Dois tipos de cura
Deus
sempre se manifestou como aquele que cura seu povo. Através de Moisés,
Deus prometeu curar os filhos de Israel e poupá-los das doenças dos
egípcios (Êxodo 15:26; Deuteronômio 7:15). Davi louvou a Deus como
aquele que cura todas as moléstias (Salmo 103:3). Provérbios ensina que a
obediência ao Senhor dá saúde e longa vida (Provérbios 3:2,8; 4:22,
etc.). No Novo Testamento também, João orou pela saúde e prosperidade de
Gaio (3 João 2). Mas essas promessas tinham certas limitações: Essas promessas não imunizaram totalmente o povo de Deus contra a doença. Homens
justos como Jó, Epafrodito e Trófimo adoeceram (Jó 2; Filipenses
2:25-30; 2 Timóteo 4:20). Não houve um tempo, desde o jardim do Éden, em
que o povo de Deus teve completa liberdade das enfermidades. Tanto
cristãos quanto incrédulos experimentam a doença e a morte. Essas promessas não foram garantias absolutas. Como
regra geral, Deus abençoa os fiéis com uma vida mais prolongada e
melhor saúde. Considere, por exemplo, a promessa de que aqueles que
honram os pais viverão muito tempo (Êxodo 20:12; Efésios 6:1-3). Sabemos
que, em geral, aqueles que honram os pais vivem mais. Mas isso não
significa que todos que honram seus pais vivem até aos 80, nem que todos
os que morrem cedo desonraram seus pais. Eclesiastes mostra claramente
que a relação de um homem com Deus não pode ser determinada pela sua
saúde ou pelas bênçãos físicas (Eclesiastes 9:1-3). Os amigos de Jó
estavam certos de que a enfermidade dele fora causada por causa de sua
desobediência; mas isto não era verdade. Os discípulos queriam saber
quem teria pecado para causar a cegueira do homem. Jesus replicou que a
cegueira não fora causada nem pelo seu pecado nem pelo de seus pais
(João 9:1-4). A ênfase das Escrituras não está nas bênçãos físicas. O
foco principal das promessas de Deus é espiritual. Estamos,
freqüentemente, mais interessados nas promessas de bênçãos físicas, mas
uma leitura séria do Novo Testamento nos mostra que o principal
interesse de um cristão deve ser sua comunhão com Deus e seu lar eterno
(veja Filipenses 3:20-21; Colossenses 3:1-4; Hebreus 11:13-16, 35-38).
Além
do cuidado geral de Deus para com a saúde de seu povo, houve certas
épocas nas quais Deus operou milagres especiais de curas. Através de
Moisés, por exemplo, Deus tornou uma água amarga em doce, curou lepra e
levantou uma serpente de bronze para curar mordeduras de cobras. Através
de Elias e Eliseu, Deus curou lepra, ressuscitou mortos, etc. Através
de Jesus e dos apóstolos, Deus curou os cegos, os coxos, os surdos e
muitos outros. Os tempos extraordinários das curas milagrosas
corresponderam às novas revelações que Deus estava dando ao povo. Os
sinais que Moisés operou atestaram suas credenciais para apresentar a
nova lei de Deus aos filhos de Israel. Os sinais de Elias e Eliseu deram
o carimbo da aprovação de Deus ao trabalho dos profetas de revelar uma
outra maior porção da palavra de Deus. Os sinais de Cristo e dos
apóstolos mostram que a revelação do Novo Testamento foi enviada por
Deus.
Deus cura hoje em dia?
Sim,
Deus cura seu povo através da oração, da providência e da ação de sua
vontade, como ele sempre fez. Muitas vezes as pessoas glorificam médicos
e remédios, quando Deus é aquele que deve receber o crédito. Todas as
boas dádivas vêm de Deus e devemos sempre lembrar de dar a ele a glória e
o agradecimento (Tiago 1:17).
Mas
será que Deus ainda cura da maneira especial e miraculosa como
antigamente o fez? Será que ele ainda dá poderes especiais de curas aos
homens, como o fez a Moisés, a Elias e Eliseu, e a Jesus e aos
apóstolos? Alguns responderão sim. Muitas igrejas e religiões
reivindicam o poder de curar dessa maneira especial. Essas abrangem de
diversas igrejas pentecostais (Deus é Amor, Assembléia de Deus, Igreja
Universal do Reino de Deus, Igreja da Graça, Igreja do Evangelho
Quadrangular, Congregação Cristã no Brasil, etc.) aos ramos carismáticos
das igrejas tradicionais, tais como a Católica e a Batista, e seitas
como a de Cientista Cristão, até aos diversos grupos que compõem o
espiritismo. Parece haver um impressionante arranjo de "evidência" para
as supostas curas milagrosas nos dias atuais. A própria diversidade
dessa evidência, contudo, deve levar-nos a reconsiderar. Estará,
realmente, Deus operando sinais especiais e maravilhas em tantas
diferentes, e mesmo contraditórias, igrejas e religiões? Na Bíblia, as
curas especiais foram a maneira de Deus confirmar a nova revelação que
ele estava dando através dos que curavam. É claro que Deus, que não se
contradiz, não está confirmando todas estas mensagens conflitantes.
As
muitas advertências contra os falsos sinais e maravilhas precisam ser
examinadas. O diabo sempre simula as obras de Deus (examine Deuteronômio
13:1-5; 2 Coríntios 11:13-15; 2 Tessalonicenses 2:9-12; 2 Timóteo 3:13;
Apocalipse 13:13-14; 16:13-14). E, também, o diabo é muito hábil em
trabalhar através da religião (Mateus 7:15-23; 2 Coríntios 11:13-15;
Colossenses 2). Portanto, a presença das supostas curas miraculosas na
atualidade, as quais são totalmente diferentes das curas na Bíblia, não
deve nos surpreender.
Diferenças entre as curas de hoje e as na Bíblia
Tipo.
As curas especiais na Bíblia incluíam todos os tipos de moléstias.
Jesus e os apóstolos podiam curar qualquer pessoa de qualquer doença ou
enfermidade (Atos 5:15-16; Marcos 1:32-34; Mateus 4:23-24; 9:35). Cegos
de nascença recebiam a visão imediatamente; coxos de nascença começavam a
andar e saltar; lepra, mãos definhadas, orelhas cortadas e outros males
perfeitamente visíveis eram curados diante dos próprios olhos daqueles
que observavam (Atos 3:1-10; 4:22; João 9; Marcos 3:1-6; Mateus 8:1-4;
Lucas 22:50-51). Ainda mais admirável era a ressurreição dos mortos
(Lucas 7; João 11; Atos 9; 20). As curas de agora são diferentes. Os que
fazem curas hoje em dia se especializam em dores de cabeça, dores
lombares e outras enfermidades invisíveis. Sim! Algumas vezes ouvimos
falar de um cego que recebeu sua vista ou de mortos sendo ressuscitados,
mas nunca, ninguém, parece testemunhar esses eventos. Eles sempre
ocorreram em outro tempo ou lugar e ninguém parece se lembrar exatamente
de quando e onde. Sem dúvida, as "curas milagrosas" que você e eu vemos
hoje são de uma natureza muito diferente dos milagres na Bíblia.
Maneira. As curas na Bíblia eram instantâneas. Não
havia reação retardada. Os cegos recebiam sua vista na hora; os coxos
começavam a andar, correr e saltar; a pele dos leprosos era purificada
instantaneamente (Mateus 8:3; 12:13; Atos 3:7-8; João 9:7). As curas
miraculosas foram sempre completas. Não havia curas parciais (Atos 3:16). A maneira de Jesus e dos apóstolos era simples. Não
havia fanfarras; não havia nada encenado. Aqueles com a verdadeira
capacidade de curar faziam seu trabalho calmamente, simples e
completamente. Poderá alguém que testemunhou "curas", hoje, dizer que
elas são feitas da mesma forma?
Freqüência.
Nenhum dos que, hoje em dia, "curam" sempre têm êxito. Geralmente,
atribuem a culpa pelos insucessos à falta de fé por parte dos que querem
ser curados. Mas na Bíblia, aqueles que realmente tinham o poder de
curar conseguiam seu intento. Há uma única exceção registrada (Mateus
17) e, nesse caso, o problema foi uma falta de fé por parte dos que
pretendiam curar. Nem todos aqueles que recebiam as curas tinham fé; de
fato, alguns que nem esperavam ser curados o foram (João 5; Atos 3).
Deus nunca falha. Se houvesse, nestes dias, pessoas que verdadeiramente
tivessem poderes especiais de Deus para curar, eles também não
falhariam.
Propósito.
Na Bíblia, os milagres e as curas eram sinais para confirmar a mensagem
do homem que os operava. Deus autenticou cada nova mensagem com sinais
(Hebreus 2:3-4; Marcos 16:20). Gerações posteriores tinham que confiar
na mensagem escrita daqueles que demonstravam as credenciais para
revelá-la (João 20:30-31). Há muitos textos que mostram que a mensagem
do evangelho foi completamente revelada no primeiro século (João 16:13;
Judas 3) e que não haveria revelação adicional (Gálatas 1:6-9).
Considere esta ilustração: O Cristo ressuscitado foi visto por várias
testemunhas que escreveram sobre o que viram. Hoje, não vemos Cristo;
confiamos na evidência registrada por aqueles que o viram. Os
aparecimentos de Cristo depois de sua ressurreição serviram precisamente
ao mesmo propósito que as curas e milagres: para provar que ele é o
Filho de Deus e que devemos confiar na mensagem do Novo Testamento. Não
há mais razão para esperar que alguém terá poder para curar hoje em dia,
do que pensar que Cristo reaparecerá nestes dias.
É
também digno de nota que o propósito das curas na Bíblia nunca foi
financeiro. Pura e simplesmente, nunca lemos sobre Jesus ou os apóstolos
ou outros cristãos primitivos com capacidade para curar fazendo coletas
daqueles que eles estavam curando. De fato, em relação a estas próprias
coisas (curar os doentes, ressuscitar os mortos, limpar os leprosos e
expelir demônios) Jesus disse que as dessem gratuitamente (Mateus 10:8). Somos também advertidos sobre os que "movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras fictícias" (2 Pedro 2:3).
Efeito.
Quando homens tinham, verdadeiramente, poderes para curar, todos se
maravilhavam e ficavam admirados com os resultados (Atos 3:9-11; Lucas
7:16-17). Até mesmo os inimigos do evangelho tinham que admitir que as
curas realmente aconteciam (João 11:48; Atos 4:16). Afinal, como
poderiam negá-las? Havia os mortos que Jesus tinha ressuscitado, os
coxos que ele havia curado e os cegos que agora viam, dando testemunho
visível do seu poder. Os inimigos do evangelho sempre tentaram se opor e
desacreditar o ensinamento, mas nunca tentaram negar que as curas e os
milagres realmente aconteceram. Às vezes, questionavam quando Jesus curava (por exemplo, no sábado) ou pelo poder de quem (por exemplo, do diabo, diziam eles) o fazia, mas nunca negavam
a autenticidade dos milagres. Os que curam, atualmente, experimentam
resultados que são muitíssimo diferentes. Porque as curas não são
imediatas, nem completas, nem visíveis, muitos reconhecem que eles
realmente não têm qualquer poder especial. Onde está o milagreiro de
hoje que tenha entrado numa cidade e curado todos os doentes? Os efeitos
são diferentes.
O Que Podemos Concluir?
Houve
dois meios básicos pelos quais Deus curou: o meio normal, através da
oração e da providência, e o meio miraculoso, para confirmar as novas
revelações. Deus continua a curar pelo meio normal e, por esta razão,
devemos orar pelos doentes e agradecer a Deus pela recuperação deles.
Mas não há evidência de que alguém tenha, hoje, as aptidões especiais,
que Jesus e os apóstolos tinham para curar os enfermos. Nem devemos
esperar que tenha. A intenção de Deus era confirmar sua nova revelação,
através dos seus mensageiros, dando a eles especiais poderes de cura;
sua revelação está completa; portanto, ele não continuou a dar poderes
especiais. Tais curas especiais não ocorrem em nossos dias.
Objeções
Hebreus 13:8.
Aqueles que crêem que Deus continua dando, hoje, poderes especiais de
cura aos homens usam vários argumentos para apoiar essa idéia. Por
exemplo, Hebreus 13:8 afirma que Jesus é o mesmo ontem, hoje e sempre.
Há pessoas que usam esse texto para dizer que, se curas especiais e
maravilhas aconteceram no primeiro século, o mesmo deve acontecer hoje
em dia. Mas esse texto não diz que Jesus faz exatamente as mesmas coisas
em todas as eras, nem que sua vontade é sempre a mesma. Hoje, os homens
confessam pecados, enlutam-se, casam-se. Mas não farão assim para
sempre. No céu não há confissão de pecados, luto ou casamento. No Velho
Testamento não havia batismo pelo Espírito Santo ou o falar em línguas.
Jesus é o mesmo. Mas sua obra mudou. No primeiro século, livros foram
acrescentados à Bíblia, houve apóstolos vivos e Cristo apareceu na terra
em forma humana. Hoje não. O fato de que Jesus nunca muda não significa
que ele sempre dê aos homens os mesmos poderes ou aja sempre do mesmo
modo. Há um certo progresso no procedimento de Deus para com os homens.
Passo a passo ele executa seu plano. Conforme o plano é cumprido e a
maturidade é atingida, certas coisas necessariamente mudam (1 Coríntios
13:11).
Marcos 16:17-18.
Marcos 16:17-18 é usado, às vezes, para ensinar que todos os crentes
serão capazes de operar curas, expelir demônios e falar em línguas. É
interessante que poucos são os que afirmam, que todos os crentes podem
beber veneno ou pegar em serpentes, ainda que essas coisas sejam
mencionadas na mesma passagem. É importante analisar cuidadosamente o
contexto desta promessa. Jesus estava falando aos apóstolos e prometeu
que esses sinais acompanhariam os crentes. Ele não disse que todos os
crentes, nem mesmo naquela época, poderiam operar sinais. Marcos 16:20
afirma que essa promessa já havia sido cumprida: "E eles,
tendo partido, pregaram em toda parte, cooperando com eles o Senhor e
confirmando a palavra por meio de sinais, que se seguiam." A pregação, mencionada em Marcos 16, com os sinais que a confirmariam já aconteceu. Se há mais sinais, hoje, pelo menos esse texto não está afirmando nada a respeito.
João 14:12. Alguns
se valem de João 14:12 para tentar provar que as curas milagrosas
continuam ainda hoje. Essa passagem ensina que discípulos de Cristo
farão obras maiores do que ele fez. O significado é que, depois da morte
e da ressurreição de Jesus, seus seguidores pregariam a mensagem da
salvação e ofereceriam, realmente, o perdão dos pecados pelo sangue de
Cristo. Eles fariam uma obra maior por causa da expiação proporcionada
pela morte de Jesus. Muitos deturpam esse texto para dizer que os
crentes operarão milagres maiores. Mas como? Eles mudarão mais água em
vinho, alimentarão uma multidão maior com menos pães e peixes, acalmarão
tempestades mais violentas, ressuscitarão mais pessoas mortas? Seria
difícil realizar maiores milagres do que Jesus. Esse texto está falando
da salvação que poderia ser proporcionada depois da morte e ressurreição
de Cristo.
Testemunhos.
Finalmente, alguns se voltam para o testemunho das "curas" especiais
nos dias atuais. Ou foram curados ou viram alguém curado, ou ouviram
sobre alguém que foi curado. Mas há problemas com isso. Deus cura hoje.
Ele não cura da maneira miraculosa como o fez no primeiro século, mas
cura. Ele não dá aos homens, nos dias atuais, poderes especiais de cura.
Deus pode curar através de sua providência e ao mesmo tempo um dos que
"curam" pode começar a exercer sua arte. As pessoas dão o crédito ao
"milagreiro", quando na realidade foi a providência de Deus que curou.
Muitas enfermidades são grandemente afetadas pela mente. Se alguém pensa
que foi curado, muitas vezes se sentirá melhor. Por essa razão,
diversas "curas" ocorrem numa atmosfera emocionalmente carregada, com
muitos na expectativa de receber uma cura. Raramente os que dizem que
curam, hoje em dia, vão a lugares públicos e realizam tal ato; a maioria
das "curas" ocorre em edifícios de igrejas ou lares. Jesus, ao
contrário, curava em qualquer situação, até mesmo enquanto caminhava rua
abaixo. Não há evidência de homens, hoje, curando como Jesus e os
apóstolos curavam. Todos ouviram falar de algum lugar afastado onde uma
pessoa morta foi ressuscitada, um leproso limpo, ou uma pessoa cega
recebeu sua visão. Mas quem realmente experimentou esses fenômenos? Se
Deus ainda cura hoje em dia do mesmo modo que no passado, por que são
quase todas as curas invisíveis? Por que os milagres notáveis sempre
ocorrem em algum lugar distante?
Conclusão
Deus
continua a curar em nosso tempo, porém não mais concede aos homens
capacidade especial para curar. Há diferenças radicais entre as curas
verdadeiramente milagrosas do primeiro século e as alegações de curas
hoje. Temos a revelação completa e confirmada do evangelho; portanto,
Deus descontinuou seu uso das curas especiais. As curas de Deus, agora,
são através da oração e da providência, e não através de sinais
miraculosos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário