sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Comentário Bíblico Mensal: Novembro/2019 - Capítulo 2 - A Adoração no Antigo Testamento




Comentarista: Oliveira Silva



Texto Bíblico Base Semanal: Deuteronômio 31.11-22

11. Quando todo o Israel vier a comparecer perante o Senhor teu Deus, no lugar que ele escolher, lerás esta lei diante de todo o Israel aos seus ouvidos.
12. Ajunta o povo, os homens e as mulheres, os meninos e os estrangeiros que estão dentro das tuas portas, para que ouçam e aprendam e temam ao Senhor vosso Deus, e tenham cuidado de fazer todas as palavras desta lei;
13. E que seus filhos, que não a souberem, ouçam e aprendam a temer ao Senhor vosso Deus, todos os dias que viverdes sobre a terra a qual ides, passando o Jordão, para a possuir.
14. E disse o Senhor a Moisés: Eis que os teus dias são chegados, para que morras; chama a Josué, e apresentai-vos na tenda da congregação, para que eu lhe dê ordens. Assim foram Moisés e Josué, e se apresentaram na tenda da congregação.
15. Então o Senhor apareceu na tenda, na coluna de nuvem; e a coluna de nuvem estava sobre a porta da tenda.
16. E disse o Senhor a Moisés: Eis que dormirás com teus pais; e este povo se levantará, e prostituir-se-á indo após os deuses estranhos na terra, para cujo meio vai, e me deixará, e anulará a minha aliança que tenho feito com ele.
17. Assim se acenderá a minha ira naquele dia contra ele, e desampará-lo-ei, e esconderei o meu rosto dele, para que seja devorado; e tantos males e angústias o alcançarão, que dirá naquele dia: Não me alcançaram estes males, porque o meu Deus não está no meio de mim?
18. Esconderei, pois, totalmente o meu rosto naquele dia, por todo o mal que tiver feito, por se haverem tornado a outros deuses.
19. Agora, pois, escrevei-vos este cântico, e ensinai-o aos filhos de Israel; ponde-o na sua boca, para que este cântico me seja por testemunha contra os filhos de Israel.
20. Porque introduzirei o meu povo na terra que jurei a seus pais, que mana leite e mel; e comerá, e se fartará, e se engordará; então se tornará a outros deuses, e os servirá, e me irritarão, e anularão a minha aliança.
21. E será que, quando o alcançarem muitos males e angústias, então este cântico responderá contra ele por testemunha, pois não será esquecido da boca de sua descendência; porquanto conheço a sua imaginação, o que ele faz hoje, antes que o introduza na terra que tenho jurado.
22. Assim Moisés escreveu este cântico naquele dia, e o ensinou aos filhos de Israel.

Momento Interação

O mundo vive numa constante renovação. O indivíduo busca novos padrões e entendimento para o que acontece ao seu redor; busca novas formas de realizar obras e sonhos; obtém outros pontos de vista a respeito de assuntos e temas já conhecidos. O nosso foco recai sobre a renovação teológica e litúrgica. Questionamos quanto das mudanças na teologia e na liturgia do culto vêm das Escrituras e quanto vêm do desejo das pessoas. Há diversidade quanto à compreensão de como deve ser o culto prestado a Deus.

A Bíblia, ao descrever o que denominamos de culto, não usou termos similares aos que se referiam ao culto em outras religiões. Quer no Antigo Testamento, quer no Novo Testamento, essencialmente, o culto é descrito como serviço. Em qualquer língua, etimologicamente, liturgia significa “o trabalho que pessoas realizam”, não pessoas se divertindo, alegrando-se, fazendo o que acham ser bom. No Antigo Testamento, a adoração era prescrita e controlada, era litúrgica.

Como posso adorar a Deus segundo os princípios do Antigo Testamento? Será que o Antigo Testamento oferece direção para uma adoração no culto contemporâneo? Vamos estudar nesta semana acerca deste assunto, que é a adoração no Antigo Testamento.

Introdução

O tema da adoração no Antigo Testamento aparece desde seus capítulos iniciais, já com os primeiros filhos do primeiro casal temos a noção de oferecer sacrifícios em adoração ao Senhor (Gn 4). O povo de Israel foi chamado para ser um povo adorador no Antigo Testamento, a finalidade de Deus tirar o povo da escravidão era para que este povo reunido em uma grande assembleia o “servisse” (adorasse) (Êx. 7.16; 8.20). Deus criou as pessoas para Sua glória e é assim que se deve viver (Is. 43.7).  Mas, se o Antigo Testamento fala de adoração, como era esta adoração? Seria como eu penso? Tenho o conceito correto sobre ela? O que as pessoas fazem hoje na maioria das igrejas e eventos ditos cristãos pode ser comparável a adoração descrita nesta primeira parte da Bíblia? 

I. A adoração ao Senhor no Antigo Testamento

Se analisarmos, bem que encontramos no Antigo Testamento um vasto material com respeito ao louvor a Deus. Temos muitas referências ao assunto nos reportando por exemplo ao livro de Salmos, de onde o significado "louvores", é bem claro. Até porque este titulo " Salmos " no hebraico é a palavra "Tehillim" (transliterada). Outra palavra bem empregada é "Psalmoi" (transliterada) que deu-se da fabulosa tradução dos Setenta, (Septuaginta), tradução esta da Velha Aliança, ou testamento para o grego, nos meados de 200.a.C. "Psalmoi", tem o significado de " cânticos para serem seguidos por instrumentos de cordas". Logo entendemos que a prática do louvor a Deus , estava intrinsecamente fincada na cultura hebreia, quando fazemos uma análise quanto aos cânticos registrados na Bíblia, facilmente constatamos esta verdade. 

II. Desenvolvimento da prática da adoração no Antigo Testamento

Durante todo tempo as páginas do Antigo Testamento notamos uma evolução na prática da adoração. O primeiro registro de culto que temos está em Gênesis 4.1-7. Ali os dois irmãos Caim e Abel vão juntos prestar culto ao Senhor. E aqui Antônio Neves Mesquita faz uma observação importante; ele supõe que a oferta de Caim foi rejeitada porque não foi acompanhada de um espírito de adoração, mas ele estava apenas se conformando com a tradição familiar. Caim traz apenas dos frutos, não há especificação; Abel traz do melhor do rebanho, aqui há especificação. Caim é superficial, cumpre sua religiosidade. Abel dá o melhor, intenso, homem de fé (Hb 11.4), é adorador. Nesta cena quem vai oferecer os sacrifícios são os próprios sacrificantes, não existe sacerdote intermediário, é tudo muito simples. Nos inícios da adoração no Antigo Testamento é sempre assim, há uma grande ênfase na adoração doméstica, é o pai de família quem invoca Deus, constrói altares, oferece sacrifícios (Gn 8.20; 12.7; 26.25; 35. 1; Êx 17.15). Esta adoração doméstica, mesmo depois da construção do Tabernáculo não perece, a Páscoa que a família israelita celebrava em casa é seu exemplo (Êx 12), mas a ênfase vai recair na adoração coletiva.

III. A Adoração Coletiva no Antigo Testamento

O povo saiu da adoração particular para o culto coletivo no templo, com muito simbolismo e liturgia rebuscada (1Cr. 29. 20-36; Sl. 42.4). A construção da Tenda da Congregação estabelece todo um sistema de adoração coletiva. Este sistema comportava:

Sacerdotes - Estes agiam como intermediários entre o povo e Deus (Êx. 28);
Sacrifícios - Desde o começo os holocaustos faziam parte da adoração bíblica. O livro de Levítico divide-os em diversas categorias (Lv 1-6).
Festas - A adoração do povo quase toda se concentrava em torno de grandes festas (Lv. 23). 

Nestes dias todos os fieis deveriam se apresentar diante de Deus com ofertas apropriadas; ninguém deveria ir a presença do Senhor de mãos vazias (Dt. 16. 16-17). O sistema de culto visto no Tabernáculo e depois no templo restringia a adoração a um lugar (templo), e a uma casta de pessoas (sacerdotes), mostrando com isso a imperfeição que permeava aquela dispensação (não se assuste dispensação é termo bíblico (Ef. 3.2)). O autor de Hebreus diz que tudo aquilo tinha prazo de validade, e acabaria quando Cristo, a realidade que cumpriu aqueles símbolos chegasse (Hb. 8-10).
Quando o povo do Reino do Sul foi levado ao cativeiro para a Babilônia (o Reino do Norte já havia ido para a Assíria (2 Rs 17; 25)) perdeu seu templo, seu centro de culto. Então desenvolve-se nesta situação as sinagogas, casas de instrução da Lei do Senhor, onde o povo se reunia mesmo no exílio para estudar a Lei e adorar a Deus. O povo a terra, perde a liberdade, mas não perde a adoração, ela é essencial na vida e é Deus quem o exige.

IV. Princípios de Adoração do Antigo Testamento

É claro que a adoração do Antigo Testamento estava carregada de coisas que foram postas “até ao tempo oportuno de reforma” (Hb 9.10). “Quando, porem, veio Cristo como sumo sacerdote dos bens já realizados” (Hb. 9.11), o que estava envelhecido e prestes a desaparecer, passou (Hb. 8. 13), mas a tudo subjaz alguns princípios atemporais que queremos observar:

a) A adoração deve ser verdadeira. Sim, no Antigo Testamento Deus deve ser adorado do mais profundo do coração (Abel e sua fé), e não religiosamente apenas (Caim e seus frutos). Os profetas condenavam veementemente o formalismo religioso (1 Sm 15.22). A aparência vazia é recusada (Dt. 6.5; Is. 1. 10-17; 58; Ml. 1), e a retidão do povo é exigida (Am 5.24-27).

b) A Adoração deve ser só a Deus. O texto áureo do povo do Antigo Testamento, os Dez Mandamentos, começa com a ordem expressa: “Não terás outros deuses diante de mim” (Êx 20.3).  A idolatria, o ato de colocar qualquer coisa no lugar, ou ao lado de Deus é expressamente condenada (Êx 20.4-6; 1 Rs 13. 1; 14. 7; 18; Am 4.15; Os 8.1; Mq 5.13).

c)  A adoração deve ser sacrificial. O princípio do sacrifício: substituição pelo pecado, ou oferta pacifica está estabelecido no culto do Antigo Testamento. Ninguém se aproximava de Deus a seu bel prazer, o sacerdote era o intermediário para oferecer sacrifícios pelos pecados do povo, bem como ofertas de adoração (Lv. 1-6). O grande cume da adoração nacional era o Dia da Expiação nacional (Lv 16), onde o sumo sacerdote entrava no Santo dos Santos, oferecendo um sacrifício por ele, e depois no Propiciatório (a tampa da Arca da Aliança), oferecia um sacrifício pelo pecado nacional. Os pecados devem ser expiados para se chegar a presença de Deus.

Conclusão

Quando pensamos em adoração, costumamos compará-la com os cultos das noites de domingo. Esse não é o único momento em que podemos adorar, mas é quando o povo de Deus se reúne para adoração corporativa. Este tipo de adoração não começou com a igreja local, começou quando Deus instruiu Moisés sobre como construir o Tabernáculo. A adoração do Antigo Testamento estava cheia de sombras e tipos de Cristo e da nossa verdadeira adoração hoje. 

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