sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Comentário Bíblico Mensal: Outubro/2020 - Capítulo 2 - Os Frutos do Ministério de Paulo

 


Comentarista: Maxwell Barbosa



Texto Bíblico Base Semanal: 2ª Coríntios 3.1-17

1. Porventura começamos outra vez a louvar-nos a nós mesmos? Ou necessitamos, como alguns, de cartas de recomendação para vós, ou de recomendação de vós?
2. Vós sois a nossa carta, escrita em nossos corações, conhecida e lida por todos os homens.
3. Porque já é manifesto que vós sois a carta de Cristo, ministrada por nós, e escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração.
4. E é por Cristo que temos tal confiança em Deus;
5. Não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus,
6. O qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica.
7. E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, veio em glória, de maneira que os filhos de Israel não podiam fitar os olhos na face de Moisés, por causa da glória do seu rosto, a qual era transitória,
8. Como não será de maior glória o ministério do Espírito?
9. Porque, se o ministério da condenação foi glorioso, muito mais excederá em glória o ministério da justiça.
10. Porque também o que foi glorificado nesta parte não foi glorificado, por causa desta excelente glória.
11. Porque, se o que era transitório foi para glória, muito mais é em glória o que permanece.
12. Tendo, pois, tal esperança, usamos de muita ousadia no falar.
13. E não somos como Moisés, que punha um véu sobre a sua face, para que os filhos de Israel não olhassem firmemente para o fim daquilo que era transitório.
14. Mas os seus sentidos foram endurecidos; porque até hoje o mesmo véu está por levantar na lição do velho testamento, o qual foi por Cristo abolido;
15. E até hoje, quando é lido Moisés, o véu está posto sobre o coração deles.
16. Mas, quando se converterem ao Senhor, então o véu se tirará.
17. Ora, o Senhor é o Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade.

Momento Interação

Paulo vai falar da nova aliança que é muito superior à antiga, pois nela a glória de Deus está no Espírito e naquela, no que se desvanece. No entanto, somente há um jeito de perceber isso: retirando-se o véu da antiga aliança, por meio somente da fé em Cristo Jesus. Todos os que derem ouvidos a Deus terão seus véus retirados, mas os que o resistirem e o rejeitarem por causa de suas péssimas escolhas e orgulhos, permanecerão com o véu eternamente. Não ouça, você, os espíritos, mas ouça o Espírito que ele te levará a toda a verdade. 

Os inimigos de Paulo usavam cartas de recomendação para apoiar a própria causa. Paulo reagiu referindo-se aos próprios coríntios como sendo a sua "carta viva" de recomendação. Ambas as perguntas nesse versículo primeiro são retóricas e implicam a resposta "não". De modo geral, Paulo não fazia pouco das cartas de recomendação (At 15.25-26; 18.27; 1 Co 16.10,11), mas aparentemente seus oponentes haviam apresentado à igreja de Corinto algumas cartas de recomendação fraudulentas. Paulo mostrou que a sua carta era muito superior, porque ele era recomendado pela mudança de vida dos cristãos coríntios (2 Co 3.2). Em 2 Coríntios 3, Paulo começa dizendo que os Coríntios são cartas de recomendação do seu ministério. E estas são cartas vivas escritas no coração do apóstolo. Diante disso, ele revela qual é o segredo do sucesso do seu ministério: a capacitação que vem de Deus e a vivificação do Espírito. Paulo mostra que o ministério do Espírito Santo é muito superior ao ministério da Lei. Isto porque o ministério do Espírito inspira liberdade.

Introdução

O capítulo 3 de 2 Coríntios está dentro de uma seção da carta do apóstolo aonde ele faz uma reflexão sobre a importância do ministério apostólico (2 Co 2.14-7.4). No capítulo 3 de Coríntios, Paulo escreve dizendo que os cristãos convertidos ao Evangelho são cartas vivas (2 Co 3.1-3). Com isso, o apóstolo estava se referindo ao fato de que pessoas inimigas do verdadeiro Evangelho e opositores de seu ministério, estavam utilizando cartas de recomendação fraudulentas para atestar a própria causa. Por outro lado, Paulo argumenta que os próprios cristãos de Corinto, que tiveram suas vidas transformadas pelo Evangelho, eram cartas vivas que comprovavam a legitimidade de seu ministério. Ele estava dizendo que os cristãos genuínos são “manifestos como carta de Cristo” que é lida por todos os homens. Essa carta não era escrita com tinta, “mas pelo Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, o coração” (2 Co 3.2,3).

I. Uma Carta Inspirada

Essa afirmação indica que Paulo e seus companheiros de trabalho tinham grande afeto pela igreja de Corinto. A leitura alternativa, "seus corações", apesar de apoiada por poucos dos manuscritos antigos, é também possível e faz sentido no contexto. Assumindo essa última leitura, Paulo estava alertando os coríntios a reconhecerem que a existência deles como igreja constituía uma carta muito mais efetiva de recomendação para ele (2 Co 2.17; 1 Co 9.2).

Eles demonstravam ser uma carta de Cristo, produzida pelo ministério deles. A igreja de Corinto era uma obra da graça de Deus na qual Deus havia maravilhosamente usado Paulo e seus companheiros de trabalho. Essa "carta" que os coríntios constituíam era superior às cartas escritas dos inimigos de Paulo porque a obra do Espírito na vida dos coríntios era indubitavelmente verificável. Os resultados observáveis na vida dos coríntios atestaram a validade (cf. "conhecida e lida por todos", vs. 2) e superioridade do ministério de Paulo acima do de seus inimigos (cf. 11.1-5; 12.11). Eles, como cartas vivas, não foram escritos em tábuas de pedra – uma referência à lei e os Dez Mandamentos – mas, em tábuas de carne. A "carta" composta pelas vidas dos coríntios também demonstrava a validade do ministério de Paulo uma vez que a sua glória ultrapassava a glória do ministério de Moisés.

II. O Testemunho no Coração

Moisés havia dado a Israel os Dez Mandamentos em tábuas de pedra (Dt 9.10), e Deus pretendia que essa lei fosse escrita no coração do seu povo (Dt 6.6)- aliás, ela estava escrita no coração de alguns (p. ex., SI 119.11). Como um todo, entretanto, o povo de Israel rejeitou o testemunho de Deus mediado por Moisés e não amou a lei de Deus e nem a guardou no coração. Como resultado, eles foram exilados na Assíria e na Babilônia. Mas Jeremias 31.33; Ezequiel 11.19; 36.26 falaram de um dia vindouro quando Deus restauraria o seu povo do exílio. Nesse dia, todos os povos de Deus obedeceriam a ele em justiça e guardariam a sua lei. Embora essa promessa não será totalmente cumprida até que Jesus volte. Paulo indicou que ela já havia começado a se cumprir mesmo durante o seu próprio ministério. Por essa razão, o seu ministério ultrapassava até mesmo o de Moisés (vs. 6-16).

III. A Nova Aliança

Infelizmente, os inimigos de Paulo valorizavam mais a habilidade mundana do que a competência que vem somente de Deus. A nossa suficiência vem de Deus, ou seja, toda habilidade e todo poder no ministério vem de Deus. Por isso que ele nos capacitou, na nova aliança, a sermos ministros. O novo relacionamento legal que Deus estabeleceu com o seu povo por meio de Jesus Cristo e por meio da morte de Cristo. Apesar de Deus não ter dado a lei mosaica como um mero conjunto de letras para operarem sem o trabalho interior do Espírito (Dt 6.6), o legalismo judaico havia reduzido a lei a pouco mais do que um código externo. Como resultado, os legalistas judeus se baseavam nas meras leis escritas, as quais exigiam perfeita obediência, mas não davam poder para obedecer. Embora a lei matasse, por isso; o espírito, vivificava. A obra do Espírito naqueles que seguem a Cristo não é divorciada dos padrões morais da lei, porque o Espírito Santo escreve a lei de Deus no coração do homem (Jr 31.31-34; Hb 8.8-12; 9.13-14), instilando amor pelos padrões morais de Deus e poder para obedecer a eles (Rm 8.4; 1 Co 7.19).

Paulo não estava querendo dizer que não havia vida espiritual durante a antiga aliança, mas simplesmente enfatizando que a lei escrita, que era característica da antiga aliança, não poderia, por si só, produzir vida no povo de Deus. Mas o Espírito Santo, cujo ministério poderoso e doador de vidas caracteriza a nova aliança, traz nova vida numa medida muito maior e numa distribuição mais ampla do que a que estava disponível na antiga aliança. A lei que deveria gerar vida, no entanto, foi o ministério da morte. A lei era "para vida" (Rm 7.10-11), mas ela se tornou um instrumento de morte para aqueles sem fé porque a lei os condenava quando eles não obedeciam a ela. Tanto era verdade que os filhos de Israel não podiam fitar a face de Moisés. Mesmo na antiga aliança, durante o seu ministério a Israel infiel (Nm 32.13), Moisés tinha a glória radiante de Deus brilhando na sua face (Êx 34.29-35).

Se a aliança menos importante era, ainda assim, gloriosa, como não será de maior glória o ministério do Espírito! – vs. 8. Ou seja, não haverá uma manifestação muito mais poderosa da glória de Deus nestes tempos, quando o Espírito está mais presente e é mais poderoso? Um dos ministérios trouxe a condenação – o da lei – e o outro a justiça. Os crentes obtém a justiça na declaração legal inicial de Deus que os declara justos ("justificação") no início da vida cristã, no desenvolvimento dos pensamentos e ações justos ("santificação") e, finalmente, na nossa futura perfeição ("glorificação"). São estas as três principais fases na vida de um cristão: a justificação (fomos justificados); a santificação (estamos sendo santificados – é um processo que não se conclui na presente era) e glorificação (seremos glorificados com Cristo Jesus).

IV. Aonde está o Espírito, Há Liberdade!

O véu permanece somente até a pessoa se converte a Cristo. Ai, sim, o véu é retirado, pois o Senhor é Espírito e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade – vs. 16-17 - ou seja, liberdade da morte, do pecado e da obediência à lei. Paulo falou sobre a intima relação entre Cristo e o Espírito Santo. Pela virtude de sua ressurreição e ascensão, Cristo e o Espírito doador da vida estão tão intimamente identificados em função (não em pessoa) que também são idênticos na experiência do crente (1 Co 15.45). Desse modo, ao mesmo tempo, Paulo falou sobre o crente sendo habitado pelo "Espírito", pelo "Espírito de Deus", pelo "Espírito de Cristo" e por "Cristo" (Rm 8.9-11; cf. At 16.6-7). Ao falar sobre esse relacionamento, Paulo não obscureceu a distinção entre as pessoas da Trindade, mas somente indicou que elas cooperam em suas funções. De modo alternativo, esse versículo pode interpretar o significado de Êxodo 34.34, indicando que o "Senhor" desse versículo é o Espírito Santo, que atuou em Moisés de maneira semelhante à maneira que agora opera naqueles que ministram com base na nova aliança. Uma experiência característica dos crentes da nova aliança é descrita aqui.

Diferente de Moisés (vs. 13) que cobria o seu rosto com o véu a fim de esconder a glória que se desvanecia, Paulo permanecia descoberto diante das pessoas com o rosto desvendado, sabendo que a glória da nova aliança nunca iria diminuir, mas somente aumentar, ainda que ele, na presente fase pudesse se desvanecer completamente. Do mesmo modo, os crentes agora se mostram desembaraçadamente diante do mundo, "refletindo" na própria vida a glória de Cristo. Longe de manifestarem glória temporária, os crentes refletem uma glória sempre crescente à medida que são transformados progressivamente à semelhança de Cristo. As outras aplicações dessa palavra grega “transformação” no Novo Testamento se reterem à transfiguração de Cristo (Mt 17.2; Mc 9.2) e à contínua transformação dos crentes pela renovação de suas mentes (Rm 12.2).

Conclusão

Todos nós contemplamos (cf. 2 Co 3.18) a glória do Senhor conforme a imagem (como em um espelho) que estamos sendo transformados, na sua própria imagem. Uma referência ao crescimento da pessoa ao longo de sua vida à semelhança de Cristo. Trata-se de um crescimento moral e espiritual que Paulo chamou de "a crescente glória". Os crentes estão sendo restaurados a uma semelhança cada vez maior à imagem de Deus, imagem essa que foi desfigurada na queda de Adão. Em Gálatas 4.19, Paulo se angustiava mesmo até que pudessem os cristãos se transformarem em verdadeiros Cristos: "como me angustio até que Cristo seja formado em vós!". No futuro, ninguém poderá alegar que fomos privilegiados em relação aos demais porque conhecemos ao Senhor e nisso prosseguimos, pois diante de todos a justiça, o amor e a verdade estão expostos claramente, mas para poderem ver, é necessário abandonar o que se desvanece e seguir o novo. A novidade de vida é Cristo Jesus!


Sugestão de Leitura da Semana: GOMES, Eliezér. Maturidade Espiritual. São Paulo: Evangelho Avivado, 2019.


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