segunda-feira, 14 de junho de 2021

A Ciência da Fé

 




Por Leonardo Pereira



“Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis...” (Rm 1.20). O debate evolução-criação é frequentemente pintado como sendo “ciência versus fé”. Isto é enganoso, pois presume que a macroevolução seja um fato científico, e presume que a fé não tem base em evidência concreta. É uma afirmação preconceituosa, pois eleva a ciência e rebaixa a fé por modos que evitam a investigação honesta. Queremos considerar a natureza religiosa da evolução, a natureza da fé bíblica e tentar determinar se a fé é razoável ou não. Argumentamos que o assunto evolução-criação não é sobre ciência versus fé. Antes, qualquer crença sobre o modo como as coisas eram no passado exige fé de alguma forma. Queremos saber como a fé desempenha um papel tanto na evolução como na criação.

A natureza religiosa da evolução

No sentido mais amplo, uma religião é algo que faz surgir devoção, zelo e dedicação de seus adeptos. Ela geralmente envolve um código de ética e filosofia. É uma visão do mundo, uma tendência através da qual se vê toda a vida.

A evolução é, realmente, o principal ocupante da religião secular conhecida como “humanismo”, uma filosofia que não deve ser confundida com “humanitarianismo” (ser bom para as pessoas, etc.). Humanismo é um sistema de crença que é desprovido de Deus, considerando os humanos como objetos puramente naturais. É um ponto de vista religioso porque ressalta zelosamente o progresso humano e os padrões éticos e morais através de meios naturais. Seu deus é a própria natureza (ou mesmo a humanidade). Compare isto com o que se pode ler em Romanos 1.18-32. Observe como aqueles desta passagem põem Deus fora de suas mentes, e então se voltam para servir (adorar) a criatura antes que o Criador. Isto se torna a base para eles fazerem tudo o que queiram fazer.

A tendência humanista é vista em Humanist Manifestos I e II. Estes documentos apresentam, em essência, o credo humanista. Ela nega explicitamente Deus, argumentando que a crença no sobrenatural é “ou insignificante ou irrelevante para a questão da sobrevivência ou realização da raça humana. Como não-teístas, começamos com humanos e não com Deus, com a natureza e não a divindade. A natureza pode, na verdade, ser mais larga e profunda do que agora conhecemos; quaisquer novas descobertas, contudo, apenas aumentarão nosso conhecimento do natural” (Kurtz 16). Observe como, começando sem Deus, cada explicação para tudo é naturalista. Não têm espaço para Deus em seu pensamento. Contudo, é a partir desta visão do mundo que eles estabelecem seus próprios padrões éticos e morais pelos quais pensam que todos deveriam viver.

Se não há nada sobrenatural que seja significativo ou relevante, então eles precisam de algum modo para explicar como os humanos e o universo vieram a existir. Entra a teoria da evolução. Ele fornece um “meio intelectual” pelo qual podem responder a tais questões, rejeitar a crença em Deus e estabelecer seu próprio sistema ético. Se somos meramente o resultado do acaso, processos naturais, então devemos ter capacidade e liberdade para buscar qualquer coisa e tudo que nos faz “felizes”. Isto é tudo o que o humanismo é, e a evolução dá o mecanismo para ser capaz de pensar deste modo.

Os evolucionistas geralmente argumentam que há necessidade de separação entre religião e ciência. Contudo, eles parecem ansiosos por usar sua ciência “como uma base para pronunciamentos sobre religião. A literatura do Darwinismo é cheia de conclusões anti-teístas, tais como que o universo não foi projetado e não tem propósito, e que nós humanos somos o produto de processos naturais cegos que não se preocupam nada conosco. E mais ainda, estas afirmações não são apresentadas como opiniões pessoais mas como implicações lógicas da ciência evolucionista” (Johnson 8-9). Eis porque há um tal debate sobre o relato da criação em Gênesis. O que Gênesis descreve contradiz claramente a agenda evolucionista.

Humanistas e evolucionistas são religiosos no seu zelo em evangelizar o mundo, “insistindo que mesmo não-cientistas aceitam a verdade de sua teoria como uma questão de obrigação moral” (Johnson 9). Então, ainda que não exista Deus no pensamento evolucionista e humanista, seus devotos seguidores ainda têm uma filosofia religiosa básica que afeta suas vidas tanto quanto as de qualquer um que creia em Deus. Assim, a questão não é realmente se crêem ou não em Deus, mas em qual “deus” eles confiam.

O que é a fé?

Muitos que pensam que há uma contradição entre ciência e fé definem a  fé como sendo “crença inquestionável” ou “crença sem evidência”. Isto   pinta a fé como sendo cega, às vezes crendo mesmo em algo quando existe evidência para mostrar que esta crença é errada. Tal fé dizem ser “comum em contextos religiosos” (Burr e Goldinger 533). Isto pode descrever a fé de alguns, mas é este o quadro da fé que nos é dado na Bíblia? De modo nenhum; de fato, tal visão da fé escapa da verdade seriamente.

Na Bíblia, a fé pode ser definida como completa confiança, confidência ou segurança. “Crença” é, talvez, uma das melhores palavras para descrever a fé. Ela vai além de simplesmente crer em alguma coisa. Muitos crêem em coisas, mas não querem pôr sua confiança em suas crenças. Isto não é fé. A verdadeira fé é atingida quando as pessoas sabem no que crêem, porque crêem nisso, e são devotados a agir por suas crenças. Tiago 2.14-26 mostra que tal ação é necessária de modo a exercer a fé que agrada a Deus. Quando a verdadeira fé existe, ela permanece como o embasamento para a esperança, e dá os meios pelos quais podemos ser agradáveis a Deus (Hb 11.1,6).

É um conceito enganoso pensar que toda fé seja desprovida de evidência. A fé não exige que se seja uma testemunha ocular de tudo o que é acreditado, mas deverá apoiar sobre evidência adequada. Por exemplo, tenho fé em que minha mãe seja realmente minha mãe física. Eu não verifiquei isto cientificamente, mas a evidência é tal que não seria razoável eu pensar de outro modo. Há testemunhas oculares e documentos como evidência. Agora, eu confio que isto seja verdade, mas não é fé cega de modo nenhum. Eu também tenho fé em minha esposa. Eu confio que quando ela promete fazer alguma coisa, ela o fará. Eu não testemunhei tudo o que ela sempre tem feito, mas seu registro é tal que eu deverei ter fé nela. Isto não é crença sem evidência, mas tampouco eu posso verificar cientificamente esta fé.

Quando se trata de fé em Deus como Criador, acreditamos que a evidência é tal que garante a resposta de fé, ainda que não possamos cientificamente provar tudo sobre Deus. Na Bíblia, muitos exemplos mostram um apelo à evidência de modo a confirmar uma declaração e promover fé. Leia João 10.37,38 e Mateus 11.2-5. O próprio Jesus apelou para o que poderia ser visto e ouvido. Ninguém estava pedindo a outros que acreditassem sem evidência. A fé bíblica não é ingênua. Então, o que tudo isto tem a ver com o conflito sobre a evolução? Primeiro, mostra que a representação disto sendo uma contradição entre “fé e ciência” é falsa. Admitimos que a fé é envolvida em crer na criação, mas isto não nega ou contradiz o estudo científico. Segundo, contudo, é a necessidade de entender que a prática da ciência em si envolve um grau de fé. Aqueles que aceitam a teoria evolucionista o fazem na base da fé. Eles acreditam que têm evidência ao pensar do modo como o fazem, e baseados nisto eles põem sua confiança em suas teorias.

A ciência em si é baseada em certas pressuposições, tais como a realidade da verdade, a capacidade da mente humana de perceber adequadamente o mundo e a idéia de que os números e a linguagem têm significado verdadeiro. Estas coisas não podem ser comprovadas cientificamente, por isso um certo grau de fé precisa ser exercido. Mais ainda, o próprio sistema evolucionista exige crença. Todo o conceito de que a vida começou sem inteligência e que tudo existe e chegou ao estado presente através de um processo não dirigido é uma crença. Não pode ser cientificamente verificado nem falsificado. A idéia de que a vida começou em alguma substância como uma sopa e então gradualmente evoluiu para se tornar animais terrestres, depois como criaturas voadoras, é uma crença. Precisa-se “confiar” que esta crença seja verdadeira, pois nunca foi cientificamente comprovada. O assunto, então, não é se a fé está ou não envolvida na batalha sobre criação e evolução; a fé está envolvida. O assunto é a própria evidência, e como esta evidência tem que ser interpretada. Como esta evidência é interpretada depende da fé e da tendência que se tem. A questão real então cai para qual fé, ou qual tendência, é a mais razoável para se ter.

A fé é razoável?

A fé é uma parte essencial da vida diária. Confiamos em que as coisas  operarão normalmente, e passamos o dia com tal confiança. Contudo,   raramente pensamos nela nestes termos. Pense nisso. Quando comemos uma refeição, não confiamos naqueles que a prepararam? Se comprarmos alguma coisa no mercado e a comermos, não estaremos confiando que aqueles que a fizeram e a colocaram ali não a envenenaram? Quando um dos pais ou esposo põe uma refeição na mesa, quem não confia que um deles não pôs nela algo que nos matará? Não confiamos em outros membros da família quando vamos para a cama à noite? Confiamos que nossos amigos, nossos empregadores e outros são o que são. Não fazemos normalmente qualquer investigação científica, mas geralmente cremos e pomos nossa fé em outros diariamente. Ficaríamos loucos se não fizéssemos isso.

Quando entro no meu carro e giro a chave, eu confio em que ele funcionará. Se não, eu posso ficar irritado e começar a dizer que é um veículo “infiel”. Há, ainda, um exercício de fé. Temos sucesso, empenhamo-nos em atividades e vivemos nossas vidas com crenças e com fé. É razoável viver deste modo? Mais uma vez, imagine como seria se não vivêssemos deste modo. Seria o caos, o desespero e a paranóia. De fato, argumentaríamos que não é razoável não viver deste modo. Quando se trata de fé em Deus, percebemos que não podemos provar cientificamente tudo, mas isto não muda a natureza razoável de nossa fé. A evidência existe, e confiamos nela (Sl 19.1). A fé é razoável quando apresentada com a evidência de um Criador.

Não é razoável argumentar que a fé é oposta à ciência, uma vez que a própria ciência exige um grau de fé. Então, a posição razoável é que a fé é parte da vida; onde pomos a nossa fé depende de como vemos a evidência que nos é apresentada.

Em resumo

A fé e a ciência são compatíveis. Devemos evitar vê-las como opostos, e começar a ver como podem trabalhar juntas. Uma não desaprova a outra, ao contrário elas podem ressaltar e ajudar uma a outra. A crença na evolução realmente tem uma natureza religiosa em si. Muitos seguidores devotos buscam evangelizar outros a respeito dela, e pronunciam coisas negativas sobre a crença em Deus. A evolução é uma parte do humanismo secular, um sistema que é sem Deus. Não deveria, portanto, ser vista como apenas uma outra maneira válida de ver o mundo.

O macro evolucionismo é intrinsecamente oposto à criação

A fé envolve confiança. Aqueles que crêem num Criador o fazem pela fé, aqueles que acreditam na evolução também têm uma fé. Assim, não é que a ciência seja toda pela evolução, enquanto a religião é apenas crença supersticiosa. A evolução é uma fé, e assim é a criação. Com isto em mente, pode-se por a criação e a evolução em condição de comparação para ver qual é mais razoável. Nossa asserção é que a criação é a posição razoável.


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