sábado, 29 de fevereiro de 2020

Comentário Bíblico Mensal: Fevereiro/2020 - Capítulo 4 - O Juízo Vindouro




Comentarista: Leonardo Pereira



Texto Bíblico Base Semanal: Judas 1.14-19

14. E destes profetizou também Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que é vindo o Senhor com milhares de seus santos;
15. Para fazer juízo contra todos e condenar dentre eles todos os ímpios, por todas as suas obras de impiedade, que impiamente cometeram, e por todas as duras palavras que ímpios pecadores disseram contra ele.
16. Estes são murmuradores, queixosos da sua sorte, andando segundo as suas concupiscências, e cuja boca diz coisas mui arrogantes, admirando as pessoas por causa do interesse.
17. Mas vós, amados, lembrai-vos das palavras que vos foram preditas pelos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo;
18. Os quais vos diziam que nos últimos tempos haveria escarnecedores que andariam segundo as suas ímpias concupiscências.
19. Estes são os que a si mesmos se separam, sensuais, que não têm o Espírito.

Momento Interação

O Senhor Jesus em seus últimos dias aqui na terra, falou abertamente aos seus discípulos a respeito do juízo vindouro que haveria de vir sobre toda a terra (Mt 24-25). Falou-lhes sobre o fim dos tempos, bem como sobre aqueles que se diziam que eram Dele, mas não eram de verdade. Muitos deles discorrendo pelas Escrituras do Novo Testamento se mostravam quem eles eram de fato: Professavam a fé em Cristo mas não agiam de acordo com as suas próprias palavras. Usavam muitas vezes o nome de Jesus em vão, em prol de benefícios próprios. Levavam palavras vãs a muitos que desejavam ardentemente o conhecimento na fé e na graça do Senhor Jesus. Judas avisa através de sua epístola um duro juízo que haveria de vir sobre aqueles que erroneamente jamais eram observados e acompanhados pelo Senhor da Glória, Cristo Jesus.

Introdução

As Escrituras estão repletas de mensagens a respeito de um juízo vindouro. O tempo que havia para os falsos mestres disseminarem os seus enganos teológicos e filosóficos possui um limite de tempo. Para estes homens, haveria um juízo muito forte vindo sobre eles por tudo que eles tem causado para o povo de Deus. Nenhum deles escapará do rigor divino que sobreviria à eles. Eles serão usados como exemplos neste juízo que vem até eles para aqueles que intentarem tramar contra a igreja evangélica, contra um servo fiel do Senhor, terem a devida atenção a respeito da seriedade e da responsabilidade do genuíno evangelho do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. No estudo desta semana, estudaremos acerca do juízo divino anunciado por Judas em sua epístola.

I. A Profecia de Enoque

Judas como forma de introduzir o assunto acerca do juízo divino vindouro, introduz um personagem muito importante nas Escrituras Sagradas: Enoque. A partir deste servo do Senhor, Judas desenvolve todos os pontos principais sobre o que diz Enoque a respeito do juízo de Deus para aqueles que buscam perveter os caminhos do Senhor. Iniciando por Enoque e dando prosseguimento na temática do rigor divino, Judas abre-nos as portas da revelação celestial de como se dará os eventos que prosseguem tanto para a igreja na preservação da fé, quanto para o justo destino dos falsos mestres e dos falsos profetas.

1. Enoque: Servo do Deus Altíssimo. Antes da profecia é crucial conhecermos o profeta. A mensagem profética mostra em muito o caráter do profeta, e Judas mostra exatamente isto quando nos traz a luz do texto Enoque. Antes de falarmos sobre quem foi Enoque, também é preciso saber que em Gênesis existem dois Enoques, e não podemos confundi-los. O outro Enoque citado em Gênesis é o filho mais velho de Caim (Gn 4.17), que deu nome à cidade edificada por seu pai. Um dos membros da galeria dos heróis da fé, Enoque é descrito pela Palavra de Deus como um homem que "Andou com Deus por trezentos anos" (Gn 5.23). Enoque foi filho de Jarede e pai de Metusalém (Gn 5.18,21), pertencente à descendência de Sete, através da qual o conhecimento de Deus foi preservado. Enoque tinha um relacionamento profundo com Deus, pois a expressão “andou com Deus” é aplicada somente à Enoque e Noé (Gn 5.24; 6.9). No Novo Testamento, Enoque é citado na genealogia presente em Lucas 3.37 e também é citado na Epístola aos Hebreus: "Pela fé Enoque foi trasladado para não ver a morte, e não foi achado, porque Deus o trasladara; visto como antes da sua trasladação alcançou testemunho de que agradara a Deus" (Hb 11.5). No capítulo conhecido como “Galeria dos Heróis da Fé“, o escritor aos Hebreus atribuiu o arrebatamento de Enoque à sua fé notável, cuja qual o conduziu a um “testemunho de que agradara a Deus”.

2. A citação de Judas à Enoque. Há também uma citação na Epístola de Judas (Jd 1.14), a qual os estudiosos discutem sobre a fonte que Judas realmente utilizou, se tradição escrita ou oral. A citação em questão é de caráter messiânico, e possivelmente é uma citação de Deuteronômio 33.2 presente em 1 Enoque 1.9. Sobre a citação feita por Judas nos versículos 14 e 15, e que remetem a alguns trechos do Livro de Enoque (1.9; 63.8; 93.3), os estudiosos se dividem. Alguns acreditam que Judas fez uma citação de uma tradição oral, que também estava presente no Livro de Enoque. Outros acreditam que Judas estava intencionalmente citando uma literatura pseudoepígrafa usada por falsos mestres a fim de silenciá-los com seu próprio material. Contudo, a contestação da citação de Enoque em Judas nos leva a crer na importância do texto, não levando em conta que Judas considerado 1 Enoque inspirada. Judas está citando um texto de relevância para a proposta da temática, não saindo em momento algum do foco do objetivo de sua epístola.

3. A Profecia de Enoque. Judas não utiliza de termos dificultosos no entendimento para chegar diretamente ao autor. O autor da carta buscava enfatizar em toda sua pequena mensagem a importância do perigo da infiltração destes falsos mestres no meio evangélico. E quem mostra em detalhes é Enoque: "E destes profetizou também Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que é vindo o Senhor com milhares de seus santos; Para fazer juízo contra todos e condenar dentre eles todos os ímpios, por todas as suas obras de impiedade, que impiamente cometeram, e por todas as duras palavras que ímpios pecadores disseram contra ele. Estes são murmuradores, queixosos da sua sorte, andando segundo as suas concupiscências, e cuja boca diz coisas mui arrogantes, admirando as pessoas por causa do interesse" (Jd 1.14-16). O Senhor não se deixa escarnecer (Gl 6.7). Muitos dos que estão hoje zombando, fazendo desdém para os objetivos celestiais e eternos de Cristo Jesus, bem como escandalizando e ridicularizando a sua mensagem das Boas-Novas, não escaparão do juízo de Deus que em breve virá e não tardará. Judas está anunciando que esta citação de Enoque é atualíssima no que se refere a justiça de Deus, à aqueles que prosseguem e insistem em persistirem nos maus caminhos, principalmente quando o escâdalo envolve a igreja, o Corpo de Cristo e o seu testemunho perante os homens e perante a Deus. Judas a partir de Enoque, começa à escavar profundamente as características e as intenções dos "mestres da apostasia".

4. O Juízo é Chegado. Não há como escapar do juízo de Deus. O julgamento irá começar pela Casa de Deus. Pedro anuncia que se o julgamento começará pelo povo do Senhor, em qual situação ficará aqueles que não vivem e se afastam do evangelho de Deus? "Porque já é tempo que comece o julgamento pela casa de Deus; e, se primeiro começa por nós, qual será o fim daqueles que são desobedientes ao evangelho de Deus? "(1 Pe 4.17). Independentemente de como interpretemos a profecia sobre o fim dos tempos, a Bíblia nos diz que "como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo depois o juízo" (Hb 9.27). Todos nós temos um compromisso divino com o nosso Criador. O apóstolo João registrou alguns detalhes do julgamento final. Podemos ter certeza disto: nenhum erro será feito em nossas audiências porque seremos julgados por um Deus perfeito (Mt 5.48, 1 Jo 1.5). Isto irá se manifestar em muitas provas inegáveis. Primeiro, Deus será perfeitamente justo e imparcial (At 10.34, Gl 3.28). Em segundo lugar, Deus não pode ser enganado (Gl 6.7). Em terceiro lugar, Deus não pode ser influenciado por quaisquer preconceitos, desculpas ou mentiras (Lc 14.16-24). Portanto, o juízo para aqueles que praticam a maldade, a impiedade e muitas outras obras vis, serão julgados com a reta justiça de um Deus santo, puro e que não tolera em momento algum o mal: "Não és tu desde a eternidade, ó Senhor meu Deus, meu Santo? Nós não morreremos. Ó Senhor, para juízo o puseste, e tu, ó Rocha, o fundaste para castigar. Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal, e a opressão não podes contemplar. Por que olhas para os que procedem aleivosamente, e te calas quando o ímpio devora aquele que é mais justo do que ele" (Hb 1.12,13).

II. As Características dos Falsos Profetas

Até aqui pudermos observar como agem e falam os falsos mestres buscando obter aquilo que eles almejam em detrimento da fé cristã de muitos, para os seus próprios proveitos. Agora, Judas vai mais profundo ainda em suas verdadeiras faces. O autor da carta não tem medo de expô-los, muito menos de denunciá-los a todos aos que amam, honram a Palavra do Senhor e aguardam a sua maravilhosa Vinda. Judas nos encoraja a detectarmos tais mestres e profetas que são contrários a Cristo e a sua mensagem, e a não recuarmos afim de batalharmos continuamente pela fé que nos foi outorgada.

1. Murmuradores e Queixosos. Estes mestres não vivem uma vida correta e digna. Pelo contrário. Eles vivem em desonra e indignidade em suas formas de viver e de práticas. O pecado é conveniente em suas vidas, como se ligados em continuamente com as suas ações. Um destes pecados que seguem estes ímpios é o pecado de murmuração que se segue com as queixas ou reclamações. Aonde se encontra murmuração, há incômodo para muitos. Com a murmuração, as reclamações crescem, a paz não é mais encontrada e as soluções desaparecem dos olhares daqueles que buscam alívio para a vida. Para evitarmos a murmuração não devemos tentar a Deus (Êx 17.2,7; Dt 6.16); O murmurador contamina os outros (Nm 13.32; Nm 14.1-4), e precisa ser disciplinado (Is 29.24). A murmuração causa divisão (At 6.1; Fp 4.2,3) e o murmurador está descontente com Deus (Ef 4.29,30) Para evitarmos a murmuração em nossos ambientes, precisamos parar com estas coisas (1 Pe 2.1,2), e uma delas é não falarmos mal dos outros (Tg 5.9; Lc 10.40-42; Nm 12.1,2,10), e  dominarmos a língua (Tg 3.2,5,6). Isto é o que Deus espera de nós (Tg 4.11,12; Fp 4.4). 

2. Caçadores de Más Intenções. Judas diz que estes também "andam segundo as suas concupiscências". Concupiscência é o termo utilizado para designar a cobiça ou apreço por bens materiais, assim como os prazeres sexuais. Etimologicamente, este termo significa “o que tem um forte desejo”, que deriva da palavra concupera, que quer dizer “ter forte desejo”. Estes ímpios buscam o prazer sexual ilícito, levando ao descrédito o casamento, o projeto de Deus para o homem e para a mulher. Muitos também utilizam deste pecado para praticarem atos vis como o adultério e a pornografia, buscando se satisfazerem para sí próprios, não dando valor em momento algum o que Deus espera de cada um: "Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne" (Gn 2.24). A instituição do casamento bem como a instituição familiar em atitudes destes ímpios ameaçam em demasia a paz e a estabilidade das igrejas e das famílias em muitos lugares no mundo que honram ao Senhor.

3. Interesseiros Impiedosos. Judas ainda cita em sua carta que estes ímpios pela sua "boca diz coisas mui arrogantes, admirando as pessoas por causa do interesse". Existem pessoas que dizem coisas que não convém falando daquilo que não entendem, dos assuntos que desconhecem completamente. Pedro, de maneira similar a Judas na segunda epístola os citam como grande falta de entendimento e de desconhecimento das Escrituras: "E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor; como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada; Falando disto, como em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, e igualmente as outras Escrituras, para sua própria perdição. Vós, portanto, amados, sabendo isto de antemão, guardai-vos de que, pelo engano dos homens abomináveis, sejais juntamente arrebatados, e descaiais da vossa firmeza" (cf. 2 Pe 3.15-17). De igual modo, estes ímpios distorcedores da mensagem divina, são igualmente comparados aos escribas e fariseus no tempo de Jesus: "Jesus, porém, respondendo, disse-lhes: Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus" (Mt 22.29). Muitos buscam o lucro ao invés de Cristo, as glórias do mundo do que os tesouros no céu, a lã das ovelhas em vez de alimentá-las. Devemos evitar tais falsos mestres e falsos profetas e isso só faremos se crescermos na graça e no conhecimento da Palavra de Deus.

III. As Palavras dos Apóstolos de Cristo

A mensagem apostólica é a continuidade da mensagem de Cristo Jesus. É o prosseguimento da instituição da Igreja na qual as portas do inferno não prevalecem e todo o Corpo de Cristo segue ajustado e enraizado no Senhor (Mt 16.18; 1 Co 6.17; Cl 3.12,13). Sendo assim, darmos a devida atenção às palavras dos apóstolos do Senhor Jesus constitui-se de um poderoso tônico espiritual para todo os cristãos bem como aqueles que possuem dúvidas na caminhada rumo ao Céu. Ouvir aos apóstolos é ouvirmos a essência da doutrina do Senhor, e por isso, Judas nos recorda de trazermos a memória a mensagem daqueles que são genuinamente os pilares da Igreja: os Apóstolos de Jesus Cristo.

1. A Mensagem Apostólica dos Últimos Tempos. Os apóstolos do Senhor nos alertaram sobre os acontecimentos dos ímpios no fim dos tempos. Judas recorda-nos da mensagem deles quando relata aos seus leitores, que nos últimos tempos "haveriam escarnecedores que andariam segundo as suas próprias concupiscências" (Jd 1.18). Os apóstolos do Senhor defenderam ardentemente o evangelho com as suas vidas. Paulo, Pedro, Tiago, João e Judas foram aqueles que mais dedicaram tempo em suas cartas quando informaram aos cristãos espalhados pelo mundo afora, do perigo de muitos apóstatas, ímpios e hereges estarem crescendo em quantidade. João fala sobre o perigo de amar o mundo (1 Jo 2.15-17). Tiago fala sobre o perigo de viver uma vida de hipocrisia sob o risco de os mesmos causarem polêmicas e problemas aos irmãos (Tg 1.19-2.8). Paulo fala sobre os tempos trabalhosos nos quais muitos buscarão os alvos do mundo, do que o Reino de Deus e a sua justiça (2 Tm 3.1-5), e Pedro trata sobre os escarnecedores que vivem no pecado e o amam sendo estes pedras de escândalos para os que se encontram firmes na fé real em Jesus. Em cada uma das mensagens dos apóstolos, encontramos um alerta, ao mesmo tempo que um cuidado pastoral, das ovelhas que se encontram no campos verdejantes do Reino de Cristo.

2. A Mensagem Apostólica para a Igreja. Judas encerra a sua citação das recordações da mensagem dos apóstolos, com uma menção aos falsos mestres, aos ímpios e os apóstatas citando que além deles ser para o povo do Senhor, um perigo eminente à fé cristã, estes também "causam divisões, sensuais, que não tem o Espírito" (Jd 1.19). Judas parece-nos que está escrevendo detalhadamente sobre  nos jornais, sobre os últimos acontecimentos  das novidades do mercado da fé. A cada dia que se passa, presenciamos polêmicas, escândalos, relativização dos valores autênticos da fé em Jesus em detrimento da pureza, da união e do fortalecimento moral, ético e espiritual da igreja. A mensagem de Judas nos relembrando das palavras dos apóstolos, é uma urgência para a igreja. É um despertamento para o povo de Deus se posicionar diante dos acontecimento que tem escandalizado a muitos irmãos em Cristo, e que tem feito a Igreja de Cristo ser escarnecida por Satanás e pelo mundo. A mensagem apostólica é uma mensagem de esperança, de amor e de fé naquele que deu a sua vida em resgate de muitos, Jesus Cristo.

Conclusão

A Igreja de Cristo deve prosseguir na caminhada rumo ao Céu combatendo os falsos mestres e se afastando de más conversações e das heresias. Se não fizermos nada, à semelhança da igreja de Laodicéia, estaremos como mortos espirituais no deserto, sem prosseguir com a fé no Deus Verdadeiro. Em meio à muitas crises que estamos observando no Brasil e no mundo, enfoquemos todo o nosso ser em Deus que nos guarda, nos chama e nos conserva durante todas as etapas de nossas vidas (Jd 1.1,2).



Sugestão de Leitura: O Sermão Profético - VAGNER, Carlos. São Paulo: Evangelho Avivado, 2018.

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