segunda-feira, 30 de março de 2020

Comentário Bíblico Mensal: Março/2020 - Capítulo 4 - Dons de Elocução




Comentarista: Pedro Nunes



Texto Bíblico Base Semanal: 1 Coríntios 14.26-33

26. Que fareis pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação.
27. E, se alguém falar em língua desconhecida, faça-se isso por dois, ou quando muito três, e por sua vez, e haja intérprete.
28. Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja, e fale consigo mesmo, e com Deus.
29. E falem dois ou três profetas, e os outros julguem.
30. Mas, se a outro, que estiver assentado, for revelada alguma coisa, cale-se o primeiro.
31. Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros; para que todos aprendam, e todos sejam consolados.
32. E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas.
33. Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos.

Momento Interação

Segundo o Aurélio a palavra “elocução” vem do latim “elocutione” e significa: “maneira de exprimir-se, oralmente ou por escrito, escolha de palavras ou de frases, estilo” (FERREIRA, 2004, p. 725). Os dons de elocução que tratam da utilização da fala ou linguagem estão relacionados diretamente ao batismo com o Espírito Santo. Nesta lição estudaremos a respeito dos três “dons de elocução” que formam o último grupo dos dons espirituais mencionados pelo apóstolo Paulo em 1 Coríntios 12.10, à sabermos: profecia, variedade de línguas e interpretação de línguas. Analisaremos quais os propósitos destes dons tão cruciais para a Igreja de Jesus Cristo. Veremos também como utilizá-los para glória de Deus e edificação da Igreja.

Introdução

Os Dons são originados na graça de Deus e são ministrados, doados e distribuídos pelo Espírito Santo; eles são dados não para projeção pessoal, mas para o serviço; sua finalidade é a realização de alguma obra e ajuda concreta a alguém; não é uma espiritualidade intimista e subjetiva. Neste capítulo estudaremos a respeito dos três Dons de Elocução, a saber, Dom de Profecia, Dom de Variedade de Línguas e o Dom de Interpretação das Línguas. Os principais propósitos destes Dons são: edificação, exortação e consolação da Igreja (1 Co 14.3). A igreja precisa ter muito cuidado com a manifestação destes Dons, pois atualmente, há muita confusão e falta de sabedoria no uso dos mesmos, principalmente  o de profecia. Por isso é assaz oportuno o estudo sobre este tema, a fim de que não sejamos enganados pelos falsos profetas que têm ardilosamente se infiltrados no meio do povo de Deus.

I.  Dom de Profecia

O Dom de Profecia, relacionado por Paulo em 1 Coríntios 14.3, é um Dom de manifestação sobrenatural de mensagem verbal pelo Espírito, para a edificação, exortação e consolação do povo de Deus. Ao dizer que a profecia edifica, exorta e consola, o apóstolo Paulo não fornece uma definição, apenas cita os resultados da mensagem transmitida em uma linguagem que as pessoas conhecem. O maior valor da profecia é que ela, uma vez proferida, sendo de Deus, edifica a coletividade e não unicamente o que profetiza. Em nossos dias, temos visto que os termos ”profecia“ e ”profetizar“ têm sido mal utilizados. Muitas pessoas falam de si mesmas palavras boas como se elas fossem verdadeiras profecias, e ainda motivam outras pessoas a fazerem o mesmo. Paulo perguntou: “... Porventura são todos profetas?“ (1 Co 12.29). 

Essa pergunta foi feita para mostrar que nem todas as pessoas são profetas, ou seja, nem toda pessoa possui o Dom de Profecia dado pelo Espírito Santo. Desejar uma bênção para o próximo ou ter palavras de vitória tem sido encarado como uma profecia, o que é um erro terrível, pois os verdadeiros profetas falavam o que recebiam do Senhor: “Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo”(2 Pe 1.21). Portanto, à luz da Bíblia, nem todas as pessoas são profetas e a vontade do homem, por mais bondosa que seja, não pode originar uma profecia verdadeira. Também, profetizar não é pregar um sermão preparado, mas transmitir palavras espontâneas sob o impulso do Espírito Santo, para a edificação do indivíduo ou da igreja local, bem como levar à convicção do pecado e a consciência da presença de Deus (1 Co 14.24,25).

II. Variedade de Línguas

O Dom de Variedades de Línguas é o dom dado pelo Espírito Santo para que as pessoas sejam instrumentos da voz do Senhor, para que o Espírito Santo demonstre que Se comunica com o Seu povo. Este Dom é evidência da Onipresença divina no meio do Seu povo, uma presença que nos faz descansar e que nos traz edificação. Este Dom é diferente das línguas estranhas como evidência do Batismo com o Espírito Santo. Segundo a Bíblia, as línguas estranhas são um sinal para os não crentes (1 Co 14.22). 

Quem possui este Dom deve orar pedindo que o Senhor também conceda o Dom de Interpretação. O que profetiza edifica o outro, mas o que fala línguas estranhas edifica a si mesmo. Parece que na igreja de Corinto havia uma desordem no culto quanto aos Dons de Línguas. Paulo exorta os crentes dizendo que eles estavam “como que falando ao ar” (1 Co 14.9), ou seja, não havia proveito algum, já que ninguém era edificado. Portanto, segundo Paulo, aquele que fala em outras línguas fala a Deus e não aos homens. Ele não é um Dom público, mas íntimo, particular, e pessoal. Portanto, o Dom de Variedades de Línguas é um Dom para sua intimidade com Deus.

III. Dom de Interpretação de Línguas

É uma habilidade sobrenatural, concedida pelo Espírito Santo, que torna o crente capaz de interpretar, na sua própria língua, aquilo que é falado pelo crente em linguagem celestial. Não se trata de “tradução de línguas”, mas de “interpretação de línguas”. Este Dom opera juntamente com o Dom de línguas, formando ambos uma profecia (1 Co 14.5,13,27,28). Há pregadores que emocionam seus auditórios ordenando que falem todos em línguas, ao mesmo tempo, como sinal da presença de Deus na reunião. 

Paulo, porém, recomenda que, em cultos públicos, quem fala em línguas: (a) ore para que possa interpretá-las(1 Co 14.13); (b) que ore também com o entendimento quando orar em línguas(1 Co 14.15); (c) fale, no culto, dois, no máximo três, e que haja intérprete (1 Co 14.27), e (d) na ausência de interpretação, que se cale o falante(1 Co 14.28). Portanto, é preciso reavaliar as atitudes de certos pregadores que contradizem o que a Bíblia diz no tocante ao falar em línguas no culto. Na igreja de Corinto, se não houvesse intérprete, o irmão devia permanecer calado na igreja. Podia ficar em seu lugar e falar silenciosamente em outra língua consigo mesmo e com Deus, mas não tinha permissão de se expressar em público – “Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja e fale consigo mesmo e com Deus” (1 Co 14:28). Essa exortação cabe muito bem no quadro exortativo das igrejas hodiernas.

Conclusão

Observamos, portanto, que cada Dom Espiritual tem uma finalidade específica no meio do povo de Deus; tem um propósito, que é o de dar condições para que o crente prossiga a sua jornada em direção à Jerusalém celestial. Tem-se, portanto, no exercício dos dons espirituais, uma inequívoca demonstração do poder de Deus (1 Co 2.4), mas sem qualquer oportunidade de exibicionismo ou de glorificação humana, mas única e exclusivamente para a glória de Deus e para pregação do Cristo crucificado (1 Co 2.2). O Dom deve ser usado livre de escândalos, engano, falsificação, e dentro da decência e da ordem que a Palavra de Deus preceitua (1 Co 14.26-40). Amém!



Sugestão de Leitura da Semana: RIBEIRO, Anderson. O Sermão da Montanha. São Paulo: Evangelho Avivado, 2019.

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