de Larissa Stefany da Silva Santos
No presente trabalho, busca-se apresentar sob a perspectiva Platônica o que se refere ao âmbito dos Sentidos e, do Inteligível, dando ênfase à principal reflexão do diálogo Teeteto, no que diz respeito ao modo de alcançar o conhecimento tido por verdadeiro. Dessa forma, procuro explicar o conceito e analisar a relação entre eles, ao fim terminarei fazendo uma reflexão, tudo dentro do seguinte trecho da narrativa platônica: 185e – 186d do Teeteto.
Para Sócrates, todos os seres vivos desde seu nascimento são dotados de sentidos, que o pensador julga ser o âmbito sensível. Dessa forma, as impressões que o mundo externo exerce nos seres, são percebidas por meio dos sentidos (audição, tato, olfato, visão, paladar). Todavia, em seu diálogo, o filósofo parece indicar que o conhecimento verdadeiro só será possível por meio da racionalização, ou seja, a alma consegue por meio do pensamento abstrato alcançar a realidade em si - não antes sem ter feito um contato com o mundo externo - operando assim o processo dialético, que segundo o autor, é a única forma de obter o conhecimento verdadeiro.
Para Platão, conhecido como o mais importante discípulo de Sócrates, O Âmbito das Idéias (EIDOS), ou o mundo inteligível, das formas, o mundo Ideal, é de onde todas as coisas manifestadas no mundo sensível tem raiz. Isso ocorre para todas as coisas que existem no mundo sensível, para todos os seres, isto é dizer que essa lógica ocorre em toda realidade. Há uma correlação necessária, que se faz do mundo sensível para o inteligível, pois é através do mundo sensível, que temos acesso às Ideias.
Para Sócrates, todo conhecimento é um relembrar (reminiscência), através dos objetos sensíveis, que a rigor são imperfeitos, se corrompem, enfim, são paradoxais, pode se chegar ao questionamento dos mesmos, e assim, pender para o conhecimento de uma forma perfeita (âmbito inteligível), pois essas formas, ou ideias, a nós já são familiares – nossa alma já as conhece antes de adentrar ao mundo sensível, ou seja, antes de nosso nascimento, que em prática, é quando a alma possui o corpo. Por sua vez, o âmbito sensível, é uma forma espelhada das Ideias, olhando pela imagem copiosa que podemos ver o mundo que existe de fato. No entanto, como vimos, conhecer é relembrar, ou seja, é do mundo sensível que se ascende ao mundo inteligível, mundo verdadeiro. No mundo sensível, no qual estamos inseridos, só podemos conhecer pelos modos que lhe são próprios, o acesso a esse mundo se dá pela mediação dos sentidos. O mundo que podemos perceber - âmbito sensível, não nos traz segurança alguma, é instável e mutável, no qual tudo se pode esperar. Não há permanência, é como o fogo de Heráclito de Éfeso, muda constantemente a si e ao resto.
Sendo assim, através da imagem espelhada podemos ver o mundo Inteligível e nos aproximar dele; Demiurgo, teria feito o mundo à imagem e semelhança das formas, uma sombra imperfeita, mutável, instável e apagada. Para Platão, as coisas preexistem no Âmbito das ideias, no mundo ideal, e este mundo é o mundo real. O âmbito sensível é só uma sombra do âmbito ideal, é imperfeita, sujeita a mutação, ilusão, ou seja, (δόξα) Doxa, o que nada de certo e verdadeiro pode nos deixar, porque, à verdade pertence à estabilidade a fixidez, a forma (epistemé), a eternidade não a opinião passageira, sem rumo, desgovernada, pois, está fora do logos, embora orbite em seu redor Na perspectiva platônica, o conhecimento precisa ser efetivo, verdadeiro, não-relativo, ou seja, eterno imutável e imperecível. É possível atingi-lo, através do elemento ou lei universal, uma ideia que está associada ao conceito de forma, modelo que tem as características do Ser de Parmênides, uma forma pura e igual a si mesma.
Segundo Platão, só somos capazes de chegar a algum conhecimento verdadeiro, porque temos uma alma.
Só podemos tomar conhecimento do âmbito do inteligível, por conta do que Platão diz ser o Bem (representada pelo ser do Sol, no diálogo A Republica), donde a Verdade emana, é a Ideia das Ideias, aquilo que permite a alma visualizar as coisas-em-si. Do mesmo modo que a luz do sol nos permite ver os objetos sensíveis através da visão.
Venho por meio do presente texto, propor uma reflexão do viés platônico na teologia do Apostolo Paulo em um trecho especifico na primeira carta escrita, quando ainda estava em Éfeso, aos adeptos da religião cristã que residia em Corinto. Uma importe cidade cosmopolita, que possuía uma próspera economia, e por este motivo, grande número de marinheiros e mercadores de todas as nações, inclusive moradores de Atenas, afluía à cidade, onde havia dezenas de religiões sendo praticadas. A mais conhecida era a adoração a Afrodite, deusa do amor e da beleza, a qual tinha um templo numa colina chamada Acrocorinto, ponto mais proeminente da cidade de, na província Romana da Acaia (a parte sul da atual Grécia), em um grande istmo, aproximadamente oitenta quilômetros a oeste de Atenas (cidade onde nascera Platão provavelmente em 427-428 a.C). Para Paulo era um centro estratégico, pois assim, ele poderia influenciar e/ou alcançar, um maior número de pessoas. Uma vez que os viajantes que ali o ouvissem, poderiam levar a doutrina, Epistemé (crença justificada), pautada pelo viés Platônico, para todas as partes do mundo. Ao que tudo indica, na primeira epístola do apostolo Paulo aos corintos, o escritor parece ter se apropriado da perspectiva platônica para sistematizar sua teologia. De acordo com Paulo:
Mas, quando vier o que é perfeito, então, o que é em parte, será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, mas, logo cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque, agora, vemos por espelho em enigma; mas, então, veremos face a face; agora conheço em parte, mas, então, conhecerei como também sou conhecido (1 Co 13.10-12).
Paulo, nesta parte do texto bíblico, ao usar expressão “quando vier o que é perfeito” refere-se à Revelação registrada nas escrituras (cânon), a respeito do Cristo e seu Reino. Este argumento aferente, que leva, conduz, ao conceito platônico: Âmbito inelegível, ou seja, mundo perfeito e/ou verdadeiro.
Ao Analisar a expressão “O que é em parte” vemos que Paulo, tem como viés o conceito platônico de: Âmbito Sensível (mundo em que vivemos), ou seja, A sombra do que haveria de vir, ele usa de forma metafórica a expressão “espelho” (em enigma). Porque, o espelho que era usado em sua época (aproximadamente 52-53 d.C.) não era tão polido quanto hoje, era embaçado, ofuscado, a imagem refletida no metal, bronze, prata entre outros, era destorcida pela sua superfície irregular. Sendo assim, era necessário que buscasse uma posição de onde se pudesse ver com mais precisão. Dessa forma, poder-se-ia ver, contemplar, o que é perfeito, através das coisas, sombras, ou, Âmbito sensível. Diante desse quadro, chegar-se-ia perto do inteligível, ao perfeito, nos tornando então, sábios.
Dessa maneira, o que Paulo, usa como exemplo para expressar tal ideia, a palavra homem em contraste com a palavra menino, para se referir à maturidade, ou, idade da sabedoria (Demiurgo), onde se é capaz de ver as coisas reais, não mais os reflexos. Ao chegar à maturidade podemos por meio, da opinião racional (logos), possuir o conhecimento, que para Paulo, como já foi dito acima, é referente à Cristo e o seu Reino. Há também, outras muitas referências bíblicas, escritas pelo Apostolo, em que podemos ver claramente o viés Platônico, como estas:
Porque tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas, nunca, pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferece cada ano, pode aperfeiçoar os que a eles se chegam (Hb 10.1).
Ora, a suma do que temos dito é que temos um sacerdote tal, que está assentado nos céus à destra do trono da majestade, ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo, o qual o senhor fundou, e não o homem. Porque todo sumo sacerdote é constituído para oferecer dons e sacrifício; pelo que era necessário que este também tivesse alguma que oferecer. Ora, se ele tivesse na terra, nem tampouco sacerdote seria, havendo inda sacerdote, que oferecem dons segundo a lei, os quais servem de exemplo e sombra das coisas celestiais, como Moisés divinamente foi avisado, estando já para acabar o tabernáculo; porque foi dito: olha, faz tudo conforme o modelo que no monte se mostrou (Hb 8.1-5).
Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de cristo (Cl 2.16,17).
Em termos gerais, Paulo diz que o antigo pacto, ou, primeira aliança, era um símbolo transitório, e, Cristo é o mediador de um pacto melhor e eterno. Vemos que o argumento platônico parece ter influenciado diretamente na construção e compreensão da teologia paulina.
Nenhum comentário:
Postar um comentário