Comentário: Anderson Ribeiro
Introdução
Como
os crentes de Corinto, constantemente nos achamos em luta contra dois
inimigos: o mundanismo e a carnalidade. O primeiro é exterior, e o
segundo, interior. Os coríntios raramente os venciam; frequentemente
sucumbiam a ambos. Em consequência, cometiam sérios pecados, um após
outro. Quase toda a primeira epístola visa identificá-los e corrigi-los.
O
pecado das divisões na igreja coríntia foi acompanhado de outros
pecados, pois estão sempre inter-relacionados. Não existe pecado isolado
– um leva a outro, e o segundo reforça o primeiro. Cada pecado é uma
combinação de pecados. A primeira epístola aos coríntios confirma essa
realidade e nos exorta a cortar o mal pela raiz.
I. O Espírito Mundano na Igreja de Corinto
O
motivo do partidarismo não era somente externo – a influência do
mundanismo; mas também interno – a carnalidade. Os coríntios não só
haviam sucumbido às pressões do mundo, mas também haviam sido seduzidos
pela própria carne.
Antes
de começar a repreender os coríntios, Paulo os chama de “irmãos”. Isso é
a indicação de que eram salvos por Cristo, e que o apóstolo assim os
considerava. Entretanto, não podia diminuir a gravidade do pecado que
haviam cometido. Não convinha dirigir-se a eles como
crentes“espirituais, e sim como a carnais, como a crianças em Cristo”
(1Co 3.1). O crente espiritual é aquele que se deixa controlar pelo
Espírito, enquanto o crente carnal se entrega ao controle da sua
natureza carnal (Rm 8.9,14). Quando ainda eram “crianças”, os coríntios
haviam recebido o alimento adequado ao nível espiritual em que se
encontravam. Agora, porém, passado algum tempo, já deviam estar
preparados para receber doutrina mais difícil de digerir. Entretanto,
não podiam, porque ainda agiam como crianças espirituais (1Co 3.2).
O
cristão cresce quando caminha dirigido pelo Espírito, mas estaciona no
crescimento espiritual quando se deixa dirigir pela carne, pois são duas
forças opostas entre si (Gl 5.16-17). A carnalidade do cristão não é um
estado absoluto, no qual permanece, mas um comportamento ocasional,
quando prevalece o comando da carne (Rm 8.5-14).
II. A Impureza na Igreja de Corinto
A
carnalidade não é inevitável. É uma questão de escolha. Os cristãos de
Corinto não cresciam porque alimentavam os apetites carnais. Era por
essa causa que a congregação de Corinto colocava em evidência os ciúmes e
as contendas.
O
ciúme é a atitude ou a condição emocional interna; e a contenda é a
ação que resulta dela ou a sua expressão exterior. O primeiro se revela
como forma de egoísmo, que é uma característica comum às crianças, e não
aos adultos! Crentes maduros são altruístas. Essas duas manifestações
são sintomas carnais mais destrutivos do que se possa pensar. Entre
outras coisas, causaram as divisões na igreja de Corinto. Quando a
congregação desenvolveu lealdade em torno de indivíduos, foi manifesto o
ciúme entre os grupos, e surgiram as contendas (1Co 3.4).
III. Paulo combatendo os Problemas da Igreja
O
apóstolo Paulo voltou ao tema da sabedoria do mundo e da futilidade de
qualquer tipo de vanglória, baseada em líderes de grande capacidade,
para mostrar que essa tendência pode ser corrigida quando a igreja
possui um conceito exato de ministério.
1. A visão correta de quem ensina (1 Co 3.18-20)
É
bastante fácil que tenhamos conceito errado acerca de nós mesmos. Por
isso Paulo advertiu: “Ninguém se engane” (1Co 3.18). Talvez alguns
mestres em Corinto se fizessem passar por homens de grande sabedoria. O
apóstolo se dirigiu a eles e a qualquer pessoa que possui um conceito
elevado da sua própria sabedoria. Se alguém deseja ter verdadeiro
discernimento espiritual, tem que se tornar o que o mundo chama de
“louco”. A verdadeira sabedoria, que está contida no evangelho, é achada
quando se renuncia à sabedoria deste mundo.
A
sabedoria do mundo é “loucura diante de Deus” (1 Co 3.19). Com a
sabedoria humana, por mais que insistisse, o homem jamais poderia
elaborar um plano de salvação eficaz como o elaborado por Deus. Ele
triunfa sobre a sabedoria humana, a fim de realizar os Seus propósitos.
Nem mesmo toda a erudição dos homens poderia frustrar os planos divinos.
Não
há pensamento humano que o Senhor não conheça, e sabe que são
pensamentos vãos ou inúteis, como o comprova a incapacidade de o homem
alcançar a salvação (1Co 3.20).
Deve-se
considerar aqui que Deus não condena a sabedoria relacionada com a
Ciência, a Filosofia e outros campos do saber humano. Ela é necessária e
é dádiva de Deus. Mas a sabedoria que exclui o temor do Senhor (Pv 1.7)
e a cruz de Cristo (1 Co 1.18-25) é vã e inútil nas questões
relacionadas a Deus, à salvação e à verdade espiritual.
2. A visão correta sobre quem possui o que ou quem (1 Co 3.21-23)
a. Todos são da igreja (1 Co 3.21-22)
Não
havia nenhuma razão para os crentes coríntios se gloriarem nos homens.
Eles deveriam se alegrar pela providência de todos os fiéis líderes que
Deus lhes enviou: “seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas”. Se a igreja
tivesse sido cuidadosa para entender e seguir tudo o que aqueles três
homens ensinaram, estaria unida, e não dividida. Eles cooperaram com
Deus para suprir as necessidades espirituais dos crentes, um de um modo,
outro de outro, como Lhe aprouve.
b.Tudo é da igreja (1Co 3.22).
Não somente os bons líderes são da igreja, mas todas as demais coisas
que Deus concede para o bem dos Seus filhos. Como cristãos, somos
“herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo” (Rm 8.17). Somos
participantes da glória de Deus em Cristo (Jo 17.22). Todas as coisas
colaboram para o bem dos que amam a Deus (Rm 8.28).
•
O mundo é nosso. Não apenas no sentido em que Deus o criou para o nosso
sustento e deleite (Gn 1.28-30), mas também no sentido de que os
seguidores de Cristo herdarão a terra (Mt 5.5).
•
A vida é nossa. No sentido físico, a vida é dom de Deus e devemos
prezá-la. No sentido espiritual, nós a recebemos para participar da
natureza divina (2Pe 1.3-4) e para desfrutá-la eternamente.
•
A morte é nossa. O grande inimigo da humanidade foi vencido. Cristo
venceu a morte, e por Ele nós a vencemos também (1Co 15.54-57). Paulo
entendia que para ele “o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Fp 1.21).
Para o povo de Deus, a presença no mundo é boa e necessária, mas a morte
– que conduz à vida eterna – é melhor (Fp 1.23-24).
•
As coisas do presente são nossas – as boas e as más. Em todas as coisas
temos a oportunidade de ser vencedores e de experimentar o amor de Deus
por nós (Rm 8.37-39).
• As coisas futuras são nossas. Certamente são nossas as bênçãos celestiais, das quais agora só desfrutamos o mínimo (1 Co 2.9).
c. A igreja pertence a Cristo, e Cristo pertence a Deus (1 Co 3.23).
Nós somos propriedade de Cristo. Ele é a origem da igreja, a base para a
sua unidade espiritual; a cura para as divisões. Se os olhos dos
cristãos de Corinto estivessem voltados para Cristo, as divisões não
ocorreriam. O maior motivo para se manter a unidade do Espírito e evitar
as divisões na igreja é saber que pertencemos a Cristo, e que Cristo é
de Deus. Todos nós somos propriedade de um e de outro. Na oração
sacerdotal, o Senhor valoriza o que ensina sobre a unidade, ao dizer:
“porque são teus; ora, todas as minhas coisas são tuas, e as tuas coisas
são minhas… que todos sejam um;e como és, ó Pai, em mim e eu em ti,
também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste…
para que sejam um, como nós o somos; eu neles, e tu em mim, a fim de que
sejam aperfeiçoados na unidade” (Jo 17.9-10,21-23). Nós deveríamos
aprender a manter a unidade com o Deus Pai e o Deus Filho. Eles são
eternamente um em essência, embora sejam duas Pessoas.