terça-feira, 22 de setembro de 2020

Comentário Bíblico Mensal: Setembro/2020 - Capítulo 4 - A Morte de Jesus Cristo

 



Comentarista: Carlos Alberto Junior


Texto Bíblico Base Semanal: Lucas 23.33-46


33. E, quando chegaram ao lugar chamado a Caveira, ali o crucificaram, e aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda.

34. E dizia Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem. E, repartindo as suas vestes, lançaram sortes.

35. E o povo estava olhando. E também os príncipes zombavam dele, dizendo: Aos outros salvou, salve-se a si mesmo, se este é o Cristo, o escolhido de Deus.

36. E também os soldados o escarneciam, chegando-se a ele, e apresentando-lhe vinagre.

37. E dizendo: Se tu és o Rei dos Judeus, salva-te a ti mesmo.

38. E também por cima dele, estava um título, escrito em letras gregas, romanas, e hebraicas: ESTE É O REI DOS JUDEUS.

39. E um dos malfeitores que estavam pendurados blasfemava dele, dizendo: Se tu és o Cristo, salva-te a ti mesmo, e a nós.

40. Respondendo, porém, o outro, repreendia-o, dizendo: Tu nem ainda temes a Deus, estando na mesma condenação?

41. E nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o que os nossos feitos mereciam; mas este nenhum mal fez.

42. E disse a Jesus: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino.

43. E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso.

44. E era já quase a hora sexta, e houve trevas em toda a terra até à hora nona, escurecendo-se o sol;

45. E rasgou-se ao meio o véu do templo.

46. E, clamando Jesus com grande voz, disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, havendo dito isto, expirou.


Momento Interação

Geralmente quando há um crime, a Justiça determina que se faça um traba­lho de investigação para que sejam encontrados os responsáveis. Façamos uma investigação nas Escrituras para descobrir quem são os responsáveis pela morte de Cristo. Por que Cristo morreu? Quem foi o responsável pela Sua execução? Quem são os suspeitos? E nós, quanto estamos envolvidos com a Sua morte? Qual é a nossa responsabilidade? Olhando pelos olhos de Deus, vejamos a nossa participação. A morte de Jesus foi um acidente? Ou será que fazia parte dos propósitos de Deus Pai? Conheçamos todo o aspecto da morte de Cristo no estudo desta semana.

Introdução

A morte de Jesus na cruz é a maior demonstração do grande amor de Deus por nós  e a redenção da humanidade (Jo 3.16). Pois da mesma forma que por um homem entrou o pecado no mundo, isto é Adão, por meio de um homem só, Jesus, uma grande multidão de transgressões foi perdoada. Neste estudo bíblico veremos em ordem cronológica e passo a passo o que aconteceu a Jesus, antes e depois da crucificação.

I. Judas Iscariotes: por dinheiro

Na escuridão da noite, ele subiu ao monte até chegar ao jardim onde Jesus havia ido orar. Guiando uma multidão armada (Lc 22.47,48), Judas se aproximou do Senhor e o beijou. Sem dúvida, em muitas outras ocasiões, Judas havia beijado o seu Mestre; era a maneira típica de cumprimentar o seu professor ou rabino. Este beijo era diferente. A multidão que seguia Judas pretendia prender Jesus e o beijo de Judas o identificou para eles. Judas havia conspirado com os líderes judeus para entregar Jesus em suas mãos e, sabendo que o jardim de Getsêmani era o lugar favorito de Jesus, ele escolheu trair Jesus, entregando-o aos inimigos, nesse lugar.

A perfídia de Judas não era desconhecida para Jesus. Ele havia mandado Judas sair da última ceia com a instrução de não demorar (Jo 13.37). Mas até Jesus ficou maravilhado com a ousadia de um discípulo que traiu o seu mestre com um sinal de afeição. Aparentemente, Judas não beijou Jesus apenas perfuntoriamente. A palavra grega traduzida “beijo” indica que Judas o beijou calorosamente...como se ele fosse o discípulo dedicado, talvez planejado com a intenção de avisar Jesus a respeito do grupo que o seguia. Se fosse a sua intenção, Jesus não foi enganado, pois ele perguntou sobre o meio da traição!

Cuidado com o beijo de Judas. É um carinho fingido que esconde os motivos verdadeiros da pessoa que o oferece. Judas pode ter dado a aparência de carinho para um observador comum, mas a verdade é que Satanás havia entrado em seu coração e nas suas trevas ele havia vendido o seu Mestre por trinta moedinhas de prata. Há pessoas hoje que usam o beijo de Judas para ganhar vantagem ou porque não têm a coragem de mostrar os seus verdadeiros sentimentos. Em algumas culturas, não se usa mais o beijo, como é comum no Oriente Médio. Nestes lugares, o aperto de mão, sorriso caloroso e cumprimento amigável que usam, contudo, nem sempre refletem os verdadeiros sentimentos da pessoa que os oferece.

Pedro escreveu: “Tendo purificado a vossa alma, pela vossa obediência à verdade, tendo em vista o amor fraternal não fingido, amai-vos, de coração, uns aos outros ardentemente” (1 Pe 1.22). O fato que Pedro menciona “amor não fingido” dos irmãos sugere a possibilidade de amor insincero ou fingido entre irmãos. Devemos ser cautelosos para não usarmos a “afeição” que temos um pelo outro como uma máscara pela malícia ou ódio que na realidade sentimos. A malícia e o ódio são errados, mas cobrir-los com sentimentos fingidos não é uma solução!

II. Os Sacerdotes Judeus: Por Inveja

O julgamento de Jesus foi um processo injusto e ilegal. Jesus foi condenado à morte por causa da inveja de seus acusadores. Jesus foi julgado primeiro pela lei judaica, depois pela lei romana. Antes mesmo de prenderem Jesus, os líderes religiosos dos judeus já tinham decidido que ele deveria morrer (Lc 22.1,2). Eles não queriam matá-lo porque tinha cometido um crime. Eles estavam com inveja e se sentiam ameaçados com a popularidade de Jesus.

Na noite em que foi preso, Jesus foi levado para a casa de Anás, o sogro do sumo-sacerdote Caifás. Anás depois enviou Jesus a Caifás, para ser julgado pelo Sinédrio. Durante essa noite os chefes dos sacerdotes e os membros do Sinédrio interrogaram Jesus e procuraram motivos para o condenar. Mas Jesus se manteve calado e não respondeu às acusações deles (Mc 14.60,61).

Então o Sinédrio procurou testemunhas que fizeram falsas acusações contra Jesus. Mas todas as acusações feitas contra Jesus eram incoerentes. Por isso, perguntaram para Jesus se ele era o Cristo, o Filho de Deus. Ele respondeu que sim e eles aceitaram isso como prova de blasfêmia (Mt 26.63-65). Eles bateram em Jesus e o condenaram à morte.

III. Pilatos, o Governador

Os acontecimentos em Jerusalém numa Páscoa quase 2000 anos atrás continuam sendo motivo de vergonha e reflexão para todos que consideram o caso. Líderes dos judeus, o povo especialmente abençoado com as promessas de Deus, desrespeitaram sua lei e qualquer noção de justiça num “julgamento” que não passou de um linchamento. Mas a culpa não foi limitada a eles, pois líderes gentios também entraram na história e ajudaram no processo de sentenciar à morte o único homem totalmente inocente na história humana.

Depois de Jesus se entregar aos soldados e guardas na saída do Getsêmani, ele foi levado primeiro para ser condenado pelas autoridades religiosas. Não seguiram os procedimentos legais e não procuraram determinar a culpa ou inocência de Jesus. O sinédrio foi conduzido pelo sumo sacerdote com o objetivo de arrumar um motivo para pedir a morte do homem que eles condenaram nas suas mentes muito tempo antes (Mc 3.6).

Mas os judeus, sujeitos à autoridade romana, não tinham direito de sentenciar uma pessoa à morte. Por isso, levaram Jesus ao governador Pôncio Pilatos. Mas a acusação que usaram para justificar a morte de Jesus entre os judeus (blasfêmia contra Deus) não teria peso nenhum para os romanos. Inventaram outra acusação e disseram que Jesus incentivava revolta contra o governo romano (Lc 23.2). Ao interrogar Jesus, Pilatos percebeu que esse homem não procurava tomar o lugar de César. Era, aos olhos dele, apenas uma questão entre os próprios judeus. Por isso, o governador o declarou inocente (Lc 23.3,4). Mas, por ser um líder fraco e facilmente manipulado pelo povo, Pilatos cedeu ao clamor dos judeus e não libertou Jesus. Procurou uma saída por uma questão técnica de jurisdição e mandou Jesus a Herodes Antipas.

IV. O Próprio Senhor Jesus: Por Amor

Juntos, a cruz e o sepulcro vazio, formam o âmago da História e a maior demonstração das qualidades que fazem de Deus ser Deus.  Vemos aqui a sua misericórdia para com a humanidade indefesa, sua graça estendida aos que não podiam jamais com seus próprios meios conseguir ou comprar a redenção, sua justiça, que não poderia deixar passar o pecado sem o pagamento da pena, e sua sabedoria, que traçou um plano pelo qual os pecadores culpados poderiam tornar-se justos (sem culpa), sem comprometer nem a sua justiça nem a sua santidade.  Aqui, também, vemos o seu poder soberano para realizar o seu propósito, apesar da oposição acirrada de Satanás.

Acima de todas as demais coisas, a cruz é a maior prova do amor de Deus.  O homem da cruz é o próprio Filho a quem Deus amou tanto que desejou que outros filhos se assemelhassem à sua imagem, "a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos" (Rm 8.29).  Na cruz está "o Verbo", que estava com Deus no princípio, que era Deus e que "se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai" (Jo 1.14). Na cruz, por fim, o descendente da mulher esmagou a cabeça da serpente.  Ele cumpriu todas as profecias que se relacionavam com a redenção da humanidade.  Quando sua carne se rasgou, também se rasgou o véu do templo, simbolizando que o caminho para o verdadeiro Lugar Santo, a habitação de Deus, estava agora aberto para a humanidade.  Aí se tornou possível a completa reconciliação entre Deus e a criação que dele se alienou.

Na cruz aconteceu o verdadeiro sacrifício de que todos os demais eram apenas símbolo.  O Filho que estava prestes a morrer é aquele que "Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos; tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus" (Rm 3.25,26).  Não é de admirar que Jesus tenha exclamado ao morrer:  "Está consumado".

V. Está Consumado!

Uma só palavra. Tetelestai. Esta é a palavra grega traduzida pela expressão “Está consumado” (Jo 19.30). Foi a última ou penúltima palavra falada por Jesus antes da sua morte (não temos informações suficientes para ter certeza da sequência das últimas duas palavras - esta e a expressão relatada em Lucas 23.46). Jesus escolheu uma palavra cheia de significado apropriado para o momento do seu sacrifício pelos pecados dos homens. Pesquisadores têm encontrado esta mesma palavra em várias situações no mundo romano da época de Jesus. Exemplos de como a palavra foi empregada enriquecem nossa apreciação do sacrifício do Senhor.

Pago. Quando pagamos uma conta ou quitamos uma dívida, é comum o recebedor carimbar um comprovante com a palavra PAGO. A palavra que Jesus falou da cruz foi usada em comprovantes da época. No seu sacrifício, Jesus pagou a dívida do nosso pecado que foi salientado pela Lei dada no monte Sinai. Paulo explicou: “E a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos; tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz” (Cl 2.13,14).

Sentença Executada. Outro uso da mesma palavra no mundo antigo foi por parte de soldados incumbidos com a aplicação de penalidades legais. Quando executaram as sentenças decretadas, escreviam a palavra tetelestai. Esse sentido, também, se aplica perfeitamente a Jesus. Ele assumiu o lugar dos criminosos que mereciam a morte pelos seus pecados (nós!) e ele mesmo declarou que a sentença foi aplicada. Pedro disse que Jesus sofreu em nosso lugar, “carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes sarados” (1 Pe 2.21,24).

Conclusão

Não é fácil compreender os diversos aspectos do caráter de Deus. De fato, é impossível para o homem totalmente entender um ser tão superior. Ele é misterioso e, certamente, único (cf. Is 45.15,18). As Escrituras frequentemente destacam a sublimidade de Deus. “Reina o SENHOR; tremam os povos. Ele está entronizado acima dos querubins; abale-se a terra. O SENHOR é grande em Sião e sobremodo elevado acima de todos os povos” (Sl 99.1,2). Entre os contrastes encontrados nas descrições bíblicas de Deus são duas palavras que aparecem em Hebreus 12. Jesus é “o Autor e Consumador da fé” (Hb 1.2) e, ao mesmo tempo, “Deus é fogo consumidor” (12.29). A diferença de uma letra nestas palavras faz uma distinção importante no sentido.

Consumador significa alguém que termina uma obra ou um projeto. Jesus é o Consumador da fé porque ele completou o plano eterno de Deus para a salvação daqueles que crêem nele. O tema de Mateus é o cumprimento do Antigo Testamento em Jesus. Antes de morrer na cruz, Jesus afirmou a sua vitória com o grito de triunfo: “Está consumado!” (Jo 19.30). O Cristo ressuscitado disse: “...importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito...” (Lc 24.44). Mas o mesmo Jesus que cumpriu perfeitamente sua missão salvadora julgará todos nós (2 Co 5.10). Para os desobedientes, ele se mostrará um fogo consumidor, trazendo a ira de castigo eterno (cf. Jo 5.25-30; Mt 25.33-34,41,46). Quando ele vier para julgar, trará alívio para os fiéis e, ao mesmo tempo, os que não o servem serão banidos eternamente de sua presença (2 Ts 1.7-10).


Sugestão de Leitura da Semana: GONÇALVES, Matheus. O Evangelho do Médico Amado. São Paulo: Evangelho Avivado, 2019.




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