tg 5.13-18) relacionados aos sofrimentos, à felicidade, às doenças e todos eles ligados à oração/intercessão e ao louvor. Que os presbíteros deveriam ser chamados pelas pessoas doentes e que suas orações salvariam as pessoas "da morte" (vs. 20) provavelmente indica que Tiago tinha em mente casos extremos de doenças que eram cridas terem sido causadas pelo pecado na vida da pessoa. 

Há implicações, no entanto, de muitos outros usos da oração intercessória e confissão aos presbíteros, pois seriam eles que estariam ungindo os enfermos com óleo. O azeite de oliva tinha um uso medicinal comum no mundo antigo (cf. Mc 6.13; Lc 10.34), mas aqui o óleo tinha um uso simbólico em relação ao poder curador de Deus. Esse versículo 15 de Tg 5 diz que a oração feita com fé curará o doente e o Senhor o levantará. Também diz que se houver cometido pecados, ele será perdoado.

No verso 15 do capítulo 5, ele ordena à comunidade cristã que se envolva de maneira devota com as orações intercessórias pelos doentes como uma expressão de fiel dependência de Deus, pois afinal de contas com ou sem remédios, com ou sem internações hospitalares, com ou sem a intervenção direta de um médico especialista, a cura, mediata ou imediata, sempre vem de Deus e para ele é toda a glória, sempre. Ele não apoia a noção popular em alguns círculos cristãos de que um tipo especial de "oração da fé" invariavelmente irá curar, e nem apoia a tradição católica romana dos últimos sacramentos.

Também nesse vs. 15 ele diz que se houver cometido pecados, eles serão perdoados. Nem toda enfermidade é uma expressão do julgamento de Deus ou castigo contra o pecado (Jo 9.2-3), mas alguns casos de doenças o são (1Co 11.29-30). Em virtude disso, o melhor mesmo é confessar, pois, os nossos pecados uns aos outros. Tiago não está defendendo aqui que os cristãos confessem seus pecados uns para os outros sob circunstâncias normais, mas sim que eles deveriam confessar seus pecados aos presbíteros quando tais pecados possam ser as possíveis razões de suas doenças.

Na providência divina, as orações de pessoas justas com frequência orientam o curso da História. Uma pessoa consagrada que ora em fé é uma pessoa honrada ou justa. A oração de um justo é poderosa e eficaz. Elias, por exemplo, no vs. 17, embora ele exercesse o ofício especial de profeta do Antigo Testamento, ele compartilhava a humanidade comum com todos os cristãos. Sua consagrada vida de oração é um modelo para todos os santos.

Conclusão

Assim como o agricultor, nós também precisamos ser pacientes, "pois a vinda do Senhor está próxima". Precisamos fazer uso dos recursos que estão à nossa disposição: em tempo de alegria, cânticos; em tempo de tribulações (assim como em todas as situações), a oração fervorosa da fé. Será que já descobrimos as grandes coisas que a oração pode operar? ("a oração do justo pode muito" - veja final do versículo 31 de João 9).  Os versículos 14 a 16, usados para justificar todo tipo de prática errada no cristianismo, são verdadeiros apenas se as condições mencionadas forem mantidas. Todavia, um cristão dependente de Deus nem sempre se achará na liberdade de pedir cura; pelo contrário, este orará com outros irmãos para aceitar a plena vontade de Deus em paz. 

O final da epístola enfatiza o cuidado fraterno em amor: a confissão de pecados uns aos outros (não de um crente para um sacerdote), a oração uns pelos outros, o cuidado com os necessitados. Há pouco espaço para doutrina nesta epístola. Por outro lado, há grande ênfase à prática da vida cristã. Que Deus não permita que nem um de nós seja "ouvinte negligente, mas operoso praticante" (Tg 1.25). Encerrando sua carta ele fala dos que se desviam da verdade, mas que ainda podem ser resgatados de volta, mesmo que desviados para padrões pecaminosos ou tenham mostrado evidências da ausência de uma fé salvadora.



Sugestão de Leitura da Semana: GOMES, Eliezér. Maturidade Espiritual. São Paulo: Evangelho Avivado, 2019.


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