sábado, 14 de agosto de 2021

Adquirir Prata ou Ser Purificado como Prata?

 




Por Leonardo Pereira



No atual ambiente religioso brasileiro, influenciado por pregadores da teologia da prosperidade como Edir Macedo, R. R. Soares, Valdemiro Santiago e inúmeros outros, Malaquias 3 se tornou conhecido como a fórmula para riqueza garantida. Qualquer pessoa que conhece até superficialmente as mensagens pregadas nas igrejas neopentecostais já ouviu este versículo: “Trazei todos os dízimos à casa do Tesouro, para que haja mantimento na minha casa; e provai-me nisto, diz o SENHOR dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu e não derramar sobre vós bênção sem medida” (Ml 3.10). Estas palavras de Deus, arrancadas do seu contexto e inseridas nas mensagens de marketing, servem bem para construir templos ostentosos e aumentar poder político.

Quando examinamos melhor o contexto, encontramos uma surpresa que não se encaixa bem na teologia popular que trata Deus como um gênio que sai da sua garrafa para ceder todos os pedidos (demandas!) dos dizimistas fiéis. Enquanto pastores por todo lado tratam o Senhor como servo do homem que garante seu conforto, saúde e prosperidade financeira, o livro de Malaquias, de fato, apresenta um outro propósito para os servos de Deus. O Senhor disse: “Assentar-se-á como derretedor e purificador de prata; purificará os filhos de Levi e os refinará como ouro e como prata; eles trarão ao SENHOR justas ofertas” (Ml 3.3).

Enquanto muitos procuram prosperidade, Deus mostrou que sua vontade é a purificação. Diferente do processo pregado hoje para adquirir a prosperidade, que envolve principalmente sacrifícios financeiros, o processo escolhido por Deus para a purificação envolve sofrimento! Seus servos são vistos como a prata sujeita à purificação pelo fogo! E quem segura esses servos no calor do fogo é o próprio Senhor! A perspectiva distorcida da teologia da prosperidade trata como bênçãos os avanços financeiros e os acontecimentos na vida que trazem felicidade imediata, e consideram maldições ou castigos qualquer motivo de angústia e sofrimento. Edir Macedo, um dos principais defensores dessa teologia, sugere que a alternativa à teologia da prosperidade seria a teologia da miséria. Sofrimento é visto como um mal que precisa ser repreendido e afastado da vida do fiel.

Ficar em cima de chamas tão quentes que conseguem derreter prata seria divertido e prazeroso? O purificador de prata segura o metal acima das chamas até que alcance 962 graus C, a temperatura necessária para derreter a prata e separá-la de quaisquer impurezas. Dói só em pensar na ideia de alguém nos segurar em um fogo tão quente, mas é isso que Deus faz!

Deus usou essa figura forte para mostrar que o processo de transformação espiritual é difícil e dolorido, e que muda totalmente a nossa composição. Não é a mensagem de fugir do sofrimento e gozar a prosperidade que tantos pregam hoje. Malaquias, porém, foi um profeta do Antigo Testamento, da época em que a lei dada no monte Sinai governava os judeus. Aquela lei não vigora mais após a morte de Cristo, pois ele se tornou Mediador de uma nova aliança (Hb 8.6-13). Na Nova Aliança, Deus nunca mandou que os cristãos dessem o dízimo, pois essa ordem fazia parte do sistema antigo (Hb 7.5). Mas quando se trata de purificação e sofrimento, Deus continua usando esse processo dolorido para aperfeiçoar seus servos no Novo Testamento (2 Tm 2.20-22; 1 Pe 1.6-9).

Os apóstolos e outros que registraram para nós a Nova Aliança não pregavam a teologia da prosperidade, não incentivavam os fiéis a fugirem do sofrimento, e tampouco caracterizavam os sofredores como pecadores ou pessoas afligidas pelo mal. Pelo contrário, ensinaram os cristãos a aceitarem seu sofrimento como meio de produzir crescimento (Tg 1.2-4) e como disciplina do seu Pai amoroso (Hb 12.7-11). Enquanto avisaram sobre os perigos da riqueza (1 Tm 6.9,10), consideravam o sofrimento por Cristo uma graça cedida por Deus (Fp 1.29,30). Enquanto muitos distorcem a verdade com o uso errado de versículos como Malaquias 3.10, o mesmo capítulo apresenta um princípio importante da purificação da prata por Deus. Ao invés de procurar adquirir prata, procure ser a prata purificada que Deus deseja na sua casa!


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